Por que Coreia do Sul paga jovens reclusos para saíremcasa:

Legenda do áudio, Yoo Seung-gyu ficava isoladoseu quarto - e evitava até o banheiro para não ver a família

Essas pessoas reclusas são conhecidas como hikikomori, um termo cunhado pela primeira vez no Japão na década1990 para descrever a reclusão radical praticada por adolescentes e jovens adultos.

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Na Coreia do Sul, que enfrenta a taxafertilidade mais baixa do mundo e um declínio da produtividade, isso se tornou uma preocupação séria. Tanto que as autoridades estão oferecendo aos jovens reclusos um dinheiro mensal extra para convencê-los a saircasa.

Pessoasnove a 24 anosfamíliasbaixa renda podem receber até 650 mil won (cercaR$ 2,4 mil) como ajudacusto mensal. Eles também podem solicitar subsídios para uma sérieserviços, incluindo saúde, educação, aconselhamento, serviços jurídicos, atividades culturais e até "correçãoaparência e cicatrizes".

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Esses incentivos visam "permitir que jovens reclusos recuperem suas vidas diárias e se reintegrem à sociedade", segundo o Ministério da IgualdadeGênero e Família da Coreia do Sul.

O governo define esses jovens reclusos como "adolescentes que vivemum espaço confinado por um longo períodotempo, isolados do mundo exterior e têm dificuldade significativalevar uma vida normal".

No entanto, gastar dinheiro com esse problema não faz com que ele desapareça, dizem jovens que se isolaram.

Yoo agora dirige uma empresa que apoia jovens reclusos chamada Not Scary — e leva uma vida bem diferente dos diasque não saíaseu quarto nem mesmo para usar o banheiro.

No entanto,jornada para abandonar os anosreclusão foi cheiaaltos e baixos. Ele se retirou do mundo exterior pela primeira vez quando tinha 19 anos, saiu da reclusão por dois anos para prestar o serviço militar obrigatório e depois se isolou novamente por dois anos.

Quarto bagunçado
Legenda da foto, O quartoYoo há dois anos, quando o jovem raramente saía dele

Park Tae-hong, outro ex-recluso, disse que o autoisolamento pode ser "reconfortante" para algumas pessoas. "Quando você tenta coisas novas, é emocionante, apesar da ansiedade. Mas quando você está apenas no seu quarto, não precisa sentir isso. No entanto, não é bom no longo prazo", diz Park,34 anos.

Cerca340 mil pessoas19 a 39 anos no país — ou 3% das pessoas nessa faixa etária — são consideradas solitárias ou isoladas, segundo o Instituto CoreanoSaúde e Assuntos Sociais.

A pesquisa também mostrou uma proporção crescentefamíliasuma pessoa só na Coreia do Sul, representando cercaum terçounidades familiares inteiras2022. Ao mesmo tempo, o númeropessoas que tiveram "mortes solitárias" no país aumentou.

O dinheiro, ou a falta dele, não é o que leva os jovens à reclusão.

"Eles vêmorigens financeiras variadas", disse Park. "Eu me pergunto por que o governo conecta reclusão com situação financeira. Nem todo jovem recluso está tendo dificuldades financeiras."

"Indivíduos que precisam desesperadamentedinheiro podem ser forçados a se adaptar à sociedade. Existem muitos casos diferentes."

Tanto ele quanto Yoo, por exemplo, eram sustentados financeiramente pelos pais quando estavamreclusão.

O que é comum entre os jovens reclusos é a crençaque eles não corresponderam aos padrõessucesso da sociedade — ousuas famílias. Alguns se sentem desajustados porque não estão seguindo carreiras convencionais, enquanto outros podem ter sido criticados por notas acadêmicas baixas.

Yoo disse que entrou na universidade porque era o desejoseu pai, mas desistiu depoisum mês.

"Ir para a universidade me deixava com vergonha. Por que não pude ter a liberdadeescolher [meu cursoestudo]? Eu me sentia muito infeliz", disse ele. Ele também diz que nunca sentiu que poderia falar com seus pais sobre isso.

"A 'cultura' da vergonha na Coreia torna mais difícil para os reclusos falarem sobre seus problemas", disse Yoo. "Um dia, cheguei à conclusão que minha vida está errada e comecei a me isolar."

No seu isolamento, ele não ia nem ao banheiro porque não queria ver a família.

Para Park, a pressão social foi agravada por um relacionamento tenso comfamília.

Park Tae Hong

Crédito, Imagem cedida

Legenda da foto, Park Tae Hong, um ex-recluso, diz que as dificuldades financeiras não obrigam os jovens à reclusão

"Minha mãe e meu pai brigavam com frequência desde que eu era criança. Isso também afetou minha vida na escola — a escola na Coreia às vezes pode ser muito difícil. Eu não conseguia cuidarmim mesmo", disse Park.

Ele começou a fazer terapia2018, quando tinha 28 anos, e agora está retomando a vida social aos poucos.

Os jovens na Coreia do Sul se sentem oprimidos porque a sociedade espera que as pessoas sejamuma certa maneirauma certa idade, diz Kim Soo Jin, gerente sênior da Seed:s, agência especializadaprogramas para hikikomori.

"Quando eles não conseguem corresponder a essas expectativas, eles pensam 'eu fracassei, 'cheguei tarde demais para isso' — esse tipoatmosfera social deprimeautoestima e pode eventualmente isolá-los da sociedade", afirma ela.

A Seed:s administra um espaço físico onde os reclusos podem descansar, ter momentossilêncio e buscar aconselhamento. Seus programas são abertos a todos, independentementeseu nívelrenda.

Para Kim, uma sociedade que oferece mais variedadeempregos e oportunidadeseducação aos jovens seria mais acolhedora para indivíduos reclusos, diz Kim.

"Jovens reclusos querem um localtrabalho onde possam pensar 'Ah, eu posso fazer isso, não é tão difícil. Acho que posso aprender mais aqui e depois entrar no mundo real'", disse ela.

Park também espera que um dia a sociedade coreana possa ser mais receptiva aos jovens com interesses que estão fora do usual.

"No momento, apenas os obrigamos a estudar. Precisamos dar aos jovens a liberdadeencontrar coisasque gostem e nas quais sejam bons", diz ele.

Pessoas pintando

Crédito, SEED:S CENTRE

Legenda da foto, O instituto Seed:s ajuda pessoas que vivem isoladas

Os subsídios podem ser um "primeiro passo" para resolver o problema, mas alguns acreditam que o dinheiro pode ser melhor empregado. E que o financiamentoorganizações e programas voltados para jovens reclusos, oferecendo-lhes aconselhamento ou treinamento profissional, teria um impacto mais amplo.

"O próximo passo deve ser preparar programas nacionais gratuitos ealta qualidade para jovens reclusos. No momento, há um número muito limitadoprogramas e centros onde jovens reclusos podem participar e sentir que pertencem à sociedade", diz Kim Hye Won, diretora-chefe do PIE for Youth, organização que oferece programas para jovens reclusos e seus cuidadores.

Ainda assim, ela elogia o fatoo governo sul-coreano estar tentando resolver o problema na adolescência.

"É bom ver que [as novas medidas] focam nos adolescentes. A adolescência é o momentoouro para evitar a reclusão, porque a maioria dos adolescentes faz parteuma comunidade, como a escola. Depois disso, fica muito difícil encontrar essas pessoas. "

Yoo disse que emergiu do isolamento gradualmente. O que o ajudou, ele conta, foi conhecer ex-reclusos por meioum gruporeabilitação agora extinto chamado K2 International.

"Depois que recebi ajudaoutras pessoas, comecei a perceber que este não é apenas um problema meu, mas um problema da sociedade", disse. "E finalmente consegui sair da reclusão lentamente."