Maduro, Ortega e Morales: o que explica distanciamentojogos de cartasLulajogos de cartasantigos aliados na América Latina:jogos de cartas

De forma cautelosa, Lula estaria se distanciandojogos de cartasalguns antigos parceiros na América Latina.

Alémjogos de cartasMaduro e Ortega, também faria parte desse grupo o ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, com quem Lula sempre manteve proximidade.

Mas o que estaria levando Lula a adotar essa estratégiajogos de cartasseu terceiro mandato?

Analistas e diplomatas ouvidos pela reportagem avaliam que isso seria resultadojogos de cartasuma combinaçãojogos de cartasdois fatores principais.

De um lado, a dinâmica política brasileira teria obrigado o governo e o presidente a recalibrarem a proximidade com estes três países e seus líderes.

Venezuela e Nicarágua, por exemplo, vivem crises políticas prolongadas, e seus presidentes são acusadosjogos de cartasagir como ditadores, não respeitar direitos humanos e perseguir opositores.

De outro lado, a polarização política no Brasil teria aumentado os custos políticos para que Lula mantenha um discurso públicojogos de cartasalinhamentojogos de cartasrelação ao trio formado por líderesjogos de cartasesquerda e contra os quais pairam,jogos de cartasmaior ou menor grau, alegaçõesjogos de cartasdesrespeito a princípios democráticos.

Maduro: uma relação estremecida

Lula assumiu seu terceiro mandato com uma meta clara e públicajogos de cartasrelação à Venezuela: restabelecer a normalidade das relações entre os dois países e ajudar o país caribenho a retomar o diálogo com o resto do mundojogos de cartasmeio a severas críticasjogos de cartasorganismo internacionais e da oposição venezuelana sobre o caráter autoritário do regimejogos de cartasMaduro.

O petista mandou reabrir a embaixada brasileirajogos de cartasCaracas, desativada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), nomeou uma nova embaixadora e recebeu Madurojogos de cartasBrasília com honrasjogos de cartaschefejogos de cartasEstado durante uma cúpulajogos de cartaslíderes da América do Sul,jogos de cartasmaio do ano passado.

Na ocasião, foi criticado por afirmar que as alegaçõesjogos de cartasque o regimejogos de cartasMaduro é autoritário eram, na verdade, partejogos de cartasuma "narrativa" que deveria ser combatida pelo líder venezuelano.

"Se eu quiser vencer uma batalha, eu preciso construir uma narrativa para destruir o meu potencial inimigo. Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela,jogos de cartasantidemocracia e do autoritarismo", disse Lula a jornalistas.

Apesar do tom amistoso entre os doisjogos de cartaspúblico, nos bastidores o clima no governo brasileiro erajogos de cartasexpectativajogos de cartasrelação àquele que era visto como o grande testejogos de cartasMaduro: as eleições presidenciais neste ano.

Foi assim que, aos poucos, Lula e Maduro começaram a se distanciar, ao menos sob os holofotes.

Em dezembro do ano passado, o governo brasileiro enviou tropas à fronteira com a Venezuela depois que o presidente venezuelano realizou um plebiscito sobre a incorporação da regiãojogos de cartasEssequibo, hoje controlada pela Guiana, ao território venezuelano.

O movimento foi visto como uma espéciejogos de cartasalerta ante uma possível escaladajogos de cartastensões então promovida por Maduro.

À época, um diplomata ouvido pela BBC News Brasil afirmou que o governo brasileiro via o assunto como um movimento eleitoreiro, voltado a aglutinar apoio às vésperas da disputa presidencial.

Na ocasião, Lula enviou seu assessor para assuntos internacionais, Celso Amorim, à Venezuela para mediar a crise.

Apesarjogos de cartascontrariado com a possibilidadejogos de cartasuma disputa territorial na região, o governo brasileiro não condenou diretamente a postura venezuelana.

A conduta brasileira, no entanto, começou a mudar mais visivelmentejogos de cartasmarço passado, depois que as autoridades eleitorais da Venezuela impediram a principal líder da oposição no país, Maria Corina Machado, ejogos de cartassubstituta, Corina Yoris,jogos de cartasdisputarem a eleição.

Lula classificou o impedimento como "grave", e o Itamaraty emitiu uma nota afirmando que o país acompanhava o processo eleitoral com preocupação.

A nota e a declaraçãojogos de cartasLula foram encaradas como um sinal públicojogos de cartasuma mudança na forma como o governo petista vinha lidando com Maduro.

O governo venezuelano rebateu afirmando que a nota brasileira parecia ter sido escrita pelo "Departamentojogos de cartasEstado dos Estados Unidos".

Às vésperas da eleição, Lula voltou a se manifestarjogos de cartastom crítico ao líder venezuelano por seu alerta sobre um possível "banhojogos de cartassangue".

"Já falei com o Maduro duas vezes, falei por telefone com o Maduro, e o Maduro sabe que a única chancejogos de cartasa Venezuela voltar à normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todo mundo", disse Lula.

Foi quando Maduro aconselhou o chájogos de cartascamomila. Mesmo após Maduro levantar dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro, Lula decidiu enviar Amorim à Venezuela para acompanhar a eleiçãojogos de cartas28jogos de cartasjulho.

O resultado das urnas vem sendo contestado desde então. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo governojogos de cartasMaduro, declarou a vitória do atual presidente.

A oposição, por outro lado, afirma que a vitória foijogos de cartasEdmundo González, que assumiu a cabeçajogos de cartaschapa da oposição.

O governo dos Estados Unidos reconheceu a vitória da oposição. China e Rússia, por outro lado, reconheceram a vitóriajogos de cartasMaduro.

O Brasil, no entanto, preferiu aguardar e pediu, juntamente com Colômbia e México, que as autoridades da Venezuela apresentassem as atasjogos de cartasvotação para garantir a lisura do pleito. Até agora, no entanto, nada foi apresentado.

Para Carol Pedroso, professorajogos de cartasRelações Internacionais da Universidade Federaljogos de cartasSão Paulo (Unifesp), a mudança na posturajogos de cartasLulajogos de cartasrelação a Maduro pode ser explicada,jogos de cartasparte, pela polarização política interna no Brasil.

Segundo ela, à medida que a direita se organizou no Brasil e passou a focar na proximidadejogos de cartasLula com líderes como Hugo Chávez ou Nicolás Maduro, o custo para manter as relações como eram ficou mais caro.

“A polarização política no Brasil é um dos elementos que complicam qualquer posicionamentojogos de cartasrelação à Venezuela”, explica Pedroso.

"Nos dois primeiros mandatosjogos de cartasLula, as alianças internacionais dele não eram alvojogos de cartascríticas tão pesadas. Agora, o tema é instrumentalizado pela direita brasileira."

A pesquisadora Stephanie Braun, doutorandajogos de cartasRelações Internacionais pela Universidade do Estado do Riojogos de cartasJaneiro (Uerj), concorda que "o aumento na polarização política no âmbito doméstico brasileiro, aliada a um incremento na voz da opinião pública sobre temáticas internacionais, acaba pressionando o governo e faz com que as atitudes sejam muito bem pensadas e elaboradas antesjogos de cartasserem colocadasjogos de cartasprática".

"A polarização torna maiores os custosjogos de cartasmanter aliançasjogos de cartasalguns tabuleiros regionais", diz Braun.

Pedroso afirma que as declarações amistosasjogos de cartasLulajogos de cartasrelação a Maduro no início do terceiro mandato deram a impressãojogos de cartasque o petista não teria se dado conta, àquela altura, das reações negativas que isso causaria agorajogos de cartascontraste com o que aconteceujogos de cartasseus dois primeiros governos, quando a polarização política seria a seu ver menos intensa.

"Parece que Lula não dava, no início do seu mandato, tanto valor a esse fato (a polarização) e, muitas vezes, falavajogos de cartasimproviso e isso gerava muito ruído", afirma Pedroso.

"Algumas declaraçõesjogos de cartasLula sobre Venezuela impactaram emjogos de cartaspopularidade. Agora, ele parece estar mais atento a isso."

Um exemplojogos de cartascomo a polarizaçãojogos de cartastorno da Venezuela pode ter consequências práticas aconteceu na semana passada.

A Comissão Relações Exteriores do Senado aprovou o convite para que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e Celso Amorim sejam ouvidos sobre a posição do Brasiljogos de cartasrelação ao regimejogos de cartasMaduro.

A comissão tem maioria governista, mas também é composta por alguns dos principais opositores do governo Lula, como a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP-MS) e o ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS).

Ortega: esfriamento e quase rompimento

Apesar do caráter público das falasjogos de cartasLula e Maduro, a tensão nas relações entre os dois países não parece ter chegado ao nível do que aconteceu nas últimas semanas entre o Brasil e a Nicarágua.

No iníciojogos de cartasagosto, a governojogos de cartasDaniel Ortega expulsou o embaixador brasileiro no país, Breno Dias da Costa.

Um diplomata brasileiro diz à BBC News Brasiljogos de cartascaráter reservado que o motivo oficial da expulsão teria sido o fatojogos de cartasCosta não ter participado da festajogos de cartascelebração dos 45 anos da Revolução Sandinista.

Este diplomata, no entanto, afirma que o não comparecimentojogos de cartasCosta foi determinado pelo Itamaraty e faz parte da políticajogos de cartasdistanciamento que o governo brasileiro já vinha adotandojogos de cartasrelação à Nicarágua desde 2023.

A ordem, segundo ele, era manter as relaçõesjogos de cartasníveis mínimos, evitando situações que possam demonstrar o apoio do Brasil ao governo da Nicarágua. Dessa forma, o embaixador era orientado a não participarjogos de cartaseventos públicosjogos de cartascaráter político.

Um dos motivos para essa posição foi o recrudescimento do regime contra a oposição e membros da Igreja Católica que se posicionamjogos de cartasforma crítica ao governojogos de cartasOrtega.

Em junhojogos de cartas2023, ao se encontrar com o papa Francisco, Lula disse que conversaria com Ortega para interceder pelo bispojogos de cartasMatagalpa, Rolando José Alvarez, preso pelo governo da Nicarágua.

"Vou tentar ajudar, se puder ajudar. Nem todo mundo é grande para pedir desculpas; a palavra é simples, mas exige grandeza", disse Lula a jornalistas na ocasião.

O bispo Álvarez foi condenado por um tribunal nicaraguense por "desestabilizar o país" e se encontrajogos de cartasprisão domiciliar. Ortega, porjogos de cartasvez, chamou a Igreja Católicajogos de cartas"ditadura perfeita".

O bispo foi soltojogos de cartasjulhojogos de cartas2023, após a falajogos de cartasLula, mas voltou a ser preso dois dias depois.

Ortega também é criticado internacionalmente por se manter no poder desde 2007 por meiojogos de cartaseleições consecutivas, algumas delas contestadas pela oposição, governos estrangeiros, como o dos Estados Unidos, e por entidades internacionais como a União Europeia.

Uma das principais razões para as contestações são as alegaçõesjogos de cartasque o regimejogos de cartasOrtega estaria perseguindo seus principais opositores, reduzindo as chancesjogos de cartasuma alternânciajogos de cartaspoder.

O líder nicaraguense, no entanto, se defende e afirma ser alvojogos de cartasperseguição políticajogos de cartaspaíses como os Estados Unidos.

A resposta brasileira à expulsão do seu embaixador foi na mesma moeda. Em 8jogos de cartasagosto, o governo Lula anunciou a expulsão da embaixadora da Nicarágua no país. Apesar da expulsão, o Itamaraty informou que o Brasil não rompeu relações diplomáticas com o país.

Esse distanciamento contrasta com a proximidade que Lula e Ortega cultivaram entre o final dos anos 1970 e início dos 1980, quando eram vistos como dois dos principais líderesjogos de cartasesquerda da América Latina.

Enquanto Lula liderou greves durante os últimos anos da ditadura militar no Brasil e participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, Ortega foi um dos principais comandantes da guerrilha que derrubou a ditadura da família Somoza na Nicarágua antesjogos de cartasser eleito presidente.

No poder, Lula foi o primeiro presidente brasileiro a visitar a Nicarágua,jogos de cartas2007, quando Ortega já estava na Presidência.

Em 2010, foi a vezjogos de cartasOrtega ser recebido por Lula,jogos de cartasBrasília. Na ocasião, Lula chamou o presidente nicaraguensejogos de cartas"companheiro" e "amigo".

Para Pedroso, a situação política na Nicarágua tornou qualquer tipojogos de cartasapoio público a Ortega insustentável.

“O regimejogos de cartasDaniel Ortega já não é mais revolucionário há muito tempo”, afirma Pedroso.

“Hoje, ele persegue os mesmos que fizeram a revolução com ele nos anos 1980. Essa mudança é tão evidente que até parte da esquerda brasileira não quer mais ter vínculo com o que acontece na Nicarágua.”

Para a pesquisadora Stephanie Braun, o Brasil buscava atuar como um mediador entre Ortega e lideranças religiosas a pedido do Vaticano.

Najogos de cartasavaliação, o prejuízo da trocajogos de cartasexpulsõesjogos de cartasdiplomatas deverá ser maior para a Nicarágua.

"Nesse caso, prejudicar as relações bilaterais é mais impactante para a Nicarágua do que para o Brasil, dado que o país possui menor presença e impacto econômico no sistema internacional e tal ato reforça seu isolamento internacional."

Morales e o racha na esquerda boliviana

Lula e o ex-presidente da Bolívia Evo Morales se chamamjogos de cartasamigos e participaramjogos de cartasdiversas iniciativasjogos de cartasconjunto durante a primeira década dos anos 2000, quando os dois presidiam seus respectivos países.

Morales chegou, inclusive, a ir à cerimôniajogos de cartaspossejogos de cartasLula,jogos de cartas2023, junto com o atual presidente e, agora ex-aliado político, Luis Arce.

É justamente a rusga entre Morales e Arce que vem dando mostrasjogos de cartasum certo distanciamento entre Lula e o ex-presidente.

Arce foi ministro da economiajogos de cartasMorales e contou com o apoio do ex-presidente para sucedê-lo,jogos de cartas2020.

Em 2019, Morales renunciou ao seu quarto mandato após semanasjogos de cartasprotestos contrajogos de cartasreeleição.

Mas voltou a pleitear um novo mandato apesarjogos de cartasa Justiça boliviana já ter se manifestado pela impossibilidadejogos de cartasmaisjogos de cartasdois mandatos presidenciais no país.

Os planosjogos de cartasMorales esbarram no desejojogos de cartasArcejogos de cartastentar a reeleição.

Um dos ápices do desentendimento entre os dois aconteceujogos de cartasjunho deste ano quando militares tentaram invadir a sede do governo boliviano no que Arce classificou como uma tentativajogos de cartasgolpejogos de cartasEstado.

Morales, porjogos de cartasvez, chamou o movimentojogos de cartas"autogolpe" supostamente orquestrado por Arce para melhorarjogos de cartaspopularidade.

O ex-presidente não apresentou nenhuma evidência para corroborarjogos de cartasacusação.

A posturajogos de cartasMoralesjogos de cartasrelação ao evento contrasta com a demonstraçãojogos de cartasapoio a Arce dada por Lula após a tentativajogos de cartasinvasão pelos militares.

Logo depois do evento, tanto Lula quanto o Itamaraty se manifestaramjogos de cartasapoio à democracia no país.

Dias depois,jogos de cartasjulho deste ano, Lula visitou a Bolívia, onde se encontrou com Arce e reiterou seu apoio ao governo boliviano, ignorando a posiçãojogos de cartasMorales sobre o assunto.

"Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismos", disse Lula durante declaração à imprensajogos de cartasSanta Cruzjogos de cartasLa Sierra, na Bolívia.

"Temos a enorme responsabilidadejogos de cartasdefender a democracia contra as tentativasjogos de cartasretrocesso. Em todo o mundo, a desunião das forças democráticas só tem servido à extrema direita."

Lula voltou da Bolívia sem se encontrar com Morales, embora não tenha descartado conversar com o líder boliviano no futuro.

Para Braun, a posiçãojogos de cartasLula sobre Morales e Arce é delicada: “O Brasil tem buscado atuar como mediador nas disputas internas entre Evo e Arce”.

Essa postura, segundo ela, visa manter boas relações com ambos os lados, independentemente do desfecho político das próximas eleições na Bolíviajogos de cartas2025​.

Liderança regional

Braun avalia que, apesar do distanciamento entre Lula e esses três antigos aliados, dois deles ainda no poder, o papeljogos de cartasliderança regional do Brasil na América Latina não estariajogos de cartasxeque.

"O Brasil ainda se mantém como o principal líder regional na atualidade", diz a pesquisadora.

"Dependendo do desfechojogos de cartastais casos, a atuação do Brasil como mediadorjogos de cartastais imbróglios regionais fortalecerá ainda mais o papeljogos de cartasliderança regional brasileira."

O diplomata brasileiro ouvido pela BBC News Brasiljogos de cartascaráter reservado tem uma interpretação semelhante.

Ele faz referência à carta assinada por 30 ex-presidentes latino-americanosjogos de cartasque eles pedem que Lula "reafirme" seu compromisso com a democracia na Venezuela.

Segundo ele, o fatojogos de cartasa carta ter sido enviada a Lula mostraria que o Brasil é visto como uma liderança regional capazjogos de cartasmediar a crise na Venezuela.