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A britânica executada pelo assassinato do marido cometido pelo amante :
Aos 29 anos, a jovem estava caída, praticamente inconsciente após dias tomando injeçõesum forte sedativo. Ela soltou um gemido quando a equipeexecução entrou.
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"Vamos, vai acabar logo", diz um dos homens enquanto a levanta pela cintura.
Os braços e tornozelosEdith são amarrados, e ela é carregada para um galpão, onde uma forca e um alçapão estão àespera. Em questãosegundos, ela está morta.
A pouco mais500 metrosdistância, na prisãoPentonville, e ao mesmo tempo, seu amante20 anos também era enforcado.
Três meses antes, Freddy havia esfaqueado repetidamente o maridoEdith, Percy Thompson, enquanto o casal voltava para casa depoisuma ida ao teatro.
Freddy sempre insistiu que a amante não sabiasuas intenções.
O "crime"Edith foi ser atraente, independente,classe trabalhadora e infiel — vítima, segundo um especialista no caso,uma intolerância social com mulheres que não obedeciam os códigos morais da época.
Como disse o romancista e roteirista Edgar Wallace: "Se alguma vez na história deste país uma mulher foi enforcada pelo puro preconceito do público desinformado e sem um pingoevidência para justificar o enforcamento, essa mulher foi Edith Thompson".
'Ela queria ser extraordinária'
Uma toneladacocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
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Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa
Edith Graydon, nomesolteira, queria uma vida diferente daquela com a qual se esperava que as mulheres da classe trabalhadora se conformassem.
Nascida no subúrbioManor Park, no lesteLondres, no diaNatal1893, ela foi a primeiracinco irmãos. Como filha mais velha, ajudaria a mãe a cuidar da irmã e dos três irmãos.
Assim que terminou os estudos, a jovem ambiciosa e inteligente foi para o centro financeiro da capital britânicabuscatrabalho, e conseguiu uma vaga na chapelaria Carlton & Prior. Ela subiu rapidamente na hierarquia da empresa, se tornando chefecompras.
"Ela era uma mulher que costumavam chamartipo comum que queria ser extraordinária", diz a autora Laura Thompson, que escreveu dois livros sobre o caso.
Em janeiro1916, Edith se casou com o despachantemercadorias Percy Thompson. Eles compraram uma casa41 Kensington Gardens,Ilford, pertoonde ambos cresceram.
Edith ganhava mais do que o marido — e também seu pai — e contribuiu com mais da metade do valor£ 250 da propriedade, embora a escritura tivesse que estar no nomePercy.
Como uma jovem recém-casada, esperava-se que ela se adaptasse à vida doméstica e à maternidade, mas Edith tinha outros planos. Excelente dançarina, ela passava as noites nos melhores hotéis e salõesdançaLondres — lugares que não costumavam ser frequentados por pessoas daclasse social. No fim da tarde, costumava ir com amigos aos teatros, cinemas e restaurantes do West End.
"Acho que ela era uma figura do nosso tempo, moderna, ambiciosa, com aspirações", diz Thompson.
"Ela queria terprópria casa, o que ela conseguiu, embora tivesse que estar no nome do marido."
Disposta a não se submeter às convenções da época, Edith não era uma esposa tradicional. E, para completar, ela tinha um amante, um homem bonito e charmoso, maisoito anos mais novo do que ela.
'Conheci uma mulher que perdeu três maridos'
Frederick Bywaters conhecia a família Graydon desde pequeno por ter estudado com um dos irmãosEdith na escola. Aos 13 anos, ele deixou Londres para ingressar na Marinha Mercante.
Em junho1921, Freddy foi convidado a passar uma semanaférias na IlhaWight com Percy, Edith eirmã Avis Graydon. Foi quando o flerte com Edith começou.
A relação dos dois prosperou quando Freddy foi morar com os Thompson por algumas semanas.
Naquela época, ele testemunhou como Percy tratava Edithforma abusiva, a pontodurante uma briga jogar a mulher pela sala, deixando-a com hematomas pelo corpo.
Como Freddy viajava com frequência, os amantes se comunicavam por cartas que Edith pedia que fossem destruídas logo após serem lidas. Mas ele não fez isso.
"São documentos notáveis", diz Thompson, cujo novo livro analisa as cartasdetalhes.
"São tão expressivas que são uma espécieoutro eu dela derramado nas páginas."
Em uma das cartas, Edith descreve situações mundanas da vida cotidiana, assim como expressa seus pensamentos sobre sexo, aborto e suicídio.
Ela também era capazoscilar entre a realidade e a fantasia; às vezes, o conteúdo parecia um tanto sinistro. Ávida leitoraficção, Edith se imaginavavezquando com personagemum romance e, ao fazer isso, insinuava que queria se livrarPercy, quem sabe adicionando pequenos pedaçosvidro à comida dele.
Em uma carta, ela escreveu:
Ontem conheci uma mulher que perdeu três maridos, e não durante a guerra, dois morreram afogados e um cometeu suicídio, e algumas pessoas que conheço não podem perder um. Como tudo é injusto. Bess e Reg vêm jantar no domingo.
René Weis, professor da University College London (UCL), no Reino Unido, que estuda o caso há décadas, acredita que as cartas não revelam nada além do que "o funcionamentouma imaginação romântica exagerada".
Para Edith, essas fantasias acabariam sendo mortais.
'Por que ele fez isso?'
Em 3outubro1922, Edith e Percy passaram a noite assistindo à comédia The Dippers no Criterion Theatre, pertoPiccadilly Circus, no centroLondres. Após o espetáculo, eles voltaramtrem para Ilford. E enquanto caminhavam pela Belgrave Roaddireção acasa, um homem atacou Perry.
Ele foi esfaqueado repetidamente no pescoço, equestãosegundos estava sem vida no chão.
A luz do dia revelaria um rastrosangue espalhado ao longoum trecho13 metros da rua.
A polícia abriu uma investigaçãohomicídio, e um dos primeiros nomes que surgiram foi oFreddy, mencionado pelo irmãoPercy.
O quarto do jovem na casa da mãe foi revistado, e a primeira das cartasamorEdith foi encontrada. Ela também estava agora sob suspeita.
Ambos foram levados para a delegaciapolíciaIlford, e os detetives os colocaram sentadosum corredor na esperançaque houvesse contato visual entre os dois,modo que Edith se incriminasse.
Após esse encontro, ela lamentou: "Por que ele fez isso? Eu não queria que ele fizesse isso. Ai, Deus, Deus, o que posso fazer? Preciso dizer a verdade."
A cabineFreddyseu barco, o Morea, também foi revistada, e mais cartas foram encontradas trancadas dentrouma caixa — incluindo aquelas que Edith mencionava seu aparente desejose livrar do marido.
Freddy não negou ter esfaqueado Percy, mas afirmou que havia sido atacado e agiulegítima defesa.
Quando contaram a ele que Edith também seria acusadaassassinato, Freddy respondeu: "Por que ela? A Sra. Thompson não estava ciente dos meus movimentos."
Espectáculo público
Os detalhes das cartas foram divulgadosartigosjornal sobre as audiências pré-julgamento. Os réus se viram no centrouma tempestade midiática.
Em 6dezembro1922, Edith e Freddy foram levados até uma sala lotada do Tribunal Central CriminalLondres, conhecido como Old Bailey, para serem julgados por homicídio.
Todos os dias, uma multidão se aglomerava do ladofora do tribunal tentando entrar para assistir às audiências. Chegou ao ponto de, no final do julgamentonove dias, desempregados fazerem fila durante a noite para venderem seus lugares na manhã seguinte por um valor superior ao do salário semanal médio no Reino Unido.
Para o escritor Beverley Nichols, que era um jovem repórter na época e presenciou todo o julgamento, o caso tinha ares "da época do Império Romano, quando os cristãos eram jogados aos leões".
Em entrevista a um programarádio da BBC1973, ele descreveu como o Old Bailey "tinha o climauma noiteestreia".
"Você tinha todas aquelas pessoas que poderiam estar no balcão ou na plateia; muitas mulheres da sociedade, caçadoresemoções, e todos tratavam aquilo (o julgamento) como se fosse algo pelo qual pagaram pelos assentos."
Artistas do museucera Madame Tussauds também estiveram presentes no tribunal fazendo esboços dos réus, no intuitoadicionar os personagens à"Câmara dos Horrores".
'Uma jovem arrogante e egoísta'
Durante o julgamento, foram lidos trechos das cartas entre os dois amantes, uma vez que eram provas cruciais para a acusação. Mas tamanha foi a reação da galeriaque se encontrava o público, que os membros do júri foram instruídos a ler as cartas para si mesmos.
"O horrorter (as cartas) lidasvoz alta no tribunal é o que me mata — essas palavras íntimas e privadas, e a galeria do público se comportando como lunáticos enlouquecidos ao escutá-las — é como tentar torturar alguém, eu acho", avalia Thompson.
O momentoque tudo aconteceu, após a Primeira Guerra Mundial, parecia alimentar um sentimentoódiorelação a Edith, como explica Weis.
"A narrativa eraque o Reino Unido estava repletoviúvasguerra, e aqui estava uma jovem arrogante e egoísta,origem modesta, que tinha tudo — estilo, uma linda casa, dinheiro, um bom marido, jantares, danças, teatros. E veja o que ela fez: um homem bom não era o suficiente para ela."
"O público passou a admirar Freddy e a detestar Edith intensamente, uma sereia que seduziu um jovem e, assim, desencadeou uma reaçãocadeia que resultou na morteum homem e na execução certaum rapaz", avalia Weis.
'Essa mulher não é culpada'
A antipatia do público por Edith foi evidentemente compartilhada pelo juiz Shearman, que interveio repetidamente a favor da promotoria.
Ao fazer o resumo do caso, ele disse aos membros do júri — a quem só se dirigiria como cavalheiros, embora houvesse duas mulheres — como se sentiarelação ao adultérioEdith: "Tenho certezaque você, como qualquer outra pessoa sensata, ficará cheiodesgosto diante disso."
As evidências contra ela eram, na melhor das hipóteses, inconsistentes. O corpoPercy foi examinado quanto a presençaveneno e vestígiosvidro, mas nada incriminador foi encontrado. Depoimentostestemunhas sustentaram a afirmaçãoEdithque ela havia sido pegasurpresa na noiteque seu marido foi esfaqueado.
Apesar dos apelos desesperadosseu advogado, Edith prestou depoimento perante o tribunal. "Isso para mim foi um sinalinocência,que ela estava tão certasua posição que estava disposta a fazer isso", diz Thompson.
Mas Edith cometeu um grande erro. A promotoria distorceu o que ela havia escrito nas cartas, criando narrativas falsas e dando recortes temporais enganosos para "confundi-la".
Em 11dezembro, o júri chegou a um veredicto após duas horasdeliberações. Uma Edith apavorada foi levadavolta ao tribunal para ouvir que ela e Freddy foram considerados culpadosassassinato.
"O júri está errado. Essa mulher não é culpada", gritou Freddymeio a uma comoção no tribunal.
O juiz Shearman os sentenciou então à penamorte.
Edith soltou um grito gutural enquanto era levada para as celas.
'Ela realmente nunca teve chance'
Uma petição para poupar Freddy da forca recebeu maisum milhãoassinaturas. Edith, porém, parecia não inspirar muita simpatia.
"As mulheres não gostavam dela porque a temiam; ela era uma daquelas mulheres que as outras mulheres acham que os homens desejam, e que era problemática e não merecia pena", diz Thompson.
"Ela realmente nunca teve chance."
Artigosopinião foram publicados nos jornais da época, a maioria deles contundentes.
"Não houve circunstâncias no caso para evocar a menor simpatia", escreveu o Times. "Todo o caso foi simples e sórdido."
Até a autoproclamada feminista Rebecca West escreveu que Edith "foi, pobrezinha, um pequeno pedaçolixo chocante".
Apósexecução, mulheres escreveriam ao secretário do Interior, William Bridgeman, agradecendo a ele por defender a honra do sexo feminino ao não permitir que a penamorte fosse comutada.
Edith escreveu cartas da prisão, destacandoangústia diante da penamorte. Em um bilhete para seus pais, ela comentou:
Hoje parece o fimtudo. Não consigo pensar — parece que estou dianteuma parede espessa e vazia, através da qual nem meus olhos nem meus pensamentos podem penetrar. Não está dentromeus poderescompreensão que esta sentença deve representar algo que eu não fiz, algo que eu não tinha conhecimento prévio ou na ocasião.
Todas as mulheres condenadas à morte na década anterior haviam recebido indulto, mas os apelosEdith foram rejeitados.
"Quando você vê os contorcionismos que o Ministério do Interior fez para garantir que ela fosse executada, é realmente assustador", diz Thompson, que acredita que o adultérioEdith foi visto como "um ataque à moralidade" — o tipocomportamento que arriscava "destruir a instituição do casamento e destruir tudo o que era bom".
'Agora pelo menos ela está com eles'
Em setembro1923, um leilão dos objetos da casaEdith e Percy atraiu grande interesse. De acordo com um dos funcionários do leilão, "a cerca viva ficou sem todas as folhas porque as pessoas que compareceram queriam dizer aos amigos que tinham algo da casa".
Os bonecosceraEdith e Freddy se tornaram a atração principal do Madame Tussauds, e só foram retirados da Câmara dos Horrores na década1980.
Hoje estão guardadosum depósito, com a tinta descascada, e cera se deteriorando.
Weis luta há muitos anos para que Edith receba um indulto póstumo.
Uma solicitaçãoperdão póstumo feita no ano passado — argumentando que o julgamento foi extremamente injusto — foi rejeitada pelo secretárioJustiça, Dominic Raab, com base no fatonão havia novas evidências. Mas agora o pedido está sendo analisado novamente depois que erros foram apontados.
Em 2018, o corpo dela foi enterrado ao lado dos pais no cemitérioManor Park,Londres.
"Eu esperava atender os últimos desejossua mãe", diz Weis.
"Agora pelo menos ela está com eles."
Para Thompson, o destinoEdith continua relevante hoje, embora já tenham se passado mais50 anos desde que a penamorte foi abolida no Reino Unido.
“É importante lembrar às pessoas que nada muda, o preconceito sempre existe; apenas mudaforma."
"Há um alerta terrível nesta história: avalie seus piores impulsosrelação às pessoas pelas quais você sente preconceito. Vivemosuma culturacancelamento — ela foi literalmente cancelada —, e esse é um impulso muito, muito perigoso, mas a sociedade acha difícil resistir. "
Reportagem editada por Ben Jeffrey
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