Inferno no circo: o diaapostas gratisque o Brasil assistiu ao pior incêndioapostas gratissua história:apostas gratis
Para ajudar na montagem, o dono do circo, o gaúcho Danilo Stevanovich, contratou 50 operários. Depoisapostas gratisarmado, o Gran Circo ocupou um diâmetroapostas gratis50 metrosapostas gratisum terreno baldio que, aos sábados e domingos, serviaapostas gratiscampoapostas gratisfutebol improvisado para a garotada da vizinhança. O circo estreouapostas gratisNiterói na noiteapostas gratis15apostas gratisdezembro, uma sexta-feira, com lotação esgotada.
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Fim do Matérias recomendadas
Aluna do Colégio Maria Tereza,apostas gratisSão Domingos, Maria José voltava para casaapostas gratisTribobó, São Gonçalo, quando, na avenida Feliciano Sodré, viu, pela janela do ônibus, o desfileapostas gratisalguns dos 40 artistas do circo, entre palhaços, trapezistas e domadores, e dos seus 150 animais, como leões, girafas e elefantes, pelas ruasapostas gratisNiterói. “Fiquei doida!”, resume a hoje professora aposentada, com 73 anos.
Ela e a afilhadaapostas gratissua mãe conseguiram comprar os últimos ingressos para a matinêapostas gratissábado, que começava às duas e meia da tarde. O circo tinha capacidade para 3,4 mil espectadores, divididos por nove arquibancadas, 800 cadeiras e 25 camarotes.
Uma toneladaapostas gratiscocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
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Cada uma das 10 sessões do Gran Circoapostas gratisNiterói começava com um númeroapostas gratisdomadoresapostas gratisleões e terminava com outroapostas gratistrapézio.
Foi um dos integrantes dos Flying Santiago, aliás, a primeira pessoa a gritar “Fogo!” naquela tarde calorentaapostas gratis17apostas gratisdezembro.
A trapezista Nena, nome artísticoapostas gratisAntonietta Stevanovich, irmãapostas gratisDanilo, tinha acabadoapostas gratisfazer seu número quando avistou, por volta das quatro e vinte da tarde, as primeiras labaredas, a cercaapostas gratis20 metros da entrada principal. O fogo começou na parteapostas gratisbaixo da lona. Ela e os outros dois trapezistas, Santiago Grotto e Vicente Sanches, conseguiram escapar ilesos pela porta dos fundos.
Maria José não teve a mesma sorte. Na confusão, a menina se perdeu da afilhadaapostas gratissua mãe. Sozinha, foi empurrada pela multidão e pisoteada. Conseguiu se levantar com dificuldade. Mas, quando se preparava para sair correndo, alguém pisou na sandáliaapostas gratisborracha que ganhouapostas gratispresente da mãe e levou outro estabaco.
“Caí por cimaapostas gratisvárias pessoas. E várias pessoas caíram por cimaapostas gratismim. Caí e ali fiquei, sem conseguir me levantar. Tudo o que eu conseguia fazer era pedir a Deus para me tirar dali. Até hoje, não sei como consegui”, recorda Maria José que, sob o nome artísticoapostas gratisZezé Pedroza, contouapostas gratishistória no romance Vidasapostas gratisChamas (Editora Viseu, 2016), dedicado àapostas gratismãe e ao cirurgião plástico que a operou, Jacy Contiapostas gratisAlvarenga.
Enquanto os trapezistas corriam para a porta dos fundos, Semba, uma das cinco elefantas indianas da trupe, abria um gigantesco rasgo na lona. Minutos antes, ela e suas irmãs – Jane, Lisa, Yoga e Mary – divertiram o público, jogando bola, dançando valsa e levantando as patas.
No entanto, ao ouvir o gritoapostas gratisfogo, o paquidermeapostas gratisquatro toneladas fugiuapostas gratisdebandada e deixou um rastroapostas gratisadmiração e cólera.
“Herói para uns, porque abriu espaço por onde muitos passaram, vilão para outros, porque provocou mortesapostas gratisseu caminho”, descreve o jornalista Mauro Venturaapostas gratisO Espetáculo Mais Triste da Terra — O Incêndio do Gran Circo Norte-Americano (Companhia das Letras, 2011).
'Corredor da morte'
Na hora do “salve-se quem puder”, poucos conseguiram fugir pela porta dos fundos — apesarapostas gratislarga, era escondida por uma cortina —, outros tantos pegaram carona na fuga alucinadaapostas gratisSemba.
A maioria tentou sair por onde entrou. Para chegar sãos e salvos do ladoapostas gratisfora, tinham que atravessar um túnelapostas gratistreze metrosapostas gratiscomprimento por quase quatroapostas gratislargura. No caminho, dois gradisapostas gratisferro usados para facilitar a entrada do público dificultavamapostas gratisfuga. Perto do fim da sessão, seriam retirados. Mas, com o incêndio, ninguém se lembrou disso. Conclusão: o tal túnel ganhou o macabro apelidoapostas gratis“corredor da morte”.
Ao longoapostas gratisdois anos, Ventura entrevistou dezenasapostas gratispessoas, entre sobreviventes, familiares, médicos, voluntários e escoteiros.
Das muitas dificuldades que enfrentou, destaca três: ninguém queria dar entrevista (“O trauma foi tão grande que as pessoas preferiam evitar o tema”), as memórias vinham embaralhadas (“Eram muitas as contradições. Muita gente confundia a data e o local da tragédia”) e documentos importantes se perderam (“A começar pelo processo judicial, que simplesmente desapareceu”).
“Caso estivesse fazendo o livro hoje, a principal dificuldade seria a ausênciaapostas gratisfontes. Os principais entrevistados morreramapostas gratis2009 para cá”, lamenta.
'Ainda tenho muito o que viver'
Um dos relatos mais emocionantes foi oapostas gratisLenir Ferreiraapostas gratisQueiroz Siqueira. Na tragédia, ela perdeu o marido, Wilson, e os filhos, Regina e Roberto,apostas gratistrês anos e meio e dois, respectivamente. Perdeu também os gêmeos que esperava.
“Ele me convenceu a ir porque a girafa era ‘xará’apostas gratisnossa filha”, contou Lenir ao programa Linha Direta Justiça: O Incêndio do Gran Circus Norte-Americano, exibido pela TV Globoapostas gratis29apostas gratisjunhoapostas gratis2006.
No hospital, Lenir não foi reconhecida sequer pela mãe. Maria Benigna só se convenceuapostas gratisque aquela paciente eraapostas gratisfilha quando ouviu seu murmúrio: “Mamãe”. “Nossa Senhora! É ela mesma”, espantou-se.
O incêndio do Gran Circo durou apenas 10 minutos. Mas deixou, segundo estimativas oficiais, 503 mortos — seteapostas gratiscada dez eram crianças.
“Jamais tantos brasileiros morreramapostas gratistão pouco tempo e no mesmo lugar”, afirma Ventura.
O incêndio da Boate Kiss,apostas gratis27apostas gratisjaneiroapostas gratis2013, registrou 242 vítimas fatais e do edifício Joelma,apostas gratis1ºapostas gratisfevereiroapostas gratis1974, 188.
A exemplo do que acontecera com a mãeapostas gratisLenir, parentes e amigos tinham dificuldade para reconhecer seus mortos e feridos. De tão carbonizado, Wilson, o maridoapostas gratisLenir, só foi identificado pela aliança. No verso dela, o nome da esposa.
Quando todos imaginavam que aquele pesadelo não poderia piorar, o que restava da lonaapostas gratisalgodão parafinado despencou,apostas gratischamas, sobre a multidão. Na ânsiaapostas gratisproteger o rosto, muitos sofreram queimadurasapostas gratisterceiro grau nas mãos e nos braços.
Durante o resgate, voluntários quiseram levantar o toldo, mas foram impedidos por bombeiros. A manobra poderia arrancar a pele das vítimas incineradas. Lenir só conseguiu ser resgatada dos escombros porque ouviu um bombeiro gritar: “Quem estiver vivo faça algum movimento ou dê algum sinal!”.
Lenir Siqueira entrou e saiu do coma várias vezes, recebeu o sacramento da extrema-unção no leito do hospital e permaneceu por nove meses internada no Hospital Municipal Antônio Pedro (HMAP). Deixou a unidade no dia 8apostas gratissetembroapostas gratis1962.
“Apesarapostas gratistudo pelo que passou, achava que existiam dois caminhos: o da lamentação e o do sorriso. Optou pelo segundo. ‘Tenho que falar bobagem para os outros rirem’, costumava dizer. Quando enfrentava algum problemaapostas gratissaúde, sequela do incêndio, dava broncaapostas gratisSanto Antônio: ‘Não me leva, não. Ainda tenho muito o que viver’”, relata o jornalista.
Lenir morreuapostas gratis2018, aos 81 anos.
'Gentileza gera gentileza'
O livroapostas gratisMauro Ventura também desfaz algumas lendas urbanas. Uma delas afirma que as feras do circo teriam escapado das jaulas e estariam devorando crianças pelas ruasapostas gratisNiterói.
A mais famosa, porém, faz alusão ao Profeta Gentileza (1916-1996). Dizia que o empresário José Datrino, donoapostas gratisuma pequena empresaapostas gratiscargas, teria se transformadoapostas gratispregador depoisapostas gratisperder a família no incêndio. Nada disso. Por ocasião da tragédia, alega ter recebido uma “revelação” que o levou a trocarapostas gratisvida material por outra, espiritual. A bordoapostas gratisum caminhão, seguiu para o local da tragédia. Lá, permaneceu por quatro anos, consolando as famílias das vítimas.
“Desde os 12 anos, José Datrino sabia que, um dia, teria que cumprir uma missão na Terra”, diz Leonardo Guelman, doutorapostas gratisLiteratura Comparada pela UFF e autorapostas gratisUnivvverrsso Gentileza (Mundo das Ideias, 2008). “O incêndio do circo foi o episódio que deflagrou essa transformação interior. Para Gentileza, o circo era a representação do mundo. A lona circense corresponderia à abóbada celeste”.
Com barba e cabelos grandes e vestindo bata branca, o andarilho eternizou versos como “Gentileza gera gentileza” nas 56 pilastras do viaduto do Gasômetro, no Centro do Rio. Ganhou homenagens musicaisapostas gratisGonzaguinha (1945-1991) e Marisa Monte.
Gentileza morreuapostas gratis28apostas gratismaioapostas gratis1996, aos 79 anos, na cidadeapostas gratisMirandópolis (SP), a 594 km da capital.
Queimadurasapostas gratis90% do corpo
O númeroapostas gratismortos no incêndio foi tão grande que o então governador do Rio, Celso Peçanha (1916-2016), convocou todos os marceneirosapostas gratisNiterói para fabricarem quatrocentos caixões.
O estádio Caio Martins, com capacidade para 12 mil torcedores, foi transformadoapostas gratisuma imensa oficinaapostas gratiscarpintaria. Se faltavam caixões para inúmeros cadáveres, também faltavam sepulturas para incontáveis enterros.
O prefeitoapostas gratisNiterói, Dalmo Oberlaender, resolveu criar um anexo ao Cemitério do Maruí, no Barreto. Chamou 300 funcionários da prefeitura para abrir novas covas no alto do morro. Até 50 presos, todos com bom comportamento, foram deslocados para o trabalho. Até onde se sabe, ninguém tentou fugir.
Do ladoapostas gratisfora do circo, também faltavam ambulâncias para tantos feridos. Muitos foram socorridosapostas gratistáxis, ônibus e caminhões. Até um carrinhoapostas gratispicolé foi usado na remoçãoapostas gratisuma criança. Mas, para a tristeza do vendedor da Kibon, morreu a caminho do hospital.
Nas unidades superlotadas, as vítimas esperavam por atendimento médicoapostas gratistodo e qualquer canto: deitadas nos corredores, sentadas no chão, estiradas nas macas... “Perdi maisapostas gratis60 crianças. Não conseguia socorrer a todas ao mesmo tempo”, lamenta o cirurgião plástico Ronaldo Pontes,apostas gratis90 anos, que dava plantão no Hospital Pediátrico Getúlio Vargas Filho, o Getulinho, no Fonseca.
“Fiquei duas semanas sem voltar para casa, trabalhando sem parar”.
Quem também emendou plantões foi o clínico geral Waldenir Bragança. Até pensouapostas gratislevar os filhos mais velhos ao circo, mas uma reuniãoapostas gratisúltima horaapostas gratisAraruama, na Região dos Lagos, o obrigou a refazer seus planos.
Na volta para casa, levou um susto ao se deparar com o caos pelas ruas. Como o Hospital Antônio Pedro, o maiorapostas gratisNiterói, estavaapostas gratisgreve, Bragança correu para o Hospital Psiquiátricoapostas gratisJurujuba.
“Encontrei um antigo colegaapostas gratisginásio entre as vítimas”, relata, aos 92 anos. “Já estava sem visão, com os olhos e parte do corpo queimados. Chamou meu nome, apliquei uma injeção nele e, logoapostas gratisseguida, morreu”.
Maria José foi levada para o Hospital Orêncioapostas gratisFreitas (HOF), no Barreto,apostas gratisNiterói. “Sofri queimadurasapostas gratisterceiro grauapostas gratis90% do corpo”, relata.
Quando completou 12 anos, no dia 25apostas gratisdezembroapostas gratis1961, estavaapostas gratiscoma. Passou quase um mês inconsciente. Foi submetida a 15 cirurgias plásticas e a oito enxertosapostas gratispele. Recebeu altaapostas gratisjulhoapostas gratis1962, sete meses depois da tragédia.
Dona Arlete entrou na Justiçaapostas gratis1962. Mas, o processo, a exemplo do que acontecera com outros documentos importantes, como os registros dos hospitais e dos cemitérios, desapareceu. Até hoje, Maria José não recebeu um centavoapostas gratisindenização. No entanto, ingressou com uma ação no Tribunal Internacionalapostas gratisHaia por crime contra a humanidade.
'Monstro incendiário' ou bode expiatório?
A suspeita da polícia recaiu sobre Adilson Marcelino Alves, o Dequinha, um dos 50 operários contratados por Stevanovich para ajudar na montagem do circo.
Denunciado por um funcionário, Maciel Felizardo, foi preso e interrogado. Em seu depoimento à polícia, confessou ter ateado fogo à lona. “Se eu soubesse que ia morrer tanta gente, não teria feito o que fiz”, declarou o rapaz.
Foi condenado a 16 anosapostas gratisprisão. Seus cúmplices, Walter Rosa dos Santos, o Bigode, e José dos Santos, o Pardal, também cumpriram penas —apostas gratis16 e 14 anos, respectivamente. Dequinha escapouapostas gratis26apostas gratisjaneiroapostas gratis1973. Foi morto a tiros, menosapostas gratisuma semana depois. Está enterrado no mesmo cemitério construído às pressas para as vítimas da tragédia.
Ainda hoje, a causa do incêndio divide opiniões.
“Para uns, Dequinha era um ‘monstro incendiário’. Para outros, um bode expiatório. Afinal, interessava às autoridades encontrar logo o culpado”, explica Ventura.
Há quem acredite na hipóteseapostas gratisacidente. Neste caso, a versão mais provável é aapostas gratiscurto-circuito.
“O que mais me chamou a atenção foi a ausênciaapostas gratisfiscalização”, observa a historiadora Ana Maria Mauad, do Laboratórioapostas gratisHistória Oral e Imagem (LABHOI) da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Deixaram instalar um circo para maisapostas gratis500 pessoas com lona altamente inflamável e sem controleapostas gratissegurança das instalações elétricas”.
“O caso levou à condenaçãoapostas gratisum jovemapostas gratisorigem pobre e com deficiência mental, que mesmo as vítimas não acreditam ter sido capazapostas gratisrealizar o ato”, endossa o historiador Paulo Knauss, do LABHOI-UFF.
Não foi o primeiro circo da família Stevanovich a pegar fogo. O Bufallo Bill e o Shangri-lá também foram destruídos pelas chamas,apostas gratis1951 e 1952, ambos no Rioapostas gratisJaneiro.
Danilo morreuapostas gratis2001. Mas, o Gran Circo, rebatizadoapostas gratisLe Cirque, continuaapostas gratisatividade, sob a direçãoapostas gratisGeorge Stevanovich, sobrinhoapostas gratisDanilo.
O incêndio no Gran Circo gerou uma comoção internacional.
O papa João 23 (1881-1963) mandou rezar uma missaapostas gratishomenagem às vítimas. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) doou a quantiaapostas gratis1 milhãoapostas gratiscruzeiros. E o Santosapostas gratisPelé (1940-2022) e o Botafogoapostas gratisGarrincha (1933-1983) fizeram uma partida beneficenteapostas gratispleno Maracanã.
Por outro lado, provocou um trauma sem precedentes. Niterói só voltou a assistir a um espetáculo do gêneroapostas gratis1975. Mas, ao contrário do Gran Circo, o Hagenback tinha lona italiana à provaapostas gratisfogo, seis saídasapostas gratisemergência e numerosos extintoresapostas gratisincêndio.
Muitos moradores ainda passam mal ao entrarapostas gratisambientes fechados, evitam frequentar lugares abarrotadosapostas gratisgente ou deixaramapostas gratiscomer churrasco por causa do cheiroapostas gratiscarne queimada.
É o casoapostas gratisCézar Teixeira Honorato,apostas gratis69 anos. “O maior impacto talvez seja oapostas gratisnão conseguir, passado tanto tempo, ir a um circo”, diz.
O professorapostas gratisHistória Econômica e Social da UFF não foi à matinê porque seu pai deixou para comprar os ingressos na hora da sessão.
“Naquele domingo, almoçamos na casa dos meus avós. Ao voltarapostas gratisbonde, soubemos do incêndio e seguimos direto para casa. Como morávamos ali perto, pudemos ver toda a tragédia”, relata Cézar.
O terreno que,apostas gratis1961, abrigou o Gran Circo cedeu lugar, sete anos depois, à Policlínica Militarapostas gratisNiterói.