A épocaaa pokerque ser alegre era malvisto — e como começou nossa busca pela felicidade:aa poker

Residência inglesa no século 18

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Legenda da foto, Ilustraçãoaa pokerresidência inglesa no início do século 18; até essa época, era recomendado demonstrar certa melancolia

A busca pela felicidade

Até o início do século 18,aa pokerlugares como Reino Unido e nas suas colônias na América do Norte, os historiadores perceberam que as pessoas tinham orgulhoaa pokerserem um pouco melancólicas.

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Isso tinha a ver,aa pokerparte, com a lógica protestante,aa pokerter consciência dos seus pecados eaa pokerse manter humilde perante os olhosaa pokerDeus.

Peter Stearns cita nas suas pesquisas o diário escrito por um chefeaa pokerfamília da época, que defendia que Deus, entre aspas, “não permitia alegria nem prazer, mas sim uma espécieaa pokerconduta melancólica e austera”.

Isso não quer dizer que as pessoas fossem infelizes — simplesmente não temos como julgar issoaa pokermodo imparcial, a partir dos padrões atuais. Até porque a felicidade, obviamente, é algo bastante subjetivo.

Declaraçãoaa pokerIndependência americana

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Legenda da foto, Declaraçãoaa pokerIndependência americana foi um dos marcosaa pokera "busca pela felicidade" passar a ser vista como direito

O que significa é que havia entre as pessoas da época a percepçãoaa pokerque era necessário se desculpar por momentosaa pokerfelicidade, por considerá-los uma afronta a Deus, segundo Stearns.

Mas isso mudou radicalmente no século 18, a ponto de, na redação da Declaraçãoaa pokerIndependência dos Estados Unidos,aa poker1776, a busca pela felicidade ter sido considerada um direito humano. A Constituição da Françaaa poker1793 também explicitou a ideiaaa pokerque, entre aspas, “o objetivo da sociedade é a felicidade comum”.

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“A nova ideia era que as pessoas não apenas deveriam ser felizes, mas tinham a responsabilidadeaa pokerparecer felizes, produzindo algo como um novo imperativoaa pokeralegria”, diz Stearnsaa pokerseu livro.

“O resultado aparecia tantoaa pokerconselhos por escrito quanto, ainda mais impressionante,aa pokeruma nova disposiçãoaa pokersorrir amplamente eaa pokeresperar sorrisosaa pokertroca. As boas maneiras começaram a ser redefinidas no sentidoaa pokerenfatizar o positivo.”

Era o fim, segundo o historiador, “do autocontrole taciturno e do sorriso contido, substituído por maior espontaneidade.”

“Os romances — um gênero literário novo por si só — começaram a descrever as mulheres com sorrisos ‘encantadores’ ou ‘doces’, um claro sinalaa pokernovidade”, ele escreve.

“Em meados do século 18, surgiram novos tiposaa pokerdentistasaa pokeráreas urbanasaa pokerambos os lados do Atlântico, ávidos por cuidar dos dentesaa pokervezaa pokerarrancá-los. Uma sérieaa pokerprodutos inovadores, incluindo palitos e escovasaa pokerdente, foi introduzida para preservar os sorrisos, e foram projetados auxílios artificiais, como o batom, para destacar a brancura dos dentes. O atoaa pokersorrir demonstrava que a pessoa estava acompanhando os mais recentes produtosaa pokerconsumo, alémaa pokerexibir o tipo certoaa pokeremoção.”

O mistério que envolve essa mudança

Dentista no século 18

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Legenda da foto, Pinturaaa pokerdentista no século 18; esses profissionais deixaramaa pokerapenas arrancar dentes, para cuidaraa pokersorrisos

Mas o que levou a uma mudança tão grandeaa pokerperspectiva, causando a exaltação da felicidade e do sorriso? Existem explicações, mas também mistério, segundo Peter Stearns.

“Sabemos parte da resposta. Houve, obviamente, uma enorme mudança no clima intelectual nas sociedades ocidentais, associada ao Iluminismo”, diz ele à reportagem.

“Os intelectuais se tornaram mais otimistas. Eles ficaram mais focados neste mundo,aa pokervezaa pokerem uma aspiração tão religiosa. Então a mudança no contexto cultural estava intimamente ligada à ascensãoaa pokerum interesse maioraa pokeruma expectativaaa pokerfelicidade.”

O aumento no conforto físico e na prosperidade das classes sociais mais altas, bem como períodosaa pokertréguaaa pokerepidemias e pragas, provavelmente também despertaram uma sensação maioraa pokerotimismo.

“Mas, francamente, há um poucoaa pokermistério nisso. (...) Essa foi uma grande mudança cultural, e não acho que está totalmente claro por que ela aconteceu. Então é uma boa pergunta”, diz ele.

Obsessão com a felicidade?

Ao mesmo tempo, a busca pela felicidade se entrincheirouaa pokertal modo nas sociedades ocidentais que, na visãoaa pokerStearns, criou uma obsessão e uma dificuldadeaa pokerlidar com a tristeza.

“Certamente há um aspecto do interesse moderno na felicidade que provavelmente nos tornou intolerante à tristeza. Há alguns estudos, por exemplo, (mostrando que) não lidamos bem com crianças que estão tristes , porque queremos que as crianças sejam felizes. Então eu acho que, francamente, há um problema nisso”, diz o historiador.

“A maioria dos estudos sobre felicidade, do pontoaa pokervista psicológico, argumenta que a felicidade precisa ser entendida como algo que, com alguma frequência, (vai ser intercalado)aa pokercoisas ruins,aa pokertristeza. Então uma definição bem-sucedidaaa pokerfelicidade temaa pokerpermitir espaço para um poucoaa pokerpesar e tristeza. Mas acho que nossas culturas não lidam bem com isso. Somos impacientes com o luto.”

Retratoaa pokersoldado americano voltando para casa após a guerra civil,aa poker1865

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Legenda da foto, Retratoaa pokersoldado americano voltando para casa após a guerra civil,aa poker1865; junto com a exaltação à felicidade, veio a valorização do amor romântico

Felicidade e amor romântico

Padrões semelhantes se observam no elo entre a felicidade e o amor romântico.

À medida que a felicidade virou um objetivo social, as manifestações culturais -aa pokerromances escritos a canções e, mais adiante, filmes — passaram a exaltar o amor romântico, baseado no casamento e nos relacionamentos, como um caminho para ser feliz.

Do mesmo modo, porém, surgiram expectativas irreais a respeito disso, na visãoaa pokerStearns.

“Na Inglaterra do século 19, por exemplo, começou a surgir uma enorme pressão sobre escritoresaa pokerficção para que escrevessem finais felizes”, afirma ele.

“Por que queremos finais felizes no que lemos? Acho que é provavelmente verdade que ficamos insatisfeitos com histórias que não tenham final feliz. Não acho que isso seja totalmente saudável. Então tentar encontrar um equilíbrio entre expectativas e realidade é outra parte complexa desse tipoaa pokeranálise.”

Nômades eram mais felizes?

Um ponto que tem despertado discussões entre historiadores é que os seres humanos podem ter perdido felicidade durante uma fase crucial daaa pokerevolução: quando deixaramaa pokerser caçadores-coletores nômades e começaram a criar sociedades sedentárias e agrícolas.

Ou seja, bem quando os humanos começaram a ganhar uma vidaaa pokermais previsibilidade e conforto.

É claro que não temos como perguntar a um caçador-coletor daquela época se ele era mais feliz do que somos hoje, mas os historiadores citam alguns pontos objetivos dessa transição do nomadismo ao sedentarismo.

Ao deixar a caça e a coleta, muita gente passou a ter uma alimentação menos variada. As jornadasaa pokertrabalho ficaram mais longas. Vivendoaa pokersociedades, as pessoas ficaram mais suscetíveis a epidemias e a guerras. A desigualdade entre diferentes classes sociais começou a ganhar forma.

Para Peter Stearns, uma das questões principais a serem discutidas no contexto atual é o espíritoaa pokercoletividade dos caçadores-coletores.

Desenho feito por caçadores-coletores, 15 mil anos atrás

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Legenda da foto, Desenho feito por caçadores-coletores, 15 mil anos atrás; solidariedade grupal é vista como importante para a felicidade desses grupos

“Eles tinham uma grande quantidadeaa pokersolidariedade grupal”, diz Stearns à BBC News Brasil.

“O que não quer dizer que não havia tensões, mas eles realmente dependiam uns dos outros. E acho que há muitos indicativosaa pokerque estruturas comunitárias melhoram a felicidade. E um dos desafios da felicidade hoje é que, para muita gente, estruturas comunitárias estão enfraquecidas”, aponta Stearns.

“Em contrapartida, não podemos voltar a esse nível. Eles (caçadores-coletores) não tinham os nossos confortos, nem os mesmos níveisaa pokersaúde que temos. Não há por que fingir que conseguiríamos voltar (no tempo). Então precisamos encontrar nosso próprio equilíbrio que funcioneaa pokerum contexto moderno”.

Diferenças culturais da felicidade

E existe uma definição objetivaaa pokerfelicidade?

Peter Stearns descreve-a no livro como uma espécieaa pokerreforço emocional para ações que trazem bem-estar. E com efeitos físicos e sociais também: a felicidade ajuda a baixar a pressão sanguínea e,aa pokermodo geral, ajuda as pessoas a se relacionarem melhor entre si.

Tanto que sorrir, no contexto moderno, é uma formaaa pokerfazer contato com pessoas desconhecidas.

A filosofia também deu muitas contribuições para entendermos a felicidade. Alguns exemplos: a ideia mais imediatista,aa pokersimplesmente aumentar o prazer e evitar sofrimento, é chamadaaa pokerfelicidade hedônica.

Já a felicidade eudaimônica é a que vemaa pokerrelacionamentos pessoais positivos ou do orgulho e sensaçãoaa pokerdever cumprido depoisaa pokerum trabalho importante, por exemplo. Muitos psicólogos acabam vendo a felicidade como uma combinação dessas duas visões.

Mas as formas como isso se manifesta mudam a cada cultura, e a cada tempo.

Peter Stearns considera fascinante como essa visão é bastante diferente nos países orientais e na América Latina, por exemplo.

“Os russos não parecem ter expectativaaa pokerfelicidade da mesma forma que os ocidentais. (...) Os japoneses não se saem muito bemaa pokerrankings internacionaisaa pokerfelicidade, considerando o quanto eles são prósperos e saudáveis. Mas isso reflete uma cultura diferente. A forma como pensamos na felicidade no Ocidente tende a ser altamente individualista”, explica o historiador à BBC News Brasil.

Pessoasaa pokerYokohama, Japão,aa pokerjaneiroaa poker2023

Crédito, EPA

Legenda da foto, Percepção da felicidade costuma ser diferente entre países ocidentais e orientais

“Os japoneses têm um senso maior da importância da coesão comunitária. Então é difícil dizer: será que os japoneses são menos felizes que os ocidentais? Ou eles simplesmente veem a vidaaa pokerum jeito um pouco diferente? Provavelmente um poucoaa pokerambos. (...) A situação da América Latina é fascinante porque os latino-americanos costumam se sair muito bemaa poker(rankings de) felicidadeaa pokercomparação com seus níveis geraisaa pokereconomia e saúde. Então parece haver algo na cultura latino-americana que desencadeia uma expectativa bastante altaaa pokerfelicidade e um nível altoaa pokerrealização. E as variações culturais são fascinantes e não correspondem exatamente ao nívelaa pokerdesempenho econômico.”

Ou seja, é bom relativizar as conclusões dos rankings globaisaa pokerfelicidade. Mas mesmo assim eles trazem lições interessantes, prossegue o historiador.

“Há atributos óbvios das sociedades que costumam ser listadas como as mais felizes: elas têm níveis relativamente altosaa pokerdesenvolvimento econômico. Têm uma rede social bem desenvolvida. Então acho que há algo (a ser aprendido) nesses estudos”, ele diz. “Obviamente, há também debates. O caso do Butão, por exemplo, é amplamente discutido. O país não pontua muito nesses rankings internacionais, mas eles (autoridades do Butão) argumentam que têm uma abordagem diferente, mais religiosa e holística (à felicidade). E sob esses padrões, os líderes locais alegam estar indo bem.”

'Aspirações modestas à felicidade'

Toda essa discussão reforça a ideiaaa pokerque entender a história da felicidade pode trazer lições importantes para como nos enxergamos no mundo.

“Muita ênfase no prazer provavelmente não é muito sensato, particularmente à medida que você avançaaa pokervários estágios da vida”, opina Stearns.

“O que você quer é dar ênfase às conquistas, e não digoaa pokeruma perspectivaaa pokerstatus, mas simaa pokercontribuir para a sociedade, ter uma sensaçãoaa pokerque aaa pokervida valeu para algo. Esse é provavelmente o objetivo mais importante.”

Outra lição, na visão dele, é o equilíbrio delicado entre buscar sentido na vida, mas sem fazer disso algo obsessivo.

“A pressão para ser feliz corre o riscoaa pokerser contraproducente. Não acho que as pessoas nunca devam se perguntar, ‘sou feliz?' Mas não devem fazer isso com frequência demais. Não é realista. Vamos manter nossas aspirações mais modestas.”