Por que os casosfreebet de cadastromalária cresceram 50% no Brasil após 6 anosfreebet de cadastroqueda:freebet de cadastro
Mas,freebet de cadastromaio do ano passado, o cenário mudou: a malária voltou a crescer. O pico do aumento ocorreufreebet de cadastrosetembro, quando o númerofreebet de cadastrocasos dobroufreebet de cadastrorelação ao mesmo mês do ano anterior. Este ano, a alta continua. Em fevereiro, o último mês com dados disponíveis, o aumento erafreebet de cadastro48%freebet de cadastrocomparação com um ano antes.
A malária é uma doença febril, transmitida pela picadafreebet de cadastroum mosquito infectado pelo Plasmodium, um parasita. No Brasil, a principal forma da doença é a vivax, mais branda, que oferece pouco riscofreebet de cadastromorte, ao contrário da forma mais comum nos países africanos. Por aqui, 99% dos casos são registrados na Amazônia.
Os maiores aumentos ocorreram no Pará (153%),freebet de cadastroAmazonas (65%) efreebet de cadastroRoraima (56%). Embora grande parte do território desses Estados apresente casosfreebet de cadastromalária, a situação é grave mesmofreebet de cadastroum número muito pequenofreebet de cadastrocidades. Apenas 25 municípios concentram 9freebet de cadastrocada 10 casos extras da doença registrados no ano passado. Bagre está no topo da lista, com 6,6 mil casos a mais.
Maia, o diretorfreebet de cadastroendemiasfreebet de cadastroBagre, pegou malária duas vezes nos últimos seis meses. Antes disso, o paraensefreebet de cadastro60 anos só tinha contraído a doença uma vez na vida, há muitos anos. Em dezembro, ele ficou doente após uma visita ao filho que vive na zona ruralfreebet de cadastroBagre - esse filho, a nora e os cinco netos também pegaram malária. Em março, ele adoeceu novamente, após uma das viagensfreebet de cadastrobarco para combater o surto da doença.
"Nas viagens, a gente dorme dentro do barco,freebet de cadastroredes com mosquiteiro, usa repelente, tenta vestir roupa comprida. Mesmo assim, a gente não escapa", diz Maia. "Malária é muito ruim. Dá muita febre, muito tremor. Tenho medofreebet de cadastropegarfreebet de cadastronovo, mas a gente vai ter que tratar do povo e ir para as áreasfreebet de cadastromalária."
Mas o que fez Bagre e a Amazônia brasileira passaremfreebet de cadastroum cenáriofreebet de cadastroqueda contínua para uma alta tão grande? "Essa é uma pergunta um pouco complicada", resume Marcus Lacerda, médico infectologista da Fundaçãofreebet de cadastroMedicina Tropical, sediadafreebet de cadastroManaus. A BBC Brasil entrevistou cinco especialistas brasileirosfreebet de cadastromalária para tentar entender o que está por trás do surto.
Fragilidades do programafreebet de cadastrocombate à malária
Não há uma explicação definitiva, apenas hipóteses. Uma delas é que a malária está aumentando no mundo todo, não só no Brasil, por algum motivo ainda desconhecido. Em 2016, os casosfreebet de cadastromalária subiram 2% nos 91 países analisados pela Organização Mundialfreebet de cadastroSaúde. Ainda não há dadosfreebet de cadastro2017.
A principal hipótese apresentada pelos especialistas, contudo, está dentro dos limites e do controle nacionais: a perda da importância da maláriafreebet de cadastrotodos os níveis da administração pública - federal, estadual e municipal. Como a doença vinha caindo havia seis anos, parecia estar sob controle. Isso teria feito o poder público baixar a guarda.
Além disso, enquanto a malária caía, o Brasil foi assolado por surtosfreebet de cadastrodoenças infecciosas típicosfreebet de cadastrozonas urbanas, como dengue, zika e chikungunya, que mobilizaram a opinião pública. O foco, então, teria mudado.
"A malária atinge uma população rural, que tem pouca capacidadefreebet de cadastroreivindicação política. Dengue, zika, chikungunya atingem população urbana, que reivindica mais. Então, houve a trocafreebet de cadastroum pelo outro (nas políticas públicas)", diz Pedro Tauil, médico epidemiologista e professor da Universidade Nacionalfreebet de cadastroBrasília.
"A perdafreebet de cadastroprioridade política da malária gera perdafreebet de cadastrorecursos humanos e materiais, e diminuiu a capacidadefreebet de cadastrocontrole da doença. Mas, no caso da malária, não basta diminuir a incidência. Se afrouxar as medidasfreebet de cadastrocontrole antesfreebet de cadastroeliminar a doença, ela volta", continua Tauil.
Para entender o que Tauil quer dizer com isso, é preciso conhecer como funciona o ciclo da malária. O parasita Plasmodium tem dois hospedeiros: o ser humano e o mosquito Anopheles. A doença é transmitida quando a fêmea do mosquito infectado pica uma pessoa. E como o mosquito fica infectado? Quando pica uma pessoa com malária,freebet de cadastroum determinado momento da doença.
Ou seja, o ciclo é do mosquito para a pessoa e da pessoa para o mosquito. Mas, quando o doente recebe tratamento, deixafreebet de cadastroinfectar o mosquito. Aí, o ciclo para.
"Por isso, só há aumentofreebet de cadastrocasosfreebet de cadastromalária quando há falha na identificação do indivíduo infectado. Nesse caso, ele continua sendo uma fontefreebet de cadastroinfecção para o mosquito", explica Jessé Reis Alves, infectologista do Instituto Emílio Ribas,freebet de cadastroSão Paulo.
"A gente acredita que o aumento esteja relacionado à fragilidadefreebet de cadastromedidasfreebet de cadastrocontrole", opina Tânia Chaves, do Instituto Evandro Chagas, do Pará. Reis Alves concorda que a malária pode ter aumentado porque o controle diminuiu e avalia que isso ocorreu porque "muitas das ações que vinham sendo feitasfreebet de cadastroforma coordenada acabaram sendo desmontadas".
A BBC Brasil ouviu críticas unânimes à fusão dos departamentosfreebet de cadastromalária com osfreebet de cadastrodengue, zika e chikungunya no Ministério da Saúde, ocorridafreebet de cadastronovembrofreebet de cadastro2016, vista por especialistas como sinal da perdafreebet de cadastroimportância da malária no âmbito federal. A pasta nega que a mudança tenha resultadofreebet de cadastroqualquer prejuízo. Por outro lado, não tem explicação para o aumento da doença.
"A gente não tem um diagnóstico específico. O que a gente observa é que há municípios que diminuíram (os casosfreebet de cadastromalária) e outros que aumentaram. A gente está indo a essas localidades para identificar o que está acontecendo. Ainda não temos o relatório pronto", afirma Osnei Okumoto, secretáriofreebet de cadastroVigilânciafreebet de cadastroSaúde do Ministério da Saúde.
Especialistas também apontam fragilidades nas políticas municipais. "As pessoas praticamente não morrem mais por malária no Brasil. Então, (a doença) deixafreebet de cadastroser prioridade para as prefeituras. Elas deixamfreebet de cadastroinvestirfreebet de cadastropessoal e equipamento. Naturalmente, o programafreebet de cadastrocontrole vai entrandofreebet de cadastrouma fadiga", afirma Marcus Lacerda, da Fundaçãofreebet de cadastroMedicina Tropical.
"As ações essenciaisfreebet de cadastrocontrolefreebet de cadastromalária cabem aos municípios. Mas isso é uma carga enorme para eles, que têm uma grande dependência do Ministério da Saúde, do pontofreebet de cadastrovista técnico, logístico e financeiro", afirma Marcelo Urbano Ferreira, médico especialistafreebet de cadastroparasitologia, do Institutofreebet de cadastroCiências Biomédicas da USP.
É o Ministério da Saúde que estabelece as diretrizes do combate à malária e distribui medicamentos e inseticidas. Também pode oferecer recursos extrasfreebet de cadastrocasofreebet de cadastrocrise. Para a regiãofreebet de cadastroBagre, por exemplo, a pasta prometeu o enviofreebet de cadastroajuda, segundo o secretáriofreebet de cadastrosaúdefreebet de cadastroOeiras do Pará, cidade vizinha, que teve o segundo maior aumento absolutofreebet de cadastrocasos do país. O dinheiro, que seria usado para pagar combustível dos barcos e equipamentos para fazer os testes, ainda não chegou.
"Uma viagem dessa que a gente faz para essa comunidade mais distantefreebet de cadastroBagre chega a custar R$ 7 mil. É muito caro para o município, a nossa renda não é tanto", diz José Maia, o responsável pelo combate à malária no local.
Erradicação da malária no Brasil
No Brasil, nem sempre a malária foi uma doença da Amazônia. Nas décadasfreebet de cadastro1930 e 1940, "havia maláriafreebet de cadastrotodo o território nacional", explica Ferreira. "O fatofreebet de cadastroter ficado restrita à Amazônia é o resultado do sucesso parcial da campanhafreebet de cadastroerradicação da malária no país."
Na Amazônia, o combate à doença é mais difícil. Primeiro, há uma abundância maior do mosquito da malária. Segundo, as pessoas estão muito dispersas no território rural e é mais complicado chegar até elas para tratá-las. Além disso, a expansão da ocupação da região, promovida durante o período militar, elevou o númerofreebet de cadastrocasos da doença, segundo o especialistafreebet de cadastroparasitologia.
A consequência foi que, "nas décadasfreebet de cadastro1970 e 1980, a coisa explodiu na Amazônia. Em 1970, eram cercafreebet de cadastro50 mil casos. Em 1985, passamos para cercafreebet de cadastro500 mil. Ficamos por muito tempofreebet de cadastroum patamar elevado, aí começou a declinarfreebet de cadastronovo", por voltafreebet de cadastro2008, diz Ferreira.
E agora, voltou a subir. As notícias são ruins, mas no comunicado publicado na página do Ministério da Saúde no Dia Mundialfreebet de cadastroLuta contra a Malária, no finalfreebet de cadastroabril, o destaque foi a queda dos casosfreebet de cadastrorelação a um períodofreebet de cadastroque a doença ainda estava nas suas fases mais altas: "No ano passado, foram notificados 194 mil casos, uma reduçãofreebet de cadastro57% nos últimos 10 anos. Em 2007, foram 459 mil casos", publicou a pasta. Nenhuma menção ao aumentofreebet de cadastro50% entre 2016 e 2017.
"Enquanto estamos discutindo o aumentofreebet de cadastromalária, o Ministério da Saúde coloca emfreebet de cadastropágina notíciafreebet de cadastroqueda no númerofreebet de cadastrocasos. É falsa, esconde parte dos números", critica Ferreira.
Ferreira acredita que o Brasil precisa buscar a erradicação da malária. Lacerda, da Fundaçãofreebet de cadastroMedicina Tropical, concorda: "A gente tem que perseguir algo mais sólido no Brasil. Precisamos pensarfreebet de cadastroeliminar a malária. É uma doença erradicável. Mas, para isso, os esforços tem que ser intensificados. Quando cai o númerofreebet de cadastrocasosfreebet de cadastromalária, o gestor público não pode entender que tem que diminuir o volumefreebet de cadastrodinheiro para essa doença. Só pode se contentar quando erradicar".
"A erradicação pode começar por municípios que têm poucos casos. Se você deixa uma malária residual e o programafreebet de cadastrocombate falha, como agora, esses casos residuais podem virar um novo surto. Basta uma pessoa para reiniciar o ciclo", explica. "Quando a erradicação acontecer, aí não vou mais me preocupar com doença do passado. Na Amazônia, o que gostaríamos é que pudéssemos usar os recursos da saúde com doençasfreebet de cadastropopulação que está envelhecendo."
"Tudo foi perdido? Acho que não, mas é um alerta. O Ministério da Saúde tem que dar uma resposta a isso", diz o infectologista Jessé Reis Alves, do Instituto Emílio Ribas.
Febre, calafrios, tremores, suores
Depois que o mosquito infectado pica uma pessoa, os parasitas vão primeiramente para o fígado. Nessa fase da doença, o doente pode sentir cansaço, fadiga e náusea. Depois, os parasitas caem na corrente sanguínea e vão para as hemácias - células do sangue também conhecidas por glóbulos vermelhos.
Quando as hemácias estão extremamente parasitadas, elas se rompem. É quando aparecem os principais sintomas da malária - febre alta, calafrios, tremores, suores excessivos e dorfreebet de cadastrocabeça. No começo, os sintomas podem ser diários. Depois, podem aparecerfreebet de cadastroforma cíclica, a cada dois ou três dias, por exemplo.
Em casos graves, o paciente pode ter alteraçãofreebet de cadastroconsciência, ficar prostrado, ter convulsões e hemorragia.
No Brasil, há duas espécies mais importantesfreebet de cadastroPlasmodium, o protozoário que provoca a malária: o falciparum e o vivax. O vivax representou 90% dos casosfreebet de cadastro2017. É também o menos nocivo, atingindo menosfreebet de cadastro1% das hemácias. Raramente é mortal.
O maior problema da malária vivax é que a doença demanda um tratamento mais longo, com administraçãofreebet de cadastroremédiosfreebet de cadastro7 a 14 dias. Mas, muitas vezes as pessoas param antes, quando sentem os sintomas melhorarem. Quando isso acontece, o parasita pode permanecer no corpo.
Para lidar com a baixa aderência, uma medicaçãofreebet de cadastrodose única estáfreebet de cadastrodesenvolvimento e pode ser testada no Brasil nos próximos anos. "O Brasil é o primeiro lugar onde vamos testar esse remédio. Se funcionar, será levado para outras regiões do mundo", conta Lacerda.
Já o falciparum é menos comum no Brasil efreebet de cadastrotoda América Latina, mas mais frequente na África. Em 2017, foram 21 mil casos desse tipofreebet de cadastromalária no país, 37% mais quefreebet de cadastro2016. Em quadros graves, pode acometer até 25% das hemácias, causando um quadrofreebet de cadastroanemia grave e podendo provocar morte.
O tratamento da malária é feito com remédios específicos, que eliminam o parasita do corpo. No Brasil, eles não são vendidosfreebet de cadastrofarmácias, apenas distribuídos pela rede pública depois da detecção da doença. É uma formafreebet de cadastroregular o uso e evitar o surgimentofreebet de cadastrouma resistência ao medicamento. É extremamente importante tomar a medicação conforme indicado e não abandonar o tratamento antes do tempo.
Quem já teve malária não está imune, pode ter diversas outras vezes. O que pode acontecer é que a pessoa conquiste uma certa imunidade, que atenue os sintomasfreebet de cadastrouma próxima infecção.
Os mosquitos são mais frequentes entre o entardecer e o amanhecer. Durante à noite, também picam, mas menos.
Para se prevenir, o Ministério da Saúde recomenda usar mosquiteiros impregnados com inseticida (distribuídos pelas autoridadesfreebet de cadastrosaúde), colocar telasfreebet de cadastroportas e janelas e usar repelentes.
Entre as medidas que podem ser tomadas por agentes públicos estão borrifar inseticidas duradouros nas paredes internas das casas - assim, depoisfreebet de cadastropicar uma pessoa infectada, o mosquito pousa na parede e morre - e ações para eliminar criadouros. Não existe vacina contra a malária.
"A formafreebet de cadastroproteção é, basicamente, evitar que o mosquito pique - como dormir embaixofreebet de cadastromosquiteiro, usar roupasfreebet de cadastromangas longas e repelentes. Isso funciona mais para quem vai ficar temporariamentefreebet de cadastroáreafreebet de cadastrorisco. Mas, na realidadefreebet de cadastroquem vive na Amazônia, é muito difícil fazer isso o tempo todo. Aí, (o controle) é basicamente ter acesso a sistemafreebet de cadastrosaúde", afirma Reis Alves, que também coordena o Núcleofreebet de cadastroMedicina do Viajante do Instituto Emílio Ribas.