Fim das bananas? Por que alguns vegetais correm riscoi bet casinoextinção, segundo livro:i bet casino
Em seu livro Eating to Extinction (“Comendo até a extinção”), Saladino viajou para vários cantos do planeta para conhecer comunidades que cultivam e preparam alimentos tão únicos e ameaçados quanto seus estilosi bet casinovida.
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Fim do Matérias recomendadas
O jornalista alerta para "a imensidão do que estamos perdendo" e afirma que o nosso atual sistemai bet casinoprodução alimentar altamente intensivo "está contribuindo para a destruição do planeta".
Dan Saladino conversou com a BBC News Mundo, o serviçoi bet casinoespanhol da BBC, durante o festival Hay Festivali bet casinoCartagena 2023, realizado na Colômbia entre 26 e 29i bet casinojaneiro.
Na entrevista, ele defendeu que os alimentos ameaçados compõem um verdadeiro tesouro, alertou para os riscosi bet casinoum mundo cada vez mais uniforme e deu sugestões do que fazer para combater a perda da diversidade.
Confira os principais trechos da entrevista.
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i bet casino BBC - Como você começou a coletar históriasi bet casinoalimentos ameaçadosi bet casinoextinção?
i bet casino Dan Saladino - Em 2007, comecei a trabalhari bet casinoum programai bet casinorádio da BBC sobre alimentos chamado Food Programme, que existe há maisi bet casino40 anos e se concentra na cultura, ciência e economia dos alimentos.
E o primeiro programa que fiz me levou para a Sicília. Fui lá esperando contar a colheitai bet casinocítricosi bet casinotomi bet casinofesta. Minha família vem da Sicília e eu sabia que as frutas cítricas vinham impactando a cultura, a paisagem e a identidade da ilha por milharesi bet casinoanos.
Mas, ao conversar com produtores das típicas laranjas da Sicília, eles me disseram que estavam colhendoi bet casinoúltima safra, porque com a demanda por variedades importadas, os pequenos agricultores não podiam mais continuar.
i bet casino BBC - Foi ali que você descobriu a iniciativa que inspirou o seu livro, o projeto i bet casino Ark of Taste i bet casino ?
i bet casino Saladino - Na Sicília, também fui convidado para uma refeiçãoi bet casinoum povoado chamado Lentini, onde todos os pratos tinham laranjas tradicionais como ingrediente. Lá, conheci um dos fundadores do movimento slow food, que tinha vindo do norte da Itália.
Ele me disse que as típicas laranjas sicilianas que crescem nas encostas do vulcão Etna seriam incluídas no catálogo do Ark of Taste (“Arca dos Sabores”). Eu nunca tinha ouvido falar naquilo. É como uma Arcai bet casinoNoé, mas com alimentos ameaçados.
A lista inclui hoje maisi bet casino5.500 alimentos ameaçadosi bet casinoextinçãoi bet casinocercai bet casino150 países, incluindo muitos nas Américas.
Foi assim que entrei no assunto dos alimentosi bet casinoextinção e me apaixonei por esse tesouroi bet casinohistórias.
i bet casino BBC - Algoi bet casinoque gostei muito no livro é que ele nos faz ver os alimentos ameaçados não apenas como fontesi bet casinonutrição, mas como históriasi bet casinoinovação e sobrevivência,i bet casinohabilidades aprimoradas ao longoi bet casinomilharesi bet casinoanos, por centenasi bet casinogerações.
i bet casino Saladino - A comida é uma lente incrível para entender o mundo.
No livro, conto a históriai bet casinocomo surgiram esses alimentos ei bet casinocomo eles permitiram a sobrevivênciai bet casinocomunidadesi bet casinodiferentes paisagens e terrenos.
E como a relação com esses alimentos influenciou a identidade e a cultura dessas populações.
Então, eu vejo a comida e a bebida do pontoi bet casinovista da inovação, da ciência, da cultura, da sobrevivência — porque a comida representa todas essas coisas.
i bet casino BBC - Uma imagem comovente no livro é aquela contada por Cary Fowler, o cientista que teve a ideiai bet casinocriar o bancoi bet casinosementesi bet casinoSvalbard, no Ártico da Noruega. Ele disse que muitos visitantes do bancoi bet casinosementes saem chorando e dizendo que "as sementes são resultado do trabalhoi bet casinomeus ancestrais e tambémi bet casinoseus ancestrais". Você vê a comida dessa maneira quase espiritual?
i bet casino Saladino - É uma das minhas passagens favoritas do livro. As sementesi bet casinoSvalbard foram enviadasi bet casinotodo o mundo, e a incrível escala dessa diversidade é o que emociona muitas pessoas.
Essas sementes representam o esforçoi bet casinomaisi bet casino12.000 anosi bet casinoagricultura, com pessoas adaptando o cultivo e passando essas sementesi bet casinogeraçãoi bet casinogeração.
São nosso patrimônio, porque dependemos dessa diversidade criada por milharesi bet casinoanos. Mas poucos conhecem essas histórias.
Vemos as pinturas, esculturas e catedrais como os melhores exemplos da criatividade e visão humana, mas também devemos olhar para os alimentos ameaçadosi bet casinoextinçãoi bet casinoque falo no livro.
i bet casino BBC - Você poderia nos dar uma ideiai bet casinoquanta diversidade perdemos na alimentação atualmente?
i bet casino Saladino - É difícil ter dados precisos. É por isso que bancosi bet casinosementes como ai bet casinoSvalbard são uma formai bet casinomedir a diversidade que ainda existe.
Svalbard contém milharesi bet casinoamostras, por exemplo,i bet casinoarroz, milho e muitas plantas comestíveis. Tem maisi bet casino200.000 amostrasi bet casinotrigo. Mas os agricultores da Europa recebem uma lista com apenas dez variedadesi bet casinotrigo — que são muito semelhantes geneticamente.
O mundo tornou-se dependentei bet casinouma quantidade relativamente pequenai bet casinoalimentos. Existem basicamente nove culturas principais consumidas globalmente. E cercai bet casino50% das calorias que consumimos são fornecidas por apenas três: trigo, arroz e milho.
i bet casino BBC - No início do livro, há uma citaçãoi bet casinoRachel Carson, a famosa bióloga americana. Ela diz que a natureza criou uma grande diversidade, mas o ser humano sempre tentou simplificar essa diversidade. E você enfatiza que vivemosi bet casinoum mundo marcado pela uniformidade.
i bet casino Saladino - Rachel Carson é merecidamente famosa por seu trabalho pioneiro alertando contra o usoi bet casinopesticidas no livro Primavera silenciosa. Ela era uma bióloga marinha, mas reconhecia a interconexãoi bet casinotodas as coisas.
Em todo o seu trabalho, ela quis transmitir aos leitores a beleza e a necessidadei bet casinotoda a complexidade da natureza. Os seres humanos, no entanto, têm essa tendênciai bet casinosimplificar a natureza.
Muitas pessoas podem dizer: "Mas a minha alimentação é mais variada que a dos meus avós, vou ao supermercado e compro comidai bet casinotodo o mundo."
O problema é que estamos todos tendo a mesma experiência globalmente, comendo o mesmo tipoi bet casinosushi ou abacate, da mesma forma que usamos as mesmas vestimentas. Comemos, por exemplo, apenas um tipoi bet casinobanana, a Cavendish, embora existam 2.000 variedadesi bet casinobanana.
i bet casino BBC - Por que é tão crucial preservar a diversidade e salvar alimentos ameaçados?
i bet casino Saladino - Na segunda metade do século 20, gerou-se essa crençai bet casinoque questões alimentares eram resolvidas com soluções tecnológicas, com a genética, com sistemasi bet casinoirrigação que utilizam muita água, insumos químicos e fertilizantes.
Mas, agora, percebemos que esse sistema alimentar homogêneo que criamos tem um custo alto e gera muitas emissõesi bet casinogasesi bet casinoefeito estufa, as quais impactam as mudanças climáticas.
Acho que precisamos ser mais humildes e reconhecer que a ciência e a tecnologia funcionami bet casinoum nível, mas também criaram muitos problemas. E um primeiro argumento para salvar a diversidade é que talvez, no futuro, muitas soluções podem ser encontradas na diversidade genéticai bet casinoalimentos cultivados há milharesi bet casinoanos.
i bet casino BBC - Você também traz no livro argumentos relativos à saúde.
i bet casino Saladino – As descobertas mais recentes da nutrição enfatizam que os seres humanos evoluíram consumindo diversos alimentos. Precisamos da diversidade para a saúde da nossa microbiota intestinal.
E há também outro argumento, que para mim é igualmente válido: queremos mesmo viver num planeta onde a experiência humana se torna cada vez mais uniforme?
i bet casino BBC - No livro, você garante que o atual sistemai bet casinoproduçãoi bet casinoalimentos está contribuindo para a destruição do planeta. Poderia nos explicar isso?
i bet casino Saladino - Houve várias mudanças na agricultura no século 20, por exemplo, com a invenção do processo chamado Haber-Bosch para produzir fertilizantes sintéticos, ou o surgimento das monoculturas.
Vastas faixasi bet casinobiodiversidade estão sendo perdidas à medida que essa formai bet casinoagricultura se espalha pelo mundo. Os solos foram esgotados e os aquíferos, lagos e rios foram contaminados. Por isso, eu digo que nosso atual sistemai bet casinoproduçãoi bet casinoalimentos tem um custo muito alto.
O positivo, claro, é que a fome foi afastada enquanto a população mundial dobrou desde a décadai bet casino1970. Mas não podemos continuar da mesma maneira. Até os protagonistas da chamada Revolução Verde, como Norman Borlaug, reconheceram isso.
Borlaug disse que esse sistema muito intensivo teve uma vida útil relativamente curta e nos deu tempo para elaborar uma estratégiai bet casinolongo prazo. E acho que é onde estamos agora.
Grandes mentes da agricultura e da ciência estão tentando criar sistemasi bet casinoproduçãoi bet casinoalimentosi bet casinomaior harmonia com a natureza,i bet casinoprol da nossa saúde e da saúde do planeta.
i bet casino BBC – Falemosi bet casinoalguns exemplosi bet casinoalimentos ameaçados citadosi bet casinoseu livro, como o milho olotoni bet casinoOaxaca, no México.
i bet casino Saladino - Este milho é um exemplo fascinantei bet casinoquão diversas são as plantas e quão grande é a plasticidade genética deste cultivo. Quando botânicosi bet casinooutros países exploraram as partes montanhosasi bet casinoOaxaca desde o final dos anos 1970, possivelmente antes, encontraram esse milho extremamente incomum, muito alto e com raízes aéreas que pingavam algo como um muco.
Este milho é cultivado há gerações pela comunidade Mixei bet casinoaltitudes elevadas ei bet casinoterrenos pouco promissores para a agricultura.
Só nos últimos três ou quatro anos surgiu a tecnologia para analisar o muco desse milho. Foi possível constatar que ele contém bactérias que ajudam a fixar o nitrogênio do ar.
Este milho mostra como uma comunidade pode cultivar alimentos sem fertilizantes. E a produçãoi bet casinofertilizantes requer a queimai bet casinograndes quantidadesi bet casinocombustíveis fósseis.
É uma história que mostra como a diversidade pode ajudar na segurança alimentar futura.
i bet casino BBC - No livro, você também fala sobre a perdai bet casinovariedadesi bet casinomilhoi bet casinodecorrência do Tratado Norte-Americanoi bet casinoLivre Comércio (Nafta, na siglai bet casinoinglês).
i bet casino Saladino - O Nafta existe desde a décadai bet casino1990 e é um exemploi bet casinoacordo comercial que foi importante, mas não incluiu nai bet casinoagenda pequenos agricultores ou alimentos nativos.
A entrada do milho dent maize, dos Estados Unidos, teve um impacto devastador na diversidade do milho no México.
Não se sabe quais traços genéticos importantes desapareceram sem nunca terem sido analisados.
É por isso que quero contar essas histórias, para dizer que devemos dar mais valor à diversidade.
i bet casino BBC - Outro exemploi bet casinoalimento ameaçado abordado no livro é o cacau criollo da Venezuela.
i bet casino Saladino - Fui à Venezuela para conhecer María Fernanda di Giacobbe, que está fazendo um trabalho pioneiro para resgatar esse cultivo.
O primeiro cacau que chegou à Europa veio da Venezuela e mudou o paladari bet casinogrande parte do mundo.
Mas, devido à ascensão da indústria do petróleo no século 20, os investimentos no cacau criollo pararam, os agricultores não recebiam mais bons pagamentos e a diversidade genética começou a ser perdida. María Fernanda embarcou entãoi bet casinouma missão,i bet casinoum contextoi bet casinocolapso econômico, para resgatar tradições e variedades genéticas do cacau.
Ela trabalha com agricultores e ajuda as famílias no processoi bet casinotransformação do cacaui bet casinobarrasi bet casinochocolate para aumentar a renda delas.
Assim, o reconhecimento da diversidade pode ser um importante recurso econômico.
i bet casino BBC - E o sabor desse chocolate é diferente?
i bet casino Saladino - Sim, esse cacau foi muito valorizado quando chegou na Europa por ter um sabor mais delicado, menos amargo. Hoje muito açúcar é adicionado na produçãoi bet casinochocolate.
Mas o cacau criollo permite um produto com perfil único, sabor equilibrado e harmonioso.
i bet casino BBC - As mudanças climáticas estão tornando mais urgente a necessidadei bet casinopreservar alimentos ameaçados?
i bet casino Saladino - Uma história que conto no livro é a do café. Em 2014, muitas plantações da variedade arábica foram devastadas por um fungo.
Foi uma lição sobre a fragilidade das duas principais espécies cultivadas: arábica e robusta.
A solução, apontam, é uma maior diversidade nos tiposi bet casinocafé cultivados. Por exemplo, uma espécie da África chamada Coffea stenophylla [que tolera temperaturas mais altas do que outras espécies] mostra como a diversidade pode nos ajudar a enfrentar os desafios do futuro.
i bet casino BBC - No epílogoi bet casinoseu livro, você mostra o que pode ser feito para salvar alimentos ameaçadosi bet casinoextinção e impedir a perdai bet casinodiversidade. Uma das recomendações trata do problema dos subsídios agrícolas. O quão ruim eles são?
i bet casino Saladino - Não digo no livro que os cercai bet casinotrinta alimentos ameaçadosi bet casinoextinção que eu analiso alimentarão o mundo. Mas eu digo que precisamosi bet casinomúltiplos sistemas agrícolas. Existe lugar para a tecnologia, mas ao mesmo tempo precisamosi bet casinoum sistema onde a diversidade possa prosperar.
E é extremamente difícil que isso aconteça por causa dos bilhõesi bet casinodólaresi bet casinosubsídios agrícolas que sustentam o sistema atual e favorecem as três culturas dominantes que mencionei anteriormente.
Temos que ser mais criativos na produçãoi bet casinoalimentos.
Há outras histórias no livro que são exemplosi bet casinoalimentos que podem ter um enorme potencial, mas este sucesso só vai se concretizar com investimentos.
i bet casino BBC – Outra recomendação que você dá é que as pessos pensem "como um hadza". Você poderia nos explicar isso?
i bet casino Saladino – Os hadza, na Tanzânia, representam uma parte importante da nossa história como humanos. Eles são caçadores-coletoresi bet casinoum dos locais onde o Homo sapiens evoluiu na África.
Eles têm uma grande diversidade na dieta, com um cardápio que pode incluir até 800 espéciesi bet casinoplantas e animais.
Eles ilustram que a diversidade é crucial. E, além disso, sobrevivem porque têm um conhecimento íntimo da natureza.
Claro que nunca mais seremos caçadores-coletores, mas acho que eles podem nos inspirar a construir uma conexão mais forte com a natureza, a ter mais consciênciai bet casinoque somos extremamente dependentes dela.
Os hadza entendem isso e nós devemos entender também.
i bet casino BBC - O que você gostaria que os leitores tivessemi bet casinomente na próxima vez que cozinhassem alguma coisa ou se sentassem diantei bet casinoum pratoi bet casinocomida?
i bet casino Saladino - Quaisquer que sejam os ingredientes que você esteja usando, gostariai bet casinoconvidá-lo a parar por um momento e pensar que há uma história por trás desse ingrediente, uma históriai bet casinomilhares e milharesi bet casinoanosi bet casinoagricultores que adaptaram o cultivo para que ele chegasse ao seu prato. Conhecer essa história é importante.
Também os convidaria a comprar outra variedade deste ingrediente, com visual e sabor diferentes,i bet casinouma próxima oportunidade.
E convido todos também a estabelecer contato com quem produz seus alimentos.
No livro, conto a históriai bet casinoum agricultor chinêsi bet casinomaisi bet casino70 anos que cultiva uma variedade ameaçadai bet casinoarroz vermelho.
Quando perguntei como ele conseguia vender o produto, ele pegou o celular e me mostrou como se comunicava com os consumidoresi bet casinoPequim por meio do Wechat, que é como o WhatsApp na China.
Com a tecnologia moderna, é possível conectar-se com as pessoas que cultivam nossos alimentos e incentivá-las a fornecer mais diversidade no futuro.