PCC não quer se infiltrar na política, quer fazer lobby para influenciar as decisões, diz autorquero jogar jogolivro sobre facção:quero jogar jogo

Marco Camacho, o Marcola, apontado como líder do PCC, sendo conduzido por policiaisquero jogar jogofotoquero jogar jogojaneiroquero jogar jogo2020

Crédito, AFP

Legenda da foto, 'As pessoas pensam que há uma infiltração do PCC na política. A estratégia do PCC não é essa', diz o sociólogo Gabriel Feltran, autorquero jogar jogoIrmãos: Uma história do PCC. Na foto, Marco Camacho, o Marcola, apontado como líder da facção

No Rioquero jogar jogoJaneiro, o Tribunal Regional Eleitoral anunciou a mudançaquero jogar jogoendereçoquero jogar jogomaisquero jogar jogo90 seções eleitorais, numa tentativaquero jogar jogoreduzir a influênciaquero jogar jogotraficantes e milicianos sobre o voto.

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Com as maiores taxasquero jogar jogohomicídio do país na última década, Norte e Nordeste enfrentam o avanço das facções criminosas nacionais (como PCC, mas também o Comando Vermelho) para essas regiões, o que vem junto com a influência política desses grupos sobre as administrações locais.

"Quando as economias ilegais crescem muito, elas vão funcionar como qualquer outra economia capitalista, vão botar o Estado para ser o seu balcãoquero jogar jogonegócios", diz Gabriel Feltran, diretorquero jogar jogopesquisa do Centro Nacionalquero jogar jogoPesquisa Científica (CNRS, na siglaquero jogar jogofrancês) e professor do Institutoquero jogar jogoEstudos Políticosquero jogar jogoParis (Sciences Po),quero jogar jogoentrevista à BBC News Brasil.

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Uma toneladaquero jogar jogococaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês

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Um dos principais pesquisadores do crime organizado no país, o sociólogo é autorquero jogar jogoIrmãos: Uma história do PCC (Cia. das Letras, 2018), entre outros livros dedicados ao tema.

Com basequero jogar jogoseus estudos, Feltran avalia que a principal formaquero jogar jogoinfluência do crime organizado na política brasileira hoje não é pela infiltraçãoquero jogar jogocandidatos ligados aos grupos criminosos na corrida eleitoral, mas pela atuação junto ao poder político para obter vantagens econômicas.

"Trata-se basicamente da influênciaquero jogar jogoempresários sobre políticos", afirma o sociólogo. "Não é porque os caras são criminosos e estão se infiltrando na política. É porque eles são empresários e estão fazendo o que todo empresário faz."

Feltran vê como equivocadas as notícias recentes, baseadasquero jogar jogoinvestigação da polícia civil,quero jogar jogoque o PCC teria criado um banco para financiar candidaturas.

"São poucas as pessoas que entendem o que está acontecendo. A grande maioria faz esse tipoquero jogar jogoraciocínio, que é o raciocínio da Lava Jato", diz o pesquisador, fazendo um paralelo com a operação da Polícia Federal que investigou esquemaquero jogar jogocorrupção na Petrobras.

"As pessoas pensam que há uma infiltração do PCC na política. A estratégia do PCC não é essa", afirma.

"A estratégia do PCC não équero jogar jogouma organização revolucionária que quer tomar o Estado e comandá-lo. Tampouco é a estratégia do Pablo Escobar,quero jogar jogosubjugar o Estado militarmente, matar juiz, matar promotor, peitar todo mundo, colocando o Estado pra trabalhar para ele."

"A estratégia do PCC não é nem uma, nem outra, é muito mais poderosa do que essas duas."

À BBC News Brasil, Feltran falou ainda sobre os desafios para novos prefeitos diante das evidências da participaçãoquero jogar jogofacções criminosasquero jogar jogolicitações municipais; do poder das milícias sobre o voto; do que ele considera uma "autonomização" do poder policial com relação às elites brasileiras; e do avanço das facções para o Norte e Nordeste e o efeito disso para as eleições deste ano.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Gabriel Feltranquero jogar jogobraços cruzados e olhando para a câmera,quero jogar jogofrente a um muro com pichações

Crédito, João Moura/Divulgação

Legenda da foto, 'Não é porque os caras são criminosos e estão se infiltrando na política. É porque eles são empresários e estão fazendo o que todo empresário faz', diz Feltran

quero jogar jogo BBC News Brasil - Pesquisa DataFolha divulgada na segunda-feira (2/9) mostrou que 14% dos brasileiros percebem a presençaquero jogar jogofacções criminosas ou milícias nas suas vizinhanças. Em capitais, esse percentual chega a 20%. Diante desse quadro, como a presença do crime organizado influencia as eleições municipais?

quero jogar jogo Gabriel Feltran - Eu repito isso a cada nova eleição, então não é uma coisa nova no meu jeitoquero jogar jogopensar, acho que o que está mudando muito é a escala dessa presença.

Trata-se basicamente da influênciaquero jogar jogoempresários sobre políticos. Empresários dos mercados legais e ilegais usamquero jogar jogoinfluência, fazem pressão, fazem acordos com políticos que podem favorecê-los economicamente, sobretudo. Lobby.

Então, na minha leitura, não é porque os caras são criminosos e estão se infiltrando na política. É porque eles são empresários e estão fazendo o que todo empresário faz, que é influenciar o sistema político, a tomadaquero jogar jogodecisão política.

Eu vejo o PCC, há muitos anos, como uma sociedade secretaquero jogar jogoempresários.

Trata-sequero jogar jogouma fraternidadequero jogar jogoempresários criminais, muito desigual internamente do pontoquero jogar jogovista econômico, então há pequenos [empresários], médios, grandes, gigantescos. E a organização ajuda esses empreendedores a se fortalecerem.

quero jogar jogo BBC News Brasil - O senhor pode dar um exemplo?

quero jogar jogo Feltran - Por exemplo, um empresário que tenha 15 revendasquero jogar jogocarro na cidadequero jogar jogoSão Paulo. A legislaçãoquero jogar jogoleilões, que é onde ele vai comprar os carros, é uma legislação que interessa para ele. Então ele vai precisarquero jogar jogovereador,quero jogar jogodeputado, para votar a lei que mais favorece o negócio dele.

Isso é uma coisa reconhecida, considerada sem nenhum problema. Os empresários gostamquero jogar jogopressionar para fazerem leis boas para eles, para o negócio deles.

A única diferença é que esse cara que a gente está falando agora, tem um montequero jogar jogocarro ilegal que ele vende também. No meio dos carros legais dele, tem um montequero jogar jogocarro roubado, por isso ele consegue oferecer os carros a um preço menor e o negócio dele é muito competitivo.

Então, se uma legislação interessa, ele vai buscar influenciar o poder político para aprovar.

Uma licitação pode ter interesse para ele, por exemplo, para fazer a manutençãoquero jogar jogocarros da prefeitura. Então ele vai pressionar, vai pagar a candidaturaquero jogar jogopessoas a quem ele tenha acesso e contato para ganhar essa licitação.

Então é por aí que esse negócio acontece. Não é porque o cara é criminoso, é porque o cara é empresário.

quero jogar jogo BBC News Brasil - Mas isso se dá no nível individual ou da organização?

quero jogar jogo Feltran - Os empresários autônomos têm os seus contatos, mas, falando do PCC especificamente, tem um segundo ponto. No PCC, existem coordenações para favorecer esses negócios para os empresários, que são as chamadas sintonias.

Elas têm decisões estratégicasquero jogar jogocomo a organização vai priorizar o apoio aos seus empreendedores. Por exemplo, a Sintonia do Progresso [setor responsável pela logística da droga do PCC] vai favorecer uma regulação da cadeiaquero jogar jogovalor, digamos, da cocaína.

Então quer comprar a cocaína num preço bem baixo lá na Bolívia, na Colômbia, e entregar a preçoquero jogar jogocusto para o revendedor ou para o exportador no Estadoquero jogar jogoSão Paulo.

Então aí não estamos falando mais do empreendedor individual, estamos falando da estratégia organizacional, da estratégia da facção.

E a estratégia da facção também pode precisarquero jogar jogopolíticos – ter acesso a um político importante que tenha entrada no Portoquero jogar jogoSantos, que conheça o presidente do sindicato. Que depois pode ser alguém com quem se possa ter uma conversa para fazer um esquemaquero jogar jogocorrupção que facilite para todos os empreendedores do PCC que fazem negócio lá.

Nesse caso, estamos falando tambémquero jogar jogolobby empresarial, são interesses econômicos movendo a decisão política. É a mesma coisa, só que é tudo ilegal.

Então é assim que eu vejo. Quando as economias ilegais crescem muito, elas vão funcionar como qualquer outra economia capitalista, vão botar o Estado para ser o seu balcãoquero jogar jogonegócio.

Portoquero jogar jogoSantos visto do alto, com pilasquero jogar jogocontêineres e navio sendo carregado

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'Estamos falandoquero jogar jogolobby empresarial, são interesses econômicos movendo a decisão política. É a mesma coisa, só que ilegal', diz Feltran. Na foto, o Portoquero jogar jogoSantos, que se tornou ponto estratégico para o PCC

quero jogar jogo BBC News Brasil - Em 2020, o senhor disse numa entrevista que não viaquero jogar jogogrupos como PCC e CV o objetivoquero jogar jogoeleger deputados e prefeitos, como queriam Pablo Escobar ou Dom Corleone [mafioso fictício da trilogia cinematográfica quero jogar jogo O Poderoso Chefão quero jogar jogo ]. Mas, recentemente, uma investigação da polícia civil revelou que o PCC teria criado um banco para financiar campanhasquero jogar jogocandidatos. E uma reportagem do Globo tratouquero jogar jogocandidaturas ligadas a gruposquero jogar jogoextermínio, PCC e CV. Como o senhor vê essas notícias e isso muda aquelaquero jogar jogoopinião?

quero jogar jogo Feltran - Não, eu vejo essas notícias com muito mal feitas.

Eu li bastante essas [notícias] do banco e é bem a visão da polícia. Se tem uma pessoa que opera muito dinheiro, essa pessoa, para a polícia, é dona desse dinheiro.

Eles não fazem a diferença entre quem é trabalhador e quem é proprietário.

Então tem um montequero jogar jogogente lavando dinheiro numa conta, que eles chamamquero jogar jogo"contaquero jogar jogopassagem" ou "conta banco". E tem uma pessoa que está com o nome nessa conta.

Aí, dessa conta, sai dinheiro para financiar uma candidatura. Então eles consideram que essa conta – que tem milhões que passaram por ela,quero jogar jogocentenasquero jogar jogooperadores – é operada por aquela pessoa, que é dona daquele dinheiro e que, portanto, é um banco do PCC que vai financiar candidaturas. Errado, simplesmente.

quero jogar jogo BBC News Brasil - O senhor avalia então que é uma interpretação equivocada da polícia do funcionamento desse processoquero jogar jogolavagemquero jogar jogodinheiro?

quero jogar jogo Feltran - Exatamente. São poucas as pessoas que entendem bem o que está acontecendo. A grande maioria faz esse tipoquero jogar jogoraciocínio. Que é o raciocínio da Lava Jato, que é o mesmo raciocínioquero jogar jogosempre.

"Existe um crime, existe um criminoso, existe uma organização criminosa."

Você vai lembrar da Lava Jato. Existe um crime: estão desviando dinheiro na Petrobras. Existe um criminoso: esses caras ligados ao PT. Existe uma organização criminosa, que é o PT. E existe o chefe da organização criminosa, que é o Lula.

Então, toda a corrupção na Petrobras estava sendo coordenada pelo Lula, são aquelas setinhas do [ex-procurador da República e coordenar a força-tarefa da Lava Jato, Deltan] Dallagnol, apontando todas para o Lula.

Todo mundo pensa o PCC nesse mesmo modelo. Tudo o que acontece, vai ser o Marcola [Marco Willians Herbas Camacho, apontado como líder do PCC] que está por trás, coordenando.

Então essas manchetes [sobre o suposto banco do PCC] estão erradas, simplesmente.

Deltan Dallagnol, então coordenador da Lava Jatoquero jogar jogoCuritiba, exibindo diagrama que aponta Lula como centro do esquemaquero jogar jogocorrupção,quero jogar jogo2016

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Feltran faz um paralelo entre a interpretação que a Polícia Civil faz do funcionamento do PCC e a lógica dos investigadores da Lava Jato

Agora, voltando ao pontoquero jogar jogo2020. O que eu estava dizendo ali, e mantenho, é o seguinte. O Comando Vermelho tinha uma estratégia parecida com a das milícias, que é: eu domino um território e tudo o que acontece nesse território, sobre o qual sou soberano, me deve imposto, uma taxaquero jogar jogoextorsão.

Então o cara abre um bar numa favela do Rio que é CV, ou que équero jogar jogomilícia, ele tem que pagar a taxaquero jogar jogoextorsão. Esse é um modelo criminal que é muito frequente na América Latina.

Esse modelo vai fazer um tipoquero jogar jogopressão sobre a política, que é local. Se o meu problema é dominar Nova Iguaçu, por exemplo, os vereadoresquero jogar jogoNova Iguaçu, o prefeito, os secretários, esses são os agentes políticos importantes. É sobre eles que tenho que exercer ação política.

Por isso que tantos políticos morremquero jogar jogoNova Iguaçu, o problema é local.

A estratégia do PCC não é essa, nunca foi essa. O PCC não faz extorsão. O PCC faz regulaçãoquero jogar jogomercado e passa do varejo para o atacado. Ele quer controlar a cadeiaquero jogar jogovalorquero jogar jogocada um dos produtos que estão envolvidos nas suas atividades criminais.

quero jogar jogo BBC News Brasil - Mas que diferença isso fazquero jogar jogotermosquero jogar jogoação política?

quero jogar jogo Feltran - As pessoas pensam que tem uma infiltração do PCC na política. E láquero jogar jogo2020, eu estava dizendo: a estratégia do PCC não é essa. A estratégia do PCC não équero jogar jogouma organização revolucionária que quer tomar o Estado e comandar o Estado.

Tampouco é a estratégia do Pablo Escobar,quero jogar jogosubjugar o Estado militarmente, matar juiz, matar promotor, peitar todo mundo, colocando o Estado pra trabalhar pra ele, como foi feito na Colômbia.

O que eu estava dizendoquero jogar jogo2020 é que [a estratégia do PCC] não era nem uma, nem outra, e que era muito mais poderosa do que essas duas, na minha leitura.

Que é: regular as cadeiasquero jogar jogovalor, virar atacadista. Um conjuntoquero jogar jogograndes empresários, articulados entre si, e com influência políticaquero jogar jogolobby sobre o Estado.

Funciona, mais ou menos, como funciona a base econômica do Centrão.

Vamos supor, um produto agrícola, o maior exportadorquero jogar jogosoja do Brasil. Ele vai disputar as pequenas coisas no Congresso, a alíquota que vai ser recolhida no Mato Grosso, o quanto ele tem que pagarquero jogar jogocontribuição para o sindicatoquero jogar jogomotoristasquero jogar jogocaminhão, pequenas coisas que aumentam muito o seu lucro, e que não são pautas públicas. É assim que eu vejo o PCC atuando.

Um cartazquero jogar jogo"Proibido jogar lixo" assinado pelo Comando Vermelho, facção criminosa que controla a Cidadequero jogar jogoDeus, favela onde a foto foi tiradaquero jogar jogo2018

Crédito, AFP

Legenda da foto, Comando Vermelho tinha estratégia parecida com a das milícias: dominar um território e cobrar taxaquero jogar jogoextorsãoquero jogar jogotodos nesta região. Esse modelo está ligado a uma pressão sobre a política local, diz Feltran

quero jogar jogo BBC News Brasil - O PCC se tornou um dos temas centrais da eleição na cidadequero jogar jogoSão Paulo, com candidatos apontando supostas ligaçõesquero jogar jogo quero jogar jogo Pablo Marçal quero jogar jogo com o grupo. Já Marçal nega e diz que o PCC tomou o Estado, controlando usinasquero jogar jogoetanol, postosquero jogar jogogasolina, etc. Como o senhor vê essa centralidade da facção no debate eleitoral paulistano?

quero jogar jogo Feltran - Eu sou pesquisador, então vejo com muito interesse. Mas vejo também como algo esperado.

Para mim foi muito notável a presença dos grupos militares na eleição presidencialquero jogar jogo2018,quero jogar jogo2022.

Ficou extremamente nítido que os grupos militares, sejam policiais, sejam das Forças Armadas, estavam influenciando diretamente o processo eleitoral e os governos.

Para mim parece muito evidente que, nessas eleições municipais, a presençaquero jogar jogopoliciais, desse pessoal midiático do populismo penal, cresce muito, e é no plano municipal que isso se manifestaquero jogar jogouma maneira muito evidente.

Esses caras ocuparam uma parcela significativa da burocracia, eles controlam um montequero jogar jogorelações burocráticas dentro do Estado, mas eles controlam também muito o recurso na periferia com extorsão.

E eles controlam a segurança privada. Então eles têm três fontesquero jogar jogorecursos muito importantes e eles têm muita influência política.

Isso para mim salta aos olhos, e se debate muito pouco.

Eu não acho que o PCC é protagonista, ele pode ser protagonista no debate, mas não é protagonista no financiamento das campanhas. Vejo com muito mais protagonismo a presença da polícia politizada equero jogar jogogrupos militares e religiosos bancando candidatos, pressionando candidatos, fazendo candidatos avançarem.

Mas o PCC crescendo como cresce nos últimos 30 anos vai se tornando progressivamente um ator político mais importante, e vai influenciando.

Policiais da Polícia Militar do Estado do Rioquero jogar jogoJaneiro

Crédito, Tânia Rego/Agência Brasil

Legenda da foto, 'O PCC pode ser protagonista no debate [eleitoral], mas não é protagonista no financiamento das campanhas. Vejo com muito mais protagonismo a presença da polícia politizada equero jogar jogogrupos militares e religiosos', diz Feltran

quero jogar jogo BBC News Brasil - Esse ano também foi revelado que a Prefeituraquero jogar jogoSão Paulo fez negócios com empresasquero jogar jogoônibus ligadas ao PCC e uma investigação mostrou a infiltração da facçãoquero jogar jogoao menos 13 prefeituras do interior para fraudar licitações. Qual équero jogar jogofato a penetração das facçõesquero jogar jogonegócios para além do narcotráfico e que desafios isso coloca para os futuros prefeitos?

quero jogar jogo Feltran - Todas essas notícias que você mencionou são empresários que estão lutando por influência para ter licitações, para ter favorecimentos, e que estão misturando dinheiro legal e ilegal.

Então, veja, eu tenho empresasquero jogar jogoônibus. Maravilhoso. Agora, a minha empresaquero jogar jogoônibus vai ter mais lucro se eu injetar dinheiro da cocaína nela.

Eu tenho um montequero jogar jogohotéis. Lindo. Meu hotel tem dez pessoas, eu falo que tem 30, que tem 300.

Quem vai lá ver se tem ou não? E eu falo que essas 300 pagaram R$ 1 mil por dia para participarquero jogar jogoevento no hotel. Então aquelas 300 viram R$ 300 mil. Eu tinha R$ 300 milquero jogar jogocaixaquero jogar jogotráficoquero jogar jogodrogas,quero jogar jogorepente eu tenho R$ 300 milquero jogar jogoum evento. O dinheiro está lavado.

Então é a conexão entre dinheiro legal e ilegal que faz essas coisas funcionarem.

quero jogar jogo BBC News Brasil - E que desafios isso coloca para os futuros prefeitos?

quero jogar jogo Feltran - Das duas uma, ou ele resolve enfrentar, não ceder a esse interesse, e possivelmente cai, porque esses interesses e esses poderes são maiores que o dele.

Ou ele tolera e lida com eles. E deixa passar, e deixa conceder, e vai tocando.

Ônibus da Transunião, empresaquero jogar jogoônibus que atua zona lestequero jogar jogoSão Paulo, suspeitaquero jogar jogolavarquero jogar jogodinheiro para criminosos do PCC

Crédito, Reprodução/Facebook Transunião

Legenda da foto, Ônibus da Transunião, empresaquero jogar jogoônibus que atua na zona lestequero jogar jogoSão Paulo, suspeitaquero jogar jogolavarquero jogar jogodinheiro para criminosos do PCC

quero jogar jogo BBC News Brasil - Um quero jogar jogo estudo publicado pelo Observatório das Metrópoles da UFRJ quero jogar jogo mostrou que,quero jogar jogo2022, Jair Bolsonaro e [o governador do Rioquero jogar jogoJaneiro pelo PL] Cláudio Castro receberam votações mais altasquero jogar jogoáreas controladas por milícias na Região Metropolitana do Rioquero jogar jogoJaneiro, sugerindo uma correlação entre controle miliciano e apoio a candidatos conservadores. Como o senhor vê esse resultado e avalia que esse quadro se repetequero jogar jogooutros locais do país?

quero jogar jogo Feltran - Eu não concordo com a ideiaquero jogar jogoque [a correlação] é com conservadores, mas com [candidatos] ligados à polícia, que porquero jogar jogovez vai ser conservadora.

Mas essa passagem não é evidente para mim, porque é a rede clientelista que faz esse voto, que pode ter inclusive coerção violenta. Mas não é uma rede ideológica que faz esse voto.

quero jogar jogo BBC News Brasil - Então o senhor acredita que as pessoas que moramquero jogar jogoáreasquero jogar jogomilícia têm mais propensão a votarquero jogar jogocandidatos ligados à polícia?

quero jogar jogo Feltran - Eu acredito, porque a polícia é quem está por trás desse poder. A milícia é uma extensão do poder policial.

O que eu tenho teorizado é que a milícia está se autonomizando das elites. Esse é o ponto. As polícias se autonomizam das elites que sempre controlaram esses grupos.

Qual era a cadeiaquero jogar jogocomandoquero jogar jogoSão Paulo? Tem a elite, depois tem o governante ligado àquela elite, depois tem a polícia controlada por esse governante, depois tem o justiceiro controlado pela polícia.

A vida inteira, houve elites econômicas estabelecidas no Brasil controlando os grupos policiais.

O modelo clássico é o coronelismo: tem o coronel, que controla o seu jagunço. E o jagunço controla o escravo, o trabalhador. O coronel não precisa fazer esse controle.

Agora pensa issoquero jogar jogoescala social, você tem a elite econômica, o mundo militar policial, as classes trabalhadoras.

O Bolsonaro não é controlado por elite nenhuma, exceto pela elite militar propriamente. É isso que eu estou chamandoquero jogar jogoautonomização.

As elites não controlam mais a jagunçada policial que ocupou o Congresso.

Jair Bolsonaro, quando presidente, participandoquero jogar jogosolenidadequero jogar jogograduaçãoquero jogar jogosargentos da Força Aérea Brasileira,quero jogar jogo2022

Crédito, Marcelo Camargo/Agência Brasil

Legenda da foto, 'Bolsonaro não é controlado por elite nenhuma, exceto pela elite militar propriamente. É isso que eu estou chamandoquero jogar jogoautonomização', diz Feltran, que vê emancipação das forças militares com relação às elites nacionais

quero jogar jogo BBC News Brasil - Os últimos anos têm sido marcados pela expansão do crime organizado para as regiões Norte e Nordeste, com as duas regiões registrando as taxasquero jogar jogohomicídio mais altas do país, muito acima da média nacional. Como esse quadro pode impactar as eleições municipais nas duas regiões este ano?

quero jogar jogo Feltran - Esse movimentoquero jogar jogoexpansão das facções impacta o mercado ilegal local, e aqueles grupos locais que faziam sobretudo o tráficoquero jogar jogodrogas, mas também o tráficoquero jogar jogoarmas vinculado.

Que faziam essa jagunçagem – esse espectro da segurança local, extra legal, é impactado diretamente. E as facções começam a tomar esses espaços.

Então o problema não é só compreender a subida [da taxaquero jogar jogohomicídio] dos últimos anos nos Estados do Norte, mas compreender que ela está perfeitamente conectada com o que aconteceu no Sudeste antes. Trata-sequero jogar jogoum movimentoquero jogar jogoexpansão das facções que dura 30 anos hoje. E esse movimento chega lá.

Então, o que a gente está vendo é uma espéciequero jogar jogopassagemquero jogar jogohegemonia desses grupos armados locais, para grupos armados organizados nacionalmente.

PCC, CV, polícia militar. São essas grupos que controlam a criminalidade local pequenaquero jogar jogoum lado equero jogar jogooutro, fazendo seus acordos no nível local.

quero jogar jogo BBC News Brasil - E, nesse sentido, aquela mesma formaquero jogar jogoinfluência na política que esses grupos têm no Sudeste deve se replicar no Norte e Nordeste?

quero jogar jogo Feltran - Eu avalio que [a influência do crime organizado na política] é ainda mais fácil. Porque, no Sudeste, desde os anos 1950, foi construída uma espéciequero jogar jogointermediação burocrática entre o poder violento e a tomadaquero jogar jogodecisão estatal.

No Nordeste, essa camada burocrática não existe, ela é toda personalizadaquero jogar jogotorno do coronel, do clientelismoquero jogar jogofamílias. Então é muito mais simples na verdade, no Nordeste. Na Amazônia, então, nem se fala.

Não há um Estado burocrático construído que, matou ali, então vai ter investigação, vai ter esclarecimento desse homicídio, essa pessoa [que cometeu o crime] vai ser neutralizada. Matou ali, ou você mataquero jogar jogovolta, ou você perdeu, entendeu?

Pichaçõesquero jogar jogomuro no presídioquero jogar jogoAlcaçuz, no Rio Grande do Norte, durante rebeliãoquero jogar jogoduas unidades prisionais que deixou 26 mortosquero jogar jogo2017

Crédito, AFP

Legenda da foto, Pichaçõesquero jogar jogomuro no presídioquero jogar jogoAlcaçuz, no Rio Grande do Norte, durante rebeliãoquero jogar jogoduas unidades prisionais que deixou 26 mortosquero jogar jogo2017: expressão da disputa entre facções no Nordeste

quero jogar jogo BBC News Brasil - E o senhor vislumbra saídas possíveis para esse aumento do poder do crime organizado na política?

quero jogar jogo Feltran - Tem quatro pontos que seriam pilaresquero jogar jogoum modeloquero jogar jogosegurança progressista, ou democrático. Quatro coisas que a gente não faz, infelizmente não fará, mas eu falo mesmo assim.

Primeiro: esclarecimentoquero jogar jogohomicídios. Esclarecer homicídio é recuperar soberania. Quem define quem vive ou morre num território, é o Estado ou a facção? Ou é a milícia?

Hoje quem define quem vive ou morre é facção e milícia. Como o Estado pode mudar isso? Esclarecendo homicídio. Esse é um ponto central para qualquer políticaquero jogar jogosegurança do mundo.

Segundo: regulaçãoquero jogar jogomercados ilegais. Não precisa legalizar, para regular. O que foi feito no caso das peçasquero jogar jogocarro [em São Paulo, temaquero jogar jogoestudoquero jogar jogoFeltran equero jogar jogoreportagem da BBC] pode ser feito com droga, com contrabando, com tudo.

Terceiro: controle externo da atividade policial e da politização policial. Você não pode permitir, como o Brasil permite, que seus militares, seus policiais, sejam candidatos, façam discurso político, tenham partido, tenham ideologia, tenham lado. Não existe isso. Exceto no Brasil.

Então isso é fundamental. Você não pode deixar esses caras se autonomizarem, se você quiser ter um Estado soberano. Então o controle da corrupção policial, da politização policial é o terceiro pilar.

Quarto: tem que acabar com a política penitenciária que existe no Brasil, que é entregar a molecada na mão da facção.

Então são quatro coisas que, associadas, revertem o ciclo que hoje entrega a molecada e dinheiro na mão da facção equero jogar jogopolicial corrupto.

Isso algum dia vai ser feito no Brasil? Não creio. Mas é o que tinha que ser feito.