Grupos pró-intervenção militar tentam influenciar rumoy betgreve dos caminhoneiros:y bet
A BBC Brasil entrouy betcinco grupos fechados criadosy betredes sociais por caminhoneiros para difundir informações sobre a greve. Em todos eles, frasesy betapoio a militares começaram a ganhar força nos últimos dias.
"As reações à greve dos caminhoneiros, amplamente apoiada pela população, demonstram que o brasileiro está sem paciência alguma com as 'autoridades'. As condições são ideais para uma verdadeira revolução que refunde o Brasil. Mas onde está a liderança desse processo? Escrevam no para-brisa dos caminhões e carros. Intervenção militar!", diz uma das mais replicadas.
Em tradicionais grupos militaristas do Facebook, como um chamado "Eu apoio o general Mourão", uma transmissão ao vivo feitay betMinas Gerais, na última quarta-feira, mostra um caminhão coberto por uma faixa verde amarela com a frase "Intervenção Já". "Nós vamos derrubar este governo do crime", diz um dos narradores.
Outro, gravado no Rio Grande do Sul, mostra uma faixay bet60 metros abertay betfrente a uma sequênciay betcaminhões estacionados. Eles também pediam o fim do atual sistema democrático no Brasil.
'Liberdadey betexpressão'
Junto às manifestações políticas radicais e militaristas, grupos ligados aos grevistas também expõem uma escaladay betviolência nos acampamentosy betbeirasy betestrada.
Em um dos vídeos que circulam nos aplicativosy betmensagem, visto pela reportagem no grupo "Família Estradeira", um homem que se apresenta comoy betLeopoldina (MG) mostra uma pessoa sendo linchada com chutes na cabeça e na barriga após supostamente tentar roubar carga dos caminhões aglomeradosy betum postoy betgasolina.
Um dos motoristas tenta intervir: "Cem homens batendoy betum só. Isso é judiar", mas é interrompido. "Ele caiu no chão só, não bagunce o nosso coreto", responde outro.
A BBC Brasil conversou com porta-vozes da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) sobre os discursos pró-intervenção military betgrupos e acampamentos ligados à greve.
"Acredito que a intervenção militar seja uma bandeira levantada por alguns caminhoneiros porque essa pode ser a alternativa que eles veem para sanar esses constantes casosy betcorrupção no país. Mas não posso dizer que a Abcam apoia a intervenção", avalia Carolina Rangel, porta-voz da associação.
"Se o caminhoneiro X, Y ou Z acredita que a intervenção é o melhor caminho, a gente aceita. A gente não tolhe o direitoy betmanifestação políticay betninguém, é liberdadey betexpressão."
Rangel afirma que é "consenso entre as lideranças da Abcam uma insatisfaçãoy betrelação ao governo, não só este como o anterior".
"Não temos ligação com nenhum partido político, nem com o MST, nem os pró-Lula, nem os Fora Temer. Não temos nenhuma ligação ou envolvimento político dessa natureza. A nossa insatisfação reflete a da população como um todo. Apesary betgrande parte dos brasileiros não abastecerem seus carros com diesel, que é o nosso pleito específico, todo mundo está sendo onerado com o aumento dos combustíveis e com a inflaçãoy betgeral", diz a porta-voz à BBC Brasil.
Alta no Google
Na manhã desta quinta-feira, "intervenção militar" era a segunda pesquisa mais feita por brasileiros no Google.
Publicações sobre o tema feitas por páginas militaristas chegavam a maisy bet20 mil compartilhamentos no Facebook.
Uma delas mostrava um sindicalista ligado a Central Única dos Trabalhadores (CUT) sendo expulsoy betum acampamentoy betcaminhoneirosy betBrasília, enquanto era chamadoy betoportunista.
"É até bom saber que os caminhoneiros que estão na ponta estão levando a politica da Abcamy betnão ter vínculo com partido politico, ou com a CUT, ou o Movimento dos Sem-Terra. Não levantamos nenhuma bandeira, a não ser a do transportador autônomo, que é reduzir impostos e preço do combustível", disse a porta-voz da associação.
Em um dos grupos no Facebook - o "Caminhões Top (Só Elite)" -, um motorista publicou um brasão do Exército e convocou os colegas.
"Temos uma grande chancey betnossas mãosy betaproveitar esta greve para pedir intervenção militar, nova constituinte, e novas eleições sem os comunistas, e junto com esta intervenção a caçada a todos estes ladrões que estão no governo (...) O Exército entrariay betaçãoy betuma semana, vejam, podemos estar a uma semana do fim desta roubalheira toda, estáy betnossas mãos, quem apoia compartilha e curte."
A reaçãoy betapoio impressiona: " A situação que o Brasil está hoje era para o Exército já ter tomadoy betconta dos poderes", dizia um. "A nossa bandeira jamais será vermelha."
De outro lado, alguns dos usuários tentavam demover os militaristas: "Militar no poder nunca mais", "Eles são só come e dorme, não vão resolver nada, não se iludam", reagiram alguns - logo classificados como comunistas e com palavrões pelos demais.
Na página "Adeptos da INTERVENÇÃO CONSTITUCIONAL DAS FFAA", criada há pelo menos dois anos para apoiar militares, a greve dos caminhoneiros se transformou no principal assunto desde o início da semana.
"Os caminhoneiros podem mudar o rumo do país. Eles são a nossa voz, a voz dos intervencionistas", diz um dos membros.
Governoy betalerta
A força da mobilização dos caminhoneirosy betquase todo o país pareceu surpreender ao próprio governo federal.
Após declararem que os efeitos da greve não seriam tão profundos, ministros como Eliseu Padilha (Casa Civil), Carlos Marun (Secretariay betGoverno) e Valter Casimiro (Transportes) receberam organizações ligadas à categoria.
Antes do encontro, o próprio presidente Michel Temer discutiu o assunto com Padilha e com o ministro da Fazenda, Eduardo La Guardia, além do secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, e os instruiu a pedir uma tréguay bettrês dias aos caminhoneiros para que pudesse ser encontrada uma solução.
Os comentáriosy betTemer repercutiram mal nos gruposy betcaminhoneiros. "Não tem trégua. Ladrão!".
Não há uma organização que possa ser apontada como líder da paralisação. A propostay betgreve começou a circulary betforma espontâneay betredes sociais e gruposy betFacebook e WhatsAppy betcaminhoneiros, como os acessados pela reportagem.
Além da Associação Brasileiray betCaminhoneiros (Abcam), uma das principais entidades envolvidas é a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), que congrega a maioria dos sindicatosy betmotoristas autônomos, e a União Nacional dos Caminhoneiros do Brasil (Unicam).
O movimento acabou engrossado pelos caminhoneirosy betfrota também - isto é, por aqueles que são contratados, com carteira assinada, por transportadoras.
"Começou com os autônomos. Mas como a situação está ruim para todos, as empresas (e os motoristas contratados por elas) também aderiram. E aí surgem várias associações, várias pessoas querendo representar. Tem também alguns que são pré-candidatos (às eleiçõesy bet2018)", diz o caminhoneiro Ivar Schmidt, um dos principais líderes dos protestosy betcaminhoneirosy bet2015, que afirma não estar à frente das movimentações atuais.