Eleições na Argentina: viceroleta online para editarMilei propõe rever indenização a vítimas da ditadura:roleta online para editar

Victoria Villarruel fala ao celular

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Candidata a viceroleta online para editarJavier Milei, deputada e advogadac questiona o que parecia ter consenso na Argentina

No entanto, para a candidata a viceroleta online para editarMilei, essa política implementada não é correta. Villaruel tem dito que defende “a memória completa”, que, segundo ela, deve considerar que havia "uma guerra" que colocava militares e forçasroleta online para editarsegurançaroleta online para editarum lado e, do outro, guerrilheirosroleta online para editaresquerda a quem chamaroleta online para editar"terroristas".

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Em 2006, ela criou o Centroroleta online para editarEstudos Legais sobre o Terrorismo e suas Vítimas (Celtyv) para buscar reparação para as vítimas dos grupos Montoneros e Exército Revolucionário do Povo (ERP) — organizações guerrilheiras argentinas que agiram a partir do início dos anos setenta, antes do golpe militarroleta online para editar1976. Os Montoneros eramroleta online para editarraiz peronista, ligada ao movimento criado pelo ex-presidente argentino Juan Domingo Perón; já o ERP era uma organizaçãoroleta online para editarorientação trotskista.

Filha, sobrinha e netaroleta online para editarmilitares, Vicky, como a chamam seus apoiadores, tem dito que a Argentina “escondeu”roleta online para editarhistória.

“Nós estamos conseguindo abordar um montãoroleta online para editarideias que eram impensáveis, que eram intocáveis, que não podiam ser questionadas”, disse Villarruel, já na reta final da campanha do primeiro turno,roleta online para editarentrevista à rádio Cadena 3, da provínciaroleta online para editarCórdoba.

O discursoroleta online para editarVillarruel é rechaçado por defensoresroleta online para editardireitos humanos e ativistas que veem nele negacionismo histórico e falsa simetria ao comparar o uso do Estado para reprimir e matar inimigos políticos durante a ditadura e atividades guerrilheiras no período.

Analistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a propostaroleta online para editarreparação para vítimasroleta online para editaratos guerrilheiros é legítima, mas também dizem ver no discurso uma “defesa implícita” da ditadura e “um riscoroleta online para editarretrocesso” na políticaroleta online para editardireitos humanos.

Javier Milei e Victoria Villarruel levantam bandeira da Argentina

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Javier Milei e Victoria Villarruel, do partido La Libertad Avanza,roleta online para editareventoroleta online para editarencerramento da campanha antes das eleições presidenciais

De plataforma política a temaroleta online para editarcampanha

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Villarruel decidiu criarroleta online para editar2006roleta online para editarONG para atender vítimasroleta online para editaratos dos grupos armadosroleta online para editaresquerda nos anos 70. Na época, o governoroleta online para editarNéstor Kirchner tinha como bandeira a defesa da reabertura das investigações sobre os crimes cometidos durante a ditadura militar.

Para isso, Kirchner, que consolidava ali um braço próprio do peronismo, contou com o respaldo das entidadesroleta online para editardireitos humanos Mães e Avós da Praçaroleta online para editarMaio — reconhecidas internacionalmente pela buscaroleta online para editarseus filhos e netos, sequestrados na ditadura.

A viceroleta online para editarMilei seguiu sem participação direta na política partidária até se juntar a seu companheiroroleta online para editarchapa. Victoria Villarruel só começou a ficar conhecida nacionalmente ao ser empossada como deputada federalroleta online para editardezembroroleta online para editar2021.

“Pelas vítimas do terrorismo”, disse ela, ao microfone, na cerimôniaroleta online para editarposse no Congresso Nacional.

A declaração gerou críticas abertas do atual governo do presidente Alberto Fernández eroleta online para editarsua vice-presidente, a ex-mandatária Cristina Kirchner.

“Ela [Victoria Villarruel] reinvindica o terrorismoroleta online para editarEstado e nega a ditadura militar. E, nós, argentinos, temos um pacto forte contra a ditadura”, disse, na ocasião, o ministro da Defesa, Jorge Taiana.

Naquele dezembroroleta online para editar2021, Victoria Villarruel e Javier Milei inauguravam a pequena bancada da A Liberdade Avança (LLA), movimento pelo qual agora disputam a presidência após um crescimento meteórico.

Em 19roleta online para editarnovembro, a dupla vai enfrentar o candidato representante do kirchnerismo e do peronismo, o governista e atual ministro da Economia, Sérgio Massa.

Para a analistaroleta online para editaropinião pública da consultoria Tres Punto Zero e professora da Universidaderoleta online para editarBuenos Aires Shila Vilker, Villarruel e Milei conseguiram colocar como tema na campanha presidencial a memória da ditadura e a violência política da décadaroleta online para editarsetenta.

“Foi um assunto que apareceuroleta online para editarforma inesperada na campanha", afirma ela. "Fico com a impressão que, por trás da demanda legítima por parte das vítimas das organizações armadas, isso signifique uma defesa implícita da ditadura”, diz Vilker.

Esta defesa, afirma a analista, não poderia ser feita “de forma explícita” porque na Argentina existe um “consenso social, acadêmico e judicialroleta online para editarrelação ao que foi o terrorismoroleta online para editarEstado, dos crimes contra a humanidade, da história argentina”.

Para ela, a conjunção entre o desinteresse pela democracia entre parte dos mais jovens, a crise econômica e os discursos da A Liberdade Avança podem ser “um riscoroleta online para editarretrocesso” para a políticaroleta online para editardireitos humanos e para a condendação da ditadura.

“Entre os que têm 16 e 21 anos, seisroleta online para editarcada dez valorizam a democracia. Uma maioria, sem dúvida. Mas existem quatroroleta online para editarcada dez que não têm opinião formada, ou não estão interessados ou dizem ter questões mais urgentes, como a economia”, disse ela.

Autorroleta online para editaruma sérieroleta online para editarlivros sobre os anos setenta na Argentina, o jornalista Ceferino Reato descreve Villarruel como uma advogada “muito conservadora, católica, com moralroleta online para editarultradireita". Ele diz que ela sempre trabalhouroleta online para editarnome das vítimas dos grupos armadosroleta online para editaresquerda e que só passou a ganhar espaço nos meiosroleta online para editarcomunicação a partir do seu vínculo com Milei.

“Acho que ela se espelha nas próprias organizaçõesroleta online para editardireitos humanos que defendem as vítimas dos militares e da repressão, da ditadura", afirma Reato, cujo livro mais recente se chama Masacre en el Comedor ("Massacre no refeitório",roleta online para editartradução livre), que relata um atentado a bomba do grupo do guerrilheiro Montonero, cem dias após o inicio da ditadura.

"Ela já disse, por exemplo, que quer implementar leis para indenizar as vítimas da guerrilha e para criar um monumento que as recorde. Se vai conseguir ou não, não sabemos”, seguiu.

Villarruel afirma que "existem 1.094 vítimas do terrorismo dos anos setenta" que "jamais foram reconhecidas pelo Estado”. De acordo com Reato, que conhece o tema por causa das pesquisas e entrevistas que realizou para seus livros, os familiares destes mortos “nunca receberam nenhuma indenização”.

No portal oficial Registro Unificadoroleta online para editarVítimas do Terrorismoroleta online para editarEstado (Ruvte) informa-se, porroleta online para editarvez, que o programa reúne e atualiza dados sobre “as vítimas da repressão ilegal do Estado argentino”, sem referência às vítimas da guerrilha.

Procurada pela BBC News Brasil, Villarruel não atendeu aos pedidosroleta online para editarentrevista. A reportagem também buscou sem sucesso a legisladora Lucía Elena Montenegro, que é aliadaroleta online para editarVillarruel na Legislaturaroleta online para editarBuenos Aires.

Númeroroleta online para editarvítimas da ditadura

Villarruel tem sido questionada por ter ido visitar o ex-ditador Jorge Videla na cadeia, antesroleta online para editarsua morteroleta online para editar2013. Em resposta, ela diz que foi entrevistá-lo para seus livros históricos sobre os anos 70.

A viceroleta online para editarMilei não nega que foram cometidos crimes durante a ditadura. Quando perguntadaroleta online para editaruma entrevista ao canal La Nación+ se negava o que aconteceu durante a ditadura militar, a viceroleta online para editarMilei respondeu: “Não”. E quando questionada se houve crimes contra os direitos humanos na ditadura, respondeu: “Sim”.

Mas ela tem repetido que, se chegar ao poder, impulsionará uma revisão nas indenizações concedidas pelo Estado às vítimas que foram alvo da repressão do Estado.

A advogada não falaroleta online para editarnúmeros, masroleta online para editarseus discursos cita que guerrilheiros mortos "em combate" ou militantes que ela disse que se mataram na cadeiaroleta online para editarlealdade a seus movimentos não deveriam receber dinheiro do Estado.

As ideiasroleta online para editarVillarruel também ecoam nas falas do líder da chapa. Em um dos debates presidenciais, há três semanas, Javier Milei questionou a quantidaderoleta online para editarvítimas sequestradas ("desaparecidos") pela repressão organizada pela ditadura.

“Estamos absolutamente contra uma visão torta da história. Na nossa opinião, houve uma guerra nos anos 70 e, naquela guerra, as forças do Estado cometeram excessos, mas também os terroristas dos Montoneros e do ERP mataram gente, colocaram bombas e cometeram crimes contra a humanidade”, disse o candidato libertário.

“Não foram 30 mil desaparecidos. Foram 8.753”, disseroleta online para editaroutro momento.

"São 30 mil. Nunca mais. Nunca mais", rebateu, depois, o ativistaroleta online para editardireitos humanos Adolfo Pérez Esquivel, usando a frase que simboliza o repúdio à ditadura. Esquivel ganhou o Prêmio Nobel da Pazroleta online para editar1980 por denunciar as violaçõesroleta online para editardireitos humanos cometidas por regimes militares no continente.

O questionamento da magnitude da repressão e do númeroroleta online para editar30 mil vítimas, usado oficialmente pelo kirchnerismo e pelas organizaçõesroleta online para editardireitos humanos como as Mães e Avós da Praçaroleta online para editarMaio, não é um debate inédito na Argentina.

Em setembroroleta online para editar1984, menosroleta online para editarum ano após o retorno da democracia, o então presidente Raúl Alfonsín recebeu do escritor Ernesto Sabato o relatório da Comissão Nacional do Desaparecimentoroleta online para editarPessoas (Conadep), que documentou 8.961 pessoas desaparecidas durante o regime militar,roleta online para editaracordo com informações disponíveis da época.

A lista nunca foi considerada final,roleta online para editaracordo com historiadores e ativistas, que afirmam que há outros documentos e testemunhos que falamroleta online para editarum número maiorroleta online para editarvítimas.

Um desses documentos é um relatório militar argentino enviado aos aliados da ditaduraroleta online para editarAugusto Pinochetroleta online para editar1978, que falaroleta online para editarao menos 22 mil vítimas. O documento foi obtido pelo jornalista John Dinges e apareceroleta online para editarseu livro Os anos do Condor (Companhia das Letras), que relata a aliança das ditaduras do Cone Sul para a repressão.

No mesmo ano, documento da embaixada dos Estados Unidos na Argentina, agora desclassificado, também falaroleta online para editarao menos 15 mil vítimas citadas pelos militares argentinos nas conversas com Washington.

O jornalista e escritor Ceferino Reato diz que o númeroroleta online para editar30 mil é "uma bandeira, um número simbólico, um mito".

"O massacre foiroleta online para editartal magnitude que fica completamente refletido com o númeroroleta online para editar7.300 vítimas", diz Reato que,roleta online para editarseus trabalhos, utiliza o número oficial do Registro Únicoroleta online para editarVítimas do Terrorismoroleta online para editarEstado (Ruvte), criado com um ampla equipe na época do governo da ex-presidente Cristina Kirchner.

Emroleta online para editarcontabilidade feita a partir do Ruvte, o escritor cita um totalroleta online para editar7.300 vítimas. “O registro é atualizado permanentemente. São dados oficiais. Os últimos sãoroleta online para editar2015. É impensável pensarroleta online para editar22 mil ou 23 mil pessoas desaparecidas sem que seus familiares os esteja buscando”, afirma Reato.

Entre estas vítimas, segundo entidadesroleta online para editardireitos humanos e documentos oficiais, estão estudantes, professores, trabalhadores, jovens grávidas, bebês que nasceram no cativeiro e foram entregues a famíliasroleta online para editarmilitares e pessoas confundidas com supostos guerrilheiros. O músico brasileiro da bandaroleta online para editarToquinho e Vinicius, Francisco Tenório Júnior, o Tenorinho, foi uma das vítimas nos anos 1970 na Argentina. Ele foi sequestrado, numa esquina movimentadaroleta online para editarBuenos Aires, seis dias antes do golpe.

“Seja 30 mil ou 8 mil...O que houve foi uma barbárie”, disse a ex-senadora Graciela Fernández Meijide, que integrou a Conadep e é mãeroleta online para editarPablo, jovem que integra a listaroleta online para editardesaparecidos.

A presidente da entidade Avós da Praçaroleta online para editarMaio, Estelaroleta online para editarCarlotto, repudiou as declaraçõesroleta online para editarMilei e ratificou o totalroleta online para editar30 mil desaparecidos.

“Ele deu um número com tanta certeza [no debate] que parecia até que sabia o nomeroleta online para editarcada um dos desparecidos”, disse Carlotto.

Apoioroleta online para editarBulrrich

Villaruel não ficará circunscrita à reivindicação das vítimasroleta online para editargrupos armadosroleta online para editaresqueda, caso vença ao ladoroleta online para editarMilei. O presidenciável argentino já disse que pretende colocar sob responsabilidaderoleta online para editarsua vice as áreasroleta online para editarDefesa, Segurança e Inteligência. Ou seja,roleta online para editarum suposto governo Milei, a parlamentar responderia pelas áreas das Forças Armadas eroleta online para editarsegurança pública, algo que seria novidade no país, segundo especialistas.

Quando perguntado, sobre a possibilidade da liberação do usoroleta online para editararmasroleta online para editarfogo, Milei responde que esta será uma responsabilidade diretaroleta online para editarVillaruel. A vice, porroleta online para editarvez, diz que a legislação deve ser respeitada e rebate a acusação dos adversáriosroleta online para editarque facilitará a chegadaroleta online para editararmas às escolas.

“A gestãoroleta online para editarsegurança dos últimos vinte anos fez um esforço enorme para demonizar os que usam uniforme e têm a função, por parte do Estado,roleta online para editarproteger os cidadãos, seus bens eroleta online para editarliberdade”, disse Villarruel,roleta online para editaruma entrevista ao jornal El Tribuno, da provínciaroleta online para editarSalta, na reta final antes do primeiro turno.

Para a analista Shila Vilker, todo o discurso busca captar o voto da “família militar”.

Neste terreno, a dupla disputava a preferência do grupo com a candidata da direita mais tradicional Patricia Bullrich, que costuma defender e elogiar as forçasroleta online para editarsegurança pública e ficouroleta online para editarterceiro lugar no primeiro turno neste domingo, com pouco maisroleta online para editar23% dos votos.

Nos debates, Milei chamou Bullrichroleta online para editar“montonera assassina”, pelo fatoroleta online para editarela ter sido guerrilheira nos anos 70. Bullrich negou acusação que ele lhe fezroleta online para editarter colocado bombas "em jardinsroleta online para editarinfância" e anunciou que entraria na Justiça contra ele.

O candidato também disse,roleta online para editaruma entrevista durante a campanha do primeiro turno, que revisaria a suposta indenização que Bullrich receberia do Estado, referente aos anos 1970, e a chamouroleta online para editar“terrorista”.

Mesmo depois do duro ataque, Milei acenou a Patricia Bullrich nesta segunda-feira (23/10), convidando-a a apoiá-lo. Uma das chavesroleta online para editardefinição do segundo turno é medir o quanto efetiva será essa aproximação e quantoroleta online para editartransferênciaroleta online para editarvoto ela vai garantir.

Nesta quarta-feira, três dias após a derrota, Bullrich declarou apoio ao libertário. “Milei conseguiu capitalizar melhor do que nós o voto, dos mais jovens principalmente. E nossa proposta é pela mudança, o que ele (Milei) passou a representar. Há 20 anos, o kirchnerismo mergulhou a Argentina na decadência e é por isso que defendemos a mudança”, disse a candidata.