As doenças 'esquecidas' que deixam 28 milhõesbetway premierbrasileiros sob risco:betway premier

Paciente com hanseníase

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Legenda da foto, Brasil é 2º país com mais casosbetway premierhanseníase, doença para a qual há diagnóstico e tratamento amplamente disponíveis

Outras estão diretamente relacionadas às condições precáriasbetway premiermoradia ou à faltabetway premiersaneamento básico e acesso à água potável, casosbetway premieresquistossomose e filariose linfática.

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Como mostrou o Censo 2022, 49 milhõesbetway premierbrasileiros (24% da população) ainda vivembetway premierresidências sem descarte adequadobetway premieresgoto, 18 milhões (9%) não têm coletabetway premierlixo, 6 milhões (3%) não têm abastecimentobetway premierágua adequado e 1,2 milhão (0,6%) não têm banheiro ou sequer um sanitário.

Há algumas doenças que se espalham praticamente por todo o território nacional, como os acidentes ofídicos (as mordedurasbetway premierserpentes), e outras que estão restritas a pouquíssimos municípios, como a raiva humana.

Em editorial divulgado recentementebetway premieruma publicação acadêmica, representantes do Ministério da Saúde admitiram que a existência dessas doenças no país — e o fatobetway premierelas afetarem principalmente populações socialmente vulneráveis — "nos envergonha como nação".

Mas um projeto lançado pelo governo federal nas últimas semanas promete eliminar ou controlar muitas dessas enfermidades.

Problemas esquecidos

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Em linhas gerais, as doenças tropicais são definidas como aquelas que acontecem nos trópicos ou nas regiões mais quentes do planeta.

Embora o conceito seja um tanto impreciso — algumas dessas condições também aparecem nas zonas temperadas, por exemplo —, é tradicionalmente usado para reunir uma sériebetway premierquadros diferentes, que vão desde a malária e a dengue até a dracunculíase e as micoses profundas.

Mas quando uma doença tropical pode ser considerada como negligenciada?

"São aquelas condiçõesbetway premierque não existe um investimento importante, principalmente no que diz respeito à inovação tecnológica e à descobertabetway premiernovos medicamentos, vacinas ou testes diagnósticos", diz o infectologista Julio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Essas enfermidades também costumam estar relacionadas à pobreza e são "esquecidas" do pontobetway premiervista do poder público. Geralmente, não há programas para prevenção, detecção precoce ou tratamento delas.

"Falamosbetway premierdoenças negligenciadas, mas o correto seria falarbetway premierdoenças que acometem populações negligenciadas", argumenta Croda, que também é professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

"Isso porque elas estão associadas a desigualdades sociais e econômicas, o que também leva ao baixo interesse da indústria farmacêuticabetway premierproduzir inovações, pois do pontobetway premiervista financeiro não se tratabetway premierum mercado lucrativo."

Mosquito

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Legenda da foto, Mudanças climáticas favorecem disseminaçãobetway premiermosquitos transmissoresbetway premierdoenças

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que as doenças tropicais negligenciadas afetam 1,7 bilhãobetway premierpessoas no planeta e estão relacionadas a 200 mil mortes todos os anos.

A organização aponta que, além dos custos à saúde e da perdabetway premierprodutividade, essas enfermidades "são responsáveis por outras consequências, como deficiências, estigmatização, exclusão social e discriminação, que colocam uma pressão considerável sobre os pacientes e as famílias deles".

A OMS inclui na lista das doenças tropicais negligenciadas 25 condições diferentes.

Destas, dez são citadas diretamente no mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre o tema.

A maioria delas são causadas por vermes, protozoários, bactérias ou vírus.

"O tracoma, por exemplo, tem diagnóstico e tratamento simples, que se baseiabetway premieruma dose únicabetway premierantibiótico. Não é possível que nós ainda tenhamos casosbetway premierbrasileiros que ficam cegos por causa dessa infecção", diz Croda.

Vulneráveis duplicados

O númerobetway premierbrasileiros sob risco todos os anos, que se refere ao períodobetway premier2016 a 2020, praticamente dobroubetway premierrelação ao estimado para 2015.

Mas o que explica um salto tão grande?

Para o médico André Siqueira, do Instituto Nacionalbetway premierInfectologia Evandro Chagas (INI-Fiocruz), não há um único fator que esteja por trás desse aumento.

"Primeiro, tivemos uma melhora nos sistemasbetway premierdetecção e informação, que permitem conhecer os cenáriosbetway premierque as pessoas estão mais expostas", diz.

Ou seja, anteriormente, quando nem se sabia ao certo a verdadeira situação dessas doenças — númerobetway premiercasos e mortes, locais com mais transmissão, etc. — era ainda mais difícil estimar o impacto delas na população.

"Em segundo lugar, existem condições que podem favorecer a ocorrência dessas doenças", diz o especialista, que é vice-presidente da Sociedade Brasileirabetway premierMedicina Tropical.

Entre essas condições, não é possível ignorar o impacto das mudanças climáticas.

O aumento médio da temperatura do planeta favorece o espalhamentobetway premierinsetos transmissoresbetway premierdoenças, como a leishmaniose.

Embora não apareçam na listabetway premierdoenças negligenciadas do Brasil, o calor também representa uma boa notícia para o mosquito por trásbetway premierdengue, zika e chikungunya — o Aedes aegypti.

A epidemiologista Ethel Maciel, secretáriabetway premierVigilânciabetway premierSaúde e Ambiente do Ministério da Saúde, cita ainda dois outros elementos que ajudam a entender este cenário.

"O próprio aumento da pobreza que vivenciamos nos últimos anos no Brasil também impactou esses números", diz Maciel.

"Na Amazônia, tivemos secas recentes, o que fez muitas populações ficarem desassistidas do ponto da saúde, porque há lugares onde você só chegabetway premierbarco."

A especialista ainda aponta que o garimpo ilegal "restringiu ou dificultou o acesso à água e aos alimentos no território yanomami ebetway premiermuitas outras regiões".

Rio secobetway premierManaus com barcos ao fundo

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Legenda da foto, A seca na Amazônia deixou algumas populações sem assistênciabetway premiersaúde — o que contribui para o controlebetway premierdoenças negligenciadas

Como resolver esse problema?

Para lidar com as doenças negligenciadas e outras condiçõesbetway premiersaúde, o governo federal anunciou no iníciobetway premierfevereiro o programa Brasil Saudável.

A partir do lançamento do projeto, que contou com a presença do biólogo Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, o Brasil se tornou o primeiro país do mundo a lançar uma política que pretende eliminar ou reduzir o impactobetway premier14 doenças ou infecções que têm um componente social, relacionado à pobreza ou às populações vulneráveis.

O Brasil Saudável visa erradicar até 2030 doenças como malária, Chagas, tracoma, filariose, esquistossomose, oncocercose e algumas verminoses intestinais.

Além disso, há metas para reduzir casosbetway premiertuberculose, HIV, hanseníase e hepatites virais — e acabar com a transmissão vertical (quando o agente infeccioso passa da mãe para o bebê na gestação, parto ou amamentação)betway premierHIV, sífilis, hepatite B, Chagas e HTLV.

O Brasil Saudável é liderado pelo Ministério da Saúde, mas conta com a participaçãobetway premier14 ministérios reunidosbetway premierum comitê, porque muitas das ações não envolvem apenas a prestaçãobetway premierserviços médicos, mas também questõesbetway premiersaneamento básico, moradia e combate à pobreza.

"Precisamos do Ministério da Justiça, porque algumas das doenças se concentram no sistema prisional. Precisamos do Ministério dos Povos Indígenas, porque algumas dessas populações são mais afetadas por determinadas condições. Precisamos do Ministério da Igualdade Racial, uma vez que parte das enfermidades acomete desproporcionalmente a população negra. E assim por diante", exemplifica Maciel.

"O Brasil pode ser protagonista no enfrentamentobetway premiermuitas dessas doenças".

Alguns dos problemas negligenciados que aparecem no boletim epidemiológico já estão bem próximosbetway premiervirar coisa do passado.

É o caso da filariose linfática, também conhecida como elefantíase. O Brasil tinha poucos focos,betway premiercidades pernambucanas, e não registrou casos nos últimos anos.

Com isso, as autoridades sanitárias fizeram um dossiê no final do ano passado pedindo que a Organização Pan-Americanabetway premierSaúde (Opas), o braço da OMS nas Américas, conceda o certificadobetway premiereliminação dessa verminose ao país.

Maciel espera que o Ministério da Saúde consiga fazer aindabetway premier2024 uma requisição parecida sobre a oncocercose e o tracoma, para que esses quadros também estejam oficialmente fora do mapa brasileiro.

Pessoa com filariose

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Legenda da foto, Brasil está prestes a ganhar certificadobetway premiereliminação da filariose linfática

Siqueira pondera que a eliminaçãobetway premieruma moléstia não significa que a história acabou.

"É possível, sim, eliminar essas doenças, e nosso país já fez issobetway premieroutras ocasiões. Mas a fragilidade dos sistemasbetway premiersaúde locais podem fazer com que elas voltem", observa ele.

"Para muitas delas, precisamosbetway premierestratégias conjuntas que ultrapassam o setor da saúde e estão relacionadas às condiçõesbetway premiervida ebetway premierhabitação melhores."

Croda também vê com bons olhos a iniciativa do governo e chama a atenção para a necessidadebetway premierinvestimentos.

"É importante existir uma vontade política para eliminar essas doenças, mas precisamos ir além", aponta ele.

"Necessitamosbetway premierinvestimentosbetway premierpesquisa e desenvolvimento, porque não há interesse da indústria farmacêuticabetway premiercriar tratamentos, vacinas ou testes diagnósticos para essas condições."

O infectologista lembra que, há alguns anos, existia uma grande dificuldadebetway premierse obter exames para detectar a doençabetway premierChagas — e isso só mudou quando o poder público decidiu que o Brasil iria liderar essa busca por testes.

"Sem investimentos destinados para isso, não conseguiremos atingir as metasbetway premiereliminação", alerta Croda.

Maciel pontua que haverá financiamento para o projeto, e os valores serão maiores ao que é historicamente gasto com as doenças negligenciadas.

"Além disso, o Novo PAC [Programabetway premierAceleração do Crescimento] também tem os vazios assistenciais como alvo, com foco especial no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde muitas dessas condições têm maior concentração."