Por que Colômbia é 2º país da América Latina a anunciar corterelações com Israel:
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou nesta quarta-feira (1º) que seu país vai romper relações diplomáticas com Israel.
"Aqui, diantevocês, o presidente da república informa que amanhã as relações diplomáticas com o EstadoIsrael serão rompidas", disse.
O anúncio do Petro ocorreu diantemilharesapoiadoresBogotá, capital colombiana, durante eventocomemoração ao Dia Internacional do Trabalho.
Petro já havia criticado duramente as açõesIsraelGaza emguerra contra o grupo islâmico Hamas. Mais34,5 mil palestinos foram mortos no confronto.
"Hoje, a humanidade,todas as ruas, concorda conosco. A era do genocídio, do extermínioum povo inteiro diante dos nossos olhos, diante da nossa humanidade, não pode voltar", disse Petro.
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Fim do Matérias recomendadas
A ruptura nas relações anunciada pelo governo colombiano, o primeiroesquerda na história do país, representa uma mudança180 graus na políticagestões anteriores, que estabeleceram a Colômbia como o principal aliadoIsrael na região.
Deterioração progressiva
As relações entre Israel e a Colômbia esfriaram progressivamente desde que as forças israelenses responderam ao ataque sem precedentes que o Hamas realizou no seu território7outubro2023.
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A incursão do Hamas terminou com mais1,2 mil mortos e 240 pessoas feitas reféns.
Poucos dias após a escalada do conflito, Israel disse que iria "suspender as exportações[itens de] segurança" para a Colômbia depois que Petro comparou a linguagem do ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, à usada pelos "nazistas contra os judeus".
Em fevereiro desse ano, uma fala semelhante do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT), comparando as açõesIsraelGaza ao Holocausto, gerou uma crise diplomática, incluindo a convocaçãoembaixadores (leia mais abaixo).
Enquanto isso, tambémfevereiro, Petro suspendeu as comprasarmasIsrael depois da mortedezenaspessoas que estavam procurando alimentosGaza durante uma ofensiva israelense.
O presidente colombiano descreveu estes atos como "genocídio", disse que lembravam o Holocausto e acrescentou que o mundo deveria "impedir" Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelense.
Em novembro do ano passado, a Bolívia tornou-se o primeiro país da região a romper relações com Israel depois do 7outubro.
A decisão foi anunciada pela ministra da Presidência, María Nela Prada, e pelo vice-chanceler das Relações Exteriores, Freddy Mamani.
A Bolívia "tomou a determinaçãoromper relações diplomáticas com o EstadoIsraelrepúdio e condenação à agressiva e desproporcional ofensiva militar que ocorre na FaixaGaza", declarou Mamani.
Fim da 'relação especial'?
Em 2020, o então governoIván Duque na Colômbia assinou um AcordoLivre Comércio "de última geração" com Israel.
Foi o passo com que a Colômbia se estabeleceu como principal aliadaIsrael na América do Sul, aprofundando uma relação que se fortaleceu rapidamente nos 20 anos anteriores.
Desde o início do século 20 e durante a Guerra Fria, a Colômbia foi também um aliado importante dos Estados Unidos na América Latina.
"E a conjunçãointeresses entre os dois países e Israel levou à criaçãoum triângulo estratégico entre os três", explica Marcos Peckell, professordiplomacia e relações internacionais, à BBC News Mundo (serviçoespanhol da BBC).
Após o ataque às Torres Gêmeas2001 e a chegada ao poderÁlvaro Uribe2002, a Colômbia juntou-se ao que os Estados Unidos chamaram"guerra global contra o terrorismo".
A partir desse momento, a Colômbia declarou as guerrilhas como "organizações terroristas" e passou classificar o conflito armado com esses grupos como uma "ameaça terrorista".
E foi então que os militares israelenses, que durante décadas enfrentaram movimentos que consideram terroristas como o Hamas e o Hezbollah, intervieram plenamente para apoiar as Forças Armadas Colombianas.
Entre 2002 e 2006, segundo dados oficiais, a importaçãomaterial militarIsrael para a Colômbia duplicou.
A cooperação não foi apenas militar.
Nos últimos 24 anos, por exemplo, milharescolombianos participaram do Mashav, um programa educativo do Ministério dos Negócios EstrangeirosIsrael que forma estrangeirosMedicina, Agricultura e Tecnologia.
Por isso, é tão comum ver colombianos e israelenses passarem meses ou anosintercâmbio no outro paísbuscaformação.
Ainda não se sabe o que pode acontecer com essa "relação especial" após a decisão anunciada por Petro.
A posição do Brasil sobre o conflito no Oriente Médio
Embora as relações entre Brasil e Israel estejam mantidas, elas ficaram estremecidas nos últimos meses.
Tradicionalmente, a diplomacia brasileira defende o direito palestino a um Estado independente e critica a ocupaçãoseu território por Israel.
A situação entre Brasil e Israel se agravoufevereiro, após o presidente Lula comparar a ação militarGaza ao Holocausto promovido pelo governo nazista da Alemanha, que matou milhõesjudeus na tentativaexterminar esse povo.
Como resposta, o ministro das Relações ExterioresIsrael, Israel Katz, chamou o embaixador brasileiro, Frederico Meyer, para um encontro no Museu do Holocausto.
Na ocasião, afirmou que Lula tornou-se "persona non grata" no país e não é bem-vindoIsrael.
Após o episódio, o Itamaraty convocou Meyervolta ao Brasil, numa ação que demonstrou a insatisfação brasileira com a atitude israelense.
Em abril, o governo brasileiro deixoucondenar um ataque do Irã ao território israelense.
Pela primeira vez, o Irã realizou ataques diretos contra o territórioIsrael, com o lançamentomuitos mísseis e drones.
Os dispositivos — mais300, segundo Israel — não chegaram a atingir o país, porque foram interceptados pelo sistemadefesa aéreo israelense, com apoioaliados, como Estados Unidos e França.
O governo iraniano disse que a ação era uma resposta ao ataque ao seu consulado na Síria, no dia 1ºabril, que Teerã atribuiu a Israel (embora Israel não tenha confirmado ser o autor).
O bombardeio matou 13 pessoas, incluindo um general63 anos com um longo históricoserviços prestados ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, o poderoso exército paralelo do Irã — e o mais numeroso dentro das suas Forças Armadas.
Naquela ocasião, o Itamaraty divulgou uma nota condenando o ataque ao consulado iraniano, sem mencionar Israel diretamente.
Agora, após os ataques iranianos, a diplomacia brasileira também se posicionou por meionota,que manifestou preocupação com a situação no Oriente Médio, mas não condenou expressamente a agressão.
"O Governo brasileiro acompanha, com grave preocupação, relatosenviodrones e mísseis do Irãdireção a Israel, deixandoalerta países vizinhos como Jordânia e Síria", disse a nota na ocasião.
"Desde o início do conflitocurso na FaixaGaza, o Governo brasileiro vem alertando sobre o potencial destrutivo do alastramento das hostilidades à Cisjordânia e para outros países, como Líbano, Síria, Iêmen e, agora, o Irã", continuou o comunicado.
A nota pedia ainda "a todas as partes envolvidas que exerçam máxima contenção" e conclamava "a comunidade internacional a mobilizar esforços no sentidoevitar uma escalada".