Por que carros ficaram tão caros no Brasil?:f12bet spaceman

O objetivo é turbinar as vendas do setor automotivo, importante geradorf12bet spacemanemprego e renda e que responde por uma parcela significativa do PIB (Produto Interno Bruto) da indústria,f12bet spacemantornof12bet spaceman22% — e 4% do PIB total. O PIB é a somaf12bet spacemanbens e serviços produzidos por um paísf12bet spacemanseu território nacional.

Nesta quinta-feira (25/5), data que celebra o Dia da Indústria, o plano foi anunciado pelo governo federal durante reunião com empresários do setor industrial.

No Palácio do Planalto, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), disse que a principal medida será a reduçãof12bet spacemantributos para veículosf12bet spacemanaté R$ 120 mil, com corte do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e do PIS/Cofins (Programaf12bet spacemanIntegração Social e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social).

O impacto no preço dos carros novos vai variarf12bet spaceman1,5% até 10,79% — carros mais baratos terão maiores descontos, combinados com outros dois fatores: a produção nacional e eficiência energética.

Apesar disso, o valor continua inacessível para o bolso da imensa maioria dos brasileiros, principalmentef12bet spacemanmeio ao contexto pós-pandemia,f12bet spacemanmaior inflação, crédito mais caro com altas taxasf12bet spacemanjuros e perdaf12bet spacemanrenda generalizada.

Na contramão do Brasil, motoristasf12bet spacemanmercados desenvolvidos, como Estados Unidos e União Europeia, e atéf12bet spacemanpaíses emergentes, como México, acabam pagando bem menos por um modelo zero quilômetro, sobre a mesma basef12bet spacemancomparação que abre esta reportagem.

Mas por que os carros no Brasil são tão caros?

Razões

Uma combinaçãof12bet spacemanfatores, entre eles o chamado Custo Brasil (conjuntof12bet spacemandificuldades estruturais, burocráticas, fiscais e econômicas do país), está por trás desses valores considerados astronômicos por muitos brasileiros.

Não se trata, porém,f12bet spacemanuma realidade nova — alguns deles sempre foram constantes no mercado automotivo brasileiro, mas há outros circunstanciais, como a pressão inflacionária e a escassezf12bet spacemansemicondutores no mercado internacional, resultado da recente pandemiaf12bet spacemancovid-19.

A lista é longa. Confira alguns deles.

Impostos altos

O complexo sistema tributário do Brasil é considerado um dos principais culpados pelo preço alto dos carros.

Há diversos impostos que incidem sobre a vendaf12bet spacemanautomóveis, como ICMS (Imposto sobre Circulaçãof12bet spacemanMercadorias e Serviços), IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e PIS/Cofins (Programaf12bet spacemanIntegração Social e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social).

Para se ter uma ideia, o peso dos tributos variaf12bet spaceman30% a 50% do valor final dos carros nacionais. Se o veículo for importado, essa taxa é maior e pode oscilar entre 60% a 80%.

Um carro que custa US$ 20 mil nos Estados Unidos pode, assim, custar até US$ 35 mil no Brasil.

Protecionismo e concorrência

Carros importados custam mais caros do que os nacionais porque sobre eles incidem mais impostos.

Se por um lado, a política protecionista visa a promover a produção local e o emprego, por outro, limita a concorrência.

O resultado são preços mais altos para os consumidores.

Apesar disso, o númerof12bet spacemanmontadoras hoje presentes no Brasilf12bet spacemannada se compara aof12bet spacemandécadas atrás, quando o mercado era praticamente dominado por quatro grandes fabricantesf12bet spacemanveículos (Volskwagen, Fiat, Ford e Chevrolet).

Para tanto, marcas reconhecidas internacionalmente, como Toyota, Honda e Hyundai, tiveram que produzir no Brasil para baratear custos.

Custos trabalhistas mais altos

Os encargos trabalhistas do Brasil estão entre os mais altos do mundo.

Outros países com maior índicef12bet spacemancustof12bet spacemanmão-de-obra são: Argentina, Ucrânia, Uruguai, Turquia, Rússia, África do Sul, Romênia, Egito e Vietnã, segundo a empresaf12bet spacemananálise e consultoriaf12bet spacemandados GlobalData, sediadaf12bet spacemanLondres, na Inglaterra.

Isso aumenta o custof12bet spacemanproduçãof12bet spacemancarros e dificulta a competição dos fabricantes com outros países com custosf12bet spacemanmão-de-obra mais baixos.

Estima-se que no país as empresas gastem duas vezes e meia o que pagam ao trabalhador.

Infraestrutura precária

Apesarf12bet spacemanser um paísf12bet spacemandimensões continentais, o Brasil padece com a infraestrutura precária, com muitas estradas e rodoviasf12bet spacemanmás condições.

Um estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) realizadof12bet spaceman2022 calculouf12bet spaceman35% o acréscimo nos custos operacionais decorrentes das más condiçõesf12bet spacemanconservação nos 73% das rodovias sob administração pública.

Isso acaba representando um desafio para o transportef12bet spacemanautomóveis e peças, encarecendo seu custo, que é repassado ao consumidor.

Incorporação tecnológica e requisitos regulatórios

Foi-se o tempo do carro "pelado" da décadaf12bet spaceman90, épocaf12bet spacemanque o então presidente Fernando Collorf12bet spacemanMello, disse que os carros produzidos no Brasil eram "verdadeiras carroças"f12bet spacemanalusão à má qualidade do produto final se comparado a um veículo importado.

Além dos sistemasf12bet spacemansegurança exigidos por lei, o consumidor também está mais exigente quanto ao pacotef12bet spacemanequipamentos do veículo.

Desde 2013, todos os carros novos têm que ser equipados com airbag e freios ABS (do inglês Anti-lock braking system, ou freios antitravamento).

A incorporaçãof12bet spacemannovas tecnologias, sejam elasf12bet spacemansistemaf12bet spacemansegurança,f12bet spacemanconforto ou conectividade fez com que os preços subissem.

Real desvalorizado, pandemiaf12bet spacemancovid-19 e crisef12bet spacemansemicondutores

Houve flutuações cambiais significativas nos últimos anos, e o real brasileiro perdeu valorf12bet spacemanrelação ao dólar americano.

Isso tornou mais caro para os fabricantes importar peças e equipamentos, o que contribuiu para o aumento geral dos preços dos automóveis.

"Grande parte das peças dos automóveis é importada. Se o real perde valor e compramosf12bet spacemandólar, pagamos mais caro. Esse custo é repassado para o consumidor", diz Igor Torres, economista e analista da Tendências Consultoria.

Mais recentemente, a pandemiaf12bet spacemancovid-19 encareceu matérias-primas, como aço, minériof12bet spacemanferro e borracha, e desestabilizou as cadeiasf12bet spacemansuprimento das indústrias, gerando desafios logísticos que encareceram o valor dos carros ao redor do mundo. Muitos componentes usados na fabricação dos veículos no Brasil não têm produção local.

Nesse contexto, destaca-se a escassez globalf12bet spacemansemicondutores, que estão presentes por todo o carro, desde o câmbio, passando por painel, sistema multimídia, retrovisores, sistemaf12bet spacemanfreio e até motor.

Paixão por carro e margemf12bet spacemanlucro

Há um fator culturalf12bet spacemanjogo, também: a paixão do brasileiro por carros.

"O brasileiro sempre foi apaixonado por carro e sente-se diferenciado ao tê-lo. O carro é símbolof12bet spacemanstatus. É uma questãof12bet spacemanoferta e demanda. Se as pessoas continuam comprando carros e eles estão mais caros, por que vou baixar meu preço?", indaga Milad Kalume Neto, gerentef12bet spacemandesenvolvimentof12bet spacemannegócios da Jato Dynamics.

"Evidentemente, não podemos esquecer que o transporte público continua deficiente e isso acaba incentivando as pessoas a comprar carros, também, mesmo que tenham que pagá-lof12bet spacemandiversas prestações", acrescenta.

Por uma questão estratégica, as montadoras não divulgam suas margensf12bet spacemanlucro. Mas, segundo Kalume Neto, "as margensf12bet spacemanlucro no Brasil são,f12bet spacemanmédia, maiores do que vemos nos mercados americano e europeu".

De fato, com exceçãof12bet spaceman2020, ano da pandemia, o faturamento da indústria automotiva no Brasil vem crescendo — o valor médiof12bet spacemanum carro novo passouf12bet spacemanR$ 71 milf12bet spaceman2017 para R$ 131 mil no ano passado, um aumentof12bet spaceman85% — no mesmo período, a inflação acumulada oficial, medida pelo IPCA, foif12bet spaceman36%.

Vale lembrar, no entanto, que o mercado mudou nos últimos anos —f12bet spaceman2022, pela primeira vez, a maior parte das vendas (52,9%) foi para Pessoa Jurídica (CNPJs, vendas diretas para locadoras, pessoas com deficiência, frotistas, entre outras).

Ou seja, menos brasileiros estão comprando carro novo. Em 2018, as vendas para Pessoa Física representavam 64,4% do total vendido. No ano passado, essa proporção caiu para 47,1%, segundo dados da Jato Dynamics.

Carro 'popular'?

Mas o carro "popular" proposto pelo governof12bet spacemannada se assemelha ao "carro pelado" da décadaf12bet spaceman90, ou seja, veículos sem encostof12bet spacemancabeça ou até retrovisor direito como itensf12bet spacemansérie.

Kalume Neto nota que a indústria evoluiu, focandof12bet spacemanveículosf12bet spacemanmaior valor agregado, e o consumidor se tornou também mais exigente.

"Estamos com vendas estagnadasf12bet spacemantornof12bet spaceman2 milhões há três anos. E temos uma capacidade produtiva acimaf12bet spaceman4,5 milhões. O setor precisa vender mais. Mas não compartilho com a ideiaf12bet spaceman"carro popular". Prefiro "carrof12bet spacemanentrada",f12bet spacemanfunção dos preços praticados aqui no Brasil. Além disso, esse termo, "carro popular", remete àquele carro "pelado" da décadaf12bet spaceman90, e isso já não faz mais parte da nossa realidade, até por uma questão da legislação", explica.

Sem 'milagre'

Falando sobre o plano anunciado pelo governo, o economista André Perfeito, assinala, no entanto, que "cortef12bet spacemantributos, medidas regulatórias e mesmo quedaf12bet spacemanjuros não fazem milagre algum se não houver demanda".

"A expectativa é que alguma demanda surja, afinal as projeçõesf12bet spacemancrescimento estão melhorando e a renda real melhorou com a queda da inflaçãof12bet spaceman12 meses para citar alguns fatores".

Segundo Perfeito, como "os juros altos estãof12bet spacemanrelação à renda disponível, não há demanda possível para o setor."

"A impressão que fico é que o governo resolveu fazer na "marra" algo poderia e deveria ser feito pela quedaf12bet spacemanjuros", conclui.