'Bolsa Família deveria premiar quem consegue trabalho. Hoje, penaliza':bet7k logo png

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Legenda da foto, O Bolsa Família não tem mecanismos para a transição entre simplesmente receber o dinheiro e incluir seus beneficiários no mercadobet7k logo pngtrabalho

Enquanto isso, permanecem quase todos dependentes do Bolsa Família.

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“Temos que encontrar rapidamente soluções para eles”, aponta a economista Laura Muller Machado, que coordena os cursosbet7k logo pnggestão pública do Insper,bet7k logo pngSão Paulo, e que liderou a Secretariabet7k logo pngDesenvolvimento Social paulista por sete meses,bet7k logo png2022,bet7k logo pngentrevista à BBC News Brasil.

Ao lado do também economista Ricardo Paesbet7k logo pngBarros, também do Insper, Machado tem se dedicado não só a construir esse diagnóstico da pobreza no Brasil, como também a desenhar uma formabet7k logo pngresolver o problema.

Há pouco maisbet7k logo pngum ano, ambos publicaram o livro Diretrizes para o desenhobet7k logo pnguma política para a superação da pobreza, pela editora do Insper, que condensa toda essa ideia.

Ela funcionaria, sobretudo, pela atuaçãobet7k logo pngmilharesbet7k logo pngagentesbet7k logo pngdesenvolvimento social já espalhados pelo país e que receberiam, agora, a tarefabet7k logo pngencontrar essas famílias pobres, entender como elas podem se capacitar e quais trabalhos poderiam fazer e, então, conectá-las às vagas existentes nos locaisbet7k logo pngque vivem.

Tudo depende,bet7k logo pngum lado, do crescimento da economia brasileira e da consequente ampliação das oportunidadesbet7k logo pngemprego e,bet7k logo pngoutro, da intermediação entre estas oportunidades e a mãobet7k logo pngobra disponível

“Um match”, diz ela, usando uma palavra comum ao universo digital.

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Legenda da foto, 'Eu costumo ser otimista. Acho que é só a gente decidir fazer que, então, engatamos as coisas e revertemos a situação atual', diz a economista Laura Machado
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Neste período, os pesquisadores têm se deparado com problemas complexos.

Um deles é o formato atual do Bolsa Família que, nas palavrasbet7k logo pngLaura, “está desincentivando que seus beneficiários trabalhem”.

Isso porque o programa — que atende hoje 20,8 milhõesbet7k logo pngfamílias com um montante médio mensalbet7k logo pngR$ 682 — não tem mecanismos que façam a transição entre simplesmente receber o dinheiro e incluir seus beneficiáriosbet7k logo pngalguma forma no mercadobet7k logo pngtrabalho.

“Ao contrário: quando elas encontram emprego, são ‘penalizadas’ com a perda do benefício”, explica a economista à BBC News Brasil.

Mas não só: às vésperas da eleiçãobet7k logo png2022, alémbet7k logo pngreajustar o valor ofertado pelo programa —bet7k logo pnguma grande reestruturação que mudou seu nome para Auxílio Brasil e desidratou algumas políticas paralelas ao desenho original —, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) também mudou as regrasbet7k logo pngdeclaração, abrindo uma brecha para que beneficiários se cadastrem individualmente e, então, recebam o piso, que hoje ébet7k logo pngR$ 600.

Com isso, algumas pesquisas têm indicado mudanças estruturais, alémbet7k logo pngfraudes no escopo do Bolsa Família, como o crescimentobet7k logo pngbenefícios duplicados dentrobet7k logo pnguma mesma família oubet7k logo pngbeneficiários homens solteiros, por exemplo.

Relançado no começo do ano passado, o orçamento do Bolsa Família somou R$ 168,6 bilhõesbet7k logo png2024.

Para participar do programa hoje, é preciso comprovar renda mensal média abaixobet7k logo pngR$ 282, alémbet7k logo pnguma sériebet7k logo pngcondicionantes para famílias com filhos.

Para Machado, alémbet7k logo pngrever o desenho do Bolsa Família, é preciso incluir logo essas 2,5 milhõesbet7k logo pngpessoasbet7k logo pngalguma forma no mercadobet7k logo pngtrabalho, mesmo com desafios como a precarização do trabalho e a alta rotatividade das vagas.

A solução para isso, na visão dela, é manter o programa como renda enquanto as pessoas trabalham – e, mais do que isso, elevar pontualmente o valor do benefício até que seu orçamento doméstico se estabilize.

"O Bolsa Família é o responsável pelas grandes reduçõesbet7k logo pngpobreza do país. É a coroa brasileira, nosso maior instrumentobet7k logo pngpolítica social, mas que não pode ser blindadobet7k logo pngmudanças necessárias", diz a economista.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

bet7k logo png BBC News Brasil - O Brasil tem hoje uma das taxasbet7k logo pngdesemprego mais baixas dabet7k logo pnghistória. Por que o mercadobet7k logo pngtrabalho tão aquecido não está atingindo as camadas mais pobres?

bet7k logo png Laura Machado - Temos somente hipóteses. A primeira é sobre o salário reserva brasileirobet7k logo pnghoje. Toda vez que se concede um benefício como o Bolsa Família, o salário reserva das pessoas sobe. Isso significa que elas só topam trabalhar a partirbet7k logo pngum certo valor — que, hoje, são pelo menos os R$ 600 do programa. Não faz sentido trabalhar por menos do que isso. O salário inicial para que alguém aceite trabalhar precisa ser, pelo menos, maior que esse montante. Esse é um fenômeno positivo da economia. Não é ruim.

A segunda hipótese é sobre a transição truncada do Bolsa Família para o mercadobet7k logo pngtrabalho. O programa deveria funcionar premiando os beneficiários que conseguem um emprego, até porque essa tem sido uma tarefa quase impossível para eles. A taxabet7k logo pngocupação dessa parte da população ainda é minúscula. Quem está no Bolsa Família e alcança um trabalho é um herói. Essa pessoa deveria receber um programabet7k logo pngtransição como prêmio, não a retirada total do benefício. Do jeito que está, há apenas desincentivo ao trabalho.

Tudo isso sem contar os choques tecnológicos. O mundo do trabalho mudou muito nos últimos tempos, e as pessoas parecem inaptas a ele. Precisamosbet7k logo pngprogramas que,bet7k logo pngparalelo, façam uma requalificação delas.

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Legenda da foto, Filabet7k logo pngpessoas buscando emprego no Riobet7k logo pngJaneiro

bet7k logo png BBC News Brasil - Como funcionaria essa "premiação" dentro do Bolsa Família? Qual deveria ser o tempo para uma pessoa ficar paralelamente nos dois programas?

bet7k logo png Machado - Existem algumas propostas. Nossa ideia é que essa pessoa receba um valor até maior do Bolsa Família no momento inicial [após conseguir um emprego]. Esse montante deve ficar estável até que ela ganhe segurança no trabalho. Então, a partirbet7k logo pngcerto momento, o valor começa a cair gradualmente,bet7k logo pngforma que ela vá se adaptando à nova realidade e progredindo no trabalho.

Essa transição pode durar 24 meses, por exemplo: seis meses com o prêmio e, depois, com uma reduçãobet7k logo png5% por mês do Bolsa Família até o processo acabar. Se ela perder o emprego, o benefício volta como era no início.

bet7k logo png BBC News Brasil - Há um dado muito utilizado que mostra como a taxabet7k logo pngocupação entre os 10% mais pobres do Brasil caiu (de 49%bet7k logo png2005 para 25%bet7k logo png2023, segundo o IBGE). Você tem chamado issobet7k logo png“nova cara da pobreza brasileira”. O que houve?

bet7k logo png Machado - Quando uma família caibet7k logo pngsituaçãobet7k logo pngvulnerabilidade, qualquer políticabet7k logo pngassistência e desenvolvimento social precisa atendê-la, porque não queremos que ninguém passe fome. Então, ela recebe uma primeira assistência e, depois, deveria ser realocada no mercadobet7k logo pngtrabalho. Se isso tivesse funcionado desse jeito sempre no Brasil, a pobreza não teria mudadobet7k logo pngcara. Algo falhou.

No intervalo desse dado, o Bolsa Família, como programabet7k logo pngassistência social, também mudou. No desenho anterior, o benefício era pago per capita, enquanto hoje ele incentiva que as pessoas o declarem erroneamente. É um problema do cadastro e do próprio programa, cujo efeito foi desincentivar quem está nelebet7k logo pngprocurar trabalho.

Também não houve, nesse período, um programabet7k logo pngreinserção das pessoas que estão no Bolsa Família. É exatamente isso que estamos propondo agora. Por enquanto, o país continua com um programabet7k logo pngtransferênciabet7k logo pngrenda que, ao contrário, penaliza o pobre quando ele arruma um trabalho.

Pior do que isso: não o ajuda a se incluir produtivamente enquanto ele está desempregado. Essa perspectiva é clara: vai piorar. Desses dois braços, um não funciona muito bem e o outro está totalmente sem proposta. Não apareceu nada para ocupar o lugar do Brasil Sem Miséria, por exemplo.

bet7k logo png BBC News Brasil - Mas os pobresbet7k logo pngantes, que trabalhavam, mas ganhavam pouco, não fariam parte desse grupobet7k logo pngextrema pobreza agora?

bet7k logo png Machado - De fato, tinha muita gente trabalhando ebet7k logo pngcondiçãobet7k logo pngpobreza considerável.

bet7k logo png BBC News Brasil - Então, o quanto incluir essas pessoas não seria colocá-lasbet7k logo pngnovo naquele perfil da pobreza anterior, trabalhando e ainda assim, muito pobres?

bet7k logo png Machado - É que, no passado, o Bolsa Família entregava um valorbet7k logo pngR$ 89. Depois ele foi subindo: primeiro para R$ 104, depois, na pandemia, para R$ 400 e, então, para R$ 600. Agora está do jeito que está. Não significa dar um passo para trás, porque é ótimo que a gente tenha um programa que entrega esse salário reserva [de R$ 600].

Estamos apontando agora para um desenhobet7k logo pngtransição dele ao mercadobet7k logo pngtrabalho. Naquele momento, o Bolsa Família era muito pequeno, estávamos tentando ajudar essas pessoas a gerar renda via arranjo produtivo ou inclusãobet7k logo pngoutro tipo. Hoje, o foco é manter o benefício que elas já possuem e, ao mesmo tempo, entregá-las para uma atividade produtiva.

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Legenda da foto, Economista sugere que o programa Bolsa Família seja mais ativo no estímulo à inserção no mercadobet7k logo pngtrabalho

bet7k logo png BBC News Brasil - Quem gera vagasbet7k logo pngemprego no Brasil costuma reclamar da faltabet7k logo pngqualificação da mãobet7k logo pngobra. Como convencer estas pessoas a contratar quem hoje, além desse problema, ainda está na pobreza extrema?

bet7k logo png Machado - É que elas não deveriam ser convencidas. Precisamosbet7k logo pngum programa que coloca as pessoas mais pobresbet7k logo pngcondiçãobet7k logo pngcompetir por essas vagas. O setor privado não deveria contratar trabalhadores menos eficientes ou desinteressantes para ele. Não se tratabet7k logo pnguma concessão,bet7k logo pnguma cota para essa população, mas que ela seja fortalecidabet7k logo pngtermos dabet7k logo pngcapacidadebet7k logo pngtrabalho.

De um lado, o mercado produz, gera riqueza e abre vagasbet7k logo pngemprego e, do outro lado — onde a mão invisível não funciona — tem que ter alguém intermediando as condiçõesbet7k logo pngocupar esses postosbet7k logo pngtrabalho. É óbvio que, se eles ofertarem um salário pífio, não serão ocupados. Mas aí é outro problema.

bet7k logo png BBC News Brasil - Quais trabalhos essas pessoas poderiam fazer, levandobet7k logo pngconta, ainda, o desafio da qualificação?

bet7k logo png Machado - A ideiabet7k logo pngum programabet7k logo pngsuperaçãobet7k logo pngpobreza ebet7k logo pnginclusão pela via do trabalho é fazer um casamento entre as vocações das famílias mais pobres com as oportunidades que o território onde elas vivem oferta. Essas vagas não são pré-determinadas.

É aí que está, inclusive, a importância dos agentesbet7k logo pngdesenvolvimento social no desenho: são pessoas preparadas para conversar com as famílias, explorar as oportunidadesbet7k logo pngtrabalho que elas entendem que cabem a elas, considerando o que elas sabem e gostambet7k logo pngfazer, e fazer esse casamento.

Isso vai dar um montebet7k logo pngpossibilidades, porque é comum achar que pobres não têm uma atividade laboral, quando, na verdade, eles têm. Ela só está enfraquecida. Há até alguns exemplos disso no Brasil.

bet7k logo png BBC News Brasil - Quais?

bet7k logo png Machado - Em Minas Gerais, por exemplo, houve um projeto que notou como a maior vontadebet7k logo pngum grupo grandebet7k logo pngmulheres desempregadas e com filhos era encontrar emprego, mas com alguns requisitos: que fosse próximobet7k logo pngcasa, com flexibilidadebet7k logo pnghorários e sem uma grande demanda física.

Então, descobriram que elas eram boas para trabalhos internos na construção civil, como fazer rejunte, colocar revestimento, instalar piso, essas coisas. O setor topou se adaptar aos horários das escolas dos filhos delas e, então, criou um programabet7k logo pngformação que deu certo: muitas dessas mulheres foram,bet7k logo pngfato, trabalhar na construção civil depois.

bet7k logo png BBC News Brasil - Mas como funcionariabet7k logo pngcidades onde há menos vagas no mercadobet7k logo pngtrabalho do que a oferta localbet7k logo pngmãobet7k logo pngobra?

bet7k logo png Machado - Esse casamento vai ser fácilbet7k logo pngalguns lugares, mas difícilbet7k logo pngoutros. Alguns lugares não terão ofertabet7k logo pngemprego e, neles, será necessário fazer arranjos produtivos locais.

O mel produzido na zona rural do Piauí é um exemplo. O governo resolveu ajudar um conjuntobet7k logo pngfamílias pobres que produziam melbet7k logo pnguma área rural do Estado fortalecendo suas cadeias produtivas e ofertando meios delas finalizarem o produto.

Daí se estabeleceu um arranjo produtivo por meiobet7k logo pnguma cooperativa capazbet7k logo pngfortalecer a marca do mel, certificar abet7k logo pngqualidade, vendê-lobet7k logo pnglocais com mais demanda. No final, ele se valorizou. Hoje, tem uma embalagem, uma marca, um marketing e ele é vendidobet7k logo pnglocais onde o preço é mais alto.

Veja bem: para aquelas famílias, o ofício é o mesmo, mas, agora, a comercialização está fortalecida. Isso demonstra a importância desse projeto acontecer da família para fora e não o contrário.

Tem ainda o exemplo do Rio Grande do Sul, onde uma sériebet7k logo pngprodutoresbet7k logo pngazeite entroubet7k logo pngum programa chamado Pró-Oliva — que hoje está até presente na lei gaúcha.

Era um produto comercializado por preços abaixo das marcas comuns do mercado. Daí o governo o colocou para competir no exterior, ganhou um montebet7k logo pngprêmios, e ele começou a ser vendidobet7k logo pnguma lojinhabet7k logo pngGramado com o selo dos reconhecimentos. Pronto: aquelas famílias pobres passaram a vender o azeite pelo triplo do preço anterior e saíram da condiçãobet7k logo pngpobrezabet7k logo pngque estavam.

Todos esses exemplos são importantes para entender a ideia: as mulheresbet7k logo pngMinas precisaram se adequar a um novo ofício, na construção civil, enquanto os produtores pobres que faziam mel no Piauí ou azeite no Rio Grande do Sul mudarambet7k logo pngsituação por meio da comercialização do produto deles.

São demandas diferentes, mas que funcionaram. Veja: a lógica do projeto é semelhante à do médico que fala com o paciente, identifica o problema e monta um tratamento individual para ele.

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Legenda da foto, Especialista cita produçãobet7k logo pngmel na zona rural do Piauí como um bom exemplo

bet7k logo png BBC News Brasil - Mas nem todas essas pessoas estão produzindo algo. Além disso, há uma sériebet7k logo pngcríticas à ideia do empreendedorismo. Como vocês observam isso dentro desse escopo?

bet7k logo png Machado - Nesses exemplos que dei, ofertar cursosbet7k logo pngempreendedorismo — o que é muito comum, aliás — não iria resolver o problema. É entender que empreender é uma ótima ideia, mas que não serve para todos.

Isso reforça como tudo começa identificando a vocação das famílias e fazendo o casamento dela com o território, que também tem suas vocações. Se acontecer, ótimo.

Não dá para achar que existe um único remédio para todas as doenças — neste caso, que todos os pobres nessa situação querem só empreender. É um canal que precisa estar aberto e, que, para mim, parece até atrativo.

Tem dados qualitativos que mostram até uma empolgação das famílias com o empreendedorismo, apesarbet7k logo pngcerto medo com a aposentadoria.

bet7k logo png BBC News Brasil - Como lidar com a possibilidade do emprego que surgir desse casamento entre vocações terminar colocando a pessoabet7k logo pnguma situaçãobet7k logo pngprecariedade?

bet7k logo png Machado - Temos legislações e órgãosbet7k logo pngcontrole que acompanham isso. Mas, se a gente olhar, essa não é uma realidade apenas dos 10% mais pobres, masbet7k logo png40% da forçabet7k logo pngtrabalho que está no mercado informal. Todas essas pessoas estão mais suscetíveis a serem precarizadas do que os trabalhadores formais.

Claro que seria preciso um esforço ainda maior para checar as situações às quais as pessoas do projeto estariam sujeitas depoisbet7k logo pngempregadas, mas há uma sériebet7k logo pngnormas, canaisbet7k logo pngdenúncia, um sistema judiciário com condiçõesbet7k logo pngaveriguar, ainda que não com tanta rapidez.

Sem contar, novamente, a importância do agentebet7k logo pngdesenvolvimento socialbet7k logo pngentender a vocação da família, ajudá-la a se alocar no mercado e fazer uma boa intermediação daquela mãobet7k logo pngobra, para que aquelas pessoas acessem os setores produtivosbet7k logo pngforma digna.

bet7k logo png BBC News Brasil - E o desafio da rotatividade? O mercadobet7k logo pngtrabalho brasileiro, principalmente empregosbet7k logo pngsalários mais baixos, tem uma alta circulaçãobet7k logo pngtrabalhadores pelas vagas. Como seria no caso dos mais pobres?

bet7k logo png Machado - Há algum tempo,bet7k logo pnguma conversa com o Martín Burt [presidente da Fundación Paraguaya], que foi prefeitobet7k logo pngAssunção, no Paraguai, ele me disse algo que não esqueci: qualquer programabet7k logo pngsuperaçãobet7k logo pngpobreza não vai resolver todos os problemas das pessoas mais pobres, mas vai tirá-las daquela situação e jogá-las no mundo dos problemas comuns das “classes médias”.

Esse é um bom exemplo: a rotatividade também é um desafio que assola toda a forçabet7k logo pngtrabalho brasileira. Uma vez incluídasbet7k logo pngum mundo onde têm renda, essas pessoas ainda estarão sujeitas a problemasbet7k logo pngtodos nós — baixas atualizações salariais, alta rotatividade, a possibilidadebet7k logo pngser demitido e ter que encontrar outra vaga, etc. Tudo como partebet7k logo pngum mundo novo. Elas vão precisar ser acompanhadas e orientadas para lidar com questões com essas.

Em um momentobet7k logo pngcrescimento econômico como obet7k logo pngagora, o fundamental é que a intermediaçãobet7k logo pngmãobet7k logo pngobra seja bem realizada, um prestadorbet7k logo pngserviço fortalecido que conheça as vagas existentes no lugar, saiba quem está buscando por trabalho e consiga fazer esse match acontecer.

bet7k logo png BBC News Brasil - É que, no caso desses mais pobres, se eles perdem o trabalho, voltam para aquela condiçãobet7k logo pngpobreza extremabet7k logo pngantes. Podem até ficar sem o Bolsa Família.

bet7k logo png Machado - Isso pode acontecer com todo mundo. Você está trabalhando, daí perde o emprego e caibet7k logo pnguma situação extrema. Precisa se adequar e voltar [ao mercadobet7k logo pngtrabalho]. A pobreza é cíclica: ela roda, trocabet7k logo pnglugar, novos bolsões nascem, outros terminam... É difícil que isso seja absolutamente erradicado.

Qualquer políticabet7k logo pngsuperação da pobreza deve ficar monitorando, readequando, reinserindo constantemente as pessoas. Não se tratabet7k logo pnguma políticabet7k logo pngdesenvolvimento econômico, que faz o país crescer e produzir, masbet7k logo pngum serviço que acopla os mais pobresbet7k logo pngvolta ao mercadobet7k logo pngtrabalho. Essa dinâmica precisa ser permanente.

Crédito, Marcelo Camargo/Agência Brasil

Legenda da foto, Raquel Lima Clemente, ex-beneficiária do Bolsa Família, durante cerimônia comemorativa dos 20 anosbet7k logo pngcriação do programa,bet7k logo png2023

bet7k logo png BBC News Brasil - Pensando ainda no contextobet7k logo pnginformalidade, dá para saber que atividade laboral essas pessoas têm hoje?

bet7k logo png Machado - Se uma pessoa no Bolsa Família tem atividade com renda acima da linha do programa, perde o benefício. Então, não dá para saber. Pode ser que a maioria delas não esteja trabalhando absolutamente ou que parte delas esteja fazendo algo não declarado. Provavelmente as duas coisas estejam acontecendo, mas não sabemos o tamanho disso.

bet7k logo png BBC News Brasil - É difícil mapear?

bet7k logo png Machado - É que o “imposto” que existe para a família que declara corretamente é muito alto. Em vezbet7k logo pngpremiar as pessoas porque elas conseguiram um emprego, o país apenas retira o recurso.

bet7k logo png BBC News Brasil - O que falta para essa ideia sair do papel?

bet7k logo png Machado - Ela precisa ser uma política pública sem necessariamente ter execução governamental. É curioso que a gente já tenha tido algo assim: o Brasil Sem Miséria, criado no governo da presidente Dilma Rousseff. Ela quis, desenhou, escreveu, tem um livro enorme já pronto. É só pegá-lo, atualizá-lo — porque o mundo mudoubet7k logo pnglá para cá — e fazê-lo funcionar outra vez. Precisa decidir fazer.

bet7k logo png BBC News Brasil - E por que o Brasil Sem Miséria não deu certo?

bet7k logo png Machado - O desenho dele era muito bom, mas sumiu do mapabet7k logo png2016, depois que a Dilma deixou o cargo. Não sabemos muito bem o motivo — e tampouco porque ele não volta. Eu realmente não sei por que esse governo não faz, já que foi do [partido do] presidente atual que saiu o programa.

bet7k logo png BBC News Brasil - Se não é uma execução governamental, quem poderia fazê-lo acontecer?

bet7k logo png Machado - No nosso desenho, o agentebet7k logo pngdesenvolvimento da família chegaria com a demanda da mesma forma que o médico: “o diagnóstico é esse e o paciente precisa disso”. Aí precisaríamosbet7k logo pngum "hospital" para atendê-las. Ali estaria a intermediação da mãobet7k logo pngobra,bet7k logo pngque o setor privado atua melhor do que o Estado. Precisaríamosbet7k logo pngprogramasbet7k logo pngqualificação profissional que, da mesma forma, o mercado privado tem melhores.

Vamos precisar tambémbet7k logo pngum sistemabet7k logo pngsaúde — e daí já temos o SUS. Temos ainda a necessidadebet7k logo pngeducação técnica, que o Centro Paula Souza,bet7k logo pngSão Paulo, oferece, por exemplo. Seria um portfólio com todos os motivos pelos quais aquelas famílias estão excluídas do mercado. Comercialização, intermediaçãobet7k logo pngmãobet7k logo pngobra, problemasbet7k logo pngsaúde, qualificação profissional, creche para quem tem filhos...

Enfim, é tarefa para todo mundo. É por isso que se tratabet7k logo pngum grande programabet7k logo pngarticulaçãobet7k logo pngpolíticas que, aí sim, deve ser feito pelo poder público. Mas ele não precisa executar. Tem coisas que o setor privado é mais ágil.

bet7k logo png BBC News Brasil - Você apontava alguns problemas no Bolsa Família. Quais ajustes precisam ser feitos no programa?

bet7k logo png Machado - O Bolsa Família é o responsável pelas grandes reduçõesbet7k logo pngpobreza do país. É a coroa brasileira, nosso maior instrumentobet7k logo pngpolítica social, mas que não pode ser blindadobet7k logo pngmudanças necessárias. O desenho per capita do benefício, por exemplo, era infinitamente melhor, porque incentivava as famílias a declararembet7k logo pngrenda corretamente.

Sem contar que, do jeito que está, por exemplo, um casal sem filhos tem uma renda per capitabet7k logo pngR$ 300, enquanto quem tem um único filho possui renda per capita menor,bet7k logo pngR$ 250. Isso é injusto. Não tem nenhum benefício para a primeira infância. Pior ainda: se o casal sem filhos se declarar como casal, ganhará o valorbet7k logo pngR$ 600, mas, se cada um se declarar sozinho — e dá para fazer isso —, então cada adulto receberá R$ 600.

bet7k logo png BBC News Brasil - Dobra o valor dentro da mesma casa. Isso está acontecendo?

bet7k logo png Machado - Sim. Antes o beneficiário declarava abet7k logo pngfamília e o programa dividia o númerobet7k logo pngmembros dela pelo valor transferido. Um casal, por exemplo, recebia duas vezes o valor dessa divisão. Se fosse uma pessoa só, receberia o montante individual a partir desse mesmo cálculo.

Ou seja: dava na mesma se declarar como família ou individualmente. As pessoas, então, declaravam corretamente. Hoje o Bolsa Família incentiva que se declare errado — e, como é consenso na economia, as pessoas respondem a incentivos.

É por isso que o desenho do programa precisa voltar a ser per capita. Se a declaração está errada, então, todas as tarifas sociais embutidas no Cadastro Único, o [programa] Pé-de-Meia, o Minha Casa, Minha Vida, tudo também está errado. Nós gostaríamos mesmo que o Bolsa Família fosse grande, que a redebet7k logo pngproteção dele fosse alta. Isso não é ruim. Ele só precisa voltar a ser per capita e ter um desenhobet7k logo pngtransição que incentive as pessoas a trabalharem.

bet7k logo png BBC News Brasil - Sem uma inclusão produtiva efetiva e com esses problemas atuais do Bolsa Família, o que pode se esperar do futuro?

bet7k logo png Machado - Nesses últimos 20 anos,aconteceram duas coisas importantesbet7k logo pngobservar. Uma é que a população mais pobre foi totalmente excluída do mercadobet7k logo pngtrabalho. A outra é que,bet7k logo pngparalelo, cresceu a discussão sobre a primeira infância, e mais especificamente sobre como cuidar dos filhos dessas famíliasbet7k logo pngsituação vulnerável. Isso não existia antes.

A nossa perspectiva é que, se os programasbet7k logo pngprimeira infância funcionarem bem agora, as crianças terão um futuro. Os pais nós não sabemos, porque é difícil cuidarbet7k logo pnguma criança com os cuidadoresbet7k logo pngdesalento, mas já será uma criação diferente daquela do passado.

Eu costumo ser otimista. Acho que é só a gente decidir fazer que, então, engatamos as coisas e revertemos a situação atual. Por ora, infelizmente, ainda não aconteceu.