O remoto povoado na Bolívia onde as pessoas envelhecem mais devagar :1x2 pixbet

Uma mulher tsimane

Crédito, BBC

Legenda da foto, Os Tsimane vivem no norte da Bolívia e habitam parte da floresta amazônica

"Não sei o que é isso", ela responde naturalmente.

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Martina é Tsimane, uma das 36 nações indígenas oficialmente reconhecidas pelo Estado plurinacional da Bolívia.

Ela é um dos 16.000 membros1x2 pixbetuma comunidade semi nômade que mora1x2 pixbetMissão Fátima, um canto remoto da floresta amazônica boliviana que fica a seis horas1x2 pixbetbarco1x2 pixbetSan Borja, a cerca1x2 pixbet600 Km ao norte1x2 pixbetLa Paz.

Seu isolamento, acreditam os especialistas, tem sido fundamental na forma1x2 pixbetenvelhecer desta etnia, tão única e irrepetível que tem sido estudada por cientistas há décadas.

“Os tsimanes têm menos arteriosclerose do que as mulheres e homens japoneses que seguem uma dieta extremamente baixa1x2 pixbetgordura”, diz o antropólogo Hillard Kaplan à BBC Mundo na sala1x2 pixbetsua casa1x2 pixbetSan Borja, até onde viajamos para conhecer1x2 pixbetperto o trabalho que ele lidera há mais1x2 pixbet20 anos.

Uma mulher tsimane

Crédito, BBC

Legenda da foto, Estima-se que existam cerca1x2 pixbet16.000 tsimanes vivendo na Bolívia

Suas pesquisas - feitas com acadêmicos da Universidade do Sul da Califórnia e do Novo México, nos EUA - revelaram que os tsimanes têm as artérias mais saudáveis que já estudadas até hoje e cérebros que envelhecem a um ritmo muito mais lento do que o1x2 pixbetnorte-americanos, europeus e1x2 pixbetpessoas1x2 pixbetoutras regiões do mundo.

Esse vigor1x2 pixbetoutono que vimos1x2 pixbetMartina se repete1x2 pixbetdezenas1x2 pixbetidosos tsimanes que mantêm1x2 pixbetpleno século XXI práticas pré-industriais1x2 pixbetagricultura, pesca e caça como meios1x2 pixbetsubsistência, que - segundo nos conta Kaplan - "implicam atividades físicas e formas1x2 pixbetse alimentar que evidentemente têm um efeito1x2 pixbetseu estado particular1x2 pixbetsaúde".

Jatata e chicha

No caso1x2 pixbetMartina, uma das atividades que mais ocupa seu tempo é um ofício exclusivo das mulheres tsimanes: tecer os tetos das casas1x2 pixbetmadeira com jatata, uma planta que cresce nas zonas mais profundas do pé1x2 pixbetmontanha que faz fronteira com a Missão Fátima.

Para conseguir a quantidade certa, Martina deve entrar na selva e caminhar por seis horas - três1x2 pixbetida e três1x2 pixbetvolta - com os pés descalços, carregando os ramos nas costas.

“Eu faço isso uma ou duas vezes por mês, embora agora cada dia me custe mais”, reconhece.

Mas o tratamento não termina aí. Após a secagem da folha, começa um processo que é tão delicado quanto fazer tranças1x2 pixbetuma menina, mas tão complexo quanto levantar um arranha-céus: o tecido deve ficar firme para que a água não vaze, mas ao mesmo tempo, não tão hermético para que não permita a entrada do ar.

Tsimane
Legenda da foto, Os tsimanes caminham1x2 pixbetmédia 17.500 passos por dia. E muitos andam descalços na maior parte do tempo

Muitos desses telhados também são feitos para vender1x2 pixbetcentros urbanos como San Borja ou Trinidad, o que traz algum alívio econômico para as mulheres envolvidas.

“Os tsimanes mais idosos dependem deles próprios para comer porque, além do apoio que existe entre as famílias e até mesmo da comunidade, a verdade é que cada um responde pelos seus e muitas vezes os descendentes desses idosos devem pensar primeiro1x2 pixbetalimentar os próprios filhos”, explica à BBC Mundo o médico boliviano Daniel Eid Rodríguez, que faz parte da equipe1x2 pixbetpesquisa desde o início.

“Isso faz com que eles sejam forçados a realizar atividades diárias que exigem1x2 pixbettodos os níveis, não apenas físico, mas também mental”, acrescenta.

As borboletas vermelhas 1x2 pixbet param1x2 pixbetvoar quando Martina declara que a chicha está pronta. A bebida fermentada, espessa e amarela, começa a circular1x2 pixbettotumas (tigelas) 1x2 pixbet enormes que mal cabem na mão.

Martina com um recipiente com chicha
Legenda da foto, A alimentação é um dos aspectos fundamentais da boa saúde dos tsimanes idosos

O sabor doce do que bebem arranca vários sorrisos.

“Como você vê, ninguém fuma aqui”, diz Jesus Bani, tentando nos explicar a força que observamos1x2 pixbetMartina e nos outros idosos.

“O único vício para nós, tsimanes, é tomar chicha”, esclarece.

O coração e o cérebro

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Em março1x2 pixbet2013, o cardiologista americano Randall C. Thompson publicou junto com uma equipe1x2 pixbetespecialistas um estudo que afirmava que após examinar por ressonância magnética mais1x2 pixbet140 múmias1x2 pixbettrês civilizações antigas (a egípcia, a inca e a que habitava as ilhas aleutianas perto do Alasca), sinais1x2 pixbetarteriosclerose tinham encontrado1x2 pixbet47 delas.

Essa afirmação pôs1x2 pixbetdúvida a crença médica1x2 pixbetque a presença1x2 pixbetplacas nas artérias1x2 pixbetpessoas idosas era uma condição que a modernidade e a sociedade industrializada tinham trazido com o sedentarismo e uma dieta1x2 pixbetalimentos ultraprocessados.

Entre os acadêmicos intrigados por essa publicação estavam Kaplan e seu colega da Universidade do Sul da Califórnia Michael Guvern.

Mas mais que os resultados, o método é que chamou a atenção.

Naquela época, Kaplan e Guvern estudavam os tsimanes na Bolívia havia cerca1x2 pixbetdez anos.

Eles tinham chegado a eles com o propósito1x2 pixbetsaber mais sobre como as sociedades envelhecem sem o impacto da tecnologia.

Embora tenham sido visitados pelos espanhóis no século XVI, os tsimanes continuaram a viver1x2 pixbetacordo com seus costumes ancestrais, alheios à maioria das mudanças do mundo moderno, com o qual até recentemente mal tinham tido contato.

Na verdade, a própria língua, o moseten-chimane, reflete o isolamento: eles não têm muitas palavras e para nomear grande parte dos artefatos contemporâneos devem usar o espanhol. Para nos comunicarmos com eles, foi fundamental a atuação1x2 pixbetJesus como tradutor.

“No nosso estudo tínhamos notado que os idosos não mostravam sinais1x2 pixbetdoenças da velhice, como hipertensão, diabetes ou problemas cardíacos, mas a nossa aproximação era antropológica, não médica”, observa Kaplan.

“Só com um método como o usado pelo professor Thompson, ou seja, com tomografias computadorizadas, podíamos saber exatamente o que estava acontecendo nos corpos deles”, explica o especialista à BBC Mundo.

Kaplan e Guvern convenceram a equipe1x2 pixbetThompson a se juntar e expandir a pesquisa para o campo médico.

Durante cerca1x2 pixbetum ano, 700 idosos tsimanes participaram1x2 pixbetum programa realizado no hospital1x2 pixbetTrinidad, a capital do departamento1x2 pixbetBeni, onde estava o único tomógrafo da região.

O estudo, cujos primeiros resultados foram publicados na revista The Lancet1x2 pixbet2017, confirmou as suspeitas: 87% dos tsimanes examinados, com mais1x2 pixbet70 anos, tinham um risco mínimo1x2 pixbetdoença cardíaca aterosclerótica.

Uma segunda fase, que foi divulgada1x2 pixbet2023 na revista Proceedings of the National Academy of Science, rendeu outro resultado surpreendente: os idosos tsimanes apresentavam até 70% menos atrofia cerebral do que pessoas da mesma idade1x2 pixbetpaíses industrializados como o Reino Unido, Japão ou Estados Unidos.

Nas palavras1x2 pixbetKaplan: um tsimane1x2 pixbet80 anos tinha a mesma saúde cardiovascular e cerebral que um adulto1x2 pixbet55 anos1x2 pixbetNova York ou Londres. E o processo1x2 pixbetenvelhecimento dos cérebros acontecia1x2 pixbetforma muito mais lenta.

“Nos deparamos com zero casos1x2 pixbetAlzheimer entre toda a população adulta. Isso é muito notável no mundo1x2 pixbetque vivemos", relata Eid nos arredores do hospital1x2 pixbetTrinidad, onde é responsável por uma nova fase1x2 pixbetpesquisa com os idosos tsimanes.

Com os dados, os cientistas começaram a trabalhar com mais esforço do que nunca para descobrir a fonte desse bem-estar prolongado.

Ambos estudos liderados por Kaplan foram amplamente corroborados por outros pesquisadores, vários deles consultados pela BBC Mundo, que os confirmaram como uma importante descoberta tanto no campo da medicina como no campo da antropologia.

Hillard Kaplan
Legenda da foto, O antropólogo Hillard Kaplan está na vanguarda da pesquisa tsimane há mais1x2 pixbet20 anos

O Éden dos tsimanes

Juan Gutiérrez Rivero tinha 8 anos quando ouviu falar pela primeira vez1x2 pixbetum lugar chamado Loma Santa. Ele conta isso enquanto espia um macaco aranha agachado, antes que ele perceba1x2 pixbetpresença e despareça entre a vegetação espessa.

“Há cada vez menos animais e é preciso andar cada vez mais para caçá-los”, queixa-se.

Juan tem 78 anos, mas é difícil acreditar ao ver como ele se move quando aponta para o animal. Sua condição física é extraordinária: cabelo escuro sem um fio grisalho, olhos vivos, mãos musculosas e firmes. Não fosse pelas rugas profundas no rosto, poderia passar por um jovem pai que precisa sair para caçar para sobreviver.

“A maioria dos tsimanes pode ficar ativa entre quatro ou seis horas sem descansar, seja andando, semeando ou1x2 pixbettrabalhos domésticos. Estar1x2 pixbetmovimento é parte da identidade deles", diz Kaplan.

Um tsimane realizando um exame1x2 pixbetressonância magnética
Legenda da foto, Nos últimos seis anos, quase 1.500 tsimanes foram examinados com tomografias computadorizadas

E do segredo1x2 pixbetsua invejável saúde arterial, acrescenta o especialista.

E mais números ilustram isso: graças ao uso1x2 pixbetrelógios eletrônicos, a pesquisa conseguiu determinar que os tsimanes completam uma média diária1x2 pixbet17.000 passos, quando a média1x2 pixbetuma pessoa no Ocidente é apenas 6.000.

A caça é1x2 pixbetgrande exigência física.

Juan foi ensinado por seu pai enquanto percorriam o Beni no esforço1x2 pixbetencontrar a Loma Santa, aquele lugar que ele descreveu, cheio1x2 pixbetanimais, terras férteis e rios transparentes, onde era possível pescar usando apenas as mãos na água. O Éden dos Tsimanes.

Com ele aprendeu a polir flechas e a saber quais usar para presas grandes, como o tapir, ou para presas pequenas como macacos. Foi ele também quem o iniciou nas habilidades com armas1x2 pixbetfogo e nas estratégias para uma caça bem-sucedida.

Agora seu alvo é um pequeno taitetú, um porco peludo e selvagem, que consegue se desaparecer rapidamente entre a folhagem antes1x2 pixbetJuan apertar o gatilho.

Decepcionado, ele fala sobre como o destino1x2 pixbetsua comunidade seria outro caso conseguir comida não estivesse cada vez mais difícil e a caminhada não levasse cada vez mais dias até encontrar um animal que se possa comer. De como teria sido seu destino se tivessem encontrado a Loma Santa.

Dias depois, já1x2 pixbetvolta à1x2 pixbetcasa, ele nos conta que durante a busca infrutífera por aquele lugar sagrado ele se casou e teve filhos.

“Finalmente você percebe que a Loma Santa é a família”, diz-nos1x2 pixbetrepente com um pouco1x2 pixbetnostalgia e sabedoria.

A terra e a água

Juan empunha uma arma
Legenda da foto, A caça ainda é utilizada para adquirir as proteínas necessárias na dieta

Outro aspecto fundamental para explicar a saúde excepcional dos tsimanes é a alimentação.

Os pesquisadores descobriram que1x2 pixbettudo o que comem, apenas 14% contém gordura (e1x2 pixbetnenhum caso gordura trans) e que os alimentos são ricos1x2 pixbetfibras, apesar1x2 pixbet72% deles serem carboidratos.

“Eu me levanto e a primeira coisa a que me dedico é a cozinhar o arroz para o café da manhã. Depois pego a banana e a mandioca para fazer o almoço", explica Martina, enquanto verifica o cozimento nas brasas que servem1x2 pixbetfogão.

As proteínas - neste caso, a carne - serão fornecidas por homens como Juan, que saíram para caçar há alguns dias.

Embora o ideal seja que eles apareçam com um tapir1x2 pixbet300 Kg, todos sabem que isso é uma fantasia do passado e que,1x2 pixbetum bom dia, eles provavelmente terão se deparado com um mico distraído e um par1x2 pixbetpássaros.

Ou com o que se tornou uma fonte1x2 pixbetalimentação cada vez mais importante: um sábalo ou um surubí daqueles que o rio dá.

Seja qual for a caça, será parte1x2 pixbetuma dieta que não contém ingredientes processados: tudo o que é consumido vem da terra ou da água desta selva. Tradicionalmente, não há frituras nem pão.

"Tudo isso acaba sendo determinante para os baixos índices1x2 pixbetcolesterol no nosso corpo”, observa Eid.

Juan se prepara para sair para caçar

Crédito, BBC

Legenda da foto, Juan se prepara para sair para caçar. Serão um ou dois dias1x2 pixbetcaminhada pela floresta

Uma mente brilhante

Na casa1x2 pixbetFermín Nate, outro tsimane da Missão Fátima, as paredes estão pintadas1x2 pixbetfumaça. Um tronco1x2 pixbetmadeira queima no chão1x2 pixbetterra e nunca se apaga. O único cão que é permitido entrar na casa acomoda-se sobre as cinzas ainda mornas para se aquecer.

Fermín olha para ele, sorri, tira1x2 pixbetseu mariko uma flauta feita artesanalmente com um tubo1x2 pixbetplástico daqueles que são usados nos encanamentos modernos, e começa a tocar uma antiga melodia indígena.

“Eu aprendi as canções com o meu avô quando eu era criança”, explica nas pausa para respiração.

Fermín tem 78 anos, e afirma lembrar perfeitamente1x2 pixbettudo o que os pais e avós ensinaram, não apenas sobre música, mas sobre subsistência.

Agora ele continua com a tradição, ensinando1x2 pixbetprópria família a lidar e cuidar do cânhamo usado nas flechas, uma das ferramentas fundamentais para a pesca do sábalo.

“As flechas devem ser limpas todos os dias para que não sejam danificavas pelo mofo”, diz ele.

Após a publicação do artigo no The Lancet1x2 pixbet2017, os pesquisadores estavam claros sobre qual deveria ser a próxima fase do estudo: “Nós nos concentramos na parte cardiovascular dos tsimanes, mas era evidente que também devíamos estudar o estado1x2 pixbetsaúde do cérebro”, diz Eid.

“Notamos que, embora haja mudanças cognitivas com o envelhecimento, não chegam a ser problemas sérios ou demência, por assim dizer”, acrescenta.

Fermin em1x2 pixbetcasa
Legenda da foto, Fermín ensina os mais novos a cuidar do cânhamo usado para fazer flechas

Fermín foi um dos tsimanes que viajou da Missão Fátima a Trinidad para os estudos1x2 pixbetressonância magnética. Lá eles avaliaram o volume do cérebro e correlacionaram com outros dados, como massa corporal e dieta.

“Mas as imagens cerebrais não bastavam”, observa Eid. “Precisávamos1x2 pixbetoutra informação como a função cognitiva”.

E para isso tinha que viajar para as comunidades.

“Por favor me diga o nome1x2 pixbetoito animais”, pergunta Gerardo, membro da equipa médica, a Hilda Canchi. Ele fala com ele em1x2 pixbetlíngua, o chimã.

Ela olha para ele sem espanto. Aos 81 anos, vive com o segundo marido, Salomão, na comunidade1x2 pixbetSanta Maria, a cerca1x2 pixbettrês horas1x2 pixbetbarco1x2 pixbetSan Borja pelo rio Maniqui. Graças ao seu chaco, eles têm tudo o que precisam para comer.

“Danta, macaco, cão, peixe, gato, pato, frango e porco”, responde sem hesitar.

“E seis nomes1x2 pixbetpeixes no rio?” pergunta Gerardo, preenchendo a planilha que carrega na mão.

“Surubí, bagre, tujuno, tachaca, paleta e sábalo”, responde Hilda novamente sem pausas.

“Agora, os números1x2 pixbetum a dez”.

“Um, dois... cinco?” Titubeia. Pergunta.

Fermin
Legenda da foto, Fermín toca flauta1x2 pixbetfrente ao rio Maniqui,1x2 pixbetprincipal fonte1x2 pixbetalimento

“Eles têm problemas com os números, mas não porque esqueceram, mas porque nunca foram ensinados a eles”, esclarece Gerardo, que faz o exame cognitivo representando o governo local.

Os resultados dos testes1x2 pixbetfunção cognitiva1x2 pixbetpessoas como Hilda e Fermín, juntamente com as imagens das ressonâncias, produziram resultados na mesma linha dos estudos anteriores: nos tsimanes, não só o processo1x2 pixbetdeclínio das funções cerebrais é muito mais lento quando comparado com pessoas da mesma idade1x2 pixbetoutras partes do mundo, como não há registro1x2 pixbetdoenças degenerativas associadas ao envelhecimento, como o Alzheimer.

Infecções e infância

Uma carne sendo assada

Crédito, Michael Guvern

Legenda da foto, A maior parte das proteínas consumidas pelos tsimanes vem dos animais que eles caçam na floresta

Mas há alguns poréns.

“As tomografias também mostraram áreas calcificadas, que falam da presença1x2 pixbetplaca nas artérias do cérebro. E que ao mesmo tempo são sinais1x2 pixbetum possível processo degenerativo semelhante ao Parkinson”, diz Eid.

Apesar da vida ativa1x2 pixbetidosos como Hilda, Fermín, Juan e Martina, a verdade é que, quando o estudo começou, a expectativa1x2 pixbetvida dos tsimanes mal chegava aos 45 anos, principalmente pelas altas taxas1x2 pixbetmortalidade infantil.

E os fatos são tão crus quanto cruéis.

Poucos minutos antes1x2 pixbetprosseguir com uma das ressonâncias que fazem parte da terceira fase do estudo - focada na saúde mental dos tsimanes - Eid conversa com uma das mulheres idosas que será examinada.

- E você, quantos filhos tem?, pergunta Eid

-Seis, ela responde, mas seu rosto denota uma tristeza imensa.

- E quantos morreram?

A mulher fica com uma expressão abatida. Usa as mãos para responder com precisão à pergunta do médico.

-Cinco - diz, finalmente.

O mesmo isolamento que permitiu a alguns ter uma velhice surpreendente tem sido uma cruz para outros: "Havia uma alta mortalidade infantil. Essas pessoas que chegaram aos 80 anos foram as que conseguiram sobreviver a uma infância cheia1x2 pixbetdoenças e infecções", observa o especialista.

Hilda e Pablo em1x2 pixbetcasa
Legenda da foto, Hilda mora com o segundo marido, Pablo. Aos 81 anos, ela é responsável pela colheita1x2 pixbetarroz, banana e mandioca

Cerca1x2 pixbet100% da população tsimane enfrentou,1x2 pixbetalgum momento1x2 pixbetsuas vidas, o ataque1x2 pixbetum parasita ou1x2 pixbetum verme.

Para os pesquisadores, trata-se1x2 pixbetum fato relevante, e eles estão tentando provar exatamente a hipótese1x2 pixbetque essas infecções poderiam ser outra das causas - além da alimentação e do exercício - por trás da saúde invejável dos idosos tsimanes.

O ponto1x2 pixbetpartida para essa teoria foi a pandemia do covid-19.

A crise do coronavírus causou na Bolívia provocou cerca1x2 pixbet22.000 mortes e um milhão1x2 pixbetpessoas infectadas1x2 pixbetcerca1x2 pixbetdois anos. E foi particularmente agressiva1x2 pixbetSanta Cruz, o departamento vizinho ao território tsimane.

"Não houve, entre eles, um único caso grave1x2 pixbetcovid-19, muito menos mortes. As pessoas1x2 pixbetSan Borja e Trinidad ficaram doentes, mas aqui, nas comunidades ao lado do rio, não houve um único caso", explica Kaplan à BBC Mundo.

Esses dados fornecidos pelo governo somados aos que a equipe da Kaplan juntou, levaram os pesquisadores a achar que essa imunidade a doenças como o coronavírus pode estar relacionada à alta taxa1x2 pixbetinfecções na comunidade durante a infância.

Mas como ele mesmo indica, isso ainda é uma teoria.

Mudança climática e ‘peque-peque’

Juan retorna à1x2 pixbetcomunidade com apenas um par1x2 pixbetaves. Não é um bom equilíbrio para três dias1x2 pixbetcaminhada, longe1x2 pixbetcasa e da família.

Mas ele já começa a se habituar aos resultados magros: não conseguiu caçar um animal suficientemente grande1x2 pixbetmeses. E a razão, explica, é apenas uma: o fogo.

No final1x2 pixbet2023, a Bolívia, e especialmente o departamento1x2 pixbetBeni, foi devastada por uma série1x2 pixbetincêndios florestais que se estenderam por várias semanas e destruíram cerca1x2 pixbetdois milhões1x2 pixbethectares1x2 pixbetfloresta e bosque.

“O fogo. O fogo fez com que os animais fossem embora daqui", diz ele.

Hilda sendo examinada
Legenda da foto, Foi realizado um teste1x2 pixbetcapacidade cognitiva nos tsimanes idosos para avaliar saúde cerebral deles

Assim, há alguns meses ele vem trabalhando na ideia1x2 pixbetse dedicar à criação1x2 pixbetgado. Em um pasto perto1x2 pixbetsua casa, ele orgulhosamente nos mostra quatro novilhos1x2 pixbetcarne que ele espera que sejam a fonte1x2 pixbetproteína da família nos próximos meses.

“Pelo menos até que os animais voltem”...

Kaplan está ciente1x2 pixbetque as mudanças climáticas estão afetando os costumes que levaram os tsimanes a ter suas artérias invejáveis. Não apenas os incêndios florestais, mas também a seca e as inundações que os empurram a procurar outros meios1x2 pixbetsubsistência.

E as mudanças que estão tendo que fazer já deixam vestígios.

Os últimos estudos revelaram que, apesar da notável saúde cardiovascular dos idosos tsimanes, certos índices que até anos atrás eram invisíveis começaram a surgir nas tabelas1x2 pixbetestatísticas.

“Quando começamos esse estudo1x2 pixbet2003, os casos1x2 pixbetdiabetes não chegavam a dois entre todas as pessoas analisadas. Agora, os casos multiplicaram-se por oito", exemplifica Eid.

Os níveis1x2 pixbetcolesterol também começaram a aumentar entre a população mais jovem.

“Qualquer pequena mudança nos costumes acaba afetando esses índices1x2 pixbetsaúde. Por exemplo, a introdução dos peque-peque", acrescenta o médico.

O pequeno-peque é um motor1x2 pixbetpopa com cerca1x2 pixbetseis cavalos1x2 pixbetpotência que devido ao seu tamanho e baixo custo virou o preferido1x2 pixbetquem navega no Maniqui.

Essa simples mudança - dos remos ao motor - impactou alguns hábitos alimentares dos tsimanes: ao encurtar as distâncias dos centros1x2 pixbetabastecimento, eles agora podem acessar produtos como açúcar, farinha e óleo para frituras.

Um bote no rio maniqui
Legenda da foto, A introdução1x2 pixbetmotores como o chamado "peque-peque" teve impacto no modo1x2 pixbetvida e alimentação dos tsimanes

“Além disso, eles estão parando1x2 pixbetremar, que é uma das atividades físicas mais exigentes. E esses alimentos são os que produzem o aumento dos níveis1x2 pixbetcolesterol e contribuem para que agora percebamos casos1x2 pixbetdiabetes e obesidade", diz Eid.

Os pesquisadores indicam, no entanto, que há lições para aprender com os estudos dos tsimanes.

“É simples: eles gastam muito mais energia ou calorias do que consomem diariamente. E embora comam cada vez menos por causa dos problemas que têm para garantir os alimentos, isso não significa que os idosos deixem1x2 pixbetser ativos", conclui Kaplan.

Para os próprios tsimanes, a principal lição1x2 pixbettodos esses números e resultados1x2 pixbetestudos é mostrar que você pode ser feliz com pouco.

“Para nós, apesar das necessidades óbvias, o que a terra nos dá é suficiente. É por isso que somos pessoas calmas, sem preocupações e geralmente estamos1x2 pixbetbom humor", diz à BBC Mundo Justina Canchi, uma das líderes1x2 pixbetum movimento que promove os direitos das mulheres tsimanes, com sede na Missão Fátima.

E acrescenta: “A pandemia foi o melhor exemplo disso: enquanto o mundo inteiro era trancado e adoecia, aqui a vida continuou a mesma, sem quarentena, sem infecções, porque tínhamos tudo à mão para sobreviver”.

Hilda termina o exame cognitivo e volta com Salomão, que a espera em1x2 pixbetpequena casa1x2 pixbetmadeira e jatata. Nas paredes não penduram quadros ou retratos familiares, mas frutas1x2 pixbetchontu e cachos1x2 pixbetbanana pintón que serão usados no jantar. Hilda está feliz que a chuva parou, após dois dias intensos, e ela poderá voltar o seu chaco para colher o arroz.

Ela também está feliz, conta, porque recentemente os seus filhos e netos, “que não me desamparam”, mataram um porco para celebrar "seus 100 anos ou algo assim”. Muitos tsimanes não sabem a idade exata que têm. E não se importam1x2 pixbetsaber.

“Não tenho medo1x2 pixbetmorrer”, diz ela com uma gargalhada, “porque eles vão me enterrar e eu vou ficar lá. Bem quieta”.

Ela olha para Salomão, olha para a gente e volta a rir.

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