Quem é a vicebaixar aplicativo betnacionalMilei, que defende revisar indenizações da ditadura na Argentina:baixar aplicativo betnacional
Em setembro, um dos maiores centros militaresbaixar aplicativo betnacionaltortura daquele período, a Esma — já transformado no Espaço Memória e Direitos Humanos na década passada —, foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco.
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No entanto, para a vicebaixar aplicativo betnacionalMilei, essa política implementada não é correta. Villaruel tem dito que defende “a memória completa”, que, segundo ela, deve considerar que havia "uma guerra" que colocava militares e forçasbaixar aplicativo betnacionalsegurançabaixar aplicativo betnacionalum lado e, do outro, guerrilheirosbaixar aplicativo betnacionalesquerda a quem chamabaixar aplicativo betnacional"terroristas".
Em 2006, ela criou o Centrobaixar aplicativo betnacionalEstudos Legais sobre o Terrorismo e suas Vítimas (Celtyv) para buscar reparação para as vítimas dos grupos Montoneros e Exército Revolucionário do Povo (ERP) — organizações guerrilheiras argentinas que agiram a partir do início dos anos setenta, antes do golpe militarbaixar aplicativo betnacional1976. Os Montoneros erambaixar aplicativo betnacionalraiz peronista, ligada ao movimento criado pelo ex-presidente argentino Juan Domingo Perón; já o ERP era uma organizaçãobaixar aplicativo betnacionalorientação trotskista.
Filha, sobrinha e netabaixar aplicativo betnacionalmilitares, Vicky, como a chamam seus apoiadores, tem dito que a Argentina “escondeu”baixar aplicativo betnacionalhistória.
“Nós estamos conseguindo abordar um montãobaixar aplicativo betnacionalideias que eram impensáveis, que eram intocáveis, que não podiam ser questionadas”, disse Villarruel, já na reta final da campanha do primeiro turno,baixar aplicativo betnacionalentrevista à rádio Cadena 3, da provínciabaixar aplicativo betnacionalCórdoba.
O discursobaixar aplicativo betnacionalVillarruel é rechaçado por defensoresbaixar aplicativo betnacionaldireitos humanos e ativistas que veem nele negacionismo histórico e falsa simetria ao comparar o uso do Estado para reprimir e matar inimigos políticos durante a ditadura e atividades guerrilheiras no período.
Analistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a propostabaixar aplicativo betnacionalreparação para vítimasbaixar aplicativo betnacionalatos guerrilheiros é legítima, mas também dizem ver no discurso uma “defesa implícita” da ditadura e “um riscobaixar aplicativo betnacionalretrocesso” na políticabaixar aplicativo betnacionaldireitos humanos.
De plataforma política a temabaixar aplicativo betnacionalcampanha
Villarruel decidiu criarbaixar aplicativo betnacional2006baixar aplicativo betnacionalONG para atender vítimasbaixar aplicativo betnacionalatos dos grupos armadosbaixar aplicativo betnacionalesquerda nos anos 70. Na época, o governobaixar aplicativo betnacionalNéstor Kirchner tinha como bandeira a defesa da reabertura das investigações sobre os crimes cometidos durante a ditadura militar.
Para isso, Kirchner, que consolidava ali um braço próprio do peronismo, contou com o respaldo das entidadesbaixar aplicativo betnacionaldireitos humanos Mães e Avós da Praçabaixar aplicativo betnacionalMaio — reconhecidas internacionalmente pela buscabaixar aplicativo betnacionalseus filhos e netos, sequestrados na ditadura.
A vicebaixar aplicativo betnacionalMilei seguiu sem participação direta na política partidária até se juntar a seu companheirobaixar aplicativo betnacionalchapa. Victoria Villarruel só começou a ficar conhecida nacionalmente ao ser empossada como deputada federalbaixar aplicativo betnacionaldezembrobaixar aplicativo betnacional2021.
“Pelas vítimas do terrorismo”, disse ela, ao microfone, na cerimôniabaixar aplicativo betnacionalposse no Congresso Nacional.
A declaração gerou críticas abertas do atual governo do presidente Alberto Fernández ebaixar aplicativo betnacionalsua vice-presidente, a ex-mandatária Cristina Kirchner.
“Ela [Victoria Villarruel] reinvindica o terrorismobaixar aplicativo betnacionalEstado e nega a ditadura militar. E, nós, argentinos, temos um pacto forte contra a ditadura”, disse, na ocasião, o ministro da Defesa, Jorge Taiana.
Naquele dezembrobaixar aplicativo betnacional2021, Victoria Villarruel e Javier Milei inauguravam a pequena bancada da A Liberdade Avança (LLA), movimento pelo qual agora venceram as eleições presidenciais após um crescimento meteórico.
Para a analistabaixar aplicativo betnacionalopinião pública da consultoria Tres Punto Zero e professora da Universidadebaixar aplicativo betnacionalBuenos Aires Shila Vilker, Villarruel e Milei conseguiram colocar como tema na campanha presidencial a memória da ditadura e a violência política da décadabaixar aplicativo betnacional1970.
“Foi um assunto que apareceubaixar aplicativo betnacionalforma inesperada na campanha", afirma ela. "Fico com a impressão que, por trás da demanda legítima por parte das vítimas das organizações armadas, isso signifique uma defesa implícita da ditadura”, diz Vilker.
Esta defesa, afirma a analista, não poderia ser feita “de forma explícita” porque na Argentina existe um “consenso social, acadêmico e judicialbaixar aplicativo betnacionalrelação ao que foi o terrorismobaixar aplicativo betnacionalEstado, dos crimes contra a humanidade, da história argentina”.
Para ela, o desinteresse pela democracia entre parte dos mais jovens, a crise econômica e os discursos da A Liberdade Avança podem ser “um riscobaixar aplicativo betnacionalretrocesso” para a políticabaixar aplicativo betnacionaldireitos humanos e para a condenação da ditadura.
“Entre os que têm 16 e 21 anos, seisbaixar aplicativo betnacionalcada dez valorizam a democracia. Uma maioria, sem dúvida. Mas existem quatrobaixar aplicativo betnacionalcada dez que não têm opinião formada, ou não estão interessados ou dizem ter questões mais urgentes, como a economia”, disse ela.
Autorbaixar aplicativo betnacionaluma sériebaixar aplicativo betnacionallivros sobre os anos 1970 na Argentina, o jornalista Ceferino Reato descreve Villarruel como uma advogada “muito conservadora, católica, com moralbaixar aplicativo betnacionalultradireita". Ele diz que ela sempre trabalhoubaixar aplicativo betnacionalnome das vítimas dos grupos armadosbaixar aplicativo betnacionalesquerda e que só passou a ganhar espaço nos meiosbaixar aplicativo betnacionalcomunicação a partir do seu vínculo com Milei.
“Acho que ela se espelha nas próprias organizaçõesbaixar aplicativo betnacionaldireitos humanos que defendem as vítimas dos militares e da repressão, da ditadura", afirma Reato, cujo livro mais recente se chama Masacre en el Comedor ("Massacre no Refeitório",baixar aplicativo betnacionaltradução livre), que relata um atentado a bomba do grupo do guerrilheiro Montonero, cem dias após o inicio da ditadura.
"Ela já disse, por exemplo, que quer implementar leis para indenizar as vítimas da guerrilha e para criar um monumento que as recorde. Se vai conseguir ou não, não sabemos”, seguiu.
Villarruel afirma que "existem 1.094 vítimas do terrorismo dos anos 1970" que "jamais foram reconhecidas pelo Estado”. De acordo com Reato, que conhece o tema por causa das pesquisas e entrevistas que realizou para seus livros, os familiares destes mortos “nunca receberam nenhuma indenização”.
No portal oficial Registro Unificadobaixar aplicativo betnacionalVítimas do Terrorismobaixar aplicativo betnacionalEstado (Ruvte) informa-se, porbaixar aplicativo betnacionalvez, que o programa reúne e atualiza dados sobre “as vítimas da repressão ilegal do Estado argentino”, sem referência às vítimas da guerrilha.
Procurada pela BBC News Brasil, Villarruel não atendeu aos pedidosbaixar aplicativo betnacionalentrevista. A reportagem também buscou sem sucesso a legisladora Lucía Elena Montenegro, que é aliadabaixar aplicativo betnacionalVillarruel na Legislaturabaixar aplicativo betnacionalBuenos Aires.
Númerobaixar aplicativo betnacionalvítimas da ditadura
Villarruel tem sido questionada por ter ido visitar o ex-ditador Jorge Videla na cadeia, antesbaixar aplicativo betnacionalsua mortebaixar aplicativo betnacional2013. Em resposta, ela diz que foi entrevistá-lo para seus livros históricos sobre os anos 1970.
A vicebaixar aplicativo betnacionalMilei não nega que foram cometidos crimes durante a ditadura. Quando perguntadabaixar aplicativo betnacionaluma entrevista ao canal La Nación+ se negava o que aconteceu durante a ditadura militar, a vicebaixar aplicativo betnacionalMilei respondeu: “Não”. E quando questionada se houve crimes contra os direitos humanos na ditadura, respondeu: “Sim”.
Mas ela tem repetido que, como vice-presidente, impulsionará uma revisão nas indenizações concedidas pelo Estado às vítimas que foram alvo da repressão do Estado.
A advogada não falabaixar aplicativo betnacionalnúmeros, masbaixar aplicativo betnacionalseus discursos cita que guerrilheiros mortos "em combate" ou militantes que ela disse que se mataram na cadeiabaixar aplicativo betnacionallealdade a seus movimentos não deveriam receber dinheiro do Estado.
As ideiasbaixar aplicativo betnacionalVillarruel também ecoam nas falas do líder da chapa. Em um dos debates presidenciais, há três semanas, Javier Milei questionou a quantidadebaixar aplicativo betnacionalvítimas sequestradas ("desaparecidos") pela repressão organizada pela ditadura.
“Estamos absolutamente contra uma visão torta da história. Na nossa opinião, houve uma guerra nos anos 1970 e, naquela guerra, as forças do Estado cometeram excessos, mas também os terroristas dos Montoneros e do ERP mataram gente, colocaram bombas e cometeram crimes contra a humanidade”, disse o candidato libertário.
“Não foram 30 mil desaparecidos. Foram 8.753”, dissebaixar aplicativo betnacionaloutro momento.
"São 30 mil. Nunca mais. Nunca mais", rebateu, depois, o ativistabaixar aplicativo betnacionaldireitos humanos Adolfo Pérez Esquivel, usando a frase que simboliza o repúdio à ditadura. Esquivel ganhou o Prêmio Nobel da Pazbaixar aplicativo betnacional1980 por denunciar as violaçõesbaixar aplicativo betnacionaldireitos humanos cometidas por regimes militares no continente.
O questionamento da magnitude da repressão e do númerobaixar aplicativo betnacional30 mil vítimas, usado oficialmente pelo kirchnerismo e pelas organizaçõesbaixar aplicativo betnacionaldireitos humanos como as Mães e Avós da Praçabaixar aplicativo betnacionalMaio, não é um debate inédito na Argentina.
Em setembrobaixar aplicativo betnacional1984, menosbaixar aplicativo betnacionalum ano após o retorno da democracia, o então presidente Raúl Alfonsín recebeu do escritor Ernesto Sabato o relatório da Comissão Nacional do Desaparecimentobaixar aplicativo betnacionalPessoas (Conadep), que documentou 8.961 pessoas desaparecidas durante o regime militar,baixar aplicativo betnacionalacordo com informações disponíveis da época.
A lista nunca foi considerada final,baixar aplicativo betnacionalacordo com historiadores e ativistas, que afirmam que há outros documentos e testemunhos que falambaixar aplicativo betnacionalum número maiorbaixar aplicativo betnacionalvítimas.
Um desses documentos é um relatório militar argentino enviado aos aliados da ditadurabaixar aplicativo betnacionalAugusto Pinochetbaixar aplicativo betnacional1978, que falabaixar aplicativo betnacionalao menos 22 mil vítimas. O documento foi obtido pelo jornalista John Dinges e aparecebaixar aplicativo betnacionalseu livro Os anos do Condor (Companhia das Letras), que relata a aliança das ditaduras do Cone Sul para a repressão.
No mesmo ano, documento da embaixada dos Estados Unidos na Argentina, agora desclassificado, também falabaixar aplicativo betnacionalao menos 15 mil vítimas citadas pelos militares argentinos nas conversas com Washington.
O jornalista e escritor Ceferino Reato diz que o númerobaixar aplicativo betnacional30 mil é "uma bandeira, um número simbólico, um mito".
"O massacre foibaixar aplicativo betnacionaltal magnitude que fica completamente refletido com o númerobaixar aplicativo betnacional7.300 vítimas", diz Reato que,baixar aplicativo betnacionalseus trabalhos, utiliza o número oficial do Registro Únicobaixar aplicativo betnacionalVítimas do Terrorismobaixar aplicativo betnacionalEstado (Ruvte), criado com um ampla equipe na época do governo da ex-presidente Cristina Kirchner.
Embaixar aplicativo betnacionalcontabilidade feita a partir do Ruvte, o escritor cita um totalbaixar aplicativo betnacional7.300 vítimas. “O registro é atualizado permanentemente. São dados oficiais. Os últimos sãobaixar aplicativo betnacional2015. É impensável falarbaixar aplicativo betnacional22 mil ou 23 mil pessoas desaparecidas sem que seus familiares os esteja buscando”, afirma Reato.
Entre estas vítimas, segundo entidadesbaixar aplicativo betnacionaldireitos humanos e documentos oficiais, estão estudantes, professores, trabalhadores, jovens grávidas, bebês que nasceram no cativeiro e foram entregues a famíliasbaixar aplicativo betnacionalmilitares e pessoas confundidas com supostos guerrilheiros. O músico brasileiro da bandabaixar aplicativo betnacionalToquinho e Vinicius, Francisco Tenório Júnior, o Tenorinho, foi uma das vítimas nos anos 1970 na Argentina. Ele foi sequestrado, numa esquina movimentadabaixar aplicativo betnacionalBuenos Aires, seis dias antes do golpe.
“Seja 30 mil ou 8 mil...O que houve foi uma barbárie”, disse a ex-senadora Graciela Fernández Meijide, que integrou a Conadep e é mãebaixar aplicativo betnacionalPablo, jovem que integra a listabaixar aplicativo betnacionaldesaparecidos.
A presidente da entidade Avós da Praçabaixar aplicativo betnacionalMaio, Estelabaixar aplicativo betnacionalCarlotto, repudiou as declaraçõesbaixar aplicativo betnacionalMilei e defendeu o totalbaixar aplicativo betnacional30 mil desaparecidos.
“Ele deu um número com tanta certeza [no debate] que parecia até que sabia o nomebaixar aplicativo betnacionalcada um dos desparecidos”, disse Carlotto.
Apoiobaixar aplicativo betnacionalBulrrich
Villaruel provavelmente não ficará circunscrita à reivindicação das vítimasbaixar aplicativo betnacionalgrupos armadosbaixar aplicativo betnacionalesquerda. O presidente eleito já disse que pretende colocar sob responsabilidadebaixar aplicativo betnacionalsua vice as áreasbaixar aplicativo betnacionalDefesa, Segurança e Inteligência. Ou seja, no futuro governo Milei, a parlamentar deve responder pelas áreas das Forças Armadas ebaixar aplicativo betnacionalsegurança pública, algo que seria novidade no país, segundo especialistas.
Quando perguntado, sobre a possibilidade da liberação do usobaixar aplicativo betnacionalarmasbaixar aplicativo betnacionalfogo, Milei responde que esta será uma responsabilidade diretabaixar aplicativo betnacionalVillaruel. A vice, porbaixar aplicativo betnacionalvez, diz que a legislação deve ser respeitada e rebate a acusação dos adversáriosbaixar aplicativo betnacionalque facilitará a chegadabaixar aplicativo betnacionalarmas às escolas.
“A gestãobaixar aplicativo betnacionalsegurança dos últimos vinte anos fez um esforço enorme para demonizar os que usam uniforme e têm a função, por parte do Estado,baixar aplicativo betnacionalproteger os cidadãos, seus bens ebaixar aplicativo betnacionalliberdade”, disse Villarruel,baixar aplicativo betnacionaluma entrevista ao jornal El Tribuno, da provínciabaixar aplicativo betnacionalSalta, na reta final antes do primeiro turno.
Para a analista Shila Vilker, todo o discurso busca captar o voto da “família militar”.
Neste terreno, a dupla disputava a preferência do grupo com a candidata da direita mais tradicional Patricia Bullrich, que costuma defender e elogiar as forçasbaixar aplicativo betnacionalsegurança pública e ficoubaixar aplicativo betnacionalterceiro lugar no primeiro turno, com pouco maisbaixar aplicativo betnacional23% dos votos.
Nos debates, Milei chamou Bullrichbaixar aplicativo betnacional“montonera assassina”, pelo fatobaixar aplicativo betnacionalela ter sido guerrilheira nos anos 70. Bullrich negou acusação que ele lhe fezbaixar aplicativo betnacionalter colocado bombas "em jardinsbaixar aplicativo betnacionalinfância" e anunciou que entraria na Justiça contra ele.
O candidato também disse,baixar aplicativo betnacionaluma entrevista durante a campanha do primeiro turno, que revisaria a suposta indenização que Bullrich receberia do Estado, referente aos anos 1970, e a chamoubaixar aplicativo betnacional“terrorista”.
Mesmo depois do duro ataque, Milei acenou a Patricia Bullrich logo após o primeiro turno.
Três dias após a derrota, Bullrich declarou apoio ao libertário no segundo turno. “Milei conseguiu capitalizar melhor do que nós o voto, principalmente o dos mais jovens. E nossa proposta é pela mudança, o que ele (Milei) passou a representar. Há 20 anos, o kirchnerismo mergulhou a Argentina na decadência e é por isso que defendemos a mudança”, disse a candidata.