Como eleição é encaradawinspark é confiávelbairros marcados pela violência:winspark é confiável
winspark é confiável A violência costuma ser citadawinspark é confiávelpesquisas como uma das principais preocupações dos brasileiros.
Mas como o tema influencia as escolhas eleitoraiswinspark é confiávelmoradoreswinspark é confiávelfavelas dominadas pelo crime organizado, ouwinspark é confiávelbrasileiros que tiveram parentes mortoswinspark é confiáveloperações policiais?
Esse é o tema do sexto episódiowinspark é confiávelBrasil Partido, um podcast da BBC News Brasil, veiculado nesta quarta-feira (26/10) no site da BBC, no canal da emissora no YouTube ewinspark é confiávelplataformaswinspark é confiáveláudio como Spotify, Apple Podcasts e Deezer.
Apresentado pelo repórter João Fellet - e com a produção deste episódio a cargowinspark é confiávelTatiana Lima -, o podcast aborda como pessoaswinspark é confiáveldiferentes grupos sociais - como jovens evangélicas, executivos do mercado financeiro e brasileiros que se identificam como pardos - se posicionam diantewinspark é confiávelconflitos políticos atuais.
O podcast busca ainda entender como os brasileiros chegaram ao atual grauwinspark é confiáveldivisão na política e se há possibilidadewinspark é confiáveldiálogo entre grupos divergentes.
Pacificação efêmera
Em 2010, uma sériewinspark é confiáveloperações policiais marcou a história do Riowinspark é confiávelJaneiro.
A polícia e as Forças Armadas ocuparam favelas que eram dominadas há várias décadas pelo crime organizado. Daquela vez, as autoridades prometiam que os agenteswinspark é confiávelsegurança tinham chegado para ficar.
As operações abriram o caminho para a instalação das UPPs (Unidadeswinspark é confiávelPolícia Pacificadoras). A estratégia deu certo por um tempo. Na véspera da Copa do Mundowinspark é confiável2014 e da Olimpíadawinspark é confiável2016, favelas com famawinspark é confiávelviolentas chegaram a hospedar turistas estrangeiros.
Mas,winspark é confiávelpoucos anos, o crime organizado voltou a dominar os territórios.
"Disseram que estavam combatendo, mas, na verdade, eles estavam alimentando um novo modelowinspark é confiávelcrime", diz ao podcast Brasil Partido a artista plástica Mariluce Mariá, uma líder comunitáriawinspark é confiável40 anos que vive no Complexo do Alemão, uma das maiores favelas do Rio.
Ela diz que, nos últimos anos, os confrontos no Complexo do Alemão entre facções criminosos e a polícia têm se tornado mais violentos.
Antigamente, diz ela, os moradores conseguiam se abrigar quando a polícia subia o morro atráswinspark é confiáveltraficantes. Hoje, porém, ela afirma que os armamentos usados por policiais e traficantes são tão potentes que derrubam paredes.
"Em qualquer guerra existe o campowinspark é confiávelrefugiados", diz Mariá. "Nas favelas, não existem, a gente já tomou tiro do alto do helicóptero", ela afirma.
Desde 2021, aconteceram três das quatro operações policiais que causaram mais mortes na história do Rio - uma delas no próprio Complexo do Alemão,winspark é confiáveljulhowinspark é confiável2022, quando 17 pessoas morreram.
Entre as pessoas mortas estavam um policial militar e uma moradorawinspark é confiável50 anos atingida pela polícia.
Os outros 15 mortos, segundo a polícia, foram alvejados enquanto trocavam tiros com os agenteswinspark é confiávelsegurança. Mas a informação não pode ser confirmadawinspark é confiávelforma independente, já que, segundo a Defensoria Pública do Rio, a polícia não preservou os locais das mortes.
Maia reconhece que o crime organizado é parte desse confronto, mas diz que "quem me deve um exemplo e uma satisfação é (a) quem eu pago meus impostos (governo), então tem que cobrar deles mais trabalhowinspark é confiávelinteligência".
Visitawinspark é confiávelLula ao Alemão
O Complexo do Alemão, onde Mariá mora, ganhou os holofotes após uma visitawinspark é confiávelLula num atowinspark é confiávelcampanha,winspark é confiáveloutubro. Na visita, o ex-presidente vestiu um boné com a sigla CPX.
O presidente Jair Bolsonaro e várioswinspark é confiávelseus apoiadores passaram então a divulgar que a sigla CPX seria uma referência ao crime organizado. Também disseram que Lula só tinha conseguido visitar o Complexo do Alemão porque teria tido o aval do tráfico, segundo eles.
Mas CPX quer dizer "complexo", e essa é uma sigla usada por moradoreswinspark é confiávelvários outros complexoswinspark é confiávelfavelas do Rio.
Maia diz que ela foi uma das primeiras pessoas a usar a sigla nas redes sociais, para mapear casoswinspark é confiávelviolência na comunidade.
Ela diz que achou ofensiva a falawinspark é confiávelBolsonaro relacionando a visitawinspark é confiávelLula a uma suposta afinidade do ex-presidente com criminosos.
"Bandido temwinspark é confiáveltodo lugar: tem bandido armado, bandidowinspark é confiávelcaneta, e bandido só com palavra", afirma.
"Existem pessoas que matam mais gente com uma só palavra do que com qualquer outra coisa."
Mesmo assim, Maia diz que pretende anular o voto. Ela diz que Bolsonaro não promoveu melhorias para quem vivewinspark é confiávelfavelas nem na gestão da segurança pública.
Por outro lado, também é crítica às gestõeswinspark é confiávelLula e Dilma Rousseff e lembra que os dois, enquanto eram presidentes, ofereceram o apoio das Forças Armadas para operações nas favelas. Para ela, o uso da força só acirrou o problema, e governos deveriam apostar na inteligência policial e investimentoswinspark é confiáveleducação para combater a violência nas favelas.
Mariá lembra ainda que a deputada federal Benedita da Silva, uma das fundadoras do PT, era vice-governadora na gestão que levou os chamados "caveirões" para as favelas cariocas.
Caveirão é o nome popularwinspark é confiávelum veículo blindado usado pela Polícia do Rio - o apelido se deve ao símbolo do BOPE (Batalhãowinspark é confiávelOperações Especiais da PM fluminense) que o veículo exibe na lataria, uma faca fincada numa caveira.
Segundo Mariá, a chegada do caveirão ampliou a escala dos confrontos e deixou os moradores sob riscos ainda maiores.
Benedita era vicewinspark é confiávelAnthony Garotinho e chegou a assumir o governo por 9 meses,winspark é confiável2002, quando o governador deixou o posto para concorrer à Presidência.
Procurada pela BBC, ela não quis se pronunciar sobre as críticaswinspark é confiávelMariá nem sobre o uso do caveirão nas favelas.
Internet cortada
Maia vive uma rotinawinspark é confiávelinsegurança há décadas e está desiludida com a política, pois viu vários governantes entrarem e saírem sem que o problema se resolvesse.
Mas e cariocas que só começaram a viver essa situação recentemente?
A técnicawinspark é confiávelenfermagem Lucia Martins,winspark é confiável42 anos, narra ao podcast Brasil Partido como, há cercawinspark é confiávelum ano, a internet da Claro foi cortada no bairro Engenho da Rainha, na zona norte do Rio, onde ela mora.
Martins diz que, após entrarwinspark é confiávelcontato com a operadora na ocasião, foi informadawinspark é confiávelque técnicos da empresa não poderiam fazer a manutenção da rede por faltawinspark é confiávelsegurança.
Dias depois, a imprensa carioca noticiou que o tráficowinspark é confiáveldrogas estava por trás da ação. Hoje, moradores que queiram acessar a internet no bairro precisam recorrer a um serviçowinspark é confiávelmenor qualidade, oferecido por uma empresa desconhecida.
Essa é uma prática comumwinspark é confiávelbairros do Rio dominados pelo tráfico ou pela milícia, que têm nesses serviços alternativoswinspark é confiávelinternet uma fontewinspark é confiávelfinanciamento.
Martins diz que se surpreendeu com o corte da internet porque, embora essa seja uma prática comumwinspark é confiávelfavelas, seu bairro não é uma favela.
O Engenho da Rainha é um bairrowinspark é confiávelclasse média e bem localizado, próximo do metrô ewinspark é confiávelvias que dão acesso à zona oeste e ao centro do Rio.
Contatada pela BBC, a Claro não respondeu por que deixouwinspark é confiáveloperar no bairro.
"A violência, hoje, eu acredito que está no Riowinspark é confiávelJaneiro todo, mas aqui a gente tem presenciado cada vez mais perto", diz Martins.
Ela afirma que são cada vez mais comuns as ocasiõeswinspark é confiávelque é despertada pelo barulhowinspark é confiáveltiroteios ou por helicópteros policiaiswinspark é confiávelvoos rasantes.
Martins diz ter votadowinspark é confiávelBolsonarowinspark é confiável2018, mas se arrependeu - principalmente por conta da gestão da pandemia.
"Eu acredito que muita gente morreu pela demora da vacina", afirma.
Ainda assim, pretende votar outra vez no presidente por considerar Lula uma opção ainda pior.
"Eu acredito, sim, que o governo do PT teve culpawinspark é confiávelboa partewinspark é confiáveltodas as acusações que foram feitas, que teve um roubo muito grande no país e não gostaria que ele voltasse", diz.
No primeiro turno, Bolsonaro recebeu 47% dos votos no município do Rio, contra 43,5%winspark é confiávelLula. A disputa entre os dois também foi parelha quando só se consideram os votos das maiores favelas da Grande Rio.
Segundo uma reportagem do Jornal Extra, Lula venceuwinspark é confiáveloito dessas favelas, e Bolsonaro ficou na frentewinspark é confiávelsete.
Ou seja, entre moradoreswinspark é confiávelfavelas do Riowinspark é confiávelJaneiro, que são um dos grupos que experimentam mais violência no Brasil, não existe uma preferência clara por um dos dois candidatos.
Desaparecimento forçado
Mas como a violência extrema influencia posições políticaswinspark é confiáveloutras partes do Brasil?
Camila Fiuza tem 34 anos e vivewinspark é confiávelSalvador.
Em 2014, o irmão dela, Davi Fiuza, desapareceu após uma abordagem policial no bairrowinspark é confiávelSão Cristovão, na periferia da capital baiana. Ele tinha 16 anos na época.
Fiuza diz que era muito próxima do irmão: quando Davi era bebê, era ela quem cuidava dele. "Então ele também me chamavawinspark é confiávelmamãe quando era pequeno", diz Fiuza.
Ela afirma que, após o desaparecimentowinspark é confiávelDavi, "o pânico se instalou na comunidade". "Aconteceram várias mortes sequenciais na região, e as pessoas ficavamwinspark é confiávelpânico e ninguém queria falar", ela diz.
Em 2018, quatro anos após o desaparecimento do Davi, o Ministério Público acusou sete policiais militares por participação no caso.
A Justiça aceitou a denúncia, e agora, oito anos depois do desaparecimento, a família aguarda a realização das primeiras audiências sobre o caso.
Contatada, a Polícia Militar da Bahia não quis se manifestar sobre o caso.
Na época do desaparecimento, o governo da Bahia era chefiado por Jaques Wagner, do PT.
"Eu tenho uma crítica muito forte ao governo do PT da Bahia", diz Fiuza.
"O governo simplesmente não deu nenhuma resposta para nossa família, eles agemwinspark é confiávelforma cínica", afirma.
Wagner também não quis se pronunciar sobre o caso à BBC.
Apesar das críticas às gestões do PT no Estado, Fiuza diz ter motivoswinspark é confiávelsobra para votarwinspark é confiávelLula na disputa para a Presidência.
"Em boa parte do Nordeste, nós vivemos muito esquecidos, marginalizados e precarizados por muito tempo. E o Lula trouxe políticas públicas muito importantes que nos afetaramwinspark é confiávelforma muito positiva, como o Bolsa Família, como as cotas", ela diz.
Graças à políticawinspark é confiávelcotas, Fiuza foi a primeira pessoa da família a se formar na universidade - ela cursou Jornalismo na Universidade Federal da Bahia.
Ela diz que, quando há mais negros na universidade, também passa a haver mais negroswinspark é confiávelpostos que são historicamente ocupados por brancos no Brasil - como no topo dos governos e das polícias -, o que pode ajudar a combater o racismo nessas instituições, segundo ela.
Mas, pra Fiuza, esse movimento precisa ser acompanhado por outro: criar uma consciência racial entre negros.
"As pessoas, muitas pessoas, elas não têm noção da cor dawinspark é confiávelpele, elas não têm noção que são negras e fazem partewinspark é confiávelum grupo alvo da polícia", diz.
Em julho, o Fórum Brasileirowinspark é confiávelSegurança Pública, uma organização não governamental, lançou seu 16º anuário sobre as estatísticas nacionaiswinspark é confiávelviolência.
O anuário revelou que 15,8% das pessoas mortas pela polícia no Brasilwinspark é confiável2021 eram brancas, e 84,1% eram negras.
O fatowinspark é confiávelFiuza ser adepta do candomblé acrescenta outra camada à dor da família.
Isso porque, como o corpowinspark é confiávelDavi nunca foi encontrado, ela diz que a família nunca pode fazer os rituais fúnebres para garantir que o espírito do irmão descansasse.
Fiuza afirma que, segundowinspark é confiávelcrença, os mortos voltam para Nanã, orixá que forneceu o barro para a criação dos humanos e para quem os corpos voltam após a morte.
"A gente sabe que o meu irmão não foi para esse lugar que deveria voltar", ela diz.
"A gente não sabe onde ele está, o quewinspark é confiávelfato potencializa ainda mais o sofrimento".
- Este texto foi publicadowinspark é confiávelhttp://vesser.net/brasil-63381233
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