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Henri Bergson, o filósofo que desafiou Einstein e mudou para sempre a discussão sobre natureza do tempo:site aposta 1 real
Conta-se que uma das suas palestras na Universidadesite aposta 1 realColumbia,site aposta 1 realNova York (Estados Unidos), gerou tanto entusiasmo que causou o primeiro engarrafamentosite aposta 1 realtrânsito na Broadway, como registra o escritor Mark Sinclair, no seu livro Bergson.
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Fim do Matérias recomendadas
Em 6site aposta 1 realabrilsite aposta 1 real1922 esite aposta 1 realum mesmo recinto, Einstein e Bergson trocaram suas ideias – opostas – sobre o tempo.
Einstein era famoso e já havia publicadosite aposta 1 realteoria da relatividade. Mas "Bergson tinha bons motivos para se sentir mais poderoso do que seu rival", destaca Jimena Canalessite aposta 1 realseu livro The Physicist and the Philosopher ("O físico e o filósofo",site aposta 1 realtradução literal).
O pensador francês, quase 20 anos mais velho que Einstein, era renomado pelasite aposta 1 realteoria sobre o tempo.
Canales é historiadorasite aposta 1 realCiência. Ela conta à BBC News Mundo (o serviçosite aposta 1 realespanhol da BBC) que, naquele dia, o grande físico conheceu "um homem que nunca mais iria esquecer".
O encontro
Einstein havia chegado a Paris, na França, procedentesite aposta 1 realBerlim, na Alemanha. Ele iria participarsite aposta 1 realvários eventos, incluindo o promovido pela Sociedade Francesasite aposta 1 realFilosofia, que o convidou para expor seu pontosite aposta 1 realvista sobre o espaço e o tempo.
Aquele dia 6site aposta 1 realabril foi uma "data extraordinária" para o físico, indica Canales. Ela destaca que havia motivos para que ele ficasse nervoso.
Depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as relações entre as comunidades científicas da Alemanha e do exterior eram quase inexistentes. E a situação sociopolítica era ainda mais delicada.
"Mas, sobretudo, porque no público estava uma pessoa mais reconhecida do que ele", conta a historiadora. "Atualmente, o nomesite aposta 1 realEinstein é mais conhecido, mas, naquele momento, era o contrário."
Outro fator era o idioma. O físico falava bem francês, mas não se sentia totalmente confortável naquela língua.
Einstein falou primeiro. Bergson havia planejado não intervir, mas foi praticamente empurrado por umsite aposta 1 realseus alunos.
"Concretamente, parece-me que o problema do tempo não é o mesmo para Einstein e para Bergson", disse o filósofo francês Édouard Le Roy (1870-1954), que convidou Henri Bergson a tomar a palavra.
Bergson "respondeu com relutância", disse a historiadora. "Ele insistiu que estava ali para ouvir", como havia feito no dia anterior, na conferência que o físico havia oferecido no Collègesite aposta 1 realFrance.
A frase
Bergson estava havia uma década estudando a teoria da relatividade. Ele estava a pontosite aposta 1 realpublicar o livro Duração e Simultaneidade, sobre a teoriasite aposta 1 realEinstein.
Sua intervenção durou cercasite aposta 1 real20 minutos. O filósofo elogiou e felicitou Einstein. Sua intenção não era criticarsite aposta 1 realteoria, nem mesmo levá-lo a debater com ele.
"Não apresento nenhuma objeção contrária àsite aposta 1 realteoria da simultaneidade, nem contra a teoria da relatividade geral", ele disse. "O que quero expor é simplesmente isto: quando admitimos que a teoria da relatividade é uma teoria física, nem tudo é fechado."
Ou seja, para Bergson, a Filosofia ainda tinha seu espaço. Mas Einstein sentenciou: "O tempo dos filósofos não existe."
"Esta frase, este momento, marcou a passagem do bastão do estudo filosófico do tempo para o estudo científico", explica Canales.
"Abriu-se uma caixasite aposta 1 realPandora sobre a relação entre a Ciência e a Filosofia. Aquele dia se transformousite aposta 1 realum debate que durou o restante do século e reflete uma das divisões mais importantes do século 20: as Ciências Exatas e as Humanas."
A pesquisadora escreveu que "durante o encontro pessoal entre o maior filósofo e o maior físico do século 20, o público aprendeu a ser 'mais einsteiniano do que Einstein'".
Qual a diferença entre eles?
Mark Sinclair, professorsite aposta 1 realFilosofia da Universidade Queen'ssite aposta 1 realBelfast (Reino Unido) explica à BBC News Mundo as concepçõessite aposta 1 realtemposite aposta 1 realBergson e Einstein.
"Bergson se concentrou na experiência vivida do tempo e defendeu que esta experiência não pode ser reduzida ao tempo quantificado", segundo ele, "e, portanto, ao tempo medido pelos relógios."
"Existe uma experiência puramente qualitativa e subjetiva da passagem do tempo, antessite aposta 1 realchegarmos a quantificá-lo, mas esta é a verdade do tempo e não uma mera deformação subjetivasite aposta 1 realum fato originalmente objetivo."
A visão do temposite aposta 1 realEinstein, segundo o especialista, é quase diametralmente oposta à do filósofo.
O físico considerava que a experiência da passagem do tempo é "secundária, até ilusória, e a verdade do tempo residia além da experiência individual".
"O espaço e o tempo haviam sido considerados constantes", prossegue Sinclair.
"Mas, quando se descobriu que a velocidade da luz é um constante invariável, Einstein, para assegurar a objetividade da física, estava disposto a imaginar que o tempo e o espaço não são o que nós pensávamos que fossem. Eles se 'dilatam' conforme o marcosite aposta 1 realreferênciasite aposta 1 realcada um e segundo a velocidadesite aposta 1 realque se viaja."
Foi assim que o físico chegou à noçãosite aposta 1 real"espaço-tempo", na qual o tempo é outra dimensão do espaço.
Bergson sobre o temposite aposta 1 realEinstein
O professor destaca que, para Bergson, a concepçãosite aposta 1 realtemposite aposta 1 realEinstein era apenas "uma radicalizaçãosite aposta 1 realuma tendênciasite aposta 1 realsentido comum, ao tratar do tempo como espaço".
"Acreditamos que o tempo consistesite aposta 1 realpassado, presente e futuro", prossegue Sinclair, "mas, quando separamos estes três aspectos e os representamossite aposta 1 realuma linha do tempo, na verdade, nós espacializamos o tempo. No tempo, não há linhas, para isso é preciso ter o espaço."
O temposite aposta 1 realEinstein, destaca Sinclair, é um tempo que não podemos vivenciar.
"Não posso experimentar a dilatação do tempo", explica ele, "só posso pressupor que o espaço e o tempo estejam se dilatando para a pessoa que se afastasite aposta 1 realmim a milharessite aposta 1 realquilômetros por segundo."
Para Einstein, era preciso que ele se dilatasse, pois, do contrário, "a física ficariasite aposta 1 realum emaranhado impossível".
Já Bergson reconhecia que aquela era uma teoria interessante, mas, para ele, continuava sendo exatamente isso: uma teoria.
Mais do que um ponteiro
A respostasite aposta 1 realque o tempo é o que marca o relógio parecia para Bergson "realmente absurda e infantil, pois os relógios foram feitos para medir o tempo", segundo Canales.
Ou seja, Bergson considerava esta definição uma circularidade.
Como fazemos com qualquer outro instrumentosite aposta 1 realmedição, nós "lemos" os relógios. E Bergson compreendia esta leiturasite aposta 1 realforma filosófica.
"Não era simplesmente uma agulha apontando para um número, como diz a definiçãosite aposta 1 realEinstein", explica a historiadora.
O pequeno ponteiro do relógio marcando o número 7 representava para Bergson "uma leitura que exigia educação e memória – recordar o que é o número 7, o que é a agulha".
Canales explica que Bergson se aprofundou nas bases filosóficas e metafísicas por trás da teoria da relatividade. Mas Einstein não queria falar dessas bases.
Para o filósofo, não seria possível ter uma sociedade baseadasite aposta 1 real"acreditar na Ciência como tal, sem um olhar crítico, histórico, social e político". Bergson escreveu que "o tempo é o que se faz e até o que faz com que tudo seja feito".
Canales destaca que, para o pensador, o tempo dos relógios é um aspecto do tempo real e o tempo compreendidosite aposta 1 realforma mais profunda faz com que este tempo surja.
Os gêmeos
Em Duração e Simultaneidade, Bergson abordou o paradoxo dos gêmeos, uma chave da teoriasite aposta 1 realEinstein.
O físico teórico Carlo Rovelli explica o paradoxo no seu livro E Se o Tempo Não Existisse? (Ed. 70, 2022):
"Se um dos gêmeos viajar a grande velocidade, afastando-se do outro, e depois regressar, eles terão idades diferentes quando se encontrarem: o que nunca mudousite aposta 1 realvelocidade será o mais velho."
"Foram realizados experimentos concretos (não com gêmeos, mas com relógios idênticos muito precisos, a bordosite aposta 1 realaviões rápidos) e, todas as vezes, foi comprovado que o mundo funciona exatamente como entendeu Einstein: os dois relógios marcam horas diferentes, quando se reúnem novamente."
Mas voltemos ao filósofo. Bergson defendeu no seu livro que este atrasosite aposta 1 realum relógiosite aposta 1 realrelação ao outro não existia.
"Mas seu ponto era muito mais profundo que um comentário simplesmente técnico", explica Canales.
"Seu ponto era que, neste exemplo, Einstein confundia relógios com pessoas, com viajantes, e confundia o tempo marcado por um relógio com o tempo vivido e, para pensar na relação entre o tempo vivido e o tempo do relógio, seria preciso pensar na relação entre as máquinas, o material, e o ser humano, o ser vivo."
"Ao considerar que o que marca um relógio e o que vive temporalmente um ser vivente é o mesmo, Einstein caía no mesmo erro cartesianosite aposta 1 realequiparar os seres humanos com as máquinas."
Bergson não questionou as afirmações científicassite aposta 1 realEinstein sobre a relatividade. O que ele contestou foi a formasite aposta 1 realinterpretação do físico, segundo a pesquisadora. Ele acreditava que era "uma metafísica enxertada na Ciência".
Para o filósofo, o tempo não deveria ser entendido unicamente através da Ciência.
Einstein sobre o temposite aposta 1 realBergson
A posiçãosite aposta 1 realEinsteinsite aposta 1 realrelação a Bergson era que a Filosofia tinha outra visão do tempo que "por não ser objetiva, também não era real", segundo Jimena Canales. "Ela tinha a ver com as ideias e, portanto, não se limitava à realidade."
Segundo Mark Sinclair, o físico se opunha à ideiasite aposta 1 realque a Filosofia tivesse direito legítimo a um tempo que só ela pudesse abordar.
"Para Einstein, o tempo do físico não é radicalmente diferente do tempo psicológico e, segundosite aposta 1 realexplicação, a Ciência pode nos informar sobre a natureza do temposite aposta 1 realforma muito simples."
A polêmica ocorrida no encontrosite aposta 1 realParis e o livrosite aposta 1 realBergson fizeram com que os seguidoressite aposta 1 realEinstein passassem a ser fortes críticos do filósofo.
O professor destaca que, na segunda ediçãosite aposta 1 realDuração e Simultaneidade, Bergson afirmou que havia sido mal interpretado e esclareceu a questão.
Mas os questionamentos relativos ao filósofo continuaram. Estes e outros fatores fizeramsite aposta 1 realfigura começar a decair.
"De forma geral, considerava-se que Bergson havia perdido a discussão com Einstein", declarou o professor.
"Em outras palavras, considerava-se que,site aposta 1 realalguma forma, a Ciência havia triunfado sobre a Filosofia. E chegou-se a pensar que, se quisermos aprender sobre a natureza do tempo, deveríamos recorrer aos físicos e não aos filósofos."
Canales garante que o que havia sido transformadosite aposta 1 real"uma espéciesite aposta 1 realconcorrência entre dois titãs sobre quem tinha autoridade para falar do tempo" terminou no momentosite aposta 1 realque a Ciência tomou o tema da Filosofia para si.
Paradoxo particular
Meses depois do debate, Einstein recebeu o Prêmio Nobelsite aposta 1 realFísica pelo seu trabalho sobre o efeito fotoelétrico, não pela teoria da relatividade.
Na apresentação do prêmio, o presidente do Comitê do Nobel comentou: "Não é nenhum segredo que o famoso filósofo Bergson contestou esta teoriasite aposta 1 realParis."
Quando era professora na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, Jimena Canales escreveu O Físico e o Filósofo. Ela achou fascinante resgatar o encontro entre os dois personagens que não conseguiram conciliar suas visões.
"Bergson continuou pensando da mesma forma e não voltou a fazer comentários públicos sobre Einstein ousite aposta 1 realteoria", disse a escritora. "Einstein continuou criticando Bergsonsite aposta 1 realcartas que enviou a terceiros."
Duração e Simultaneidade se tornou uma espéciesite aposta 1 real"livro malvisto" porque "a leitura comum" foisite aposta 1 realque Bergson havia se equivocado nasite aposta 1 realinterpretação da teoria da relatividade e isso, segundo Canales, foi uma visão "simplista demais".
Aprofundar-se naquele livro foi revelador, bem como ler os escritos do físico.
"Einstein acaba lendo o livrosite aposta 1 realBergson e escreve, no seu próprio diáriosite aposta 1 realviagem, que acredita que Bergson entendeu a teoria perfeitamente bem", explica Canales.
"Como historiadora, eu me surpreendi muitíssimo ao ler, na correspondência particularsite aposta 1 realEinstein, quesite aposta 1 realdescrição do tempo era muito bergsoniana. Para Einstein, frequentemente faltava tempo e ele pensava que o tempo passava mais rápido do que ele queria."
"Fica claro que ele sentia este paradoxosite aposta 1 realforma pessoal, muito íntima. Havia questões sobre o tempo que ele não conseguia compreender, nem explicar."
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