A 'tempestade perfeita' que explica explosãosimples bet appcasossimples bet appdengue no Brasil:simples bet app
Mas o que explica esse cenáriosimples bet app2024?
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Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, uma "tempestade perfeita" — que engloba mudanças climáticas, fenômenos meteorológicos, subtipossimples bet appvírus e falhassimples bet apppolíticas públicas — ajuda a entender a epidemia atual.
De acordo comsimples bet appavaliação, é necessário lançar um conjuntosimples bet appestratégias para mitigar os riscos e evitar que os números continuem elevados — ou sejam ainda pioressimples bet app2025simples bet appdiante.
Um vírussimples bet appdiferentes faces
Para entender os desafiossimples bet applidar com a dengue, é preciso antes conhecer alguns detalhes sobre o vírus por trás dessa doença.
O patógeno tem quatro versões diferentes, que são conhecidas pelas siglas Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4.
Na prática, isso significa que uma mesma pessoa pode ter dengue quatro vezes na vida.
Ela pode ser picada por um Aedes aegypti que carrega o Denv-1, por exemplo — e, após a recuperação, ficar imune contra esse subtipo específico do vírus.
Mas, caso seja picada por um mosquito que carrega o Denv-2, o Denv-3 ou o Denv-4, pode desenvolver a doença uma segunda vez (e uma terceira ou quarta).
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Essa característica da dengue cria uma dinâmica específicasimples bet apptransmissão, cujos padrões se repetem mais ou menos a cada cinco anos.
É frequente que uma determinada região ou cidade seja acometida por um subtipo específico do vírus durante uma ou algumas temporadassimples bet appcalor.
Passado um tempo, quando a maior parte da população já foi infectada — e, portanto, está protegida contra aquele subtipo —, os casos tendem a baixar por uma espéciesimples bet appimunidade coletiva — até que outra versão se dissemine e dê início a um novo ciclosimples bet apptransmissão.
Esse tiposimples bet appfenômeno parece ter ocorrido no último verão.
"Tudo sugere que houve uma inversão dos vírus circulantes nas cidades que são, historicamente, atingidas pela dengue, como Riosimples bet appJaneiro e São Paulo", resume o pesquisadorsimples bet appsaúde pública Leonardo Bastos, da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), que coordena o InfoDengue, uma plataforma pública que reúne estatísticas e análises sobre a doença no país.
"Em lugaressimples bet appque antes predominava o Denv-1, o Denv-2 passou a circular com mais intensidade, ou vice-versa."
Ao mesmo tempo, houve um aumento da circulação do Denv-3 e do Denv-4, que não apareciam com grande intensidade no Brasil há décadas, acrescenta a infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadualsimples bet appCampinas (Unicamp).
Ou seja: esse rearranjosimples bet appversões virais, que pegam uma grande parcela da população desprotegida e sem imunidade, é o primeiro ingrediente que ajuda a entender a atual situação sanitária.
Mas não é suficiente para explicar todo o cenário.
Um mosquito que ganha terreno
O segundo elemento da lista envolve uma espéciesimples bet appexpansãosimples bet appterritório do Aedes aegypti.
Em artigosimples bet apprevisão publicadosimples bet app14simples bet appmarço no periódico acadêmico Nature Reviews Microbiology, o virologista brasileiro William M.simples bet appSouza, professor da Universidade do Kentucky, nos Estados Unidos, resumiu os efeitos das mudanças climáticas e das atividades humanas nas doenças transmitidas por vetores (como é o caso da dengue).
"Primeiro, precisamos destacar a mudança demográfica. As pessoas moram cada vez maissimples bet appáreas urbanas, e o Aedes é um mosquito que vive nas cidades", destaca Souza.
"Ou seja, com um número maiorsimples bet appindivíduos concentradossimples bet appum espaço pequeno, há uma chance ampliadasimples bet appo mosquito conseguir transmitir mais e mais."
Soma-se a isso o fatosimples bet appa expansão das cidades brasileiras acontecer na maioria das vezessimples bet appuma forma desordenada e desigual, sem saneamento básico ou coletasimples bet applixo.
Isso, porsimples bet appvez, também representa uma boa notícia para o mosquito, que encontra um vasto númerosimples bet appreservatóriossimples bet appágua parada para botar os ovos, se reproduzir e perpetuar os ciclossimples bet apptransmissão e infecção.
"A especulação imobiliária diminui áreassimples bet appmata e aumenta os criadouros do Aedes em regiões domésticas e urbanas", resume Stucchi, que também integra a Sociedade Brasileirasimples bet appInfectologia.
Para piorar, todo esse fenômeno é catapultado no Brasil e no mundo pelas mudanças climáticas, que geram aumento da temperatura média e alterações nos regimessimples bet appchuvas.
"Historicamente, as zonas temperadas do planeta, como partes dos Estados Unidos e Europa, não tinham a circulaçãosimples bet appvetores transmissoressimples bet appdoenças. Eles ficavam restritos às regiões tropicais", explica Souza.
Mas isso mudou recentemente: o Aedes foi flagradosimples bet apppartes dos Estados Unidos, como a Flórida, e na região do Mediterrâneo, como na Itália e França.
"No Brasil, os Estados do Sul não sofriam com surtos ou epidemiassimples bet appdengue. Mas as mudanças climáticas geraram condições favoráveis para o mosquito nesta região", destaca Bastos, da FioCruz.
"Com toda uma população vulnerável à dengue, os casos explodiram ali nos últimos anos."
Além das mudanças climáticas, o verãosimples bet app2023/2024 teve outro agravante: um El Niño muito intenso.
O fenômeno meteorológico relacionado às águas do Oceano Pacífico fez os termômetros subirem ainda mais e alterou o regimesimples bet appchuvas nos últimos meses.
Como o calor deixa os Aedes mais ativos, isso potencializasimples bet appreprodução.
Neste contexto, a questão da chuva é uma facasimples bet appdois gumes.
Por um lado, pancadas d’água frequentes criam novos criadouros para o mosquito. Por outro, secas estimulam que as pessoas mantenhamsimples bet appcasa reservatóriossimples bet appágua, muitos deles sem nenhuma proteção.
"Juntos, todos esses fatores criaram uma tempestade perfeita que leva ao panorama atual da dengue", diz Bastos.
O especialista destaca que as curvassimples bet appcasossimples bet appdenguesimples bet appalguns Estados brasileiros durante o verão foi diferente do esperado.
Geralmente, os diagnósticos começam a subir entre o finalsimples bet appfevereiro e o começosimples bet appmarço, quando as chuvas ficam mais frequentes e intensas.
Mas,simples bet applugares como São Paulo, Riosimples bet appJaneiro e Distrito Federal, as infecções começaram a se multiplicar a partir do finalsimples bet appdezembro, com um pico no meiosimples bet appfevereiro.
"Já o Nordeste, que não sofreu tanto os efeitos do El Niño, não apresentou essa curva. Os casos estão elevados por lá, mas estão crescendo agora, como o esperado", acrescenta o pesquisador da FioCruz.
Onde erramos e como podemos melhorar
Questionados pela BBC News Brasil sobre o que fazer agora para lidar com surtos e epidemiassimples bet appdengue no futuro, os especialistas são unânimessimples bet appafirmar que não existe uma "balasimples bet appprata" para resolver a questão.
"Já passamos do pontosimples bet appque seria possível reduzir o impacto da dengue. Agora, temos que mitigar o problema ou agir para que a situação piore o mínimo possível", analisa Souza.
Segundo os pesquisadores, os surtos frequentes e os números crescentessimples bet appcasos indicam que as campanhassimples bet appconscientização sobre a dengue não estão funcionando.
Eliminar os pratinhos dos vasossimples bet appplanta, limpar as calhas do telhado entupidas e tampar caixas d’água são atitudes importantíssimas para evitar criadouros do Aedes.
Porém, por mais que essa recomendação seja reforçada há anos, não está surtindo os resultados esperados, uma vez que o mosquito continua a assombrar, com cada vez mais intensidade, as temporadassimples bet appcalor.
"Nossa comunicação sobre as doenças infecciosas no geral nunca foi boa e tem deixado a desejar", opina Bastos.
Em paralelo às campanhas públicas, as estratégiassimples bet appcontrole do transmissor ganharam novas ferramentas.
Uma delas é o Método Wolbachia, que libera mosquitos Aedes com uma bactéria no intestino capazsimples bet appbloquear a transmissão do vírus da dengue para as pessoas.
Já o tradicional fumacê, que joga inseticidassimples bet appuma determinada região, tem se tornado ineficaz, apontam os especialistas.
Isso porque os mosquitos desenvolveram uma resistência ao veneno — e as substâncias químicas utilizadas podem ser danosas a outras espécies, como algumas abelhas.
Para evitar surtos e epidemias devastadores no futuro, Souza vê a necessidadesimples bet appum planejamentosimples bet applongo prazo.
"Sabemos que os casos aumentam nos meses mais quentes, entre dezembro e março. Mas as estratégiassimples bet appcontrole e prevenção devem acontecer o ano todo, até porque os ovos do mosquito permanecem no ambiente", explica ele.
Já Bastos entende que o Brasil precisa melhorar a vigilância genética sobre o vírus causador da doença.
"Poderíamos monitorar os subtipossimples bet appvírus que estão circulando para saber se há alguma modificação na dinâmica e o que pode ser feito a partir daí", resume ele.
Já Stucchi acredita que é preciso mudar como organizamos as cidades — desde o manejosimples bet applixos e do saneamento básico até a construção civil.
"Para evitar outros surtos não apenassimples bet appdengue, mas tambémsimples bet appchikungunya, febre amarela e outras viroses, precisamos olhar com mais cuidado a exploração imobiliáriasimples bet appáreas florestais", diz a infectologista.
"O poder público também precisa investirsimples bet appeducação, alémsimples bet appvistoriar e agir nos terrenos abandonados, na coletasimples bet applixo e na eliminaçãosimples bet appesgotos a céu aberto."
Uma novidade recente nesse campo foi a aprovação da Qdenga, uma vacina desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda.
Ela foi incorporada no Programa Nacionalsimples bet appImunizações (PNI) do Ministério da Saúde — porém, por uma restriçãosimples bet appdoses, a campanhasimples bet appimunização atual inclui apenas grupos específicossimples bet appcidades selecionadas.
"Além disso, a vacina só pode ser aplicadasimples bet apppessoassimples bet app4 a 60 anos. Por ora, não há indicaçãosimples bet appuso justamente para aqueles públicos que têm uma taxasimples bet appmortalidade maior pela dengue, como as crianças pequenas e os idosos", observa Stucchi.
"Precisamossimples bet appvacinas efetivas e seguras que cubram as faixas etárias mais acometidas."
A médica também reforça a necessidadesimples bet appdesenvolver remédios específicos contra a dengue — até o momento, o tratamento envolve apenas aliviar os sintomas, repousar e caprichar na hidratação.
"A dengue sempre afetou mais os países subdesenvolvidos ousimples bet appdesenvolvimento. Agora que ela começa a aparecer na França, Itália e Estados Unidos, é possível que tenhamos mais investimentos para o desenvolvimentosimples bet appdrogas antivirais. Pelo menos, é a nossa esperança."