'Tranças da liberdade': como penteados ajudaram escravizadosconcha casinofugas:concha casino
A palavra evoca séculosconcha casinoexploração cruelconcha casinomilhõesconcha casinoafricanos que foram arrancadosconcha casinoseus lares e levados para o outro lado do mundo para serem vendidos e tratados como objetos a serviçoconcha casinoseus senhores.
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Mas também falaconcha casinorebeliões ousadas.
Benkos Biohó – junto comconcha casinoesposa Wiwa, seus filhos e cercaconcha casinotrinta homens e mulheres – liderou um desses levantes. Seu grupo fugiuconcha casinoCartagena das Índias, cidade portuária na costa caribenha da Colômbia, e derrotou guardas enviados para capturá-los.
Na fuga, eles não pararam até chegar a esse lugar entre os Montesconcha casinoMaría, queconcha casino1714, após maisconcha casinoum séculoconcha casinoluta, foi legalizado, por decreto real, com o nomeconcha casinoSan Basilioconcha casinoPalenque – palenque é o termoconcha casinoespanhol equivalente a “quilombo”concha casinoportuguês.
É aqui, na praça central, que se ergue atualmente o monumentoconcha casinohomenagem ao herói.
"O palenqueconcha casinoSan Basilio não foi o primeiro nem o único, mas é o mais conhecido porconcha casinoestratégia libertária e porque foi comandado pelo rei Biohó e, finalmente, porque se tornou a primeira cidade livre da América", explica Emilia Eneyda Valencia Murrain, fundadora da Associaçãoconcha casinoMulheres Afro-Colombianas (Amafrocol), à BBC Mundo, serviço da BBCconcha casinoespanhol.
Enquanto outros palenques desapareceram com o tempo, San Basilio conservou uma parte importante do seu legado ancestral. Muito desse legado foi transmitido entre gerações através da tradição oral, que mantém viva a memóriaconcha casinoque Benkos Biohó não esteve sozinho naconcha casinofaçanha.
E que sem a ajudaconcha casinosua esposa e outras mulheres teria sido muito mais difícil encontrar o caminho para a vitória.
Foi a astúcia dessas mulheres que criou um sistemaconcha casinocodificação para mostrar aos escravizados os caminhos para a liberdade sem que seus subjugadores percebessem.
Memorizando a paisagem
Sequestrados e transportados, os africanos vieram para a América para deixarconcha casinoser e apenas servir.
Mas, por mais que tentassem despojá-losconcha casinoqualquer traçoconcha casinohumanidade, essa é uma qualidade obstinada que permanecia tanto na nostalgia do que lhes fora arrancado, quanto no desejoconcha casinoescapar do inferno.
Quando a única alternativa era fugir,concha casinoum lugar que lhes era tão alheio, como saber para onde ir?
Na costa caribenha do chamado Novo Reinoconcha casinoGranada, mulheres escravizadas inventaram uma maneira discreta e genialconcha casinocriar e esconder – ainda que à vistaconcha casinotodos – mapasconcha casinoorientação para espaçosconcha casinoliberdade.
As mulheres não despertavam tanta suspeita.
Além disso, tendiam a sair maisconcha casinoseus ambientes do que os homens devido às tarefas que lhes eram atribuídas.
“Normalmente, o potencial, a sabedoria e a astúcia das mulheres são subestimados e é por isso que, no caso da Colômbia, elas conseguiram guardar muitos segredos, para depois usá-los a favor das comunidades: segredosconcha casinocura, culinária, plantação”, afirma Emilia Valencia.
“Isso foiconcha casinoparte o que aconteceu com esse processo libertário do palenqueconcha casinoSan Basilio”, diz ela, que ouviu a históriaconcha casinopalenqueras quando foi investigar “muitos, muitos anos atrás”.
“Elas me contaram que o lugar nasceu porque, quando as mulheres iamconcha casinofazendaconcha casinofazenda, fosse para fazer uma tarefa ou qualquer outra coisa, elas prestavam atenção nas estradas e nos pontos-chave”, conta a fundadora da Amafrocol.
"Então elas transmitiam isso aos homens e, juntos, eles traçavam a estratégia."
De raiz
"É preciso lembrar que os escravizados vinhamconcha casinodiferentes regiões da África, falavam línguas distintas, e no início era difícil para todos se entenderem."
Mas havia uma linguagem comum que eles trouxeramconcha casinoseu continenteconcha casinoorigem.
"O que chamamosconcha casino'trançasconcha casinoraiz', aquela que fica presa no couro cabeludo, que são próprias dos povos africanos."
E essas tranças falavam: contavam histórias, declaravam a condição socialconcha casinoquem as usava, deixavam claro seu estado civil, a religião que professavam, identificavam-nas como membrosconcha casinodeterminadas comunidades ou etnias.
No Novo Mundo, elas começaram a falar sobre liberdade.
"Após combinarem com os homens, elas concordaram que iam usar as tranças, os penteados, como um código secreto que indicava os caminhos por onde deveriam escapar.”
As escravizadas tornaram-se cartógrafas sem lápis nem papel, criando e usando na cabeça mapas desenhados com cabelos.
“Foi assim que elas desenharam o que é conhecido como os famosos mapasconcha casinofuga ou a rotasconcha casinoliberdade”, diz Valencia.
E não só isso.
Nesses penteados, as mulheres também guardavam objetos valiosos que seriam úteis quando chegassem aos palenques, como fósforos, grãosconcha casinoouro ou sementes preciosas para o cultivo.
Trançados para acorrentados
Para planejar as fugas, as mulheres se reuniamconcha casinotorno das cabeças das mais jovens, nas quais desenhavam seus mapas.
"Elas desenhavam com tranças, por exemplo, uma trança enrolada indicava uma montanha; aquelas que eram como cobras, sinuosas, indicavam que havia uma fonteconcha casinoágua – um riacho ou um rio –; uma trança grossa indicava que naquela seção havia um destacamentoconcha casinosoldados”, explica Valência.
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"Os homens 'liam' os códigos que elas usavamconcha casinoseus penteados, desde a testa, que demarcava o local onde se encontravam, até a nuca, que representava a montanha, o local para onde deveriam ir emconcha casinofuga”, destacou no estudo Poética do penteado afro-colombiano (2003) a socióloga Lina María Vargas.
Quem lhe contou foi Leocádia Mosquera, professora do departamentoconcha casinoChocó, no oeste da Colômbia, que aprendeu o segredo dos penteados comconcha casinoavó.
Ela revelou que não se tratava apenasconcha casinorepresentar características geográficas ou alertar sobre a presençaconcha casinopostosconcha casinovigilância: com suas cabeças criptografadas elas deveriam comunicar a todos qual era a estratégia.
As tranças também indicavam pontosconcha casinoencontro, marcados com várias fileirasconcha casinotranças convergindo no mesmo local, cada uma representando um caminho possível.
Nesses pontos eles se encontravam durante a fuga para saber como estavam e tomar decisões.
O último ponto ficava na nuca.
Segundo explicou Leocádia, se – por exemplo – iam se encontrar debaixoconcha casinouma árvore, arrematavam a trança na vertical e para cima, para que ficasseconcha casinopé; se fosse à margemconcha casinoum rio, eles a aplainavam na direção das orelhas.
Além disso, às vezes havia trançasconcha casinocomprimentos diferentes ao longo dos mesmos caminhos, dizendo a grupos diferentes até onde deveriam ir, pois os mais forte tinhamconcha casinoproteger a retaguarda.
Todas essas informações e muitas outras foram passadas pelas cidades e campos da Colômbia colonial à vistaconcha casinotodos, mas para compreensãoconcha casinoapenas alguns.
A outra libertação
Infelizmente, esses penteadosconcha casinolibertação com o tempo se tornaram uma fatorconcha casinoestigma.
"Algo particular aconteceu", diz Valencia.
“As palenqueras ajudaram a formar cidades comconcha casinoarte. Mas depois houve uma ruptura com os penteados”, afirma.
"Por quê? Porque quando elas estavam aparentemente livres e começaram a se integrar à sociedade, foram obrigadas a abrir mãoconcha casinoseus penteados, aquilo que eraconcha casinotradição,concha casinocultura."
Embora algumas descendentes tenham recebido esse legado graças a histórias passadasconcha casinogeraçãoconcha casinogeração, muitas tiveram que mantê-lo na esfera privada, e muitas outras nunca descobriramconcha casinoprópria história ancestral.
“Houve uma demanda dos empregadores e da sociedadeconcha casinogeral para unificar um modelo hegemônicoconcha casinoestética,concha casinobeleza, então as mulheres negras eram obrigadas a alisar o cabelo.”
Desde então, diz Valencia, “tudo passa pelo cabelo... a violência começa desde o jardimconcha casinoinfância”.
“Tem sido difícil, mas estamos avançando, graças aos diálogos, aos fóruns, a todos os processos formativos e culturais”, diz ela.
“Conseguimos descolonizar mentes e corpos e agora é maravilhoso ver como temos uma vice-presidente negra [Francia Elena Márquez Mina] e uma ministra [da Educação, Aurora Vergara Figueroa]”, comemora a ativista.
"A ministra Aurora me ligou para agradecer 'por ter me ajudado no meu autorreconhecimento', segundo me disse, porque ela também era uma das que alisava o cabelo, e era difícil para ela. Mas agora, ela está muito feliz mostrando todaconcha casino‘pretitude’ – como chamamos a expressão máxima da negritude –concha casinopúblico.”
"Para as mulheres negras, passar por esses procedimentos químicosconcha casinoalisamento e outros, apenas para tentar se encaixar, acredite, é muito traumático e muito, muito doloroso", conclui Valencia.
-Este texto foi publicadoconcha casinohttp://vesser.net/articles/cnkw9153nl7o