'Sou patrimônio histórico, mas não posso pagar dentista': o muro que divide Cartagena, a cidade mais turística da Colômbia:betsul apostas
Mas Betty Sargado, uma palenquera que vivebetsul apostasposar para fotos com turistas fascinados pelas coresbetsul apostassuas roupas e pelas frutas que carrega na cabeça, não vê grande benefício nesse “chamado patrimônio”.
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JOGOS
Classificao | p | g |
1 PAL | 70 | 64 |
2 GRE | 68 | 63 |
3 CAM | 66 | 52 |
4 FLA | 66 | 56 |
# | Time | P |
1 | Palmeiras | 70 |
2 | Grmio | 68 |
3 | Atltico-MG | 66 |
4 | Flamengo | 66 |
Fim do Matérias recomendadas
“Somos patrimônio histórico, meu amor, mas não temos seguro para pagar o dentista”, diz à BBC News Mundo (serviçobetsul apostasespanhol da BBC). "Eu não tenho um cartão que diz que sou patrimônio histórico e que por isso devem me oferecer serviçobetsul apostasodontologia. Então, que tipobetsul apostaspatrimônio histórico é esse?"
Empregada doméstica por 14 anos e depois massagista nas praias, Betty ebetsul apostasmãe, Angélica Cáceres, foram umas das primeiras palenqueras a chegar ao centro para aproveitar ao máximo o turismo.
Uma toneladabetsul apostascocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
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Passam os dias a cativar o estrangeiro: agitam as saias, contam piada, enquanto pedem uma "picture, picture (fotobetsul apostasinglês)".
“Fomos nós, negros, que fizemos essas paredes”, diz Betty, enquanto observa o amanhecer que tinge a rochabetsul apostascoral. "Mas não temos muitos direitos sobre eles", reclama. "Ninguém sabe nada das muralhas pra lá."
Das muralhas para lá está "a outra Cartagena", uma cidadebetsul apostasquase dois milhõesbetsul apostashabitantes onde duasbetsul apostascada três pessoas, segundo dados oficiais, não comem três vezes ao dia; onde 70% trabalham na informalidade, têm a pior qualidade educacional do país e vivem sob a ansiedadebetsul apostasuma criminalidade que registrou 360 homicídiosbetsul apostas2022, o maior número da história recente, e entro pela primeira vez na lista das 50 cidades mais perigosas do mundo – seis delas são colombianas.
A ideia das duas Cartagenas, uma feliz e outra triste, se consolidou. Ela está na mídia,betsul apostasdiscursos políticos,betsul apostasreportagens turísticas.
Em uma Cartagena você pode ouvir o galope dos cavalosbetsul apostasuma carruagem, os gritosbetsul apostas"feliz casamento". No outro, o ronco dos mototáxis, as buzinas do trânsito caótico e os aviões que pousam ao ladobetsul apostasum bairrobetsul apostascasas assombradas com ruas sem calçamento.
Em uma delas há butiquesbetsul apostasluxo, galeriasbetsul apostasarte, eletricidade e água encanada. Na outra, vendedores ambulantes lotam semáforos e esquinas, e os serviços básicos são intermitentes.
A históriabetsul apostasque existem duas cidades, uma boa e outra ruim, virou um clichê que os próprios moradpres repetem e que, como todo clichê, é discutível. Porque uma Cartagena precisa da outra, elas se alimentam. Porque das paredes para fora pode haver caos, mas também vida, folclore, idiossincrasia caribenha.
"Não saiabetsul apostascasa"
Ariel Valdez é um líder social na áreabetsul apostasLa Popa, ode ficam os bairros informais ao pé da única colina da cidade, fora das muralhas. Lá ele organiza eventos, faz mediação entre gangues armadas e apoia jovens artistas.
Valdez, 34 anos, dirige um estúdiobetsul apostasgravação onde,betsul apostas8 anos, maisbetsul apostas300 artistas desses bairros gravaram suas composiçõesbetsul apostasrap, reggaeton e champeta, gênero característico da cidade, que mistura ritmos afro-caribenhos com arranjos eletrônicos.
Em uma noitebetsul apostasoutubrobetsul apostas2021, Valdez estava com seu grupobetsul apostasuma das praças adjacentes ao centro murado. Eles cantaram, dançaram, riram. E, como todas as noites, turistas, vendedores ambulantes e profissionais do sexo convergiam para a área: agitação e pequenos focosbetsul apostastensão ao mesmo tempo que festa, oportunidadebetsul apostasnegócios e clima quente e úmido, atenuado pela brisa.
"Uma unidadebetsul apostaspoliciais veio nos revistar", lembra Valdez, sentadobetsul apostasum pequeno estúdio com paredes vermelhasbetsul apostasque um cartaz diz "arriba los debajo".
"Não encontraram nada para nós, mas a atitudebetsul apostasdesafio continuou, como se procurassem um pretexto para nos prender. Por que estávamos ali, por que estávamos fazendo barulho, do que estávamos fugindo? Claro, finalmente começaram a nos assombrar. Incomodam, porque esta é a nossa cidade, e acabaram prendendo umbetsul apostasnós."
O grupobetsul apostasjovens se dirigiu à estação, dentro da cerca murada. Lá eles conheceram outros músicos negros presos. Eles descobriram que não eram exceção. "Isso é o que acontece todos os dias", diz Valdez. Pisar no centro da cidade é, para o negro, um risco.
“Se você não gostabetsul apostasser revistado, não saiabetsul apostascasa”, comenta Valdez sobre o que os policiais teriam dito a eles.
Sua reclamação é semelhante àbetsul apostasBetty, a palenquera: "Em Cartagena, os turistas têm mais direitos do que nós, o povobetsul apostasCartagena".
Assim, as pessoas que vêm da "outra Cartagena" promovem o desenvolvimento da Cartagena dos cartões postais: vão lá durante o dia para trabalhar nos hotéis, nas lojas, nos restaurantes, nos eventos, mas se quiserem usá-la como um espaço público, nas horasbetsul apostaslazer, fica complicado.
Muitos cartageneneiros sentem que suas terras são segregadas, divididasbetsul apostasduas. Como é então que uma idílica cidade murada acabou isolada,betsul apostaspleno século 21, da cidade real que a rodeia?
A construçãobetsul apostasum destino turístico
Em 1943 o centro murado era uma ruína, vestígio da principal sede comercial do império espanhol nesta zona da América. Alguns anos antes, inclusive, algumas partes das paredes haviam sido demolidas por serem supostamente focosbetsul apostaspropagaçãobetsul apostasdoenças.
Naquela época, as principais fontesbetsul apostasrenda da cidade eram — como hoje — as indústrias petroquímicas e o porto, um dos maiores da América Latina. Mas seus lucros não foram suficientes - ou não permaneciam o suficientebetsul apostasCartagena - para tirar a cidade da estagnação. A Colômbia também estava saindobetsul apostasuma crise econômica.
Foi então que surgiu o turismo como solução: o governo nacional destinou recursos para renovar o patrimônio, vários filmes foram rodados — incluindo Queimada, estrelado por Marlon Brando— e os assentamentos que cercam o centro amuralhado, como o emblemático Chambacú, começaram a ser despejados,betsul apostasuma ação que muitos chamambetsul apostas"limpeza social".
Assim, um destino turístico foi criado.
“A convicçãobetsul apostasque os monumentos eram o bem mais precioso da cidade, mesmo acima da dignidade dos seus habitantes, ganhava cada vez mais força”, defende o historiador Francisco Flórez no artigo “Culto da pedra, desprezo pelas pessoas”, onde detalha as diferentes campanhas publicitárias para "embranquecer" o centrobetsul apostasbuscabetsul apostasum destino.
Embora o verdadeiro impulso turísticobetsul apostasCartagena tenha ocorrido apenas na décadabetsul apostas1980, segundo especialistas, as iniciativas para condicionar o patrimônio ao olhar estrangeiro surgiram antes e continuam até hoje.
Um dos casos mais emblemáticos, mas não o único, foi o mercado Getsemaní, uma praça públicabetsul apostasraízes culturais e urbanas que foi deslocada na décadabetsul apostas1970 para construir,betsul apostas1982, um centrobetsul apostasconvenções que hoje abriga conferências, casamentos e festas, principalmentebetsul apostasinteresse privado.
Nas décadasbetsul apostas1980 e 1990, grandes conferênciasbetsul apostasorganizações multinacionais e festivais anuaisbetsul apostascinema e música erudita impulsionaram a reformabetsul apostasclaustros, fábricas e escolas, agora convertidasbetsul apostashotéis, restaurantes e espaços para eventos.
Até os fruteiros do centro,betsul apostasPalenque, modificaram suas roupas para alinhá-las ao turismo: a tradição era se vestirbetsul apostaspreto para homenagear os ancestrais, mas os negócios prevaleceram sobre o luto ancestral.
"Descobrimos que quanto mais cores usássemos, melhor ficaríamos", diz Betty Sargado, a palenquera, conhecedorabetsul apostasseu ofício e seu produtobetsul apostasvendas. "Porque com as cores escuras íamos nos ver mais ousadas. E foi daí que surgiu a bandeira da Colômbia ebetsul apostasCartagena (para enfeitar os vestidos)."
Diana Gideón, co-directora da maior empresabetsul apostasturismo da cidade, a Gema Tours, foi, com abetsul apostasfamília, uma peça fundamental na construção deste destino turístico. "O crescimento da empresa andoubetsul apostasmãos dadas com o desenvolvimento da cidade", afirma.
Um empreendimento que, ela admite, não abarcou todos os cartageneiros, embora existam empresas, como a Gema Tours, que promovem a mobilidade social.
A empresária convida todos os meses centenasbetsul apostascriançasbetsul apostasbairros pobres para “um passeio pelo patrimôniobetsul apostasCartagena”, do qual pouco ou nada sabem.
Quando lhe pergunto sobre a deslocaçãobetsul apostaspopulações e culturas a favor do turismo, assegura que são riscos normais do desenvolvimento: "Há cidades que são mais ciumentas do que outras, que cuidam melhor dos seus bens, mas não foi este o caso aqui, o desenvolvimento ocorreu".
Para Gideon, embora todos os presidentes “ponham seu grãobetsul apostasareia para promover o turismobetsul apostasCartagena, houve um antes e um depoisbetsul apostasÁlvaro Uribe”.
Uribe, que governou entre 2002 e 2010, criou robustas entidades para promover o país, estabeleceu isenções fiscais —algumas ainda vigentes— para quem comprar e reformar casas no centrobetsul apostasCartagena e promoveu,betsul apostasaliança com os Estados Unidos, um ambicioso programabetsul apostassegurança e política antiterrorista que gerou a ideiabetsul apostasque "agora você pode viajar na Colômbia".
Nesses anos, também foi relatada a chegadabetsul apostasgrupos paramilitares à cidade que supostamente pretendiam realizar uma limpeza social. Investigações jornalísticas informam que,betsul apostas2003, por exemplo, os homicídios aumentaram 47%betsul apostasrelação ao ano anterior devido à ação dos paramilitares.
"Desde a criação do destino turístico, toda a política públicabetsul apostasCartagena se voltou para o turismo", diz Camilo Rey, geógrafo e economistabetsul apostasCartagena.
"E isso não só gerou a ideiabetsul apostasque existem duas cidades, como foi feito sob uma premissa que não é verdadeira: que é a maior fontebetsul apostasrenda."
A indústria petroquímica pagou o dobrobetsul apostasimpostos e gerou o dobrobetsul apostasempregos que a hotelaria entre 1990 e 2010, segundo pesquisa do economista Aarón Espinosa.
Hoje, segundo dados da Câmarabetsul apostasComércio da cidade, a petroquímica gera um quarto dos empregos gerados pelo turismo, alémbetsul apostasdez vezes mais renda.
Ou, ditobetsul apostasoutra forma: das cinco atividades mais pujantes da cidade —agricultura, construção, porto, petroquímica e turismo—, é esta última que gera menos lucro e, portanto, menos impostos.
E embora o turismo seja a maior fontebetsul apostastrabalho, 40% do total, mais da metade desses empregos, 60%, são informais, segundo dados oficiais.
Riqueza por uma única Cartagena
Além do atributo histórico e estético do chamado "Centrobetsul apostasPedra", a atraçãobetsul apostasCartagena é abetsul apostasnatureza.
Cercados por pântanos, canais e uma esplêndida baía, na cidade se reúnem diversos complexos hídricos que permitem a ágil interação do interior do país com o mar do Caribe.
Existe também uma luminosidade que fazbetsul apostasqualquer pedra uma imagem fotogênica.
Sua localização estratégica a converteubetsul apostasum dos portos mais dinâmicos —comerciais, mas tambémbetsul apostasescravos— das Américas.
Por ser um conjuntobetsul apostaspenínsulas, a cidade parece ancorada no mar aberto, o que gera uma concorrênciabetsul apostasventos que esfriabetsul apostas30 a 40 graus Celsius.
Mas essa geografia que traz centenasbetsul apostasmilharesbetsul apostasturistas por ano também é um desafio.
A maior partebetsul apostasseus solos está abaixo do nível do mar e muitos deles são construções feitas pelo homem, que, artesanalmente ou industrialmente, foram colocando entulho nas margens para expandir o terreno com o acúmulobetsul apostassedimentos.
Hoje 60% do litoral da cidade está ameaçado pela erosão, que só promete aumentar devido às mudanças climáticas. Toda vez que chove, as ruas alagam, o trânsito congestiona, os esgotos transbordam.
A infraestruturabetsul apostasCartagena talvez seja a maior reclamaçãobetsul apostasseus moradores, que têm uma das taxasbetsul apostasparques por pessoa mais baixas do país e poucos espaços para praticar seus esportes tradicionais: beisebol e patinaçãobetsul apostasvelocidade.
Você não pode entrarbetsul apostasmotocicleta – o veículo mais usado na região – na área dedicada ao lazer, o centro murado. E há poucos, se houver, restaurantesbetsul apostascomida típica da região por lá.
O boom imobiliário gerado pelo turismo na décadabetsul apostas1990, com prédios altos e brancosbetsul apostasáreas próximas ao centro, foi parcialmente impulsionado por investidores estrangeiros e, segundo registros judiciais, pela economia do narcotráfico, interessadabetsul apostaslavagembetsul apostasdinheiro. Dezenasbetsul apostasprédios foram construídos sem licença, causando desmoronamentos que custaram vidas ou construções que posteriormente tiveram que ser demolidas.
Alguns bairrosbetsul apostasCartagena se parecem com Miami, mas outros têm déficits habitacionais semelhantes aosbetsul apostasChocó e La Guajira, os departamentos mais pobres do país.
E a isso se soma uma situação crítica na educação:betsul apostastodos os indicadores, o desempenho educacional da cidade é pior que a média nacional. Está no nível das regiões com as economias mais pobres, mas localizadobetsul apostasuma das economias mais ricas do país.
Um estado (local) com falha
A Prefeiturabetsul apostasCartagena é um dos poucos edifícios construídos sobre a fortificaçãobetsul apostaspedra. Branco, com sacadasbetsul apostasmadeira vermelha e telhasbetsul apostasbarro na cobertura, o edifício abriga o gabinete do prefeito da cidade,betsul apostasonde se acessa um trecho reservado da muralha e se avista a baía, o Centrobetsul apostasConvenções e, um pouco mais adiante, "a outra Cartagena".
Entre os especialistas ouvidos pela reportagem há certo consensobetsul apostasque o governobetsul apostasCartagena é um Estado falido. A política local está infestadabetsul apostascorrupção e infiltrada por castas familiares e empresariaisbetsul apostasoutras regiões.
O atual prefeito, William Dau, provavelmente será, no fim deste ano, o primeiro mandatário distrital a terminar seu mandato nos últimos 12 anos. Os oito prefeitos anteriores tiveram mandatos atípicos. Alguns foram destituídos, outros foram presos.
Eleitobetsul apostasnome da luta contra a corrupção, Dau tem contra si todos os deputados da Assembleia, muitos dos seus funcionários se demitiram e que não consegue fazer obras.
O seu legado, disse à News BBC Mundo, é o saneamento das finanças públicas: "Aqui houve um pacto tácito entre empresários e políticosbetsul apostasnão se atacarem. 'Deixo vocês continuarem roubando e vocês não mexam nas minhas empresas' (.. .) Quando me tornei prefeito, 70% do orçamento foi perdido na corrupção, mas já estamos moralizando a administração pública."
Mas Dau, com números no vermelho nas pesquisas e investigado por 20 processos disciplinaresbetsul apostasórgãos estaduais, estima quebetsul apostaslimpeza vai ficar aquém: “Tem tanta demora para corrigir que não dá para fazer tudobetsul apostas4 anos. acabambetsul apostaselefantes brancos (construções inacabadas) porque falta planejamento, porque fizeram tudo chamboneado (improvisado)".
Para ele, a riquezabetsul apostasCartagena não se traduzbetsul apostasbem-estar geral porque os políticos não estão interessados: “A ideia aqui não é pensarbetsul apostastodas as pessoas, masbetsul apostascomo explorar a beleza da cidade para fins privados. visto como um animalzinho, como um insumobetsul apostasuma cadeia produtiva".
“Issobetsul apostasque a Cartagena rica abastece os pobres não é verdade", diz o prefeito. "Mas sem os negros, (os mais ricos) não poderiam ter seus hotéis nem seus restaurantes."
O centro tomado pelo turismo sexual
No censo nacionalbetsul apostas2005, foi informado que cercabetsul apostas15.000 pessoas viviam no centro muradobetsul apostasCartagena, mais ou menos o mesmo número estimado pela historiografia dos séculos anteriores. Mas no censobetsul apostas2018, apenas 2.500 pessoas disseram que viviam nessa área.
Essa diminuição se deve não só ao fatobetsul apostasa maioria dos imóveis se dedicarem ao turismo, mas também ao fatobetsul apostaso centro, à noite, se tornar uma zonabetsul apostastolerância à prostituição e ao microtráficobetsul apostasdrogas com um suposto aval da polícia.
“Todos se calam por amor ao dinheiro”, diz Berena Suárez, uma ex-profissional do sexo que agora administra um lar para vítimas do tráfico no bairrobetsul apostasAlcibia.
“Sim, as autoridades colocam um papel nas portas dos hotéis dizendo que não aceitam turismo sexual, mas isso é mentira, porque eles têm um acordo com a polícia, com a justiça, com todos; eles fazem vista grossa. "
É impossível saber a magnitude do turismo sexual, que é legal, ou do tráficobetsul apostaspessoas, que é ilegal. Ambos são mundos nebulosos. Mas sóbetsul apostasolhar para a Plazabetsul apostaslos Coches, mais conhecida como Torre do Relógio,betsul apostaspleno centro da cidade, às 22h, é possível identificar uma espéciebetsul apostascapital mundial da prostituição.
Ana María González é a atual secretária do Interior, a funcionária mais midiática da prefeiturabetsul apostasDau e uma ativista obsessiva contra o tráficobetsul apostaspessoas. "A idade média das meninas (profissionais do sexo) ébetsul apostas19 anos", diz ela.
Vestindo um colete vermelho do gabinete do prefeito, cercada por câmeras e delegados e policiais, a oficial levou a BBC News Mundobetsul apostasumbetsul apostasseus habituais passeios por estabelecimentos dedicados à prostituição.
Alguns, os mais exclusivos, estão dentro da parede; outros, os mais populares, estão pra fora.
"Olha o alfinete (o cadeado)", diz González, apontando para a portabetsul apostasum quartobetsul apostasum bordelbetsul apostasEl Amparo, longe do centro. "Existem as intenções: eles colocam do ladobetsul apostasfora da porta para poder trancar as meninas."
Nascidabetsul apostasBogotá, González, que assim como o prefeito morou por muitos anos nos Estados Unidos, destaca: “Há meninos e meninas cuja liberdade está sendo cerceada para que os estrangeiros possam se divertir, e essa situação me machuca muito”.
Berena, a ex-trabalhadora do sexo, concorda: "Se um gringo é pego com um menor, eles o protegem. Não sei o que acontece, mas quando isso acontece (um crime sexual cometido por um estrangeiro), fica impune".
"Cultura Subterrânea"
Todos os finsbetsul apostassemana,betsul apostascada bairro popularbetsul apostasCartagena, são montadas enormes aparelhagensbetsul apostassom ao estilo jamaicano, pintadasbetsul apostascores, que reúnem dezenasbetsul apostaspessoasbetsul apostasfestasbetsul apostasrua. Eles os chamambetsul apostas"picó", podem durar três dias e são uma característica essencial da "outra Cartagena".
No centro murado, essas festas não existem. Há festas, claro, mas nãobetsul apostasCartagena propriamente dita. Houve até uma épocabetsul apostasque as autoridades tentaram proibir o estilo musical champeta porque, supostamente, alegaram que promove o contato sexual e favorece o crime.
Há pessoasbetsul apostasCartagena que cresceram pensando que esse gênero era proibido porque era "música negra".
Hoje a champeta é um símbolo internacionalbetsul apostasCartagena. E a grande maioriabetsul apostasseus expoentes vem da cidade fora dos muros.
Ariel Valdez, líder social e produtor musical, é um dos 25 filhosbetsul apostasJusto Valdez, um palenquero considerado co-criador da champeta e um expoente vital da música caribenha colombiana. Seu legado é celebradobetsul apostasbaresbetsul apostasBogotá e atébetsul apostasconservatóriosbetsul apostasBoston.
Mas,betsul apostasacordo com Ariel, seu pai não tem dinheiro suficiente "para comer três vezes ao dia". E ele não frequenta muito o centro murado.
Ele foi convidado para centenasbetsul apostaseventosbetsul apostaspromoção turística ao longobetsul apostasquatro décadas. Sua música afro, alegre e pioneira é justamente o que os turistas vêm conhecer.
Mas Justo, como os outros músicosbetsul apostasSon Palenque,betsul apostasfamosa banda, vive na pobreza.
Ariel menciona duas razões para isso: “O sistema educacional e econômico não permite que os pobres subam, mas também é quebetsul apostasCartagena há um sentimentobetsul apostasresignação,betsul apostasque é melhor receber pouco do que não receber nada”.
A opinião do jovem músico dos bairros das ladeirasbetsul apostasLa Popa é compartilhada por dezenasbetsul apostaspensadores da cidade: os sentimentos coletivos mais profundos dos moradoresbetsul apostasCartagena, sempre ligados à alegria, estãobetsul apostascrise.
Há duas coisas que historicamente deram a Cartagena um atributo único: as festividadesbetsul apostas11betsul apostasnovembro, que celebram a independênciabetsul apostasCartagena, anterior àbetsul apostasBogotá; e o beisebol, esporte tradicional ao contrário do resto do país, onde se pratica futebol e ciclismo.
Ambos estão diminuindo: as festasbetsul apostas11betsul apostasnovembro foram rebaixadas pelo Concurso Nacionalbetsul apostasBeleza, que acontece na mesma época; e os timesbetsul apostasbeisebolbetsul apostasCartagena não se classificam para torneiosbetsul apostasimportância moderada, enquanto o estádio Oncebetsul apostasNoviembre, conhecido como "o templo do beisebol colombiano", está desgastado, precisandobetsul apostasreformas há décadas.
Rosita Díaz e Raúl Paniagua são um renomado casalbetsul apostassociólogosbetsul apostasCartagena. Ambos tentam esconder seus maisbetsul apostas70 anos.
Dedicados a passar a tarde lendobetsul apostasuma varanda cheiabetsul apostasplantas no tradicional bairrobetsul apostasPiebetsul apostasla Popa, ao sombetsul apostaspássaros e motocicletas, o casal explica quebetsul apostasuma "cidade pré-moderna", onde sistemasbetsul apostascastas regem o poder econômico e a política, tem sido muito difícil manter as raízes africanas, por mais resistentes que sejam.
“Sempre disse que nunca fomos livres, mas sempre fomos dignos”, diz Díaz. "Porque mantivemos nossas danças, nossa gastronomia, nossos cultos religiosos."
“Mas agora não sei mais se somos dignos”, acrescenta. "Nossa herança se tornou um disfarce. Nossa cultura se tornou clandestina.”