5 coisas que o Brasil e outros países podem aprender com a crisesegurança no Equador:
Em 2023, o Equador bateu o seu recorde históricohomicídios com 7.878, um aumento drásticocomparação com os 1.187 registrados2019.
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O país se tornou um importante centro regionalarmazenamento, processamento e distribuiçãodrogas, o que fortaleceu as mais20 facções criminosas que nele operam.
Diante desta situação complexa, o que outros países, como o Brasil, podem aprender com o que está acontecendo hoje no Equador?
1. Maior (e melhor) presença estatal
Especialistas consultados pela BBC News Mundo, serviçoespanhol da BBC, concordam que uma das coisas mais importantes para impedir o avanço do crime organizado é a presença do Estadodiferentes territórios.
"No Equador, temos um Estado que evaporou, que se tornou invisível ou que, quando está presente, está presenteforma negativa", explica Douglas Farah, consultor e analistasegurança nacional, que estuda a América Latina há maistrês décadas.
"É fundamental que os países redesenhem os seus sistemas para que o Estado seja visto como um agente positivo", acrescenta.
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Pablo Zeballos, ex-oficialinteligência chileno e consultor internacional sobre crime organizado, tem opinião parecida.
"O controle territorial por facções criminosas andamãos dadas com o abandono do Estado. E isso pode gerar condições extremamente dramáticas, onde estes grupos fazem acordos com as estruturasgoverno", diz.
Para conseguir uma maior presença do Estado, o investimento no setor público é fundamental,áreas como a educação, o emprego e a saúde, afirmam os especialistas.
E quando esses fatores falham, a criminalidade aumenta.
É o que afirma o Observatório Equatoriano do Crime Organizado (OECO), que,um relatório sobre a caracterização do crime organizado no Equador, afirma que "a pobreza, o desemprego e a desigualdade", que sofreram "crescimento sustentável" nos últimos anos, "têm uma relação causal com o nívelcrime e violência nas cidades".
"A promoção do emprego é uma ação que combate o crime, porque melhores padrõesvida estão correlacionados com menor criminalidade", disse a pesquisadora boliviana Diana Balderrama à BBC News Mundo.
Por outro lado, para Luis Córdova Alarcón, coordenador do programa Pesquisa, Ordem, Conflito e Violência da Universidade Central do Equador (UCE), a presença do Estado na regulação da economia dos países latino-americanos também é importante.
Ela considera que um processo"encolhimento do Estado" ao longo das últimas três décadas agravou a situação e acelerou a estruturação do crime organizado, facilitando "lavagemdinheiro e fluxodinheiro sujo"toda a região.
2. Controle da corrupção
Para os especialistas, é importante que os países latino-americanos compreendam que o crime organizado "opera sempre na intersecção entre agentes estatais, criminosos e setores econômicos".
"Portanto, qualquer estratégia para neutralizar a presençamercados ilícitos e estruturas criminosas deve apontar nestas três direções", afirma Luis Córdova Alarcón.
No caso do Equador, os especialistas dizem que as facções se tornaram onipresentes na estrutura do país, expandindo os seus tentáculos não só na sociedade civil, mas também nas próprias instituições.
Em meadosdezembro, o Ministério Público equatoriano lançou uma megaoperação contra a corrupção e o tráficodrogasdiferentes partes do país.
A operação Metástase, como foi chamada, levou à prisão29 pessoas, entre elas juízes, promotores, policiais, advogados e outras pessoas ligadas ao crime organizado.
Os entrevistados pela BBC News Mundo dizem que é importante que os governos latino-americanos criem um mecanismosupervisão das forçassegurança e do Estado.
"O Equador nunca fez isso. O Equador usou a força pública sabendo que há 'narcogenerais' na polícia ou que temos criminosos infiltrados nas Forças Armadas... então o resultado é óbvio", diz Córdova Alarcón.
Para Pablo Zeballos, a corrupção é uma das "condições mais importantes" para o crescimento do crime organizado.
"Essas estruturas não crescem do nada. Eles crescem porque há algo que lhes permitiu crescer ou porque ninguém prestou atenção nelas, intencionalmente ou não", afirma.
3. Melhor investimento nos sistemas prisionais
No Equador, as prisões são o epicentro da crisesegurança pública.
A realidadeoutros países latino-americanos, como o Brasil ou a Venezuela, não é muito diferente.
E as diferentes penitenciárias criadas pelos Estados para melhorar a segurança dos que estão fora deles tiveram o efeito oposto ao pretendido: tornaram-se centroscomandoimportantes organizações criminosas.
O paradoxo foi exposto há poucos diasGuayaquil, onde a fuga da prisãoAdolfo Macías, o "Fito", líderum dos grupos criminosos mais perigosos do Equador, desencadeou uma ondatumultos nas prisões e ataques fora delas.
Os especialistas concordam que existe uma urgência para os países latino-americanos investiremprisões melhores, com maior sistemavigilância.
Mas eles alertam que o investimento não é apenas sinônimomelhor infraestrutura.
"Podemos ter prisões modernas, mas se isso não for acompanhadoinvestimentorecursos humanos qualificados e mecanismoscontrole adequados, teremos uma perda. É como dar um hotel 5 estrelas ao grupo criminoso", afirma Pablo Zeballos.
"As prisões continuam sendo uma prioridade muito baixa para a grande maioria dos países latino-americanos porque se acredita que os criminosos não têm direitos. Mas a verdade é que se não criarmos boas condições, as prisões acabam por se tornar nascedourosviolência e criminalidade", afirma Douglas Farah.
Luis Córdova Alarcón alerta que é preciso ter cuidado com os benefícios penitenciários que são concedidos aos líderesganguestrocainformações.
"No Equador, as prisões tornaram-se trincheiras do crime organizado graças à política estabelecida pelo governo e pela polícia para obter informações sobre o tráficodrogas", explica.
"Em trocainformações sobre o movimento das drogas, eles deram benefícios aos líderes criminosos."
"E, claro, o governo teve sucesso na apreensãodrogas, na desintegraçãogangues, mas ao mesmo tempo as estruturasgangues nas prisões tiveram sucesso porque continuaram acumulando fortunas e privilégios", ressalta.
4. Fortalecimento da polícia
Na América Latina, militares têm sido utilizados para restaurar a ordem diantevárias crisessegurança.
O Equador faz isso agora, mas países como Brasil, México e Colômbia também são exemplos disso.
Para especialistas, uma das razões pelas quais os governos latino-americanos têm recorrido tão frequentemente a esta via é devido à percepçãofraqueza das suas forças policiais, que é alimentada por casoscorrupção e profundas crisesrepresentatividade.
"A polícia na América Latina,geral, tem sido caracterizada pela corrupção e pela fraqueza no enfrentamento ao tráficodrogas", diz David Saucedo, especialista mexicanosegurança pública.
É o que acontece hoje no Equador, onde vários agentes policiais foram recentemente demitidos.
Na opinião dos especialistas, este é um fator fundamental para fortalecer o crime organizado.
"Ter uma força policial saudável, capaz e treinada é um eixo fundamentalqualquer políticacombate à violência", afirma Douglas Farah.
"Vimos que quando as pessoas pensam que ao chamar um policial vai chegar um ladrão é porque o sistema falhou", diz.
Pablo Zeballos afirma que não só é importante apoiar e formar a polícia, mas também "punir drasticamente os policiais que, quebrando o seu juramento, cometem crimes e permitem que estes espaços sejam contaminados".
Porvez, Luis Córdova Alarcón afirma que o problema da segurança não pode ficar apenas nas mãos da polícia ou dos militares.
"Essa questão deve envolver mais fortemente a população civil. Caso contrário, acabam sendo os militares e a polícia que ocupam o debate sobre segurança e essa é uma armadilha na qual o Equador caiu e na qual estão caindo vários países latino-americanos", alerta.
5. Não subestimar o poder das facções locais
Segundo o presidente do Equador, Daniel Noboa, hoje operam no país mais20 gangues criminosas que seu governo classifica como "organizações terroristas".
Eles travam uma luta interna pelo controle das rotas lucrativas do tráficodrogas que existem no território equatoriano.
Entre as gangues mais conhecidas estão os Choneros, liderados pelo foragido conhecido como "Fito", os Tiguerones, os Lobos e os Lagartos.
E embora hoje muitos latino-americanos tenham ouvido o nome destes grupos, até poucos anos atrás eles não apareciam amplamente no debate público.
"Acho que uma das grandes lições aprendidas com o caso equatoriano é que não devemos subestimar a capacidade do próprio crime local", diz Pablo Zeballos.
"Um erro que o Equador cometeu foi dizer: 'isto são apenas gangues'. E ainda são gangues, mas são capazester organizações muito fortes", acrescenta.
Na mesma linha, os especialistas concordam que, se não forem levados a sério, os criminosos receberão mais poder e ferramentas para crescer.
"Na América Central, as 'maras' foram 'apenas gangues' durante quase duas décadas. Até que começaram a se organizar e agora são um grupo do crime organizado muito forte", diz Douglas Farah.
O pesquisador acrescenta que isso não significa que não se deve ficar alerta a possíveis entradascriminosos vindosoutros países.
Por isso, diz ele, deve haver um controle adequado das fronteiras e uma políticacolaboração entre países vizinhos.
Mas os especialistas concordam que hoje, com o acesso tecnológico, os modelos criminais bem-sucedidosoutros países são facilmente replicáveis.
"As facções estão sempre aprendendo", alerta Pablo Zeballos.