As raízes históricas da crítica machista à 'tia dos gatos':bac bo bet7k
O estereótipo da "tia dos gatos" (ou cat lady,bac bo bet7kinglês) é baseado na "solteirona"; uma mulher sem um homem, ou uma abreviação para lésbica. Embac bo bet7kforma mais comum, ela é retratada como uma mulher reclusabac bo bet7kóculos e casaquinho — e que possui pelo menos um gato, se não vários.
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Como Alice Maddicott, autorabac bo bet7kCat Women: An Exploration of Feline Friendships and Lingering Superstitions ("Mulheres-gato: uma exploraçãobac bo bet7kamizades felinas e superstições remanescentes",bac bo bet7ktradução livre), diz à BBC, os vínculos históricos entre mulheres e gatos têm origembac bo bet7kmuito tempo atrás, e são acompanhados por uma dicotomia persistente entre o hipersexual e o não-sexual.
A mulherbac bo bet7kBath, personagem dos contosbac bo bet7kGeoffrey Chaucer, por exemplo, foi chamadabac bo bet7kgata "para insultá-la e sugerir que era promíscua", explica Maddicott. Em outras palavras, "ser uma 'tia dos gatos' faz você perder a sexualidade, mas o gato também pode ser usado como um insulto referindo-se à promiscuidade e à luxúria".
Não é algo tão impensável; basta lembrar do termo contemporâneobac bo bet7kinglês cougar — que significa "puma" —, usado para descrever mulheres que namoram homens mais jovens.
A associação entre mulheres e gatos é mais antiga e mais difundida. No antigo Egito, onde os gatos foram domesticados há quase 10 mil anos, uma deusa metade gato, metade humana, Bastet, era reverenciada como a deusa da domesticidade, da fertilidade e do parto.
Ela protegia a casabac bo bet7kespíritos malignos e doenças e, como acontecia com a maioria das divindades egípcias, também desempenhava um papel na vida após a morte como guia e ajudante dos mortos. Na época greco-romana, surgiram interpretaçõesbac bo bet7kBastet como Ártemis (Grécia) e Diana (Roma), sendobac bo bet7kligação com os gatos ainda visível, emborabac bo bet7kmenor grau.
Elas assumiram formas humanas, com Ártemis ainda intimamente ligada aos gatos, e Diana se transformandobac bo bet7kgato (especificamente no poema Metamorfoses, de Ovídio, quando os deuses romanos fugiram para o Egito).
Na Europa, talvez o exemplo mais proeminente esteja na mitologia nórdica: Freyja, a deusa da fertilidade, do amor e da sorte, andava numa carruagem levada por dois gatos machos.
Na China antiga, o controlebac bo bet7kpragas e a fertilidade eram atribuídos à deusa-gata, Li Shou.
Mas, afinal, quando foi que a associação entre mulheres e gatos — sobretudo no Ocidente — se tornou mais negativa e controversa?
As origens
A resposta, ao que parece, está no cristianismo.
"Efetivamente, mulheres e gatosbac bo bet7kuníssono eram associados a deusas pré-cristãs", diz Maddicott, [o que] "a Igreja teria desaprovado, e poderia ser a raizbac bo bet7kalgumas das suspeitas que mais tarde explodiram com os julgamentosbac bo bet7kbruxas".
Os julgamentosbac bo bet7kpessoas acusadasbac bo bet7kbruxaria — embac bo bet7kmaioria, mulheres — resultavambac bo bet7kexecução no casobac bo bet7kcondenação.
No livro The Cat and the Human Imagination ("O Gato e a Imaginação Humana",bac bo bet7ktradução livre), Katharine M. Rogers escreve que, na Idade Média, a Igreja Católica Romana via as mulheres solteiras que andavam livremente como se fossem gatas à caça.
Mais tarde, para erradicar as crenças não-cristãs da Europa, todas as divindades não-cristãs foram consideradas malignas, e os gatos foram declarados servosbac bo bet7kSatanás. Seguiu-se uma sériebac bo bet7kpropagandas religiosas que descreviam as mulheres, os gatos ou ambos como malignos.
Em 1233, o papa Gregório emitiu o Vox in Rama, um decreto que destacava o "problema" da Europa com as religiões não-cristãs, acusando-asbac bo bet7kparticiparbac bo bet7kcultos satânicos, ao mesmo tempobac bo bet7kque descrevia os rituais destes cultosbac bo bet7k detalhes minuciosos.
De acordo com Classical Cats: The Rise and Fall of the Sacred Cat ("Gatos Clássicos: A Ascensão e Queda do Gato Sagrado",bac bo bet7ktradução livre),bac bo bet7kDonald W. Engels, este decreto papal deu "sanção divina para o extermínio dos gatos, especialmente os pretos, e o extermíniobac bo bet7ksuas donas mulheres."
Quando Agnes Waterhouse foi executada no primeiro julgamentobac bo bet7kbruxas da Inglaterra,bac bo bet7k1566, ela confessou que seu "familiar" (espírito sobrenatural que serve como companheirobac bo bet7kuma bruxa) era um gato chamado Sathan (Satanás), que mais tarde foi transformadobac bo bet7ksapo. A mulherbac bo bet7k63 anos foi enforcada, forjando para sempre a conexão mulher-gato-bruxa, que chegou aos EUA e culminou nos julgamentos das bruxasbac bo bet7kSalem.
"[Os gatos] são independentes e, muitas vezes, inteligentes — coisas que no passado, se as pessoas estivessem tentando controlar as mulheres, não gostariam que elas fossem", observa Maddicott.
De muitas maneiras, isso perturbava a ordem hierárquica cristã da vida na Terra, onde o homem estava no topo. Katharine M. Rogers desenvolve ainda mais essa ideia, escrevendo:
"Os gatos representam convenientemente o que os homens há muito tempo se queixam amargamente nas mulheres: não obedecem e não amam o suficiente. Homens que não conseguem controlar as mulheres, que gostariambac bo bet7kassociá-las a animais que não podem ser controlados."
Não ébac bo bet7kse admirar, portanto, que os gatos tenham aparecidobac bo bet7kdesenhos animados contra o sufrágio feminino nos Estados Unidos no início do século 20 para ridicularizar e diminuir o movimento das mulheres.
Essa associação entre gatos e mulheres faz partebac bo bet7kuma interação mais ampla entre humanos e animais, como disse à BBC Fiona Probyn-Rapsey, acadêmica da Universidadebac bo bet7kWollongong, na Austrália, que aborda os estudos sobre animais a partirbac bo bet7kuma perspectiva feminista pós-colonial.
"As ideias que temos sobre os animais alimentam as ideias sobre gênero", diz ela.
"Usamos rotineiramente troposbac bo bet7kanimais para falar sobre gênero, e para policiar comportamentosbac bo bet7kgênero ('cadela', 'galinha', 'piranha', 'garanhão'), assim comobac bo bet7k[raça e] racismo, que sempre faz usobac bo bet7ktroposbac bo bet7kanimais para desumanizar e negar a humanidade dos outros."
'Tia dos gatos' na cultura popular
Enquanto as mulheres solteiras foram rotuladasbac bo bet7k"solteironas", criticadas por drenar as finanças dos parentes, aquelas que também eram donasbac bo bet7kgatos eram consideradas duplamente condenadas. Na era vitoriana, esse vínculo havia permeado o meio cultural. Em 1880, o jornal The Dundee Courier declarou que: "a solteirona não seria típicabac bo bet7ksua classe sem o gato", e que "um não pode existir sem o outro".
Esse estereótipo da mulher solteira que vive com gatos persistiu até o século 20, talvez atingindo seu apogeu na cultura popularbac bo bet7k1976, com o lançamento do documentário Grey Gardens - Do Luxo à Decadência.
O filme retrata a vidabac bo bet7kEdith Bouvier Beale ("Little Edie") ebac bo bet7kmãe, Edith Ewing Bouvier Beale ("Big Edie") — ambas parentesbac bo bet7kJacqueline Kennedy Onassis —, e "Gray Gardens" era o nome da casabac bo bet7k14 quartosbac bo bet7kque moravambac bo bet7kEast Hampton, Nova York.
A casa estava tomada por dezenasbac bo bet7kgatos, latasbac bo bet7kcomida e lixo pelo chão, e o terreno invadido pela vegetação. O documentário era,bac bo bet7kcerta forma, uma fábula sobre o que acontece com uma mulher quando ela não tem um homem: Big Edie era divorciada, e Little Edie nunca se casou.
"[O estereótipo da 'tia dos gatos'] ajuda a rotular as mulheres que são vistas como inaceitáveisbac bo bet7ktermos das expectativas patriarcais da sociedade", diz Maddicott.
"As 'tias dos gatos' geralmente são mais velhas, solteiras e sem filhos, e a sociedade diz às mulheres que isso deve ser visto como um fracasso. Se você não seguir o que é esperadobac bo bet7kvocê, pode acabar não apenas sozinha, mas se tiver gatos, não há como voltar atrás, isso vai te levar ao extremobac bo bet7kmiséria e faltabac bo bet7ksexualidadebac bo bet7kGrey Gardens."
Grey Gardens estabeleceu o modelo para as "tias dos gatos" nas décadas seguintes na telona.
Os papéisbac bo bet7kMichelle Pfeiffer e Halle Berry como mulher-gato são um exemplo —bac bo bet7kBatman: O Retorno (1992), Pfeiffer era uma;bac bo bet7kMulher-Gato (2004), Berry é,bac bo bet7kcerta forma, orientada por uma; tem ainda a Sra. Deagle,bac bo bet7kGremlins (1984); Eleanor Abernathy, mais conhecida como "a Louca dos Gatos",bac bo bet7kOs Simpsons (primeira apariçãobac bo bet7k1988); e a participaçãobac bo bet7kRobert De Niro como uma "tia dos gatos" no programa Saturday Night Live (2004). No filme Uma Aventura LEGO (2014), uma senhora é donabac bo bet7kcercabac bo bet7k20 gatos.
As "tias dos gatos" também apareceram na literatura: idênticas às suas representações posteriores na telona. Tanto no livro quanto nas versões cinematográficasbac bo bet7kLaranja Mecânica; como a tia Jane do professor Pringle na série Jeeves & Wooster, do escritor PG Wodehouse, e a Srta. Caroline Percehousebac bo bet7kO Mistério Sittaford,bac bo bet7kAgatha Christie.
Mais recentemente, o medo — e as históriasbac bo bet7kadvertência —bac bo bet7kgatos e mulheres que permearam a cultura popular, oferecem agora, até certo ponto, um alívio cômico. Em Gilmore Girls (2000-2007), Lorelai, recém-solteira, liga para a filha Rory quando um gato, e na sequência dois, aparecem embac bo bet7kporta:
"Eles sabem. Os gatos sabem... Estou sozinha. Acho que preciso começar a colecionar jornais e revistas, encontrar um roupãobac bo bet7kbanho azul e perder meus dentes da frente."
Da mesma forma,bac bo bet7kum episódio de Crazy Ex-Girlfriend (2015-2019), Rebecca brinca com as amigasbac bo bet7kum número musical sobre se tornar a "tia dos gatos" depoisbac bo bet7kficar solteira. Em outras palavras, esta alegoria é agora, embac bo bet7kmaior parte, um completo clichê.
No entanto, esses estereótipos já desgastados têm uma popularidade cada vez menor hojebac bo bet7kdia.
As mulheres têm mais liberdade e poder para existir fora das "normas" históricas: mais mulheres estão optando por serem solteiras e não terem filhos; elas têm mais autoridade no localbac bo bet7ktrabalho, e o uso da palavra "solteirona", que havia saídobac bo bet7kmoda, foi recentemente reivindicado pelas feministas.
Até o termo "tia dos gatos" é agora amplamente e orgulhosamente usado por muitas donasbac bo bet7kgatos — incluindo celebridades, como Taylor Swift — nas redes sociais.
"Existem tantos exemplos maravilhososbac bo bet7kamizades entre mulheres e gatos sendo o que realmente são, um relacionamento positivo e normal com animaisbac bo bet7kestimação,bac bo bet7kvez do estereótipo", diz Maddicott.
A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris — um dos alvos dos comentáriosbac bo bet7kJ.D. Vance sobre a "tia dos gatos" sem filhos — não é solteira, nem tem gatos e ainda é madastrabac bo bet7kdois enteados, mas o significado histórico, e a inferência, permanecem.
Se uma mulher — ou uma pessoabac bo bet7kqualquer gênero — optar por ser uma "tia dos gatos" (quer tenha um ou não), talvez a escolhabac bo bet7kusar esse rótulo deva ser dela e somente dela.
bac bo bet7k Leia a bac bo bet7k íntegra desta reportagem bac bo bet7k (em inglês) no site bac bo bet7k BBC Culture bac bo bet7k .