A crença espírita no 'Vale dos Suicidas' que angustia parentesnovibet fora do arluto:novibet fora do ar

Crédito, Fernando Otto/BBC

Legenda da foto, A ideianovibet fora do arum 'Vale dos Suicidas' foi popularizada pelo livro 'Memóriasnovibet fora do arum suicida'

Maria Cecilia, que segue o espiritismo há maisnovibet fora do ar15 anos, já havia tentado há algum tempo ler o livro, mas abandonou a leitura por considerá-la muito "forte".

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Entretanto,novibet fora do ar2021, aconteceu algo que a afastou completamente da possibilidadenovibet fora do arretomar a leitura: o filho dela se suicidou quando estava prestes a completar 32 anos.

Crédito, Fernando Otto/BBC

Legenda da foto, Maria Cecilia ao lado da última pintura que o filho, que era ilustrador, fez antesnovibet fora do armorrer

"É uma obra que com certeza veio elucidar algumas coisas, que eram talvez desconhecidas. Mas é uma literatura bastante forte, bastante impactante. Estudando a doutrina, a gente vê que não funciona bem dessa forma", aponta Maria Cecilia.

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"Eu acho que não é esse caminho. Eu acredito muito mais na misericórdia divina", diz, indicando acreditar que o filho foi perdoado pelo ato.

O suicídio é visto no espiritismo como um ato repreensível — embora se admita algumas atenuantes — desde as obras organizadas pelo fundador da religião, o francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido por seu pseudônimo Allan Kardec (1804-1869)

A histórianovibet fora do arMaria Cecilia e a forma como os espíritas tratam o suicídio são o tema da terceira reportagem da série “Suicídio & Fé”, que aborda o tabu religioso com o ato, com foco nas religiões com mais adeptos no Brasil.

A primeira reportagem mostrou que, por séculos, o suicídio foi visto como um pecado pela Igreja Católica. Até 1983, havia um documento oficial determinando que suicidas não recebessem ritos funerários normais, como a missanovibet fora do arsétimo dia.

Igrejas evangélicas veem o suicídio como um pecado,novibet fora do aracordo com especialistas ouvidos na segunda reportagem da série. Há relatosnovibet fora do arque é comum, nesse meio, escutar que alguém que se suicidou vai para o inferno.

O númeronovibet fora do arsuicídios no país vem aumentando ano a ano desde 2016, segundo dados do Fórum Brasileironovibet fora do arSegurança Pública.

Apenasnovibet fora do ar2022, houve 16.262 mortes.

Desculpe, mas não é possível exibir esta parte da história nesta páginanovibet fora do aracesso resumidonovibet fora do arcelular.
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Um estudo publicado na revista científica The Lancet Regional Health Americasnovibet fora do arfevereiro mostrou que a taxa anualnovibet fora do arsuicídios a cada 100 mil habitantes no Brasil cresceunovibet fora do armédia 3,7% entre 2011 e 2022.

As religiões têm, como apontam especialistas, uma forte influência não apenas na forma como as pessoas lidam individualmente com o suicídio, mas tambémnovibet fora do arcomo as famílias lidam com a perdanovibet fora do arquem tirou a própria vida.

O que dizem os textos espíritas

Vários livros importantesnovibet fora do arKardec abordam o suicídio.

Neles, tanto as mensagens relatadas como recebidas dos espíritos quanto as anotaçõesnovibet fora do arKardec indicam que o suicídio contraria as leis divinas e gera algum tiponovibet fora do arpunição ao espíritonovibet fora do arquem se matou.

Em O Céu e o Inferno, são frequentemente usadas palavras como "castigo" e "pena" para quem se mata.

Um trecho diz ser comum que espíritosnovibet fora do arsuicidas sintam vermes corroendo o corpo, embora as consequências do ato variemnovibet fora do ar"duração e intensidade conforme as circunstâncias atenuantes ou agravantes da falta".

Em outro, é dito que "longa e terrível deve ser a pena dos culpados por se terem voluntariamente refugiado na morte para evitar a luta" — nesse caso, referindo-se especificamente ao casonovibet fora do arsuicidas que tenham escolhido essa saída para escaparnovibet fora do arforma honrosanovibet fora do aralguma situação.

No Livro dos Espíritos, médiuns fazem uma sérienovibet fora do arperguntas sobre o atonovibet fora do arse matar.

Os espíritos respondem que o suicídio "voluntário" seria uma "transgressão" do direitonovibet fora do arDeus sobre a vida — "voluntário" demarcaria a diferença do "louco que se mata" e "não sabe o que faz".

Também afirmam que "muito diversas são as consequências do suicídio".

"Não há penas determinadas e,novibet fora do artodos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência a que o suicida não pode escapar: é o desapontamento", respondem os espíritos, segundo o livronovibet fora do arKardec.

"Mas, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias."

Crédito, Félix Lima/BBC

Legenda da foto, Trechonovibet fora do ar'O livro dos espíritos' aborda o suicídio

A historiadora e socióloga Celia Arribas, que estudou o espiritismonovibet fora do arseu mestrado e doutorado, resume que, do pontonovibet fora do arvistanovibet fora do arKardec, a escolha pelo suicídio seria uma "triste ilusão" — e isso tem a ver com a perspectivanovibet fora do arduração da vida para a religião.

"O espiritismo traz uma visãonovibet fora do arque a vida é praticamente eterna, no sentidonovibet fora do arque a gente tem várias existências: o que morre é o corpo, e não a alma", diz Arribas.

"Não teria muito sentido se pensarnovibet fora do arsuicídio, porque o espírito continuaria vivo com as suas angústias, suas dores."

Arribas, que é professora da Universidade Federalnovibet fora do arJuiznovibet fora do arFora (UFJF), explica que Kardec considerava quenovibet fora do arprodução tinha um caráter científico — por isso, embora os livros dele sejam vistos como um "farol", obras posteriores são bem-vindas.

"Há um princípio proposto pelo Kardecnovibet fora do arque o espiritismo precisaria sempre estar ao lado da ciência e dos avanços científicos. Isso abre a possibilidadenovibet fora do aruma renovação constante."

Assim, um livro como Memóriasnovibet fora do arum suicida pode ganhar a dimensão que tomou, popularizando a ideianovibet fora do arque existe um "Vale dos Suicidas" — descrito na obra como um lugar onde a almanovibet fora do arquem se matou passa por um períodonovibet fora do arpunição e sofrimento.

"O livro tem um cenário bastante excessivo, que olha para os suicidas condenando essas pessoas”, diz Arribas.

"Essa é uma visão que não necessariamente Kardec defendia, mas a gente tem uma certa autonomia do espiritismo no Brasil."

O livro da médium Yvonne do Amaral Pereira foi lançadonovibet fora do ar1956. A obra, publicada pela Federação Espírita Brasileira (FEB), já teve 27 ediçõesnovibet fora do arportuguês e foi traduzida para inglês e francês, alémnovibet fora do aradaptado para radionovelas.

"Não havia então ali, como não haverá jamais, nem paz, nem consolo, nem esperança: tudonovibet fora do arseu âmbito marcado pela desgraça era miséria, assombro, desespero e horror", diz um trecho do livro que descreve o Vale dos Suicidas.

"Aqui, era a dor que nada consola, a desgraça que nenhum favor ameniza, a tragédia que ideia alguma tranquilizadora vem orvalharnovibet fora do aresperança! Não há céu, não há luz, não há Sol, não há perfume, não há tréguas!", diz outro trecho.

Crédito, Félix Lima/BBC

Legenda da foto, 'Memóriasnovibet fora do arum suicida' já tem 27 edições publicadas

Após um intenso períodonovibet fora do arsofrimento, os espíritosnovibet fora do arsuicidas do livro pouco a pouco — ainda no mundo espiritual — refletem sobrenovibet fora do ardecisão e passam por uma espécienovibet fora do artratamento, com mentores e até uma universidade que os ajudam a se preparar para uma nova encarnação.

O Vale dos Suicidas também foi retratado na TV brasileira na novela A Viagem, exibida primeiro pela Tupi e depoisnovibet fora do aruma reedição pela Globo, que completa 30 anos esse mês e será reexibida este ano pelo canal Viva.

O personagem Alexandre sofre as consequênciasnovibet fora do arseu suicídio no Vale — um lugar onde se escuta gritos, o fogo arde, moribundos perambulam e o personagem é torturado.

Herança católica no espiritismo

Crédito, Félix Lima/BBC

Legenda da foto, Um trecho no início do livro 'Memóriasnovibet fora do arum suicida' afirma que o Vale dos Suicidas seria um lugarnovibet fora do ar'miséria, assombro, desespero e horror'

Arribas lembranovibet fora do aroutro livro posterior a Kardec, Missionários da Luz, do médium Chico Xavier.

"O livro traz o relatonovibet fora do arum suicida que também vai descrever que ele vivia num valenovibet fora do artrevas,novibet fora do araprisionamento,novibet fora do armuita dor”, diz a socióloga.

"Então, a gente tem essas trilhas um pouco pesadas, deterministas, condenatórias [para suicidas], que têm a ver com a tradição católicanovibet fora do arpensamento."

A pesquisadora explica que algumas crenças do catolicismo e do espiritismo têm semelhanças, mas também diferenças. Por exemplo, enquanto o castigonovibet fora do aruma alma é eterno na crença da Igreja Católica, no espiritismo é transitório.

"O céu e o inferno não existem para o espiritismo. A ideia é que são estados mentais para onde os espíritos acabam indo por conta da semelhança vibratória", explica Arribas.

Sociólogo e um dos diretores da Sociedade Brasileiranovibet fora do arEstudos Espíritas (SBEE), Rui Simon Paz diz que ele e colegas da entidade não acatam a crençanovibet fora do arque exista um Vale dos Suicidas ou o umbral — também comumente apontado como um lugar transitórionovibet fora do arsofrimento para espíritosnovibet fora do arsuicidas.

Simon Paz aponta que essas crenças têm origem no que chamanovibet fora do ar"ranço" da cultura católica no Brasil, trazendo ideiasnovibet fora do arpunição e castigo.

Na SBEE, são priorizadas as obrasnovibet fora do arKardec e sucessoresnovibet fora do aruma época próxima, como Camille Flammarion (1842-1925), Léon Denis (1846-1927), Ernesto Bozzano (1862-1943) e Gabriel Delanne (1857-1926) — que, segundo o sociólogo, perpetuaram a leituranovibet fora do arKardec sobre o suicídio.

Embora as obrasnovibet fora do arKardec indicassem algum tiponovibet fora do arpunição para os suicidas, Simon Paz diz que é preciso sempre levarnovibet fora do arconsideração o contexto dos livros.

"Toda obra sofre o curso do tempo", diz o membro da SBEE. "A comunicação é uma integraçãonovibet fora do ar50% do espírito, 50% do médium. Mas a estética que será registrada é a estética do médium, e essa estética envelhece."

"Não vemos [o suicídio] como castigo, vemos como um passivo", explica, falandonovibet fora do arnome da entidade.

"Você se ausentou antes do tempo que deveria permanecer aqui, e, ao mesmo tempo, deixounovibet fora do arfazer o seu crescimento. É como se você abandonasse um curso na metade do ano, trancasse matrícula: vai ter que voltar para refazer", diz, acrescentando que esse passivo pode ser "difícil", mas tem sempre um "sentido construtivo".

'Um ato falho e humano'

Crédito, Fernando Otto/BBC

Legenda da foto, 'Lembro do meu filho com alegria', diz Maria Cecilia, que tem pela casa várias fotos do jovem, alémnovibet fora do arpinturas e desenhos feitos por ele

Ao adentrar no apartamentonovibet fora do arMaria Cecilia Cencini, logo percebe-senovibet fora do arcerta forma a presença do filho dela ali —novibet fora do arfotos enovibet fora do armuitas pinturas e desenhos que ele, que era ilustrador, fez e estão expostos pela casa.

Também não há uma fala sobre ele que pareça vir sem alguma emoção — às vezes saudade, às vezes carinho, talvez um choro contido que não chega e desaguar e, muitas vezes, sorrisos.

"Eu lembro do meu filho com alegria", diz a mãe, ao mostrar uma foto dele que diz sempre despertar um sorriso nela.

Diferentenovibet fora do armuitas famílias enlutadas pelo suicídio que ela conheceunovibet fora do argruposnovibet fora do arapoio, Maria Cecilia diz que não quis passar a evitar e isolar o quarto do filho onde ela própria encontrou o corpo.

Cercanovibet fora do arum mês após o suicídio, ela doou as roupas e materiaisnovibet fora do artrabalho dele e passou a usar o espaço como seu escritório. Para ela, que tem mais uma filha, essas atitudes exemplificamnovibet fora do arcrençanovibet fora do arque já havia sido preparada no plano espiritual para esta morte.

"Dentro da doutrina espírita, a gente já vem para a vida com um roteiro programado. Aquilo que não está definido depende do livre arbítrio. Acho que realmente fui preparada para esse momento da minha vida", diz a tradutora.

"Transformei o quarto dele no meu escritório. Fiz questão disso, porque o meu filho não se resumia àquilo ali. Eu trouxe a minha forçanovibet fora do artrabalho aqui para dentro", conta.

Crédito, Fernando Otto/BBC

Ela também deixou ali no cômodo, no cavalete, a última pintura que o filho fez antesnovibet fora do armorrer — que mostra uma mulher com os olhos fechados, aparentementenovibet fora do arprece e com um manto.

Na base, ela deixou vários pequenos objetos que a lembram dele, como um cachorrinhonovibet fora do arbrinquedo que ele gostava e uma foto 3x4 do jovem.

O filho dela tomava antidepressivos, mas Maria Cecilia desconfia que ele tivesse um transtorno bipolar que não foi diagnosticado corretamente. A tradutora está cursando uma pós-graduaçãonovibet fora do arSuicidologia para entender o que aconteceu com o filho.

"O estadonovibet fora do arsaúde dele se agravou com a pandemia: ele ficou mais recluso e tinha medonovibet fora do arsair na rua", relata a mãe.

Maria Cecilia acredita que o filho agora está passando por um períodonovibet fora do araprendizado, guiado por espíritos bondosos que estão ajudando-o a refletir sobre o ato do suicídio e preparando-o para uma futura encarnação.

"Não digo que não haja um períodonovibet fora do arsofrimento para o espírito quando ele desencarna, porque existe uma confusão", diz a tradutora, dizendo que espíritos desencarnadosnovibet fora do arvárias formas, não só pelo suicídio, passam por um períodonovibet fora do arangústia para entender onde estão e o que aconteceu com eles.

"Mas isso é absolutamente normal. É nesse ponto que o espírito é auxiliado [por espíritos benfeitores]."

A tradutora cursou por anos uma formaçãonovibet fora do arespiritismo, que ela prefere definir como uma doutrinanovibet fora do arvidanovibet fora do arveznovibet fora do arreligião.

Dos escritosnovibet fora do arKardec, Maria Cecilia foca nos "atenuantes" que podem suavizar as consequências do suicídio para o espírito.

"A bondadenovibet fora do arcoração dele [do filho] com certeza contribuiu para ele hoje estar bem", diz a tradutora.

Ela também destaca a diferenciação que Kardec faz entre o suicídio voluntário e a decisãonovibet fora do arum "louco".

"Simplesmente todas as pessoas que tinham qualquer tiponovibet fora do artranstorno mental eram classificadas como louca", aponta a tradutora, referindo-se à época das obrasnovibet fora do arKardec.

"Então, o 'louco' é acolhido, é perdoado, porque ele tem um transtorno."

Para Maria Cecilia, o suicídio é um "um ato falho e humanonovibet fora do arum espírito que estava com sérios comprometimentos".

Segundo ela, o espiritismo foi importantíssimo no luto.

"Quem tem fé e entende o propósito das coisas na vida consegue superar as dificuldades e buscar dentro delas o aprendizado", afirma a tradutora.

"E quando você vibra amor, faz chegar isso até o seu ente querido desencarnado. Ele recebe todos os seus bons pensamentos, todas as suas preces."

"Aprendi a me dirigir ao meu filho como 'meu filho amado'. Quando repito isso, sinto que vai direto para ele. Sinto como se saísse do meu coração uma luznovibet fora do aramor que chega até ele", diz a mãe.

Crédito, Fernando Otto/BBC

Legenda da foto, O suicídio é abordado por vários livros fundamentais do espiritismo

O espiritismo é a terceira religião com mais seguidores no Brasil, atrás do catolicismo e das igrejas evangélicas.

Tem 3,8 milhõesnovibet fora do aradeptos, cercanovibet fora do ar2% da população segundo o Censo 2010. Houve um aumentonovibet fora do arrelação ao Censo 2000, quando os espíritas eram 1,3% da população, ou 2,3 milhõesnovibet fora do arpessoas.

Mas Celia Arribas afirma que o número é na prática maior, porque, na pesquisa demográfica, o participante geralmente só indicava uma religião, e não várias.

Segundo o IBGE, no Censo 2010, os entrevistados até podiam declarar pertencer a várias religiões, mas os funcionários responsáveis por coletar os dados não tinham sido tão bem orientados sobre essa possibilidade quantonovibet fora do ar2022 (cujos resultados sobre religião ainda não foram divulgados).

"As pessoas transitam no centro espírita. Muitas. Há uma forte circulaçãonovibet fora do arlivros espíritas, e as pessoas leem sem necessariamente se autodeclararem espíritas”, diz a pesquisadora.

"Tem o que a gente chamanovibet fora do arsimpatizantes do espiritismo, e aí essa quantidade aumenta absurdamente, não vai ficar sónovibet fora do ar2%."

Bruno*,novibet fora do ar46 anos, é uma das pessoas que está fora desses 2%, mas diz ter uma afinidade com o espiritismo e conhecimento sobre a religião.

Ele cresceunovibet fora do aruma família católica, deixounovibet fora do arseguir essa fé, mas afirma seguir uma "crença cristã".

Em junhonovibet fora do ar2023, o irmãonovibet fora do arBruno se matou, aos 42 anos. Ele enfrentava uma depressão, frustrações profissionais e a perda do pai e da mãenovibet fora do arum curto períodonovibet fora do artempo.

Bruno acredita que o irmão não estava seguindo o tratamento para depressão corretamente.

Antes da morte, Bruno já tinha se aproximado do espiritismo com a leituranovibet fora do arlivrosnovibet fora do arKardec, Chico Xavier e do médium Divaldo Franco — mas nunca foi a um centro espírita.

Foi então que, após a perda, ele buscou na internet qual seria o destinonovibet fora do aralguém que se matou segundo o espiritismo.

"Quando ocorreu o problema com meu irmão, fui procurar saber. Eu queria uma explicação", diz Bruno.

Ele chegou então a um vídeo com milharesnovibet fora do arvisualizaçõesnovibet fora do arque um influenciador espírita fala das possíveis consequências para a almanovibet fora do arum suicida.

Entre elas, a obrigaçãonovibet fora do arconviver por décadas, no plano espiritual, com o próprio corponovibet fora do ardecomposição e, ao reencarnar, sofrer com doenças debilitantes.

"Ele era uma pessoa boa, não fazia mal a ninguém. Um cara totalmente do bem. Conheço pessoas muito piores. Por que ele [meu irmão] sofreria tanto?", questiona Bruno.

"Acho que se ele parasse para pensar mais meia hora, talvez ele não tomaria aquela atitude", diz.

"Será que por uma decisão tomadanovibet fora do arsupetão, a pessoa pode ser condenada a passar por um martírio após a morte?"

Bruno conta que, até hoje, não está "lidando muito bem" com a perda.

"Penso nele todos os dias. Acho que pensonovibet fora do artodas as horas. Tenho muita pena dele, né? Queria tanto que ele tivesse conversado comigo...”, lamenta.

Bruno relata frequentemente pedir a Deus que dê algum "sinal"novibet fora do arcomo seu irmão está.

"Queria sentir que ele tá bem. Como está o espírito dele? Será que está sofrendo? Está arrependido?", indaga.

Alento e dor

Celia Arribas cita que começaram a surgir nos últimos anos autores e obras espíritas que tratam do suicídio com "um pouco maisnovibet fora do arsensibilidade".

Ela vê isso com bons olhos, porque leituras como a de Memóriasnovibet fora do arum Suicida intensificaramnovibet fora do arprópria dor.

A mãenovibet fora do arArribas se suicidou quando a socióloga tinha 20 anos. Seu irmão fez o mesmo duas décadas depois.

A pesquisadora procurou o espiritismo no final da vida da mãe para entender melhor o adoecimento mental dela, que tinha transtorno afetivo bipolar.

Hoje, Arribas sê vê mais como estudiosa do que praticante do espiritismo.

Mas a socióloga diz que a religião teve um papel misto no seu luto —novibet fora do aralguns momentos, trouxe alívio e,novibet fora do aroutros, dor.

"O espiritismo foi muito reconfortante para tentar entender algum sentido para morte, para dar uma explicaçãonovibet fora do arque a vida continua e para eu não adoecer fisicamente."

"São princípios que me confortaram e me confortam até hoje."

Por outro lado, Arribas conta ter abandonado a leituranovibet fora do arMemóriasnovibet fora do arum Suicida quando a morte da mãe ainda era recente.

"Eu falei: ‘Não, não tem condição’. Mas foi por conta disso que pensei: 'Bom, será que é só essa visão mesmo?'”, afirma a pesquisadora.

"Aí, fui tentando estudar, entender, e não fiquei só nas explicações espíritas."

Rosana Amado Gaspar, presidente da União das Sociedades Espíritas do Estadonovibet fora do arSão Paulo (USE-SP) e membro da Federação Espírita Brasileira (FEB), cuja editora publica Memóriasnovibet fora do arum suicida, não recomenda que a obra seja lida por quem tenha acabadonovibet fora do arperder uma pessoa por suicídio.

A editora tem outros livros que retratam o sofrimentonovibet fora do arespíritos suicidas, como O martírio dos suicidas e Suicídio e vida após a morte: amargura e remorsonovibet fora do arpoetas suicidas.

Crédito, Vitor Serrano/BBC

Legenda da foto, 'As pessoas ficam amedrontadas, mas ele [o livro] está contando a histórianovibet fora do arum gruponovibet fora do arespíritos que estão naquela região', diz Rosana Gaspar sobre 'Memóriasnovibet fora do arum suicida'

Gaspar destaca que Memóriasnovibet fora do arum Suicida não retrata um destino único no mundo espiritual — o Vale dos Suicidas — para quem se mata e mostra, no final, o perdão divino para quem tira a própria vida.

"As pessoas ficam amedrontadas, mas o livro está contando a histórianovibet fora do arum gruponovibet fora do arespíritos que estão naquela região", diz.

Gaspar ressalta que os livrosnovibet fora do arKardec preveem destinos variados para as almasnovibet fora do arsuicidas.

"A pessoa que está pensando no suicídio, ao ler uma obra dessa [Memóriasnovibet fora do arum Suicida], fala assim: 'Esse grupo teve essa experiência ruim. Então, eu não vou ter essa mesma experiência'. Ele faz uma prevenção", afirma.

"E o Memóriasnovibet fora do arum Suicida é interessante porque, quando o espírito realmente se arrepende, ele conta com a misericórdia divina."

Na doutrina espírita, explica Arribas, Deus não é necessariamente uma figura personificada, mas tem papel importante.

"No espiritismo, não há esse Deus com barba branca, esse homem gigante. É uma força, é algo que não tem forma, que seja. Mas é Deus: onipresente, onipotente, onisciente", esclarece a socióloga.

"A figuranovibet fora do arCristo também é muito central no sentidonovibet fora do aruma moral. Tanto que a ideianovibet fora do arcaridade se espelha na vivência do Cristo."

Gaspar afirma que, para o espiritismo, o suicídio é uma "transgressão à leinovibet fora do arDeus", mas não existe o conceitonovibet fora do arpecado.

"Nada no espiritismo é proibido", diz ela, destacando que o que há são "consequências".

Gaspar afirma que iniciativas pela prevenção ao suicídionovibet fora do arorganizações espíritas normalmente se juntam a "campanhasnovibet fora do arvalorização da vida" que se colocam contra o aborto e a eutanásia.

Uma dessas iniciativas fez surgir,novibet fora do ar1962, uma das organizações brasileiras mais conhecidas na prevenção ao suicídio: o Centronovibet fora do arValorização da Vida (CVV).

A entidade, que atende gratuitamentenovibet fora do arregimenovibet fora do arplantão pessoas que pensamnovibet fora do arse matar, nasceu da iniciativanovibet fora do aruma turma da Escolanovibet fora do arAprendizes do Evangelho da Federação Espírita do Estadonovibet fora do arSão Paulo (Feesp).

Jacques Conchon (1942-2018), fundador do CVV, foi quando jovem o responsável por mobilizar os colegas para a iniciativa.

A ideia foi inspirada no trabalho da organização Samaritansnovibet fora do arLondres, comandado pelo sacerdote anglicano Chad Varah.

Assim, no início, a maioria dos primeiros voluntários do CVV era espírita, mas isso foi mudando com o tempo.

Carlos Correia, voluntário do CVV desde 1992 e porta-voz da organização, conta à BBC News Brasil que os voluntários usavam no começo um númeronovibet fora do artelefone da própria Feesp.

Ele relata também que, por motivos naturais, a iniciativa começou a circular primeiro no meio espírita.

"Claro, o espaço que eles tinham inicialmente para divulgar o trabalho eram os meiosnovibet fora do arcomunicação espíritas, e naturalmente os leitores também eram."

Entretanto, Correia garante que a doutrina religiosa nunca teve muito espaço no CVV.

"Não havia um lado espiritual, religioso, no sentido da doutrina espírita, mas sim o princípionovibet fora do arajuda ao próximo", afirma.

Ele acrescenta que, com o passar do tempo, o vínculo com o espiritismo foi desaparecendo.

"Eles perceberam que tinham que desvincular [da religião] para ampliar o crescimento, para acolher a todos. Isso [o caráter religioso] poderia ser uma barreira, porque as pessoas poderiam pensar que teria uma doutrinação", explica Correia.

Lidando com o luto e com a fé

Para a psicóloga Karen Scavacini, doutora pela Universidadenovibet fora do arSão Paulo (USP), as religiõesnovibet fora do argeral têm o potencialnovibet fora do arajudar na prevenção do suicídio e nos cuidados com quem perdeu alguém que se matou, a chamada posvenção.

"Quanto mais religiosos falando abertamente sobre suicídio, sobre as questõesnovibet fora do arsaúde mental, e mostrando através danovibet fora do arfala enovibet fora do arseus atos que essas pessoas precisam ser cuidadas e acolhidas, cada vez mais a religião se torna um fatornovibet fora do arproteção", defende Scavacini, fundadora e diretora do Instituto Vita Alerenovibet fora do arPrevenção e Posvenção do Suicídio.

A psicóloga diz que há muitas evidências científicasnovibet fora do arque a espiritualidade auxilia a prevenir o suicídio por trazer esperança e sentimentonovibet fora do arpertencimento a uma comunidade, dentre outros fatores.

Mas Scavacini afirma que, quando as religiões trazem "vergonha e exclusão" relacionadas ao suicídio, elas se tornam prejudiciais.

O impacto da religiãonovibet fora do arquem perdeu uma pessoa por suicídio pode ser particularmente "devastador", diz a psicóloga.

É uma situação que ela diz já ter testemunhado muitas vezes no consultório.

"Os enlutados trazem muitas experiências. A própria falanovibet fora do arque foi 'Deus que quis'. Que Deus é esse que quer que alguém que se mate? Não faz sentido.”

As famílias compartilham com Scavacini muitas históriasnovibet fora do arfalas inapropriadasnovibet fora do arvelórios e cerimônias religiosas.

"São falas que colocam na família, que já está passando por essa perda absurda, a culpanovibet fora do arter ocorrido esse suicídio."

Outra fontenovibet fora do arsofrimento é justamente o destino que terão as almas das pessoas que se suicidaram.

"Primeiro, lógico, há um acolhimento, mas depois [o estímulo a] um pensamento mais crítico do que faz sentido para ela. O que pode acalmar o seu coração? O que vai te ajudar nesse processonovibet fora do arluto?", exemplifica.

"Então muitas famílias chegam à conclusãonovibet fora do arque aquela crença ainda não conseguiu entender exatamente o que é o suicídio e que não pode falar que aquela pessoa estánovibet fora do arsofrimento."

No espiritismo, essa pergunta sobre o destinonovibet fora do aruma pessoa que se suicidou muitas vezes encontra alívio nas cartas psicografadas — mensagens enviadas por um espírito por meionovibet fora do arum médium.

Scavacini relata ser muito comum pessoas enlutadas pelo suicídio buscarem essas cartas, mesmo quem não é espírita.

"Na maioria das vezes, elas recebem mensagensnovibet fora do arque a pessoa está bem. Para o enlutado, é um alívio enorme", diz a psicóloga.

Ela destaca que, na terapia, não importa tanto o questionamento sobre a veracidade dessas cartas e sim como isso vai ajudar no processonovibet fora do arluto.

Mas ela diz ser preocupante quando há a cobrançanovibet fora do arvalores muito altosnovibet fora do ardinheiro para receber cartas psicografadas.

"Tem locais onde não se cobra nada e tem pessoas que cobram valores absurdos. Aí também é nosso papel olhar e trazer um pouconovibet fora do arreflexão", diz.

"Como psicóloga, sempre vou tentar entender qual é o papel da espiritualidade, da religiosidade na vida daquela pessoa. Se perceber que tem um valor positivo, isso vai estar dentro do meu tratamento", conclui.

O caminho que inclui refletir e às vezes superar o que diz uma religião sobre o suicídio, citado pela psicóloga, foi exatamente a trilha pela qual Bruno passou depois da morte do irmão.

"Tá certo que [o suicídio] é uma atitude antinatural. Mas a gente vê que Deus é misericordioso. Jesus na cruz falou para o ladrão: 'Se se arrependeunovibet fora do arcoração, eu te digo hoje, estarás comigo no paraíso'", diz Bruno.

"Então, essa falanovibet fora do arJesus é contraditória com essa afirmação do Vale dos Suicidas. Sempre me pauto por Cristo, as ações dele no Evangelho, e me pergunto: 'Como ele lidaria com esse assunto hoje?'"

*Nome fictício, a pedido do entrevistado

**Caso seja ou conheça alguém que apresente sinaisnovibet fora do aralerta relacionados ao suicídio, ou caso você tenha perdido uma pessoa querida para o suicídio, confira alguns locais para pedir ajuda:

- O Centronovibet fora do arValorização da Vida (CVV), por meio do novibet fora do ar telefone 188, oferece atendimento gratuito 24h por dia; há também a opçãonovibet fora do arconversa por chat, e-mail e busca por postosnovibet fora do aratendimento ao redor do Brasil;

- Para jovensnovibet fora do ar13 a 24 anos, a Unicef oferece também o chat Pode Falar;

- Em casosnovibet fora do aremergência, outra recomendaçãonovibet fora do arespecialistas é ligar para os Bombeiros ( novibet fora do ar telefone novibet fora do ar 193) ou para a Polícia Militar ( novibet fora do ar telefone novibet fora do ar 190);

- Outra opção é ligar para o SAMU, pelo novibet fora do ar telefone 192;

- Na rede pública local, é possível buscar ajuda também nos Centrosnovibet fora do arAtenção Psicossocial (CAPS),novibet fora do arUnidades Básicasnovibet fora do arSaúde (UBS) e Unidadesnovibet fora do arPronto Atendimento (UPA) 24h;

- Confira também o Mapa da Saúde Mental, que ajuda a encontrar atendimentonovibet fora do arsaúde mental gratuitonovibet fora do artodo o Brasil.

- Para aqueles que perderam alguém para o suicídio, a Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio (Abrases) oferece assistência e gruposnovibet fora do arapoio.