'Temos que ter a coragempixbet download atualizadodizer que quem está com fuzil precisa ser punido', diz sociólogo:pixbet download atualizado
Leia os principais trechos da entrevista.
pixbet download atualizado BBC Brasil - Rio Branco, no Acre, é a capital onde os homicídios mais aumentaram no país. Como o sr. vê esse avanço da criminalidade violenta rumo ao Norte do Brasil? Era algo esperado? O que explica esse movimento que passa pelo Nordeste e chega ao Norte?
pixbet download atualizado Renato Sérgiopixbet download atualizadoLima - O Norte é uma áreapixbet download atualizadofronteira, mas sempre teve inovações. Por exemplo, o Pará foi o primeiro estado a integrar as políticaspixbet download atualizadosegurança trazendo para uma mesma coordenação as polícias Civil e Militar no começo dos anos 1990. Fez um trabalho intensopixbet download atualizadoredesenho da gestão da área. O Acre, no começo dos anos 2000, também fez isso. Mas se a gente olhar o Acre, há uma questão muito fortepixbet download atualizadoilegalidade na fronteira, que é completamente porosa, sem nenhum tipopixbet download atualizadocontrole oficial, não só no Acre, maspixbet download atualizadotoda região Norte. Drogas, armas, passa qualquer coisa ali. Você tem problema geopolítico e estratégico. O governo estadual é quem gerencia as polícias e, até a última década, tinha políticas integradas. Isso deixoupixbet download atualizadoexistirpixbet download atualizadoalguma forma. Você tem uma mudança que tem a ver com governança na qual cada polícia pensa por si só e presta contas ao governador. Não existe planejamento, integração. Isso vem acontecendopixbet download atualizadovários lugares do país.
pixbet download atualizado BBC Brasil - O crime organizado também mudou?
pixbet download atualizado Lima - Há uma nova dinâmica do crime organizado que ganhou uma escala nacional a partir dos presídios. A gente tem sim toda uma disputapixbet download atualizadorotaspixbet download atualizadotráfico, mas o controle territorial é feito a partir do controle dos presídios. São cercapixbet download atualizado30 organizações criminosas no país, praticamente todas nasceram dentro dos presídios. O Acre, por exemplo, já teve crises fortes nos presídios. A gente aceita que as prisões sejam escritórios do crime organizado.
E você tem ainda um fator que tem mais a ver com o Nordeste, que é o efeito perverso do crescimento que tivemos na economia. Antes da crise que começoupixbet download atualizado2014, tivemos uma interiorização da violência. As cidades cresceram, a riqueza começou a circular para além das capitais e as instituiçõespixbet download atualizadosegurança, principalmente as polícias, mas também o Judiciário e o Ministério Público, não tiveram a mesma capacidade e a mesma capilaridade. As respostas públicas não seguiram na mesma velocidade.
pixbet download atualizado BBC Brasil - Depois do Acre, é possível apontar quais estados podem passar por situação similarpixbet download atualizadocrescimento aceleradopixbet download atualizadohomicídios e crimes violentos justamente por essa conjunçãopixbet download atualizadofatores?
pixbet download atualizado Lima - Nós tivemos, no começo do ano passado, o Amazonas (com uma sériepixbet download atualizadorebeliões violentas e mortes nos presídiospixbet download atualizadojaneiropixbet download atualizado2017). Rondônia é uma bomba relógio. Rondônia e Roraima são situações que, às vezes, a gente dá pouca atenção, mas exigem cuidado redobrado. Toda região Norte,pixbet download atualizadoalguma forma, é uma nova fronteira para um outro patamarpixbet download atualizadocriminalidade. O que a BBC identificou [na reportagem sobre a escalada do crime no Acre] só revela o quão violenta são as relações no Brasil. A violência faz parte da nossa história. No momentopixbet download atualizadoque você tem instituições pouco estruturadas para conter a violência, você permite que ela se manifeste. Uma coisa que a gente tem que deixar muito explicita é que a dinâmica não é só resultado do crime organizado. A quantidadepixbet download atualizadoviolência doméstica,pixbet download atualizadocrimespixbet download atualizadomando por conflitos fundiários... o crime organizado é uma peça fundamental nesse tabuleiro, mas é só um dos problemas que nós temos no Brasil e que se manifestam com força no Norte e Nordeste porque são regiões que têm, no linguajar técnico, capacidade institucional ainda extremante frágeis para fazer frente ao que a gente está vivenciando.
pixbet download atualizado BBC Brasil - Um leitor da BBC Brasil que é do Acre nos escreveu comentando que antes não se via armapixbet download atualizadogrosso calibre como fuzil no Estado e, mais recentemente, há sempre notíciapixbet download atualizadouso ou apreensão desse tipopixbet download atualizadoarmamento. O acesso fácil às armas pesadas é parte da explicação para o aumento da criminalidade violenta?
pixbet download atualizado Lima - A violência urbana que mata no Brasil usa revólver e pistola.
pixbet download atualizado BBC Brasil - Não é fuzil?
pixbet download atualizado Lima - Não é fuzil. Isso não quer dizer que o crime organizado não está se armando para suas disputaspixbet download atualizadoterritório num momentopixbet download atualizadoque você tem uma mudançapixbet download atualizadopatamar principalmente com a cisão do PCC (Primeiro Comando da Capital) e do Comando Vermelho (CV), que antes eram aliados e hoje são inimigos e tentam fortalecer suas posições. Essas armas estão chegando sem controle por várias frentes e o Estado brasileiro não tem conseguindo frear esse fluxo porque,pixbet download atualizadofato, nossas fronteiras são muito porosas. É muito difícil combater o tráficopixbet download atualizadoarmas porque as fronteiras são difíceispixbet download atualizadoserem vigiadas. Até na fronteira dos EUA com o México, uma das mais vigiadas, passa um montepixbet download atualizadocoisa. Tem que ter clareza que não existe um escudo que nos blinde ou um muro a la Donald Trump que nos proteja. Precisa ter informação, inteligência. A questão da arma é importante quando se falapixbet download atualizadosegurança pública. O fuzil e a metralhadora são armaspixbet download atualizadoguerra e se nós conseguíssemos controlar melhor a pontapixbet download atualizadoprodução e se tivéssemos acordospixbet download atualizadocooperação para saber por onde essas armas circulam, com certeza teríamos uma maior efetividade na segurança pública.
pixbet download atualizado BBC Brasil - Inteligência pode ser uma arma mais eficiente?
pixbet download atualizado Lima - Inteligência e armaspixbet download atualizadopoderpixbet download atualizadoparada. Como foi feitopixbet download atualizadovários lugares trocando fuzis por carabinas. Não é porque o crime organizado adota estratégiapixbet download atualizadoguerrilha que a polícia precisa fazer o mesmo. Se a gente não tiver doutrina do usopixbet download atualizadoarmas nesse sentido, a gente pode estar colocandopixbet download atualizadocheque todo um esforçopixbet download atualizadoconstruçãopixbet download atualizadouma políticapixbet download atualizadosegurança pública. É um risco quando as pessoas ficam dizendo... é claro que assusta e precisamos ter poderpixbet download atualizadocapacidadepixbet download atualizadofazer frente a isso, mas não pode autorizar todo mundo (a usar fuzis).
pixbet download atualizado BBC Brasil - Com a desmilitarização das Farc, pode ser que se busque um outro inimigo público regional. O senhor acha que o PCC caminha para ser esse inimigo?
pixbet download atualizado Lima - O PCCpixbet download atualizadofato é uma organização que precisa ser muito conhecida e acho que é relativamente pouco conhecida pelas instituições. Temos investigadores e pessoas que conhecem muito, mas as corporações não incorporaram esse conhecimento para além do delegado A, o promotor X, ou a força especial H. Esse é o primeiro ponto. O segundo é: com a desmobilização das Farc no plano regional, o PCC é o que mais se aproximapixbet download atualizadoum grande inimigo regional. Ele tem capacidade operacional, tem muito dinheiro, tem capacidadepixbet download atualizadoaliciamento e corrupção e,pixbet download atualizadoalguma forma, controla fatias importantespixbet download atualizadoterritório.
pixbet download atualizado BBC Brasil - Não só no Brasil...
pixbet download atualizado Lima - Não só no Brasil, maspixbet download atualizadooutros lugares, principalmente no Paraguai. Agora uma coisa importante é que o dinheiro que compra a droga pode não estar no Brasil. A ordem bancária pode sairpixbet download atualizadooutros países. O dinheiro está circulando. Isso mostra a importânciapixbet download atualizadoter inteligência financeira forte para fazer frente a isso. A gente se esquece disso e acha que tem que ficar com um fuzil na frentepixbet download atualizadouma favela enfrentando um traficante que, na verdade, é só um funcionáriopixbet download atualizadouma cadeia muito mais poderosa que ele.
pixbet download atualizado BBC Brasil - O próprio PCC tem essa ambiçãopixbet download atualizadoser o inimigo?
pixbet download atualizado Lima - O PCC não tem ambição hegemônica como as Farcpixbet download atualizadoser um poder paralelo. O PCC visa lucro. Você não tem o PCC contra o Estado como você tinha a Farc contra o Estado colombiano tentando implantar um regime comunista. Nem PCC ou os comandos, nenhuma dessas organizações, querem mudar o plano, eles querem é ganhar dinheiro. Até vai se associar a políticos e eleger candidatos. Isso é verdade, mas não para impor uma nova ordem política ou porque querem mudança, é simplesmente porque querem aumentar os lucros. Por isso, o próprio PCC seria contra a legalização das drogas porque é um negócio super lucrativo, contra um maior controlepixbet download atualizadofluxopixbet download atualizadoarmas. O próprio crime organizado joga a favor dos pensamentos mais conservadores e reacionários porque resolver a situação enfraqueceria o poderpixbet download atualizadofogo das facções.
pixbet download atualizado BBC Brasil - Napixbet download atualizadoavaliação, o PCC está se colocando naturalmente como o próximo inimigo?
pixbet download atualizado Lima - Nosso principal inimigo na América Latina não é o crime organizado, é a ineficiência do Estado. O nosso inimigo estápixbet download atualizadooutro lugar, é nossa incompetência públicapixbet download atualizadogerir segurança. O PCC é fruto perverso da política penitenciária brasileira. A gente não pode ter medopixbet download atualizadodizer isso. Nos últimos anos, só cercapixbet download atualizado13% dos presos são acusadospixbet download atualizadohomicídios e estupros e a população (carcerária) por crimespixbet download atualizadodroga mais do que dobrou. A política penitenciária é, no fundo, a direta responsável pelo fortalecimento das facções criminosas. A gente não pode fugir dessa discussão. O Estado está fracassando e quando falo Estado, não é o poder Executivo apenas. O poder Judiciário está muito ausente desse debate. O Judiciário faz,pixbet download atualizadomeio às crises, declarações indignadas "de que não podemos admitir", mas continua demorando a julgar casospixbet download atualizadopresos provisórios, continua priorizando prender crimes relacionados a drogas. E não lida com questões práticas da governança do sistema.
pixbet download atualizado BBC Brasil - Tem ganhado força popular a ideiapixbet download atualizadoaumentar a repressão na Segurança Pública. Há um descompasso entre o que pensam alguns especialistas - que recomendam a legalização das drogas, por exemplo - e o que a população parece querer?
pixbet download atualizado Lima - A população está amedrontada, ela não acredita nas políticas públicas e, quando precisa, não pode contar com os serviços públicos e principalmente com a polícia. E tem uma relação extremamente contraditória com a polícia,pixbet download atualizadoesperança e medo. A polícia que muitas vezes gera medo é aquela a qual a população recorre para resolver problemas. O Brasil tem fracassadopixbet download atualizadodesenhar uma políticapixbet download atualizadosegurança pública e também tem fracassado ao construir um discurso que faça um contraponto civilizatório ao discurso, por exemplo, do Jair Bolsonaro que atingiu 18% da preferência do eleitorado (segundo pesquisa Datafolha feita no fimpixbet download atualizadojaneiro). Qual é o discurso do Bolsonaro? É só o discurso da ordem, não é mais nada. Contraposto com questões econômicas, políticas, ele não sabe e não tem nenhuma proposta. É a reivindicaçãopixbet download atualizadoordem, uma ordem imposta pelo medo e pela violência.
pixbet download atualizado BBC Brasil - Pelo visto, está dando certo...
pixbet download atualizado Lima - Não adianta um discurso baseado sópixbet download atualizadoevidência, só no que dizem os dados. Os especialistas erram ao achar que a razão é a única formapixbet download atualizadoconvencer a população. Se a gente olhar o que acontece com o Bolsonaro, ele não tem nenhuma racionalidade na argumentação, é pura emoção. E está com 18% (de intençõespixbet download atualizadovoto). A gente precisa dizer que os dados mostram que há caminhos e eles passam pela agendapixbet download atualizadodireitos. Mas não é dizer que é preciso primeiro resolver as desigualdades sociais, mas apontar caminhos que resolva o problema da criminalidade hoje. Temos cometido um erro histórico.
pixbet download atualizado BBC Brasil - Qual erro pixbet download atualizado ?
pixbet download atualizado Lima - Temos que ter a coragempixbet download atualizadodizer que quem está com fuzil precisa ser punido, sim. Não posso achar que ele não pode porque há desigualdades. Esse é o que precisa ser punido, ser preso. O estadopixbet download atualizadodireito não é vingança, é punição. E no debate a gente erra dando combustível a figuras como Bolsonaro e se esquecepixbet download atualizadogerar um debate que tenha empatia junto à população.