O remoto povoado na Bolívia onde as pessoas envelhecem mais devagar :roleta tem ima
"Não sei o que é isso", ela responde naturalmente.
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Fim do Matérias recomendadas
Martina é Tsimane, uma das 36 nações indígenas oficialmente reconhecidas pelo Estado plurinacional da Bolívia.
Ela é um dos 16.000 membrosroleta tem imauma comunidade semi nômade que moraroleta tem imaMissão Fátima, um canto remoto da floresta amazônica boliviana que fica a seis horasroleta tem imabarcoroleta tem imaSan Borja, a cercaroleta tem ima600 Km ao norteroleta tem imaLa Paz.
Seu isolamento, acreditam os especialistas, tem sido fundamental na formaroleta tem imaenvelhecer desta etnia, tão única e irrepetível que tem sido estudada por cientistas há décadas.
“Os tsimanes têm menos arteriosclerose do que as mulheres e homens japoneses que seguem uma dieta extremamente baixaroleta tem imagordura”, diz o antropólogo Hillard Kaplan à BBC Mundo na salaroleta tem imasua casaroleta tem imaSan Borja, até onde viajamos para conhecerroleta tem imaperto o trabalho que ele lidera há maisroleta tem ima20 anos.
Suas pesquisas - feitas com acadêmicos da Universidade do Sul da Califórnia e do Novo México, nos EUA - revelaram que os tsimanes têm as artérias mais saudáveis que já estudadas até hoje e cérebros que envelhecem a um ritmo muito mais lento do que oroleta tem imanorte-americanos, europeus eroleta tem imapessoasroleta tem imaoutras regiões do mundo.
Esse vigorroleta tem imaoutono que vimosroleta tem imaMartina se repeteroleta tem imadezenasroleta tem imaidosos tsimanes que mantêmroleta tem imapleno século XXI práticas pré-industriaisroleta tem imaagricultura, pesca e caça como meiosroleta tem imasubsistência, que - segundo nos conta Kaplan - "implicam atividades físicas e formasroleta tem imase alimentar que evidentemente têm um efeitoroleta tem imaseu estado particularroleta tem imasaúde".
Jatata e chicha
No casoroleta tem imaMartina, uma das atividades que mais ocupa seu tempo é um ofício exclusivo das mulheres tsimanes: tecer os tetos das casasroleta tem imamadeira com jatata, uma planta que cresce nas zonas mais profundas do péroleta tem imamontanha que faz fronteira com a Missão Fátima.
Para conseguir a quantidade certa, Martina deve entrar na selva e caminhar por seis horas - trêsroleta tem imaida e trêsroleta tem imavolta - com os pés descalços, carregando os ramos nas costas.
“Eu faço isso uma ou duas vezes por mês, embora agora cada dia me custe mais”, reconhece.
Mas o tratamento não termina aí. Após a secagem da folha, começa um processo que é tão delicado quanto fazer trançasroleta tem imauma menina, mas tão complexo quanto levantar um arranha-céus: o tecido deve ficar firme para que a água não vaze, mas ao mesmo tempo, não tão hermético para que não permita a entrada do ar.
Muitos desses telhados também são feitos para venderroleta tem imacentros urbanos como San Borja ou Trinidad, o que traz algum alívio econômico para as mulheres envolvidas.
“Os tsimanes mais idosos dependem deles próprios para comer porque, além do apoio que existe entre as famílias e até mesmo da comunidade, a verdade é que cada um responde pelos seus e muitas vezes os descendentes desses idosos devem pensar primeiroroleta tem imaalimentar os próprios filhos”, explica à BBC Mundo o médico boliviano Daniel Eid Rodríguez, que faz parte da equiperoleta tem imapesquisa desde o início.
“Isso faz com que eles sejam forçados a realizar atividades diárias que exigemroleta tem imatodos os níveis, não apenas físico, mas também mental”, acrescenta.
As borboletas vermelhas roleta tem ima paramroleta tem imavoar quando Martina declara que a chicha está pronta. A bebida fermentada, espessa e amarela, começa a circularroleta tem imatotumas (tigelas) roleta tem ima enormes que mal cabem na mão.
O sabor doce do que bebem arranca vários sorrisos.
“Como você vê, ninguém fuma aqui”, diz Jesus Bani, tentando nos explicar a força que observamosroleta tem imaMartina e nos outros idosos.
“O único vício para nós, tsimanes, é tomar chicha”, esclarece.
O coração e o cérebro
Em marçoroleta tem ima2013, o cardiologista americano Randall C. Thompson publicou junto com uma equiperoleta tem imaespecialistas um estudo que afirmava que após examinar por ressonância magnética maisroleta tem ima140 múmiasroleta tem imatrês civilizações antigas (a egípcia, a inca e a que habitava as ilhas aleutianas perto do Alasca), sinaisroleta tem imaarteriosclerose tinham encontradoroleta tem ima47 delas.
Essa afirmação pôsroleta tem imadúvida a crença médicaroleta tem imaque a presençaroleta tem imaplacas nas artériasroleta tem imapessoas idosas era uma condição que a modernidade e a sociedade industrializada tinham trazido com o sedentarismo e uma dietaroleta tem imaalimentos ultraprocessados.
Entre os acadêmicos intrigados por essa publicação estavam Kaplan e seu colega da Universidade do Sul da Califórnia Michael Guvern.
Mas mais que os resultados, o método é que chamou a atenção.
Naquela época, Kaplan e Guvern estudavam os tsimanes na Bolívia havia cercaroleta tem imadez anos.
Eles tinham chegado a eles com o propósitoroleta tem imasaber mais sobre como as sociedades envelhecem sem o impacto da tecnologia.
Embora tenham sido visitados pelos espanhóis no século XVI, os tsimanes continuaram a viverroleta tem imaacordo com seus costumes ancestrais, alheios à maioria das mudanças do mundo moderno, com o qual até recentemente mal tinham tido contato.
Na verdade, a própria língua, o moseten-chimane, reflete o isolamento: eles não têm muitas palavras e para nomear grande parte dos artefatos contemporâneos devem usar o espanhol. Para nos comunicarmos com eles, foi fundamental a atuaçãoroleta tem imaJesus como tradutor.
“No nosso estudo tínhamos notado que os idosos não mostravam sinaisroleta tem imadoenças da velhice, como hipertensão, diabetes ou problemas cardíacos, mas a nossa aproximação era antropológica, não médica”, observa Kaplan.
“Só com um método como o usado pelo professor Thompson, ou seja, com tomografias computadorizadas, podíamos saber exatamente o que estava acontecendo nos corpos deles”, explica o especialista à BBC Mundo.
Kaplan e Guvern convenceram a equiperoleta tem imaThompson a se juntar e expandir a pesquisa para o campo médico.
Durante cercaroleta tem imaum ano, 700 idosos tsimanes participaramroleta tem imaum programa realizado no hospitalroleta tem imaTrinidad, a capital do departamentoroleta tem imaBeni, onde estava o único tomógrafo da região.
O estudo, cujos primeiros resultados foram publicados na revista The Lancetroleta tem ima2017, confirmou as suspeitas: 87% dos tsimanes examinados, com maisroleta tem ima70 anos, tinham um risco mínimoroleta tem imadoença cardíaca aterosclerótica.
Uma segunda fase, que foi divulgadaroleta tem ima2023 na revista Proceedings of the National Academy of Science, rendeu outro resultado surpreendente: os idosos tsimanes apresentavam até 70% menos atrofia cerebral do que pessoas da mesma idaderoleta tem imapaíses industrializados como o Reino Unido, Japão ou Estados Unidos.
Nas palavrasroleta tem imaKaplan: um tsimaneroleta tem ima80 anos tinha a mesma saúde cardiovascular e cerebral que um adultoroleta tem ima55 anosroleta tem imaNova York ou Londres. E o processoroleta tem imaenvelhecimento dos cérebros aconteciaroleta tem imaforma muito mais lenta.
“Nos deparamos com zero casosroleta tem imaAlzheimer entre toda a população adulta. Isso é muito notável no mundoroleta tem imaque vivemos", relata Eid nos arredores do hospitalroleta tem imaTrinidad, onde é responsável por uma nova faseroleta tem imapesquisa com os idosos tsimanes.
Com os dados, os cientistas começaram a trabalhar com mais esforço do que nunca para descobrir a fonte desse bem-estar prolongado.
Ambos estudos liderados por Kaplan foram amplamente corroborados por outros pesquisadores, vários deles consultados pela BBC Mundo, que os confirmaram como uma importante descoberta tanto no campo da medicina como no campo da antropologia.
O Éden dos tsimanes
Juan Gutiérrez Rivero tinha 8 anos quando ouviu falar pela primeira vezroleta tem imaum lugar chamado Loma Santa. Ele conta isso enquanto espia um macaco aranha agachado, antes que ele percebaroleta tem imapresença e despareça entre a vegetação espessa.
“Há cada vez menos animais e é preciso andar cada vez mais para caçá-los”, queixa-se.
Juan tem 78 anos, mas é difícil acreditar ao ver como ele se move quando aponta para o animal. Sua condição física é extraordinária: cabelo escuro sem um fio grisalho, olhos vivos, mãos musculosas e firmes. Não fosse pelas rugas profundas no rosto, poderia passar por um jovem pai que precisa sair para caçar para sobreviver.
“A maioria dos tsimanes pode ficar ativa entre quatro ou seis horas sem descansar, seja andando, semeando ouroleta tem imatrabalhos domésticos. Estarroleta tem imamovimento é parte da identidade deles", diz Kaplan.
E do segredoroleta tem imasua invejável saúde arterial, acrescenta o especialista.
E mais números ilustram isso: graças ao usoroleta tem imarelógios eletrônicos, a pesquisa conseguiu determinar que os tsimanes completam uma média diáriaroleta tem ima17.000 passos, quando a médiaroleta tem imauma pessoa no Ocidente é apenas 6.000.
A caça éroleta tem imagrande exigência física.
Juan foi ensinado por seu pai enquanto percorriam o Beni no esforçoroleta tem imaencontrar a Loma Santa, aquele lugar que ele descreveu, cheioroleta tem imaanimais, terras férteis e rios transparentes, onde era possível pescar usando apenas as mãos na água. O Éden dos Tsimanes.
Com ele aprendeu a polir flechas e a saber quais usar para presas grandes, como o tapir, ou para presas pequenas como macacos. Foi ele também quem o iniciou nas habilidades com armasroleta tem imafogo e nas estratégias para uma caça bem-sucedida.
Agora seu alvo é um pequeno taitetú, um porco peludo e selvagem, que consegue se desaparecer rapidamente entre a folhagem antesroleta tem imaJuan apertar o gatilho.
Decepcionado, ele fala sobre como o destinoroleta tem imasua comunidade seria outro caso conseguir comida não estivesse cada vez mais difícil e a caminhada não levasse cada vez mais dias até encontrar um animal que se possa comer. De como teria sido seu destino se tivessem encontrado a Loma Santa.
Dias depois, jároleta tem imavolta àroleta tem imacasa, ele nos conta que durante a busca infrutífera por aquele lugar sagrado ele se casou e teve filhos.
“Finalmente você percebe que a Loma Santa é a família”, diz-nosroleta tem imarepente com um poucoroleta tem imanostalgia e sabedoria.
A terra e a água
Outro aspecto fundamental para explicar a saúde excepcional dos tsimanes é a alimentação.
Os pesquisadores descobriram queroleta tem imatudo o que comem, apenas 14% contém gordura (eroleta tem imanenhum caso gordura trans) e que os alimentos são ricosroleta tem imafibras, apesarroleta tem ima72% deles serem carboidratos.
“Eu me levanto e a primeira coisa a que me dedico é a cozinhar o arroz para o café da manhã. Depois pego a banana e a mandioca para fazer o almoço", explica Martina, enquanto verifica o cozimento nas brasas que servemroleta tem imafogão.
As proteínas - neste caso, a carne - serão fornecidas por homens como Juan, que saíram para caçar há alguns dias.
Embora o ideal seja que eles apareçam com um tapirroleta tem ima300 Kg, todos sabem que isso é uma fantasia do passado e que,roleta tem imaum bom dia, eles provavelmente terão se deparado com um mico distraído e um parroleta tem imapássaros.
Ou com o que se tornou uma fonteroleta tem imaalimentação cada vez mais importante: um sábalo ou um surubí daqueles que o rio dá.
Seja qual for a caça, será parteroleta tem imauma dieta que não contém ingredientes processados: tudo o que é consumido vem da terra ou da água desta selva. Tradicionalmente, não há frituras nem pão.
"Tudo isso acaba sendo determinante para os baixos índicesroleta tem imacolesterol no nosso corpo”, observa Eid.
Uma mente brilhante
Na casaroleta tem imaFermín Nate, outro tsimane da Missão Fátima, as paredes estão pintadasroleta tem imafumaça. Um troncoroleta tem imamadeira queima no chãoroleta tem imaterra e nunca se apaga. O único cão que é permitido entrar na casa acomoda-se sobre as cinzas ainda mornas para se aquecer.
Fermín olha para ele, sorri, tiraroleta tem imaseu mariko uma flauta feita artesanalmente com um tuboroleta tem imaplástico daqueles que são usados nos encanamentos modernos, e começa a tocar uma antiga melodia indígena.
“Eu aprendi as canções com o meu avô quando eu era criança”, explica nas pausa para respiração.
Fermín tem 78 anos, e afirma lembrar perfeitamenteroleta tem imatudo o que os pais e avós ensinaram, não apenas sobre música, mas sobre subsistência.
Agora ele continua com a tradição, ensinandoroleta tem imaprópria família a lidar e cuidar do cânhamo usado nas flechas, uma das ferramentas fundamentais para a pesca do sábalo.
“As flechas devem ser limpas todos os dias para que não sejam danificavas pelo mofo”, diz ele.
Após a publicação do artigo no The Lancetroleta tem ima2017, os pesquisadores estavam claros sobre qual deveria ser a próxima fase do estudo: “Nós nos concentramos na parte cardiovascular dos tsimanes, mas era evidente que também devíamos estudar o estadoroleta tem imasaúde do cérebro”, diz Eid.
“Notamos que, embora haja mudanças cognitivas com o envelhecimento, não chegam a ser problemas sérios ou demência, por assim dizer”, acrescenta.
Fermín foi um dos tsimanes que viajou da Missão Fátima a Trinidad para os estudosroleta tem imaressonância magnética. Lá eles avaliaram o volume do cérebro e correlacionaram com outros dados, como massa corporal e dieta.
“Mas as imagens cerebrais não bastavam”, observa Eid. “Precisávamosroleta tem imaoutra informação como a função cognitiva”.
E para isso tinha que viajar para as comunidades.
“Por favor me diga o nomeroleta tem imaoito animais”, pergunta Gerardo, membro da equipa médica, a Hilda Canchi. Ele fala com ele emroleta tem imalíngua, o chimã.
Ela olha para ele sem espanto. Aos 81 anos, vive com o segundo marido, Salomão, na comunidaderoleta tem imaSanta Maria, a cercaroleta tem imatrês horasroleta tem imabarcoroleta tem imaSan Borja pelo rio Maniqui. Graças ao seu chaco, eles têm tudo o que precisam para comer.
“Danta, macaco, cão, peixe, gato, pato, frango e porco”, responde sem hesitar.
“E seis nomesroleta tem imapeixes no rio?” pergunta Gerardo, preenchendo a planilha que carrega na mão.
“Surubí, bagre, tujuno, tachaca, paleta e sábalo”, responde Hilda novamente sem pausas.
“Agora, os númerosroleta tem imaum a dez”.
“Um, dois... cinco?” Titubeia. Pergunta.
“Eles têm problemas com os números, mas não porque esqueceram, mas porque nunca foram ensinados a eles”, esclarece Gerardo, que faz o exame cognitivo representando o governo local.
Os resultados dos testesroleta tem imafunção cognitivaroleta tem imapessoas como Hilda e Fermín, juntamente com as imagens das ressonâncias, produziram resultados na mesma linha dos estudos anteriores: nos tsimanes, não só o processoroleta tem imadeclínio das funções cerebrais é muito mais lento quando comparado com pessoas da mesma idaderoleta tem imaoutras partes do mundo, como não há registroroleta tem imadoenças degenerativas associadas ao envelhecimento, como o Alzheimer.
Infecções e infância
Mas há alguns poréns.
“As tomografias também mostraram áreas calcificadas, que falam da presençaroleta tem imaplaca nas artérias do cérebro. E que ao mesmo tempo são sinaisroleta tem imaum possível processo degenerativo semelhante ao Parkinson”, diz Eid.
Apesar da vida ativaroleta tem imaidosos como Hilda, Fermín, Juan e Martina, a verdade é que, quando o estudo começou, a expectativaroleta tem imavida dos tsimanes mal chegava aos 45 anos, principalmente pelas altas taxasroleta tem imamortalidade infantil.
E os fatos são tão crus quanto cruéis.
Poucos minutos antesroleta tem imaprosseguir com uma das ressonâncias que fazem parte da terceira fase do estudo - focada na saúde mental dos tsimanes - Eid conversa com uma das mulheres idosas que será examinada.
- E você, quantos filhos tem?, pergunta Eid
-Seis, ela responde, mas seu rosto denota uma tristeza imensa.
- E quantos morreram?
A mulher fica com uma expressão abatida. Usa as mãos para responder com precisão à pergunta do médico.
-Cinco - diz, finalmente.
O mesmo isolamento que permitiu a alguns ter uma velhice surpreendente tem sido uma cruz para outros: "Havia uma alta mortalidade infantil. Essas pessoas que chegaram aos 80 anos foram as que conseguiram sobreviver a uma infância cheiaroleta tem imadoenças e infecções", observa o especialista.
Cercaroleta tem ima100% da população tsimane enfrentou,roleta tem imaalgum momentoroleta tem imasuas vidas, o ataqueroleta tem imaum parasita ouroleta tem imaum verme.
Para os pesquisadores, trata-seroleta tem imaum fato relevante, e eles estão tentando provar exatamente a hipóteseroleta tem imaque essas infecções poderiam ser outra das causas - além da alimentação e do exercício - por trás da saúde invejável dos idosos tsimanes.
O pontoroleta tem imapartida para essa teoria foi a pandemia do covid-19.
A crise do coronavírus causou na Bolívia provocou cercaroleta tem ima22.000 mortes e um milhãoroleta tem imapessoas infectadasroleta tem imacercaroleta tem imadois anos. E foi particularmente agressivaroleta tem imaSanta Cruz, o departamento vizinho ao território tsimane.
"Não houve, entre eles, um único caso graveroleta tem imacovid-19, muito menos mortes. As pessoasroleta tem imaSan Borja e Trinidad ficaram doentes, mas aqui, nas comunidades ao lado do rio, não houve um único caso", explica Kaplan à BBC Mundo.
Esses dados fornecidos pelo governo somados aos que a equipe da Kaplan juntou, levaram os pesquisadores a achar que essa imunidade a doenças como o coronavírus pode estar relacionada à alta taxaroleta tem imainfecções na comunidade durante a infância.
Mas como ele mesmo indica, isso ainda é uma teoria.
Mudança climática e ‘peque-peque’
Juan retorna àroleta tem imacomunidade com apenas um parroleta tem imaaves. Não é um bom equilíbrio para três diasroleta tem imacaminhada, longeroleta tem imacasa e da família.
Mas ele já começa a se habituar aos resultados magros: não conseguiu caçar um animal suficientemente granderoleta tem imameses. E a razão, explica, é apenas uma: o fogo.
No finalroleta tem ima2023, a Bolívia, e especialmente o departamentoroleta tem imaBeni, foi devastada por uma sérieroleta tem imaincêndios florestais que se estenderam por várias semanas e destruíram cercaroleta tem imadois milhõesroleta tem imahectaresroleta tem imafloresta e bosque.
“O fogo. O fogo fez com que os animais fossem embora daqui", diz ele.
Assim, há alguns meses ele vem trabalhando na ideiaroleta tem imase dedicar à criaçãoroleta tem imagado. Em um pasto pertoroleta tem imasua casa, ele orgulhosamente nos mostra quatro novilhosroleta tem imacarne que ele espera que sejam a fonteroleta tem imaproteína da família nos próximos meses.
“Pelo menos até que os animais voltem”...
Kaplan está cienteroleta tem imaque as mudanças climáticas estão afetando os costumes que levaram os tsimanes a ter suas artérias invejáveis. Não apenas os incêndios florestais, mas também a seca e as inundações que os empurram a procurar outros meiosroleta tem imasubsistência.
E as mudanças que estão tendo que fazer já deixam vestígios.
Os últimos estudos revelaram que, apesar da notável saúde cardiovascular dos idosos tsimanes, certos índices que até anos atrás eram invisíveis começaram a surgir nas tabelasroleta tem imaestatísticas.
“Quando começamos esse estudoroleta tem ima2003, os casosroleta tem imadiabetes não chegavam a dois entre todas as pessoas analisadas. Agora, os casos multiplicaram-se por oito", exemplifica Eid.
Os níveisroleta tem imacolesterol também começaram a aumentar entre a população mais jovem.
“Qualquer pequena mudança nos costumes acaba afetando esses índicesroleta tem imasaúde. Por exemplo, a introdução dos peque-peque", acrescenta o médico.
O pequeno-peque é um motorroleta tem imapopa com cercaroleta tem imaseis cavalosroleta tem imapotência que devido ao seu tamanho e baixo custo virou o preferidoroleta tem imaquem navega no Maniqui.
Essa simples mudança - dos remos ao motor - impactou alguns hábitos alimentares dos tsimanes: ao encurtar as distâncias dos centrosroleta tem imaabastecimento, eles agora podem acessar produtos como açúcar, farinha e óleo para frituras.
“Além disso, eles estão parandoroleta tem imaremar, que é uma das atividades físicas mais exigentes. E esses alimentos são os que produzem o aumento dos níveisroleta tem imacolesterol e contribuem para que agora percebamos casosroleta tem imadiabetes e obesidade", diz Eid.
Os pesquisadores indicam, no entanto, que há lições para aprender com os estudos dos tsimanes.
“É simples: eles gastam muito mais energia ou calorias do que consomem diariamente. E embora comam cada vez menos por causa dos problemas que têm para garantir os alimentos, isso não significa que os idosos deixemroleta tem imaser ativos", conclui Kaplan.
Para os próprios tsimanes, a principal liçãoroleta tem imatodos esses números e resultadosroleta tem imaestudos é mostrar que você pode ser feliz com pouco.
“Para nós, apesar das necessidades óbvias, o que a terra nos dá é suficiente. É por isso que somos pessoas calmas, sem preocupações e geralmente estamosroleta tem imabom humor", diz à BBC Mundo Justina Canchi, uma das líderesroleta tem imaum movimento que promove os direitos das mulheres tsimanes, com sede na Missão Fátima.
E acrescenta: “A pandemia foi o melhor exemplo disso: enquanto o mundo inteiro era trancado e adoecia, aqui a vida continuou a mesma, sem quarentena, sem infecções, porque tínhamos tudo à mão para sobreviver”.
Hilda termina o exame cognitivo e volta com Salomão, que a espera emroleta tem imapequena casaroleta tem imamadeira e jatata. Nas paredes não penduram quadros ou retratos familiares, mas frutasroleta tem imachontu e cachosroleta tem imabanana pintón que serão usados no jantar. Hilda está feliz que a chuva parou, após dois dias intensos, e ela poderá voltar o seu chaco para colher o arroz.
Ela também está feliz, conta, porque recentemente os seus filhos e netos, “que não me desamparam”, mataram um porco para celebrar "seus 100 anos ou algo assim”. Muitos tsimanes não sabem a idade exata que têm. E não se importamroleta tem imasaber.
“Não tenho medoroleta tem imamorrer”, diz ela com uma gargalhada, “porque eles vão me enterrar e eu vou ficar lá. Bem quieta”.
Ela olha para Salomão, olha para a gente e volta a rir.