O que se sabe sobre o 'Dia do Fogo', momento-chave das queimadas na Amazônia:cbet.gg
A primeira notícia sobre ele foi publicada no dia 5cbet.ggagosto pelo jornal Folha do Progresso, da cidade paraensecbet.ggNovo Progresso, a 1.194 quilômetros da capital do Estado, Belém.
A reportagem relatava uma conversa com uma liderança dos produtores rurais da cidade, sem identificá-lo. Ele prometia promover incêndios florestais no dia 10.
"(Os produtores) querem o dia 10cbet.ggagosto para chamar atenção das autoridades. (...) Na região, o avanço da produção acontece sem apoio do governo. 'Precisamos mostrar para o presidente (Jair Bolsonaro) que queremos trabalhar e o único jeito é derrubando. Para formar e limpar nossas pastagens é com fogo'", dizia o texto.
As queimadas aumentaramcbet.ggfato no 'Dia do Fogo'?
No Pará, sim.
Dadoscbet.ggsatélite colhidos pelo Instituto Nacionalcbet.ggPesquisas Espaciais (Inpe) e compilados pela Secretaria Estadualcbet.ggMeio Ambiente do Pará mostram que, a partircbet.gg10cbet.ggagosto, houve um aumento significativo nas queimadascbet.ggáreascbet.ggfloresta.
Esse crescimento ocorreu principalmentecbet.ggreservas florestais das cidadescbet.ggNovo Progresso, Altamira e São Félix do Xingu - todas cortadas pela rodovia BR-163.
No dia 10, Novo Progresso tinha 124 registroscbet.ggfocoscbet.ggincêndio ativos, um aumentocbet.gg300%cbet.ggrelação ao dia anterior.
Altamira registrou 154 focoscbet.ggqueimadas entre os dias 6 e 8cbet.ggagosto. Nos três dias seguintes,cbet.gg9 a 11cbet.ggagosto, havia 431 pontoscbet.ggfogo na cidade. Ou seja, altacbet.gg179%cbet.ggtrês dias.
São Félix do Xingu apresentou um aumento mais significativo: entre os dias 6 e 8cbet.ggagosto, o município registrou 67 focos. Nos três dias seguintes, foram 288 - aumentocbet.gg329%cbet.ggtrês dias.
Nesta terça-feira (27),cbet.ggreunião com o presidente Jair Bolsonaro, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirmou que apenas na Áreacbet.ggProteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu,cbet.ggSão Félix, cercacbet.gg3.000 hectares foram perdidos para o fogo nos últimos dias.
"É queimadacbet.ggfloresta para fazer pasto", disse Barbalho. "O sujeito vai lá, desmata, queima, faz um pasto e aluga a área para um produtor rural."
Como as autoridades reagiram às ameaças?
A publicação da primeira notícia sobre o "Dia do Fogo" chamou a atenção do Ministério Público Federal. Ecbet.gg8/8, dois dias antes da ação prometida, a Procuradoriacbet.ggItaituba (PA) enviou um alerta "urgente" ao Ibama, pedindo reforço na fiscalizaçãocbet.ggáreascbet.ggpreservação.
O Ibama não aumentou a fiscalização, segundo um documento do próprio instituto, e só respondeu ao MPFcbet.gg12cbet.ggagosto, dois dias depois do "Dia do Fogo".
"Devido a diversos ataques sofridos e à ausência do apoio da Polícia Militar do Pará, as açõescbet.ggfiscalização no Estado estão prejudicadas por envolverem riscos relacionados à segurança das equipescbet.ggcampo", escreveu Roberto Victor Lacava e Silva, gerente-executivo-substituto do Ibama,cbet.ggdocumento enviado ao MPF.
Lacava afirmou no texto ter pedido reforçocbet.ggsegurança à Força Nacional, mas esse braço do Ministério da Justiça também não participoucbet.ggaçõescbet.ggprevenção aos incêndios.
O Ibama também informou ter enviado uma viatura para ajudar na fiscalização, mas para outra cidade, Itaituba, a cercacbet.gg400 quilômetroscbet.ggNovo Progresso.
A reportagem apurou que agentes do Ibama relataram ameaçascbet.ggmorte na regiãocbet.ggNovo Progresso nos últimos meses, aumentando a tensão entre grileiros e funcionários públicos. Procurado pela BBC News Brasil, o instituto não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Algum suspeito já foi identificado?
Os investigadores do MPF e da PF ainda não identificaram responsáveis por incendiar a mata, que podem ter se articuladocbet.gggruposcbet.ggWhatsapp, principalmente no Pará.
Para o procurador Paulocbet.ggTarso Moreira Oliveira, um dos membros da investigação do chamado "Dia do Fogo", será uma tarefa árdua individualizar a condutacbet.ggcada uma dos incendiários, tendocbet.ggvista a extensão dos territórios sob investigação.
Segundo ele, os dados apontam que houve uma ação coletiva e premeditada para colocar fogo na floresta. "É possível que centenascbet.ggpessoas tenham participado desse crime", disse à BBC News Brasil, falando por telefonecbet.ggItaituba.
Depois do anúncio do "Dia do Fogo" no jornalcbet.ggNovo Progresso, a delegacia da cidade, que tem apenas um delegado e três agentes, ouviu três pessoas - uma delas foi o jornalista que escreveu a notícia - para tentar apurar se houve uma ação coletiva e organizada.
Outro dos ouvidos pela polícia foi Agamenon Meneses, presidente do Sindicato dos Produtores Ruraiscbet.ggNovo Progresso.
À BBC News Brasil Meneses negou que tenha existido um "Dia do Fogo" e que agricultores tenham sido responsáveis por ele. "É uma mentira. Um infelizcbet.ggum jornaleco, que não gosta da cidade e faz oposição ao governo, colocou essa notícia no ar, sem provas", disse.
"Não há um sequer comentário sobre isso, não conheço esse tipocbet.ggcoisa. O que houve aqui foram queimadas como ocorrem todos os anos. A seca foi maior esse ano e ocorreram esses incêndios, natural. Mas isso é uma mentira que está causando um barulho medonho", afirmou, por telefone.
Segundo o procurador Paulocbet.ggTarso Moreira Oliveira, a investigaçãocbet.ggcurso pode envolver também pessoas ligadas a desmatamento e fraudes fundiárias.
"Nós sabemos que existe uma pressãocbet.ggtorno das áreas que foram objeto do fogo. Há pessoas da região que há muito tempo exercem pressão nessas áreas (que foram queimadas). Essas pessoas são naturalmente alvos prioritários para nossa investigação", disse.
Áreascbet.ggdisputa
Em Novo Progresso, o local que mais sofreu com queimadas neste mês é um alvo tradicionalcbet.gggrileiros, a Floresta Nacionalcbet.ggJamanxim, reserva nacionalcbet.gg1,3 milhãocbet.gghectares, criadacbet.gg2006. Entre 9 e 11cbet.ggagosto, foram registrados 136 focoscbet.ggincêndio no local.
Segundo estudos da ONG Iamazon, a florestacbet.ggJamanxim era a segunda mais desmatada da Amazôniacbet.gg2016.
Nos últimos anos, o MPF e a Polícia Federal realizaram uma sériecbet.ggoperações para investigar desmatamentos e queimadas na região. Produtores e empresários locais já foram condenados a pagar multas milionárias por promover a destruiçãocbet.ggmilharescbet.gghectarescbet.ggJamanxim e outros pontos da região.
Perto dessa floresta, tambémcbet.ggNovo Progresso, existe o Projetocbet.ggDesenvolvimento Sustentável (PDS) Terra Nossa, que também sofreu com incêndios neste mês. A área é gerida pelo órgão federal Instituto Nacionalcbet.ggColonização e Reforma Agrária (Incra) e ocupada por pequenos agricultores. Recentemente, o PDS também vem sofrendo com desmatamento, invasãocbet.gggrileiros e queimadas - o intuito é diminuircbet.ggárea para implantaçãocbet.ggpastos.
Mesmo com esse histórico, Novo Progresso sequer tem um Corpocbet.ggBombeiros - a brigada mais próxima ficacbet.ggItaituba, a mais ou menos seis horascbet.ggviagemcbet.ggcarro dali.
Impunidade como incentivo
Para o procurador Luíscbet.ggCamões, a impunidade para crimescbet.gggrilagem e desmatamento servecbet.ggincentivo para que novos episódios como o "Dia do Fogo" continuem a ocorrer. A lei 9.985 prevê multa e prisãocbet.ggdois a cinco anos para quem promover incêndiocbet.ggmata ou floresta.
"Hoje, se você furtar um celular, talvez fique mais tempo preso do que se botar fogocbet.ggfloresta", disse, por telefone.
"Há processoscbet.ggdesmatamento e queimadascbet.gg2003 e 2004 e que estão sendo julgados só agora", explica Camões. "O tardar da resposta do Estado também é um incentivo para essas ações."
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