Por que japoneses são obcecados por regras e manuais pra tudo:365 cassino
Eles praticavam suas habilidades linguísticas fazendo cópias365 cassinoleis, informativos e escrituras sagradas do budismo.
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Segundo Onuki,365 cassinose tratando365 cassinosistema365 cassinoeducação, o Brasil valoriza muito a flexibilidade no ensino365 cassinoportuguês.
“A BNCC [Base Nacional Comum Curricular], por exemplo, lembra repetidamente os educadores que o português não é um idioma uniformizado e que a variedade e a mobilidade é algo bom", afirma o professor.
"Já as diretrizes curriculares365 cassinoaprendizagem no Japão enfatizam a importância365 cassinoensinar a ler e a escrever a língua nacional conforme regras já estabelecidas. O contraste entre o povo japonês (marcado pela organização) e o povo brasileiro (flexibilidade) vem da escrituralidade e da oralidade dos dois povos."
Manuais, manuais e mais manuais
Desde pequenos, os japoneses são treinados a seguir regras.
Quando estão sendo alfabetizados, uma das primeiras coisas que eles aprendem é a ordem e a contagem dos traços dos ideogramas (kanji).
A padronização na escrita permite a qualquer pessoa reconhecer os caracteres mesmo quando escritos na forma cursiva ou corrida.
O importante é entender bem a regra básica, e isso vale para quase tudo no Japão.
Ou se aprende na escola, ou com a ajuda365 cassinodiversos manuais vendidos365 cassinolivrarias. Quando se trata365 cassinoambiente365 cassinotrabalho, a bibliografia é extensa.
Além dos livros fundamentais365 cassinoetiqueta empresarial com ensinamentos365 cassinocomo atender o telefone ou onde se sentar numa sala365 cassinoreunião conforme a posição hierárquica, por exemplo, há os manuais internos365 cassinocada empresa com outras inúmeras instruções e procedimentos operacionais.
Quanto mais detalhes tiver, mais indispensável será o manual para reduzir riscos365 cassinointerpretações errôneas, segundo o empresário Ryo Nakayama, autor365 cassinoChefe, você quer nos transformar365 cassinorobôs? (em tradução livre, lançado365 cassino2020).
As palavras que formam o título do livro foram ditas a ele por um funcionário365 cassinouma empresa.
“Quando algumas pessoas ouvem a palavra 'manual', podem ter a impressão365 cassinoque estão sendo instruídas a seguir uma fórmula. Mas isso é um grande mal-entendido”, afirma Nakayama à BBC News Brasil.
“Um manual nada mais é do que uma ferramenta para o desenvolvimento dos recursos humanos e o crescimento da empresa, e não para construir robôs. Se você deseja criar pessoas que possam quebrar o molde, você precisa criar o molde.”
Dez anos atrás, Nakayama fundou a empresa 2.1 (Nitenichi), especializada na criação365 cassinomanuais para revitalizar empresas.
Ele diz que a falta desse tipo365 cassinomaterial prejudica a produtividade, além365 cassinogerar estresse por mal-entendidos na transmissão365 cassinomensagens.
Na prática, o trabalho nem sempre ocorre 100%365 cassinoacordo com o esperado.
“Contudo, se os procedimentos básicos estiverem resumidos365 cassinoum manual, o conhecimento empresarial pode ser partilhado entre várias pessoas e como resultado, você pode prosseguir com seu trabalho365 cassinomaneira tranquila e eficiente”, afirma.
A origem da cultura dos manuais
Desde os tempos antigos, já havia algo semelhante a manuais, como códigos365 cassinoconduta, regras e explicações, mas as bases do que conhecemos hoje como manual teriam surgido do “método científico365 cassinogestão” criado por Frederick Winslow Taylor, no final do século 19, nos Estados Unidos.
Engenheiro mecânico da Filadélfia, ele acreditava que oferecendo instruções sistemáticas e adequadas aos trabalhadores, haveria a possibilidade365 cassinofazê-los produzir mais e com melhor qualidade.
Na época, o taylorismo recebeu críticas por transformar o homem365 cassinouma espécia365 cassinomáquina.
Ao abrir a365 cassinoprimeira loja no Japão,365 cassino1971, a rede365 cassinofast food McDonald 's teria introduzido o conceito365 cassinomanual como existe atualmente no país, detalhando procedimentos e também como deveria ser o atendimento ao cliente.
Esse formato365 cassinomaterial foi se multiplicando e adicionando características locais.
Há muitos outros elementos sociais e culturais japoneses que se encontram nas entrelinhas dos manuais,365 cassinodifícil compreensão para os estrangeiros.
A maneira correta365 cassinose dirigir a alguém, as expressões básicas365 cassinocortesia e polidez, tudo isso se aprende365 cassinoum curso365 cassinoidioma japonês, além do tom365 cassinovoz e o jeito365 cassinofalar que também são considerados essenciais365 cassinoum ambiente365 cassinotrabalho, porque refletem respeito e educação.
Esse tipo365 cassinoinformação é o óbvio que nem sempre é incluído nos manuais.
“Se entender tudo isso é difícil para um japonês, imagine então para um estrangeiro”, diz Kazue Matsushita, especialista365 cassinorecursos humanos que treinou vários profissionais para ingressar365 cassinoempresas do Japão.
Ela diz que o Japão dá muita importância a manuais, que contêm informações detalhadas para serem seguidas, enquanto no exterior prevalecem os guias, com recomendações apenas para o estritamente necessário.
"Cada um deve entender suas funções plenamente e saber executá-las bem. Só depois disso, terá espaço para propor mudanças", diz Kazue.
Ela cita o caso365 cassinoum engenheiro contratado do exterior, que passou dois anos trabalhando com CAD (desenhos feitos com auxílio365 cassinocomputador).
Ao reclamar que estaria sendo subaproveitado porque teria qualificação para mais, recebeu como resposta que precisaria antes compreender a importância365 cassinodesenhar a peça com perfeição, sem um milímetro365 cassinoerro, e só depois poderia passar para a etapa seguinte.
O aprendizado se dá365 cassinoforma cumulativa. Desde cedo, a criança japonesa aprende a usar uniforme, onde se posicionar365 cassinouma fila, como falar determinadas coisas e agir365 cassinodiversas situações.
Esse treinamento contínuo é importante365 cassinoum país vulnerável a desastres naturais como terremoto, tsunami e tufão, e ajudou muito durante a pandemia do coronavírus.
Kazue lembra que não houve resistência da população japonesa às medidas tomadas pelo governo, porque faz parte da cultura local pensar no coletivo e agir conforme a maioria.
'Nem tudo tem lógica'
Quem é365 cassinofora do país aprende observando e copiando ou buscando respostas nos manuais.
“Mas nem tudo tem lógica”, afirma a brasileira Eliza Yuka Sato,365 cassino56 anos, que vive na Província365 cassinoAichi.
Quando trabalhava365 cassinouma fábrica, ela costumava andar como um caranguejo ao redor365 cassinouma mesa com caixas contendo várias peças, fazendo como os colegas.
Não entendia o porquê daquilo, já que mesmo estando parada conseguiria fazer aquele trabalho. Só depois descobriu que os japoneses andavam para combater o sono.
Por muitos anos, Eliza também trabalhou como consultora365 cassinoórgão público para ajudar residentes estrangeiros, e a regra era “tudo o que acontecesse tinha que passar pela chefia”.
Porém, até chegar ao topo da hierarquia, havia um longo caminho a percorrer.
"O manual ajuda a organizar o trabalho, mas também pode virar uma camisa365 cassinoforça", diz Eliza.
"Para problemas pessoais, é preciso ter flexibilidade, mas a hierarquia e a burocracia acabam atrapalhando. E alguns casos eram urgentes."
Nilton Funabashi, que vive na cidade365 cassinoIida, na Província365 cassinoNagano, não se incomoda com a expressão manyuaru doori (agir365 cassinoacordo com o manual), que diz admirar.
“Quem esteve365 cassinochão365 cassinofábrica sabe o quanto o Japão é rigoroso com disciplina e exigente com a qualidade do produto”, diz Nilton.
"Sabendo o que cada um deve fazer, fica mais fácil trabalhar."
Ele lembra que, quando necessário, há espaço para qualquer pessoa contestar e opinar.
Porém, é preciso primeiro entender as regras, ter argumentos e ver o momento certo para questionar e propor mudanças nos manuais.
“Só não dá para ir com nosso jeitinho brasileiro e sugerir apenas uma maneira mais fácil e cômoda365 cassinotrabalhar, sem contexto e nem propósito”, diz Nilton.
De todas as regras do cotidiano japonês, as mais rigorosas que devem ser seguidas à risca estão relacionadas ao lixo e ao barulho.
Esses temas são os que mais geram conflitos entre japoneses e estrangeiros. Muitas cidades têm manuais bem ilustrados e detalhados sobre quando e como descartar cada tipo365 cassinolixo.
Por exemplo, a tampa e a etiqueta das garrafas PET devem ser removidas antes365 cassinodescartadas, porque os dias365 cassinocoleta para cada item costumam ser diferentes.
Misturar ou depositar determinado tipo365 cassinolixo365 cassinodata errada é o motivo365 cassinobriga entre vizinhos.
No entanto, cada cidade tem seu próprio manual. Nilton lembra que chegou a ser insultado por um japonês porque havia usado um tipo365 cassinosaco plástico diferente do permitido na região para a qual tinha acabado365 cassinose mudar.
“E como saber, se ninguém fala? Foi por isso que depois me dispus a preparar um manualzinho365 cassinoportuguês para ajudar outros brasileiros da minha cidade.”
Barulho é outro tema365 cassinodesavenças, por isso as regras relacionadas a isso costumam fazer parte dos “guias365 cassinoconvivência” produzidos365 cassinovários idiomas e distribuídos por prefeituras365 cassinocidades com concentração365 cassinoestrangeiros.
“Conforme o tipo365 cassinoconstrução, as paredes são tão finas que deixam vazar até o barulho dos passos, invadindo o espaço alheio”, conta Kazue Matsushita.
“A cultura japonesa é peculiar, então só entendendo para não ter problemas. Ou fazendo tudo conforme os manuais."