Essequibo: por que Brasil colocou tropas e diplomatasreal bet dicasprontidão com disputa entre Venezuela e Guiana :real bet dicas
Analistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que o resultado deverá ser favorável à criação do novo Estado venezuelanoreal bet dicasterras hoje sob administração da Guiana e a principal dúvida é: até onde o regimereal bet dicasMaduro estaria disposto a colocar o planoreal bet dicasprática?
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Fortaleza x Cear | Campeonato Cearense (Final) | 16h30 |
Fiorentina x Milan | Campeonato Italiano | 16h45 |
Fim do Matérias recomendadas
Em visita à região no finalreal bet dicasoutubro, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, declarou que o país não abriria mãoreal bet dicasEssequibo.
"Que ninguém cometa um único erro. Essequibo é nosso, cada centímetro quadrado", disse.
Em meio a esse cenárioreal bet dicastensão entre dois países sul-americanos, o governo brasileiro mobilizou tropas e diplomatas para evitar uma escalada na crise.
Na quarta-feira (28/11), a poucos dias do referendo, o Ministério da Defesa anunciou que acompanha o caso e que aumentou as ações na região.
"O Ministério da Defesa tem acompanhado a situação. As açõesreal bet dicasdefesa têm sido intensificadas na região da fronteira ao Norte do país, promovendo maior presença militar", disse a pastareal bet dicasnota enviada à BBC News Brasil.
Especialistas e duas fontes diplomáticas brasileiras ouvidasreal bet dicascaráter reservado dizem que a realização do referendo preocupa o governo brasileiro por colocarreal bet dicasrisco o que classificam como tradiçãoreal bet dicasresolução pacíficareal bet dicasconflitos territoriais na América do Sul.
Os diplomatas avaliam que a perspectivareal bet dicasuma iniciativa militar dos venezuelanos sobre o território é vista como remota, mas que o tema deve ser tratado com cautela, especialmente porque a Venezuela realizará eleições presidenciaisreal bet dicas2024 e o assunto poderia ser usado politicamente por Maduro como plataformareal bet dicassua campanha.
Consultas e tropas mobilizadas
Fontes diplomáticas ouvidas pela BBC News Brasil contam que a preocupação do Brasil com o assunto tem alguns meses. No dia 9real bet dicasnovembro, o presidente brasileiro e da Guiana conversaram por videoconferência e, segundo um diplomata brasileiro, o presidente guianense expressou suas preocupações sobre o referendo a Lula (PT).
Duas semanas depois, no dia 22real bet dicasnovembro, Lula enviou o assessor-especial para assuntos internacionais, o embaixador Celso Amorim, a Caracas. Ele se reuniu com Nicolás Maduro na capital venezuelana e ambos teriam, segundo as duas fontes, conversado longamente sobre o assunto.
Uma das fontes ouvidas pela BBC News Brasil disse que, ao longo da conversa, Maduro teria tentado tranquilizar Amorim sobre as reais intenções do seu governoreal bet dicasrelação à região. O brasileiro, porreal bet dicasvez, teria expressadoreal bet dicaspreocupação com o tema e reforçado a posiçãoreal bet dicasque a disputa seja resolvidareal bet dicasforma pacífica.
Dias depois, integrantes dos Ministérios das Relações Exteriores e da Defesa passaram a analisar, conjuntamente, a crise na região.
Foi a partir dessa análise que, na quarta-feira, o Ministério da Defesa divulgou a notareal bet dicasque anuncia a intensificação das açõesreal bet dicasdefesa na fronteira. A regiãoreal bet dicasEssequibo faz divisa com a fronteira norte do Brasil, especificamente com o Estadoreal bet dicasRoraima.
De acordo com o jornal Folhareal bet dicasS. Paulo, houve o deslocamentoreal bet dicas200 militares e veículos blindados sobre rodas para um pelotãoreal bet dicasfronteira localizado na cidadereal bet dicasPacaraima,real bet dicasRoraima, no extremo norte do país. Também teria havido o transportereal bet dicasmunição.
Um dos diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil avalia que a crise preocupa o Itamaraty porque um conflito entre os dois países romperia com a tradição pacíficareal bet dicasdisputas territoriais na região e porque aconteceriareal bet dicasuma área extremamente próxima ao Brasil.
Estima-se que 300 mil pessoas vivamreal bet dicasEssequibo e um conflito poderia ter impactos econômicos e sociais nas áreas brasileiras próximas.
Havia a previsãoreal bet dicasque Lula e o presidente guianense se encontrassemreal bet dicasDubai, nos Emirados Árabes Unidos, durante a passagemreal bet dicasambos pelo país para a cúpula do ONU sobre o clima (COP 28), mas a reunião bilateral acabou não ocorrendo.
Um elemento que também causa preocupação junto ao governo brasileiro é a incerteza sobre o processo decisório dentro do governo Maduro.
Em novembro, segundo o jornal Folhareal bet dicasS. Paulo, emissários do governo Venezuelano disseram que, a depender do resultado do referendo, o governoreal bet dicasCaracas poderia "ser forçado pelo povo" a agir.
As declarações teriam sido dadas durante um encontroreal bet dicasministros da Defesa ereal bet dicasRelações Exteriores da América do Sul,real bet dicasBrasília.
Logo após a decisão da Corte Internacionalreal bet dicasJustiça sobre a disputa, Maduro foi às redes sociais dizer que não reconhece a instância como instrumento para resolver a disputa com a Guiana e voltou a convocar a população a participar do plebiscito.
"Não podem minar o direito da comunidade venezuelanareal bet dicasse expressar através do voto", disse Maduro.
O temor entre parte da diplomacia brasileira é que Maduro explore a disputa sobre Essequiboreal bet dicasforma política para tentar mobilizar mais votos nas eleições do ano que vem.
Essa possibilidade também é cogitada pelo professorreal bet dicasRelações Internacionais da Universidade Federalreal bet dicasMinas Gerais (UFMG) Lucas Carlos Lima.
"Sem dúvida a decisão do referendo e o discursoreal bet dicasrecuperaçãoreal bet dicasum território supostamente perdido por uma ilegalidade é algo que move o espírito nacional e pode ser um argumento nas eleições. Sabemos que apelos ao nacionalismo podem ser fatores extremamente decisivos numa eleição. Isso pode também servirreal bet dicasteste da popularidade do atual governo", disse à BBC News Brasil.
Em outubro deste ano, o governo e a oposição da Venezuela assinaram um acordo prevendo regras para as eleições presidenciaisreal bet dicas2024 que incluem a atuaçãoreal bet dicasmissõesreal bet dicasobservação da Organização das Nações Unidas e da União Europeia.
Conflito na vizinhança?
Especialistasreal bet dicasRelações Internacionais ouvidos pela BBC News Brasil se dividem quanto à possibilidadereal bet dicasque a crisereal bet dicastornoreal bet dicasEssequibo possa resultarreal bet dicasum conflito armado.
"Acredito que o custo políticoreal bet dicasuma ação militar da Venezuela é muito alto. Ao fazê-lo, a Venezuela estaria violando o Direito Internacional e poderia gerar diferentes reações tanto da comunidade internacional quanto dos países da região", disse o professor Lucas Carlos Lima. "Acredito que o custo é muito alto para ser factível", complementou.
Já para o professor aposentadoreal bet dicasRelações Internacionais da Universidade Federalreal bet dicasSanta Maria e ex-representante da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, Ricardo Seitenfus, o referendo colocaria Maduro sob pressão, o que poderia levá-lo a escalar a crise.
Ele chama o referendo convocado pela Venezuelareal bet dicas"consulta" por considerá-lo "ilegal" do pontoreal bet dicasvista do Direito Internacional uma vez que o território sobre o qual ele se destina não pertenceria, atualmente, à Venezuela.
"Maduro terá um problema pós-consulta: o que fazer com uma vitória que se anuncia acachapante? Desconhecer o resultado é impossível. Ele pode aumentar a pressão na fronteira? Sim. Invadir, no que seria um passeio militar? É provável. Esse day-after (dia seguinte) está carregadoreal bet dicasperigos, pois os Estados Unidos, o Reino Unido, a Colômbia e o Brasil reagirão", disse Seitenfus à BBC News Brasil.
Seitenfus comparou Maduro ao ditador argentino Leopoldo Galtieri que,real bet dicas1982, determinou a ocupação das Ilhas Malvinas e foi derrotado militarmente por tropas inglesas. A derrota é vista como um dos elementos que antecipou o fim da ditadura militar na argentina que durou entre 1976 e 1983.
"Caso não se contenha, Maduro será o futuro Leopoldo Galtieri", disse.
O que é o Essequibo?
Essequibo é como ficou conhecida uma áreareal bet dicasaproximadamente 159 mil quilômetros quadrados (equivalente a pouco mais que o Estado do Ceará) situada entre a Venezuela e a Guiana.
A região é ricareal bet dicasminerais como ouro, cobre, diamante e, recentemente, lá também foram descobertos enormes depósitosreal bet dicaspetróleo e outros hidrocarbonetos.
O referendo que ser realizado neste domingo remonta uma disputa iniciada ainda no século 19 durante o processoreal bet dicasindependência das ex-colônias espanholas. Em 1811, a Venezuela tornou-se independente e a regiãoreal bet dicasEssequibo passou a fazer parte do país.
Três anos depois, porém, o Reino Unido comprou a então Guiana Inglesa por meioreal bet dicasum tratado com os Países Baixos. O tratadoreal bet dicascompra, no entanto, não definiu com precisão qual seria a linhareal bet dicasfronteira do país com a Venezuela.
Em 1840, o Reino Unido nomeou o explorador Robert Shomburgk para definir essa fronteira e uma linha, chamada Linha Schomburgk, foi inaugurada.
Com ela, a então Guiana Inglesa passou a ter 80 mil quilômetros quadrados adicionaisreal bet dicasrelação ao território inicialmente adquirido dos Países Baixos.
Em 1841, começou oficialmente a disputa pelo território com denúncias sobre uma incursão indevida do Reino Unido no território.
Nas décadas seguintes, a controvérsiareal bet dicastornoreal bet dicasEssequibo passou a fazer parte da disputa por influência na América do Sul entre os Estados Unidos, uma potência entãoreal bet dicasascensão, e o então poderoso Império Britânico.
Os norte-americanos expandiram seus interesses pela região e usavam como argumento a chamada Doutrina Monroe ,cujo slogan era "América para americanos". A postura representava, na prática, uma tentativareal bet dicaslimitar a influência das potências europeias sobre o continente.
Em 1886, uma nova versão da Linha Schomburgk foi traçada, incorporando uma nova porçãoreal bet dicasterritório à Guiana Inglesa.
Nove anos depois,real bet dicas1895, os Estados Unidos, então aliados da Venezuela, denunciaram a definição da fronteira e recomendaram que o caso fosse definido por meioreal bet dicasuma arbitragem internacional.
Três anos mais tarde,real bet dicas1899, foi emitida a Sentença Arbitralreal bet dicasParis, que decidiureal bet dicasforma favorável ao Reino Unido.
Meio século depois,real bet dicas1949, porém, veio a público um memorandoreal bet dicasum advogado norte-americano que atuou na defesa da Venezuela no processoreal bet dicasarbitragemreal bet dicasParis.
O documento denunciava uma suposta imparcialidade dos juízes do caso. A divulgação desse memorando ereal bet dicasoutros documentos do processo passaram a ser usados pela Venezuela para pedir que a Sentençareal bet dicasParis fosse considerada "nula e sem efeito".
Em 1966, porém, o país e o Reino Unido firmaram o Acordoreal bet dicasGenebra, que reconheceu a reivindicação venezuelana e se comprometeu a buscar soluções para resolver a disputa.
Mais recentemente, a Guiana solicitou que a Corte Internacionalreal bet dicasJustiça, sediadareal bet dicasHaia, na Holanda, arbitre a disputa, mas o governo venezuelano vem, reiteradamente, negando a legitimidade da instituição para decidir o futuroreal bet dicasEssequibo.
Reinício da disputa
Apesarreal bet dicasa disputa territorial entre os dois países ter maisreal bet dicasum séculoreal bet dicasexistência, as tensões passaram a se intensificar a partirreal bet dicas2015, quando a petroleira norte-americana ExxonMobil anunciou ter encontrado enormes depósitosreal bet dicaspetróleo na costa da área disputada.
Até o momento, a multinacional americana ExxonMobil e os seus parceiros fizeram 46 descobertas que elevaram as reservasreal bet dicaspetróleo da Guiana para cercareal bet dicas11 bilhõesreal bet dicasbarris, representando cercareal bet dicas0,6% do total mundial.
As descobertas, consideradas surpreendentes, tornaram a Guiana, um paísreal bet dicas800 mil habitantes, numa das economias que mais crescem no mundo. O produto interno bruto (PIB) do país deverá crescer 25% este ano. Em 2022, o aumento no PIB foireal bet dicas57,8%.
A exploraçãoreal bet dicaspetróleo na costareal bet dicasEssequibo é um dos pontos mais criticados pelo regime venezuelano nos últimos anos.
O governo questiona, por exemplo, a emissãoreal bet dicaslicençasreal bet dicasexploração para multinacionais que atuam na costa da regiãoreal bet dicasdisputa.
"A Guiana não é uma vítima, não tem títulos sobre o territórioreal bet dicasdisputa, é uma ocupantereal bet dicasfato e tem violentado reiteradamente o acordoreal bet dicasGenebra e a legalidade internacional, outorgando unilateralmente concessões no território terrestre ereal bet dicaságuasreal bet dicasdelimitação pendente", disse o governo venezuelano.
A equipe jurídica da Guiana, que denunciou o referendo perante o tribunal internacional, descreve-o como uma "ameaça existencial" que procura preparar o caminho para a anexaçãoreal bet dicasEssequibo pela Venezuela.
O papel do Brasil
Os diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que o país vem enviando mensagens claras ao governo venezuelano sobre a inviabilidadereal bet dicasuma escalada na crise com a Guiana.
Uma demonstração disso, segundo eles, seria a manifestação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, durante a reuniãoreal bet dicasque enviados da Venezuela teriam elevado o tom sobre o referendo,real bet dicasBrasília.
"O nosso compromisso comum com a integração da América do Sul é reiterarmos — cada umreal bet dicasnossos doze países — o nosso compromisso com a solução pacífica das controvérsias", disse o chanceler na ocasião.
Para Lucas Carlos Lima, da UFMG, o Brasil tem tentado evitar um aumento nas tensões na região.
"O Brasil também tem uma partereal bet dicassuas fronteiras com a Guiana determinada por arbitragem e acredito que não deseja que esse tiporeal bet dicasassentamento pacífico se transformereal bet dicascontestações. Os bastidores diplomáticos sugerem que o Brasil está interessadoreal bet dicasrestabelecer relações estáveis com a Venezuela e, para isso, está voltado a não escalar o conflito", disse o professor.
Já o professor Ricardo Seitenfus avalia que o país deveria ser mais contundentereal bet dicassuas manifestações sobre o referendo venezuelano.
"O Brasl não pode ser conivente com nada que venha a abalar o princípio da paz sul-americana [...] O Brasil precisa se manifestarreal bet dicasforma contundente a respeito desse referendo e deixar claro que essa consulta é nula, pois só quem pode decidir sobre o destinoreal bet dicasEssequibo é a populaçãoreal bet dicasEssequibo e não o povo da Venezuela", conclui o professor.