'O fogo parece estar dentrocasa, é difícil respirar': o impacto da fumaça das queimadas na saúde:

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse também no domingo que os incêndios registrados no interiorSão Paulo são atípicos e precisam ser investigados. Ela comparou a situação atual com o "Dia do Fogo", quando produtores rurais do Pará realizaram atravésuma ação conjunta uma sérieincêndios na Amazônia,agosto2019.

"Tem uma situação atípica. Você começa a teruma semana, praticamentedois dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo. Isso não faz parte da nossa curvaexperiência na nossa trajetóriatantos anosabordagem do fogo", disse Marina, segundo o portal G1.

"Do mesmo jeito que nós tivemos o 'dia do fogo', há uma forte suspeitaque agora esteja acontecendonovo", afirmou.

Em São Paulo, a situação se agravou na última sexta-feira (23/8), quando o Estado registrou 1.886 focosqueimadas — mais dos que os 1.666 registrados durante todo o ano passado. Em relação ao mesmo mês no ano passado, o aumento foimais880%.

Dois funcionáriosuma usinaUrupês, região metropolitanaSão José do Rio Preto, morreram enquanto combatiam as chamas.

O Instituto NacionalPesquisas Espacias (Inpe) informa que o Brasil registra 4.928 focoscalor.

Isso significa que apenas o EstadoSão Paulo respondeu por 38%todas as queimadas do país, conforme mostra comparativo feito pela empresameteorologia MetSul.

Segundo informações da Secretaria do Estado divulgadas no domingo (25/8), 46 municípios estão sendo monitorados e estãoalerta máximo para queimadas.

"A fumaça vêm sendo transportadas pelos ventos. A condiçãotempo seco nos últimos dias, somada ao efeitoaproximaçãouma frente fria, que alinha os ventosnoroeste para sudeste e os deixa mais intensos, têm favorecido a propagação e proliferaçãoqueimadas, bem como dificultam qualquer tentativacombate”, explica Ana Avila, meteorologista e pesquisadora da Universidade EstadualCampinas (Unicamp).

"Estamosum anoque as chuvas estão abaixo da média, o que significa que há menos umidade disponível para a vegetação, e os clima fica mais quente. Com essas condições o fogo se alastra rapidamente, mas o maior responsável por esse expressivo númeroqueimadas é o ser humano."

'Passei muito mal'

Cristina, moradoraRibeirão Preto que trabalha no ramo imobiliário, sofreasma e conta que a qualidade do ar piorou muito desde os incêndios começaram.

As queimadas liberam substâncias tóxicas que irritam as narinas, olhos e garganta, alématravessarem as células pulmonares e entrarem na circulação sanguínea.

Dessa forma, são distribuídas por todo o corpo, causando inflamação, especialmentepessoas com problemassaúde preexistentes.

"Nunca vivi algo tão aterrorizante. Havia tanta cinza e fuligem dentro dos apartamentos... Mesmo com tudo fechado. Falei para minha filha: 'Parece que o fogo está aqui dentro'. É difícil respirar".

"Tive que colocar um vaporizador ao meu lado durante a noite, e minha bombinha ficou debaixo do travesseiro. Usei bastante. É um remédio que eu pego na farmácia pela Farmácia Popular, e que peguei semana passada, mas já está quase acabando", diz ela.

"Passei muito mal, e sei que muitas pessoas estão internadas por causa da qualidade do ar."

Imagens no CentroPrevisãoTempo e Estudos Climáticos do INPE mostram que dez Estados brasileiros enfrentam uma acentuada piora na qualidade do ar devido a queimadas na Amazônia. Alguns, como é o casoSão Paulo, têm focosincêndios próprios, o que agrava a situação.

O MetSul descreve que uma massaar seco e extremamente quente atuou no centro do Brasil na última semana e favoreceu temperaturas muito altas ainda no Sul e no Norte do Brasil com marcas perto e acima40ºCvários Estados.

"O tempo seco e quente contribuiu para um salto no númeroqueimadas, como se dá todos os anos nesta época que marca o auge da estação seca no centro do Brasil, mas a explosãoqueimadas verificadaSão Paulo não pode ser explicada apenas pelo clima e tem origem humana, o que deverá ser investigado pelas autoridades", diz o informe.

São Paulo já registra chuvasvárias regiões, pela chegadauma frente fria que colaborou para cessar a maioria dos focosfogo no território do Estado.

Os ventos que acompanham a frente fria, no entanto, levaram a fumaçaqueimadas para Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais.

O governadorSão Paulo, TarcísioFreitas (Republicanos), afirmou,coletivaimprensa, que foi criado um plano emergencial para ampliar a capacidadeatendimento das unidadessaúde na regiãoRibeirão Preto.

Coordenado pela SecretariaEstado da Saúde e o Hospital das Clínicas da FaculdadeMedicinaRibeirão Preto (HC-FMRP-USP), o pacoteações apresentado aos 26 municípios da região prevê a ampliação dos serviçostelemedicina, com médicos do HC que ficarão disponíveis 24h por dia para orientar as equipessaúde e encaminhar os casos mais graves para hospitaisreferência.

Ainda no sábado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o evento extremoSão Paulo é mais "uma emergência climática enfrentada pelo país" e afirmou ter conversado com o governador e acertado o envioaviões para combater os incêndios.

"O governo federal, por meio do Ministério da Defesa, também está enviando aviões para combater o fogo. É importantíssima a decisão do governadormontar uma salasituação e mobilizar todos os recursos do governo estadual", disse Marina.

Efeitos nocivos à saúde

As queimadas liberam substâncias perigosas para a saúde humana e animal.

De acordo com pneumologistas consultados pela BBC News Brasil, a fumaça contém materiais tóxicos, como dioxinas e metais pesados, alémpartículas finas que podem ser inaladas, causando problemas respiratórios graves, sobretudo para quem já tem doenças pré-existentes.

Gases tóxicos, como monóxidocarbono e óxidosnitrogênio, também são liberados, aumentando o risco e agravando doenças pulmonares e cardiovasculares.

Os poluentes podem se espalhar por grandes distâncias, impactando a saúderegiões distantesonde os incêndios ocorreram.

"As partículas finas e os elementos químicos presentes na poluição ultrapassam as células pulmonares [alvéolos] e entram na circulação sanguínea, sendo distribuídos por todo o corpo. Isso causa inflamação nos vasos sanguíneos, aumentando o riscopressão alta, arritmias e até infarto agudo do miocárdio", afirma Mauro Gomes, pneumologista e membro do DepartamentoClínica Médica da FaculdadeCiências Médicas da Santa CasaSão Paulo (FCMSCSP).

"Portanto, a poluição prejudica não apenas os pulmões, mas também o coração e a circulação", segue Gomes.

Quanto mais próximapessoas que estiverem no centroqueima, maior o riscoinalação.

"Pessoas com doenças crônicas, como asma, bronquite, enfisema, rinite, rinossinusite ou problemas cardiovasculares, são especialmente vulneráveis à inalaçãofumaça. É crucial monitorar esses grupos nas semanas e meses seguintes, pois os efeitos inflamatórios podem surgir com atraso, agravando outras condições crônicas", explica Ubiratan Santos, pneumologista e membro da SBPT (Sociedade BrasileiraPneumologia e Tisiologia).

Mas quem não tem doenças subjacentes também pode sofrer os efeitos, que incluem olhos vermelhos e irritação nos olhos, nariz e garganta.

Os especialistas aconselham evitar a exposição desnecessária à fumaça, ficandoambiente fechado quando possível, e ao sair na rua, usar máscara (especialmente o modelo N95, que se tornou popular durante a pandemiacovid, porcapacidadefiltrar partículas finas).

"Em relação à proteçãocasa, as janelas e portas devem ficar fechadas, e mesmo assim pode ser difícil impedir completamente a entradaar poluído, especialmente se houver frestas", afirma Gomes.

O médico recomenda usar umidificador, ou, na falta do acessório, baciaságua e panos molhados pela casa. Outras recomendações para quem moraáreas afetadas estão listadas abaixo.

Recomendações para a saúde

AutoridadesSão Paulo oferece recomendaçõessaúde e segurança (veja abaixo) que valem para todas as localidades do paíscasocontato com fumaçaincêndios:

Orientações gerais à população