25www brabet comabrilwww brabet com1974, o diawww brabet comque os militares deram um golpe para entregar a democracia ao povo português:www brabet com

Imagemwww brabet com1974 mostra multidão saudando militares na Revolução dos Cravos

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Legenda da foto, Imagemwww brabet com1974 mostra multidão saudando militares na Revolução dos Cravos

“O difícil foi escolher quem podia ir na coluna militar, porque não podiam ir todos”, lembra o coronel Carlos Maia Loureiro, que era naquela altura capitão. A coluna, que teria o papel principal no golpe militar, saiuwww brabet comSantarém com 160 homens, 10 viaturas blindadas, 12 viaturaswww brabet comtransporte, 2 ambulâncias e um jipe. Às 5h50 da manhã, a coluna chega ao Terreiro do Paço, na baixawww brabet comLisboa. Se passariam quase seis horaswww brabet comtensão.

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“O momento mais crítico foi a chegada ao Terreiro do Paçowww brabet comuma força do regime comandada pelo brigadeiro Junqueira Reis, que dá ordem a um tanque M47 blindado para disparar sobre nós. O capitão Salgueiro Maia mete uma granada no bolso e saiwww brabet comdireção ao tanque para dialogar... eu fui atrás dele e ainda hoje não sei porquê”, lembra Maia Loureiro.

Naquele momento, Salgueiro Maia - como contaria o próprio anos mais tarde -, está disposto a detonar a granada e tornar-se um mártir, pensando que assim talvez consiguiria a vitória do golpe. Mas não é preciso. O oficial que comandava o blindado se recusou a disparar e as forças do regime se renderam.

A missão no Terreiro do Paço está cumprida e a coluna militar volta a se formar para ir rumo ao Quartel do Carmo, onde o governowww brabet comMarcelo Caetano se tinha refugiado.

Militareswww brabet comruawww brabet comPortugal na Revolução dos Cravos

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Legenda da foto, Soldados portugueses montam guarda no dia 28www brabet comabrilwww brabet com1974,www brabet comLisboa, perto do quartel-general da Guarda Nacional Republicana

“No caminho começamos a ver uma multidão pelas ruas. Gentewww brabet comtodas as idades,www brabet comfesta, subiam nas viaturas, vinham nos abraçar, nos agradecer... ainda hoje me emociono quando penso nisso”, recorda o coronel.

Foi nesse percurso que começaram a aparecer os primeiros cravos vermelhos, oferecidos por Celeste Caeiro, uma mulher apanhadawww brabet comsurpresa pela revolução. Os militares recebiam as flores e as colocavam no cano das espingardas, dando inicio, sem saberem, à iconografia da Revolução dos Cravos.

Em menoswww brabet comcinco horas, o governo se rendeu: Marcelo Caetano entregou o poder ao general Spínola e saiu do quartel escoltado pelos militares do MFA. O golpe militar estava concluído.

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O golpe que se materializou naquela quinta-feira, 25www brabet comabrilwww brabet com1974, estava sendo planejado há alguns meses.

“As primeiras reuniões começaram por reivindicaçõeswww brabet comordem corporativista, por causawww brabet comalterações legislativas promovidas por Marcelo Caetano”, explica Luís Nuno Rodrigues, professor do departamentowww brabet comHistória do ISCTE.

“Mas, na verdade, existiam motivações mais profundas e o MFA rapidamente adquiriu uma dimensão mais política”, acrescenta ele.

Além das modificações legislativas, nas reuniões começa a se falar sobre a guerra colonial, um conflitowww brabet com13 anos para o qual parecia não haver solução à vista.

“Havia militares que defendiam uma solução política para a guerra e isso começa a ser abordado devagar. E, depois, havia a questão do prestigio das Forças Armadas, porque a população não gostavawww brabet comnós”, conta o tenente-coronel Vasco Lourenço, um dos defensores do golpe militar.

“A certa altura o caminho fica claro. A população olhava para nós como o suportewww brabet comum regime repressivo que impunha a guerra e a ditadura. Se queríamos recuperar o prestígio tínhamos que abandonar essa imagem. E isso só se conseguia com um golpewww brabet comEstado: acabar com a ditadura, dar uma solução política à guerra e criar condições para a democracia e a liberdadewww brabet comPortugal”, explica Lourenço.

Esta começa a ser a posição majoritária no círculowww brabet comjovens oficiais, sobretudo entre os capitães.

“São oficiais intermediários, com muitos anoswww brabet comguerra colonial, que conhecem muito bem a situação na África e que decidem acabar com o regime para democratizar o país”, diz Francisco Ruivo, pesquisador do Institutowww brabet comHistória Contemporânea da Faculdadewww brabet comCiências Sociais e Humanas da Universidade Novawww brabet comLisboa.

“A própria questão geracional é importante: são homenswww brabet com30, 40 anos, uma geração muito diferente da cúpula das Forças Armadas, que eram pessoas mais velhas e mais conservadoras”.

Soldados colocaram cravos nos canoswww brabet comsuas armas no dia 25www brabet comabrilwww brabet com1974

Crédito, CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Legenda da foto, Soldados colocaram cravos nos canoswww brabet comsuas armas no dia 25www brabet comabrilwww brabet com1974

Essas diferenças ficam evidenteswww brabet com14www brabet comMarçowww brabet com1974, quando, numa espéciewww brabet comprovawww brabet comfidelidade, generais dos três setores da Forças Armadas comparecem à cerimôniawww brabet comhomenagem ao líder do governo, Marcelo Caetano.

“Nesse episódio, que ficou conhecido como “a brigada do reumático”, os generais ali presentes garantem que as FA não tinham política própria e estavam alinhadas com o chefewww brabet comGoverno”, conta Luís Nuno Rodrigues.

Os únicos generais que não assistiram ao encontro foram Francisco da Costa Gomes e Antóniowww brabet comSpínola, chefe e vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, que seriam depois exonerados dos respectivos cargos. Os dois tiveram papéis protagonistas na Revoluçãowww brabet comAbril.

A guerra colonial

Ao contrário do que os generais garantiram a Caetano, o Exército estava, sim, fazendo política. De tal forma, que o resultado produzido pelo MFA não é só a decisãowww brabet comfazer um golpewww brabet comEstado, mas sim todo um programa político.

“Era um programa que extinguia o antigo regime e todas as suas instituições, e que se baseava nos famosos “Três Ds”: democratizar, descolonizar e desenvolver”, explica a historiadora Irene Flunser Pimentel.

“A curto prazo seriam convocadas eleições para uma Assembleia Constituinte que elaboraria a nova Constituição do país e reconhecia-se que a solução das guerras coloniais tinhawww brabet comser política”, completa Luís Nuno Rodrigues

A politização das FA, feita, nawww brabet commaioria, durante a guerra do Ultramar, foi fundamental.

“Num determinado momento, como começam a escassear jovens que quisessem enveredar pela carreira militar, muitos estudantes foram recrutados compulsoriamente para ir para África, como soldados ou oficiais milicianos. Eram jovens muito influenciados pelos movimentoswww brabet comMaiowww brabet com68, politizados nas universidades e que levavam para a guerra livros, cançõeswww brabet comprotestowww brabet comZeca Afonso e José Mário Branco [dois cantores censurados pelo regime] e começam a contagiar os militareswww brabet comcarreira”, continua a historiadora.

“Quando estes homens pensaram no golpewww brabet comEstado, e sobretudo no programa, o objetivo era sempre no sentidowww brabet comderrubar a ditadura e democratizar o país, com vista à descolonização, e entregar o poder aos civiswww brabet comuma forma democrática.”

Foi na guerra colonial, longe da propaganda com que o regime inundava o país, que muitos dos militares perceberam que tipowww brabet comconflito existia naqueles territórios.

“A guerra nos ajudou a abrir os olhos para a cegueira do governo, para a situaçãowww brabet comditadura aqui, para a legitimidade da luta do nosso inimigo. Eles é que estavam certos, que lutavam pelawww brabet comindependência, pelawww brabet comautonomia. Nós estávamos do lado errado”, diz o tenente-coronel Vasco Lourenço.

“Eu fui para a guerra convencidowww brabet comque defendia uma parcela do território nacional, a minha pátria. Mas depois, lá, percebi que tínhamos perdido no plano político e que já só fazíamos a guerra pela guerra e que as FA estavam a ser usadas pelo regime para obter uma saída honrosa”, completa o coronel Maia Loureiro.

De golpe militar à revolução

Na madrugada do golpe militar, o primeiro comunicado do MFA pede “aos cidadãos que permaneçamwww brabet comsuas casas”. Mas estes, ao ouvirem o comunicado, fizeram exatamente o contrário. Saíram à ruawww brabet comfesta. Vaiaram os líderes do antigo regime, saudaram os militares, uniram-se, mostraram o seu apoio com aplausos e awww brabet compresença massiva.

Uma dessas pessoas foi Aurora Rodrigues, opositora ao regime, que nessa noite estava na tipografia clandestina do Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP) imprimindo comunicados.

Durante anos tinha lutado contra a ditadura, foi presa e torturada, e “agora que o regime tinha acabado ia ficarwww brabet comcasa?” Subiu no primeiro ônibus para Lisboa e quando chegou ao Terreiro do Paço “havia tantas pessoas na rua, tão felizes, que não havia ninguém que fosse capazwww brabet comfazer com que voltassem para casa”.

Aurora acompanhou aquele marwww brabet comgente e assistiu à rendição do governo. “Aquelas pessoas todas... estávamos todos eufóricos, porque o fascismo tinha acabado. Era o fim”.

“Esta adesão popular foi a confirmaçãowww brabet comque estávamos fazendo o que a população queria que fizéssemos e isso nos deu um alento muito grande”, recorda o tenente-coronel Vasco Lourenço.

“Lembro de, no meio da multidão, uma senhora idosa se aproximouwww brabet commim, com voz trêmula, e me disse ‘muito obrigado pelo que estão fazendo, porque o meu neto já não vai terwww brabet comir para guerra’. E eu fiquei comovido”, diz o coronel Maia Loureiro.

A tudo isto une-se a ausênciawww brabet comrepressão. “Em nenhum momento os militares tentaram impedir as pessoaswww brabet comparticipar no movimento, que é o que muitas vezes acontece”, diz Lourenço.

Foi esta participação popular que transformou o que começou num golpe militar numa revolução.

“Logo no primeiro dia a população veio para as ruas apoiar os militares. E depois sucederam-se as manifestações populares para tudo. Cada dia havia uma manifestação, a primeira foi logo no 1ºwww brabet commaio, massiva, que mostrava o apoio popular ao golpe”, explica a historiadora Irene Flunser Pimentel.

“E depois, graças à ação popular começaram as ocupaçõeswww brabet comcasas e fábricas... houve um conjuntowww brabet commobilizações populares que radicalizaram o processo e o transformaram numa revolução.”

É o período do PREC (Período Revolucionário Em Curso). Foram nacionalizados vários setores como o bancário e a indústria pesada. Houve ocupaçõeswww brabet comcasas vazias,www brabet comfábricas ewww brabet comterras. Desenvolveu-se a reforma agrária.

“A cidadania começava a conquistar direitos: o direito à greve, à liberdadewww brabet comexpressão, à liberdadewww brabet comassociação... tudo isso foi conquistado pela prática diáriawww brabet comum processo revolucionário por parte da população”, analisa Francisco Ruivo.

Ameaças à democracia

Quando Marcelo Caetano se rendeu, o poder recaiu nas mãoswww brabet comgeneral António Spínola. Ele e Costa Gomes tinham sido eleitos pelo MFA para liderar a Juntawww brabet comSalvação Nacional que assumiria o poder no país depois do golpe militar. Costa Gomes foi eleito à frentewww brabet comSpínola, mas as circunstâncias mudaram no dia 25www brabet comAbril.

“É o próprio Marcelo Caetano que indica que está disposto a entregar o poder a Spínola e por isso ele emerge como líder da Juntawww brabet comSalvação Nacional e é nomeado Presidente da República logo no dia seguinte”, explica Luís Nuno Rodrigues.

As relações entre Antóniowww brabet comSpínola e o MFA sempre foram tensas, nomeadamente pela questão colonial.

Spínola defende uma solução política para a guerra, mas não a descolonização. Awww brabet comresposta ao conflito, publicada no livro Portugal e o futuro,www brabet comfevereirowww brabet com1974, é uma espéciewww brabet comfederação composta por diversos países.

“Spínola não quis libertar todos os presos políticos, também não acabou imediatamente com a polícia política e defendia que ela deveria continuar enquanto houvesse guerra nas colônias. Aliás, nomeia um novo responsável”, conta Irene Flunser Pimentel.

Quando chega à presidência da República, Spínola pretende centralizar o poder nawww brabet comfigura e tenta afastar o MFA.

“A relação erawww brabet comdesconfiança mútua. Spínola tenta empurrar o MFA para fora da vida política e subverter o programa que tinha sido desenhado, para centralizar o poder nele próprio, o que implicava adiar as eleições sem data definida”, explica Francisco Ruivo.

“E o MFA travou todas estas tentativas e lembrou a Spínola que havia um programa que temwww brabet comser cumprido, que definia um processowww brabet comdemocratização para o país e que o MFA não abriria mão dessa tutela. Spínola viu-se obrigado a reconhecer a independência das colônias portuguesas muito a contra gosto”.

O general haveriawww brabet comtentar usurpar o poderwww brabet comduas ocasiões:www brabet com28www brabet comsetembrowww brabet com1974, - uma tentativa frustradawww brabet comdemonstrar o seu poder nas ruas, com uma manifestação a que chamouwww brabet com“maioria silenciosa” – ewww brabet com11www brabet comMarçowww brabet com1975, quando ensaiou um golpewww brabet comEstado que foi neutralizado rapidamente.

Spínola, que se vira obrigado a demitir depois do ocorridowww brabet com11www brabet commarço, fogiu para Espanhawww brabet com28www brabet comsetembro e, daí, foi para o Brasil.

Bandeira Nacional no Monumento à Revolução dos Cravoswww brabet comLisboa

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Legenda da foto, Bandeira Nacional no Monumento à Revolução dos Cravoswww brabet comLisboa

“O general Spínola tentou novamente conter o processo revolucionário e a democratização do país mas foi derrotado uma vez mais. Começava assim awww brabet comderiva terrorista, com a criação do Movimento Democráticowww brabet comLibertaçãowww brabet comPortugal (MDLP) que durante 1975 e 1976 foi responsável por centenaswww brabet comatentados e duas mortes”, explicou Francisco Ruivo.

Os acontecimentoswww brabet com11www brabet comMarço levaram à criação do Conselho da Revolução (CR).

“Era uma formawww brabet cominstitucionalizar o MFA,www brabet comdizer que o Movimento não abdicaria da tutela sobre o processo revolucionário e que iria zelar pela transição democrática”, acrescenta ele.

Depoiswww brabet comtodos os entraves, as primeiras eleições livres e universais, para eleger a Assembleia Constituinte acabariam por acontecer a 25www brabet comabrilwww brabet com1975, com a participaçãowww brabet com91,7% dos portugueses maioreswww brabet com18 anos.

Nesse mesmo mês, o CR chegaria a acordo com os diferentes partidos políticos, que reconhecemwww brabet comlegitimidade para um períodowww brabet comtransiçãowww brabet comtrês a cinco anos, e acabaria por ser extintowww brabet com1982, após a revisão constitucional.

Nesse ano, Portugal viveria uma última ameaça à democracia,www brabet com25www brabet comnovembro, num episódio que é, ainda hoje, muito controverso.

Às primeiras horas da manhã, paraquedistas ocuparam seis bases militares. Nesta altura, o MFA estava divido entre duas alas, uma mais à esquerda e umawww brabet commoderados, o chamado Grupo dos Nove.

“As movimentações são interpretadas pelos moderados como um golpe dos radicaiswww brabet comesquerda”. O Grupo dos Nove, liderado por Vasco Lourenço e Ramalho Eanes, acabou decretando estadowww brabet comsitio e controlou a situação.

“Mas nesta confusão aparecem também setoreswww brabet comdireita que queriam aproveitar as circunstâncias e fortalecer o regime. Jaime Neves, líder dos comandos que liderou as operações nesse dia, disse que eles estavam dispostos a ir além se fosse preciso. E ir além seria provavelmente estabelecer um poder mais forte, prender mais gente da esquerda. E estes movimentos também foram neutralizados”, conta o investigador Francisco Ruivo.

Este episódio marca o fim do processo revolucionário português.

O MFA e o povo

Depois do 25www brabet comabril, as Forças Armadas ganharam novo fôlego junto à população.

O prestígio, que os oficiais usaram como pretexto para as primeiras reuniões, estava recuperado. “Lembro-mewww brabet comsair às ruas, com o uniformewww brabet comcapitão, e que todos me cumprimentavam. Quando antes quase tínhamos vergonhawww brabet comandar uniformizados”, conta Lourenço.

“Na altura do PREC”, recorda irene Pimentel, “as pessoas recorriam ao MFA para tudo. Se tinham um problema não iam à polícia, recorriam aos militares”.

A ligação foi se atenuando com os anos, mas um estudowww brabet comopinião divulgadowww brabet com2021, feitowww brabet comconjunto pelo Institutowww brabet comDefesa Nacional, a Direção Geralwww brabet comRecursos da Defesa Nacional, o Institutowww brabet comCiências Sociais da Universidadewww brabet comLisboa e o Instituto Portuguêswww brabet comRelações Internacionais, revelou que os portugueses ainda confiamwww brabet comforma ampla nas suas Forças Armadas.

Maiswww brabet com73% dos inquiridos disseram ter “muita ou total” confiança nas Forças Armadas e só 4% disseram ter “pouca ou nenhuma”.

Uma confiança que começou a ser forjada naquele 25www brabet comabril, quando os militares saíram às ruas e, acompanhados pela população, transformaram um golpe militar na Revolução dos Cravos.