A corrida 'urgente' para encontrar remédios efetivos contra a dengue:site de apostas boxe

E é curioso notar que, nesse meio tempo, o tratamento da doença pouco mudou: ele consiste basicamentesite de apostas boxefazer repouso, reforçar a hidratação, tomar remédios que aliviam os sintomas e ficar atento aos sinaissite de apostas boxealarme para a complicação do quadro, quando há necessidadesite de apostas boxesuporte hospitalar.

Nessas quatro décadas e meia, não foi lançada nenhuma opção terapêutica para lidar diretamente com essa infecção.

Mas isso pode mudarsite de apostas boxebreve: cientistas e empresas farmacêuticas estão numa verdadeira corrida para encontrar remédios que sejam capazessite de apostas boxeagir contra esse vírus, ou ao menos minimizar o estrago que ele é capazsite de apostas boxefazer no corpo da gente.

A BBC News Brasil conversou com especialistas no tema, que compartilharam os principais desafios dessas pesquisas e as perspectivas para que a dengue finalmente tenha um remédio para chamarsite de apostas boxeseu.

site de apostas boxe Leia mais sobre o surtosite de apostas boxedengue:

'Como um tsunami'

Para entendermos a dificuldadesite de apostas boxeencontrar medicações contra a dengue, é preciso antes dar um passo para trás e conhecer o caminho que esse vírus faz pelo organismo.

Como provavelmente você já sabe, ele entra no corpo através da picada do mosquito Aedes aegypti — e o patógeno já começa a agir nas próprias células da pele.

"Falamos aquisite de apostas boxeum vírussite de apostas boxeRNA, o que significa que ele vem pronto para se multiplicar dentro das nossas células", explica o virologista Rômulo Neris, professor da Universidade Federal do Riosite de apostas boxeJaneiro (UFRJ).

Alguns outros vírus, como os causadoressite de apostas boxevaríola e HIV, por exemplo, possuem uma composição distinta e precisam passar por algumas etapas antessite de apostas boxe"sequestrar" o maquináriosite de apostas boxenossas células para produzir novas cópiassite de apostas boxesi mesmos.

Na prática, o fatosite de apostas boxeo vírus da dengue já vir "pronto para o combate" facilita demais as coisas para ele — e as dificulta para nós.

"Logo após a picada, ele invade as células da pele e também algumas unidades do sistema imunológico que atuam como sentinelas nesta região", detalha o especialista.

A partir daí, o patógeno da dengue cria novas cópias com bastante rapidez.

"O crescimento é exponencial. Partindosite de apostas boxeuma, duas ou dez partículas virais, são geradas entre 20 e 200 mil novas unidadessite de apostas boxeum dia para o outro", observa Neris.

O interior da célula infectada fica tão lotadasite de apostas boxevírus que uma hora ela não aguenta, estoura e morre. Isso libera as milharessite de apostas boxepartículassite de apostas boxedengue pelo organismo, para que elas possam encontrar uma nova célula e repetir esse trabalho.

É claro que essa bagunça toda não passa despercebida pelo sistema imunológico. As célulassite de apostas boxedefesa tentam conter o estrago — mas, às vezes, a reação delas é tão exagerada que prejudica o funcionamentosite de apostas boxealguns órgãos importantes, como os rins e o coração.

E essa velocidade toda transparece nas manifestações clínicas da enfermidade.

"Esse vírus produz uma doençasite de apostas boxemanifestação muito rápida e aguda. A covid-19, por exemplo, costuma apresentar complicações a partir do sétimo dia da infecção. Na dengue, isso pode acontecer no terceiro dia", compara o médico Kleber Luz, da Sociedade Brasileirasite de apostas boxeInfectologia.

"Falamossite de apostas boxeum processo que acontece rápido, como se fosse um tsunami", complementa ele.

"A dengue é uma doença muito dinâmica. Num dia, o paciente parece estar bem, sem nenhum sinalsite de apostas boxegravidade e, no outro, a situação pode mudar e surgir uma complicação", concorda o médico André Siqueira, do Instituto Nacionalsite de apostas boxeInfectologia Evandro Chagas (INI-Fiocruz).

Tudo isso representa um enorme desafio ao desenvolvimentosite de apostas boxenovos remédios: para que um tratamento funcione, ele precisaria ser aplicado no momento preciso, logo no primeiro ou no segundo dia, antes do vírus se replicar demais ou a doença se complicar.

E o diagnóstico também forma uma barreira. Atualmente, a suspeitasite de apostas boxedengue só é levantada quando o indivíduo tem pelo menos dois dias seguidossite de apostas boxefebre, quando essa eventual "janela terapêutica" já está prestes a expirar.

Para completar, não há um exame capazsite de apostas boxepredizer quais indivíduos vão desenvolver as complicações da infecção e quais se recuperarão depoissite de apostas boxealguns dias com sintomas leves, sem maiores problemas.

A dengue grave — antes chamadasite de apostas boxedengue hemorrágica, nome que caiusite de apostas boxedesuso porque a hemorragia não é a única manifestaçãosite de apostas boxealgo mais sério relacionado à doença — costuma ser mais frequentesite de apostas boxecrianças, idosos e portadoressite de apostas boxedoenças crônicas (como diabetes, hipertensão e obesidade). Mas ela pode acometer qualquer pessoa infectada com esse vírus.

Ou seja: uma junçãosite de apostas boxefatores (desenvolvimento súbitosite de apostas boxesintomas + faltasite de apostas boxediagnóstico precoce + ausênciasite de apostas boxemétodos para determinar o riscosite de apostas boxeter a dengue grave) representam grandes dificuldades na horasite de apostas boxedesenvolver novos fármacos específicos contra a dengue.

E aqui não podemos ignorar também o fatosite de apostas boxea dengue ser uma doença negligenciada, que historicamente afeta mais os países pobres, especialmentesite de apostas boxeAmérica Latina, África e Sudeste Asiático.

"A gente vê uma faltasite de apostas boxeinvestimentos na dengue, pois trata-sesite de apostas boxeuma doença relacionada à pobreza, que muitas vezes não atrai a atençãosite de apostas boxefinanciadores e da indústria farmacêutica", destaca Siqueira, que também é vice-presidente da Sociedade Brasileirasite de apostas boxeMedicina Tropical.

Mas esse cenário começou a mudar um pouco recentemente, como você confere a seguir.

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Uma nova esperança contra a dengue?

Um artigo publicado no periódico acadêmico Nature destaca que, no ano 2000, foram diagnosticados 500 mil casossite de apostas boxedengue no mundo inteiro.

Jásite de apostas boxe2023, esse número ultrapassou a casasite de apostas boxe6 milhões — um crescimentosite de apostas boxe12 vezessite de apostas boxepouco maissite de apostas boxeduas décadas.

A Organização das Nações Unidas (ONU) lembra que metade da população global corre o riscosite de apostas boxecontrair esse vírus — e as mudanças climáticas contribuem para piorar cada vez mais essas perspectivas daquisite de apostas boxediante.

Afinal, as temperaturas mais quentes ampliam a áreasite de apostas boxeatuação do Aedes aegypti. Não é coincidência que esse mosquito começou a circular com mais frequênciasite de apostas boxeregiões que antes possuíam um clima temperado, como o sul dos Estados Unidos e partes da Europa, casosite de apostas boxeItália e França.

"No Brasil, a região Sul foi poupada da dengue nas últimas décadas. Mas, nos anos recentes, vimos surtos e até epidemias nesses Estados", lembra Siqueira.

O infectologista acrescenta que, além do aumento da temperatura, a urbanização descontrolada — marcada pela faltasite de apostas boxesaneamento básico e a criaçãosite de apostas boxereservatóriossite de apostas boxeágua desprotegidos que servemsite de apostas boxecriadouro para o Aedes — representa outra grande oportunidadesite de apostas boxeexpansão da dengue.

"Além disso, a rápida circulaçãosite de apostas boxepessoassite de apostas boxeum lado para o outro do globo facilita a chegadasite de apostas boxevírus a novas regiões", pontua ele.

Todo esse cenário deu mais urgência à procurasite de apostas boxenovas soluções para tratar a dengue.

E um dos projetos a encarar esse desafio foi a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na siglasite de apostas boxeinglês), uma organização sem fins lucrativos com sede na Suíça que, como o próprio nome sugere, reúne investimentos e esforços para desenvolver tratamentos contra enfermidades que não recebem tanta atençãosite de apostas boxeoutros setores da sociedade.

Desde 2022, a entidade possui um grupo específico para encontrar medicações contra a dengue.

O projeto envolve pesquisadoressite de apostas boxeBrasil, Tailândia, Malásia e Índia.

O médico Sergio Sosa-Estani, diretor da DNDi na América Latina, destaca que a busca pelas novas medicações contra a dengue está divididasite de apostas boxetrês eixos principais.

O primeiro deles envolve a estratégiasite de apostas boxereposicionamentosite de apostas boxedrogas. Em suma, os cientistas reavaliam os remédios que já estão testados e aprovados contra outras doenças, para ver se eles poderiam ter algum tiposite de apostas boxeação contra a dengue.

"A princípio, isso facilitaria e agilizaria o processo, pois estamos falandosite de apostas boxemoléculas que já passaram por outros testes anteriormente", resume o especialista.

Algumas opções farmacêuticas — como a cloroquina e a ivermectina, por exemplo — foram submetidas a essa reavaliação, mas não mostraram resultados sólidos contra a dengue, complementa Siqueira.

O segundo eixo citado por Sosa-Estani envolve a criaçãosite de apostas boxeantivirais inéditos, que bloqueiem ou desaceleremsite de apostas boxealguma maneira a replicação do vírus da dengue no nosso organismo.

E o terceiro se concentrasite de apostas boxedescobrir tratamentos, como alguns fármacos da classe dos anticorpos monoclonais, que amenizem a resposta do sistema imunológico,site de apostas boxemodo a não gerar uma inflamação tão grande e danosa ao organismo.

"Estamos com algumas moléculassite de apostas boxepesquisas na fase pré-clínica e esperamos anunciar novidades sobre elas nos próximos meses, ainda no primeiro semestresite de apostas boxe2024", adianta o pesquisador.

A fase pré-clínica citada por Sosa-Estani é aquela que acontece na bancada dos laboratórios,site de apostas boxeque a substância com potencial terapêutico é avaliadasite de apostas boxecélulas e cobaias.

Se os resultados forem satisfatórios, o trabalho evolui para a fase clínica, divididasite de apostas boxetrês etapas,site de apostas boxeque a eficácia e a segurança do produto são avaliadassite de apostas boxevoluntários

Além dos projetos da DNDI, algumas farmacêuticas também compartilharam novidades no tratamento da dengue durante os últimos meses.

Em outubrosite de apostas boxe2023, a farmacêutica Janssen publicou os resultadossite de apostas boxeum estudo clínico com uma molécula chamada JNJ-1802. Trata-se do primeiro antiviral desenvolvido para prevenir a dengue que mostrou resultados positivossite de apostas boxeseres humanos.

A avaliação ainda pontuou que o composto foi bem tolerado e mostrou-se seguro.

Ele agora segue para outras fasessite de apostas boxepesquisa, com o objetivosite de apostas boxecomprovar que realmente pode ser uma ferramenta para lidar com a dengue.

Já o laboratório Novartis começou nas últimas semanas um estudo clínico com o EYU688, uma molécula que atua contra uma das proteínas presentes na estrutura desse vírus. O trabalho deve terminarsite de apostas boxejunhosite de apostas boxe2025.

Neris destaca que essas pesquisas sãosite de apostas boxeparte influenciadas pelos aprendizados da pandemiasite de apostas boxecovid-19, onde os especialistas precisaram desenvolver ferramentas e acumularam conhecimentos sobre como buscar novas soluções farmacêuticas.

"Hojesite de apostas boxedia, conseguimos fazer a prospecçãosite de apostas boxediversas substâncias por meiosite de apostas boxeferramentas computacionais. Usamos equipamentos para saber se uma molécula pode funcionar, sem a necessidadesite de apostas boxefazer ensaios e testá-lasite de apostas boxemilharessite de apostas boxecélulas", destaca ele.

Sosa-Estani conta que outro fenômeno recente dá apoio aos estudossite de apostas boxenovas medicações: a inteligência artificial.

"Usamos essa tecnologia para identificar possíveis alvos terapêuticos e saber onde podemos melhorar", resume ele.

O infectologista Kleber Luz reforça que, além das barreiras citadas anteriormente, esses testes e avaliaçõessite de apostas boxenovas substâncias também precisam lidar com a sazonalidade da dengue, que costuma ser frequente nos mesessite de apostas boxecalor, quando há mais chuva e os mosquitos conseguem se reproduzir com facilidade nos reservatóriossite de apostas boxeágua parada.

"Portanto, temos poucas perspectivas no curto ou médio prazo para a chegadasite de apostas boxenovos tratamentos", opina o especialista, que também é professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Já Siqueira acredita que, com o aumentosite de apostas boxecasos e das regiões atingidas pelo Aedes, a tendência ésite de apostas boxemais investimento e atenção na dengue daqui para frente.

"Boas novidades para o tratamento da dengue devem surgir nos próximos cinco ou dez anos", contrapõe ele.

Para fechar o cerco

Embora os últimos anos tenham sido marcados por surtos históricossite de apostas boxedengue no Brasil, vale ressaltar que também tivemos algumas notícias positivas nessa área.

A principal delas foi a chegada da primeira vacina contra esse vírus na rede pública. A campanha começou nas últimas semanas, ainda que esteja restrita a poucas cidades e a um público-alvo reduzido, por causa da faltasite de apostas boxeum número maiorsite de apostas boxedoses disponíveis no momento.

Também tivemos resultados promissores com o chamado método Wolbachia. Para resumir, uma bactéria é inserida no sistema digestivo do Aedes e impede a transmissãosite de apostas boxevírus por esse mosquito.

Os testes, que ainda estãosite de apostas boxeandamento, inclusivesite de apostas boxealgumas localidades do Brasil, mostraram que essa abordagem é capazsite de apostas boxereduzir o númerosite de apostas boxecasos da infecção.

E aqui não podemos nos esquecer, claro, da velha (e ainda efetiva) táticasite de apostas boxeeliminar os criadouros do agente transmissor. Acabar com os depósitossite de apostas boxeágua, por menor que eles sejam, continua a ser uma prática necessária, que pode fazer a diferençasite de apostas boxesurtos e epidemias.

Mas será que, num cenáriosite de apostas boxeque as ações preventivas contra o mosquito e o vírus da dengue ganharam reforçossite de apostas boxepeso, ainda é preciso pensarsite de apostas boxenovos tratamentos?

Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem que sim.

Num artigo publicadosite de apostas boxedezembro do ano passado, Siqueira, Sosa-Estani e outros pesquisadores lembram que a vacina contra a dengue aprovada tem uma eficáciasite de apostas boxe84,1% contra hospitalizações e 70% contra o desenvolvimento das formas graves da doença.

Isso significa que, por mais bem-vinda que seja, ela não protege 100% das pessoas (como nenhum outro imunizante disponível faz, diga-se).

Portanto, mesmo que a vacinação reduza os númerossite de apostas boxecasos e internações no futuro, ainda haverá demandasite de apostas boxeremédios para aqueles pacientes que tiverem dengue grave, com complicações.

"Há uma necessidade urgentesite de apostas boxedescobrir tratamentos seguros e efetivos que previnem a progressão da dengue", destacam os autores.

Essas novas medicações entrariam, portanto, como mais um elemento para "fechar o cerco" contra a doença transmitida pelo Aedes.

"Precisamossite de apostas boxeuma sériesite de apostas boxesoluções que,site de apostas boxediferentes etapas, e junto com a organização adequada dos serviçossite de apostas boxesaúde, podem ter um impacto grande nessa doença", diz Siqueira.

Enquanto esse dia não chega, Luz pede que as pessoas fiquem atentas aos sinaissite de apostas boxeque a dengue pode estar se agravando — e procurem um atendimento médico o mais rápido possível.

"Se o paciente com suspeitasite de apostas boxedengue começa a ter dor abdominal, náuseas e vômitos, ele deve ir imediatamente ao serviçosite de apostas boxesaúde", orienta ele.

Ao receber o suporte necessário na clínica ou no hospital, é possível minimizar os estragos e buscar uma recuperação satisfatória.