3 razões que explicam força da economia do Peru mesmo com democracia fragilizada no país:
A EIU atribuiu a nova classificação para os peruanos à tentativa frustradagolpe empreendida por Castillodezembro passado — que levou àsaídapoder e posterior prisão. Isso tudo dentroum ambiente político já bastante instável nas últimas décadas.
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era do gelo caça niquelFim do Matérias recomendadas
Masmeio à grande turbulência política, a economia do Peru acumula quase 30 anosuma trajetóriacrescimento sustentado, com poucas interrupções, o que levou muitos especialistas a falar atéum "milagre econômico peruano".
Os números são convincentes. De acordo com o Banco Mundial, o Produto Interno Bruto multiplicou seu valor por seis desde 1993.
Em 2001, 20,3% dos peruanos viviam com menosUS$ 2,15 por dia2022; esse número foi reduzido para 5,8% da população.
Embora haja descontentamentoamplos setores com a manutenção das desigualdades no país — muitas vozes apontam que os dados do PIB escondem a realidade social peruana —, os números macroeconômicos da história recente são citados como exemplosucesso mundo afora.
"Em perspectiva, as últimas três décadas talvez tenham sido as melhores da história peruana. Nenhum país pode mostrar um histórico igual no declínio da pobreza", disse Waldo Mendoza, economista da Pontifícia Universidade Católica do Peru e ex-ministro da Economia, à BBC Mundo, o serviçoespanhol da BBC.
Como a economia conseguiu progredirmeio à tempestade política permanente no Peru? Existem algumas razões.
1. Independência do Banco Central
Especialistas afirmam que a independência do Banco CentralReserva do Peru (BCRP) egestão da política monetária têm sido um dos pilares do equilíbrio econômico peruano.
Carolina Trivelli, pesquisadora do InstitutoEstudos Peruanos, disse à BBC Mundo que "a independência que a Constituição1993 deu ao BCRP permitiu que ele tivesse uma gestão muito técnica e profissional, totalmente independente do ciclo econômico e político".
O conselhoadministração da instituição, composto por sete membros, é eleito pelo governo e pelo Congresso, mas, uma vez nomeados, são totalmente independentes .
Em um raro exemplocontinuidade nas instituições peruanas, o diretor do BCRP, Julio Velarde, está no cargo desde 2006 e já viu passar presidentesdiferentes denominações políticas.
Quando Pedro Castillo o confirmou no cargo, os mercados viram na decisão um sinalconfiança na economia peruana, dadas as dúvidas que surgiram sobre a política econômica que o novo presidente poderia adotar.
Assim, apesar das constantes mudançasrumo no governo e no Congresso do país, seu banco central tem conseguido seguir uma política coerente com foco no equilíbrio fiscal, na contenção da inflação e na manutenção do valor do sol, a moeda peruana.
O ex-ministro Mendoza destaca que “o banco central tem tido um papel tradicional no combate à inflação e continua a cumpri-lo agoracondições difíceis, já que existem pressões inflacionárias externas e o banco teve que reagir elevando fortemente a taxajuros”.
2. Modelo econômico blindado na Constituição
O modelo econômico aplicado no Peru nos últimos anos foi o consagrado emConstituição1993.
Aprovada no governoAlberto Fujimori e criticada por muitos, principalmente pela esquerda (que apontava deficiências democráticas), a Carta Magna lançou as bases para o crescimento que se seguiu à aprovação do texto constitucional e possibilitou a redução dos níveispobreza no país.
O artigo 62 da Constituição impede que os contratos firmados sejam modificados por leis posteriores, o que tem significado forte proteção às empresas estrangeiras que investem no país, tendo assim a garantiaque as condiçõessuas operações não serão alteradas.
Para alguns analistas, isso afastou o temor das habituais expropriações e nacionalizaçõesoutros países latino-americanos, o que permitiu ao país atrair grandes volumesinvestimentos.
Mas os críticos apontam que lidar com multinacionais na exportaçãomatérias-primas, especialmente minerais, não ocorreforma justa e exigem maior poderbarganha do Estado.
Na campanha que o levou à presidência, Pedro Castillo fez da renegociação com empresas estrangeiras umasuas bandeiras, mas seu governo não concretizou essas promessas.
Outro ponto fundamental está no Artigo 79, que determina que o Congresso não tem iniciativacriar ou aumentar gastos públicos, o que tem contribuído para o equilíbrio fiscal dos últimos anos. No entanto, uma recente decisão do Tribunal Constitucional propõe uma nova interpretação para limitar o seu alcance.
3. Flutuação que ajuda a manter a moeda estável
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Waldo Mendoza ressaltou que, se observarmos o comportamento do câmbio na América Latina, o do Peru é um dos menos voláteis.
Em outras palavras, a moeda peruana é uma das que menos vê seu valor flutuarrelação à moedareferência, o dólar americano, e não apresenta tendência a desvalorizações acentuadasmomentos econômicos adversos típicosoutras economias da região.
Apesartodo o furacão político, o país terminou 2022 ainda com queda na cotação do dólar, e a moeda peruana ficou na quarta posiçãoum ranking da Bloomberg que classifica as principais divisas latino-americanas.
Uma das razões para evitar desvalorizações acentuadas do sol é a política peruana"flutuação suja",que a taxacâmbio oscila, mas com intervenções eventuais do banco central local (modelo que o Banco Central brasileiro também segue).
O Peru conseguiu acumular maisUS$ 74 bilhõesreservas internacionais, algumas das mais altas da América Latinarelação ao PIB.
Trata-seuma quantidade bastante razoávelrecursos que o Banco CentralReserva do Peru pode mobilizarum piscarolhos para evitar uma depreciação excessivasua moeda.
Mendoza afirma que "as reservas são uma espécieseguro contra um 'câncer' e permitem atuarcircunstâncias complicadas que derrubariam qualquer país".
Esse colchão financeiro também é uma das razões pelas quais o Peru é um dos países com a menor dívida pública da região.
Os desafios ainda a serem superados
O progresso dos últimos anos não resolveu todos os problemas do país e não faltam vozes que apontam que os benefícios do crescimento não têm sido distribuídosforma justa.
Julieta Ayelen Almada, especialistaHistória Econômica da Universidade NacionalCórdoba, na Argentina, disse à BBC Mundo que "o crescimento do PIB por si só não mostra toda a realidade social. No Peru, nos últimos anos, temos visto uma crescente desigualdade no acesso a serviços básicos como saúde ou educação".
Carolina Trivelli, pesquisadora do InstitutoEstudos Peruanos, aponta que “muito tem sido feito para reduzir a pobreza monetária, mas muitas pessoas ainda estão longeviver nas condiçõesque deveriam”.
O próprio Velarde, diretor do banco central peruano, já declarou: "Temos renda para prestar serviços melhores".
Foi uma crítica aos governantesdiversos níveisum paísque a faltacapacidadegestão dos órgãos públicos e os frequentes escândaloscorrupção tornaram-se as principais preocupações.
Mas o crescimento das últimas décadas não serviu para corrigir as deficiênciasinfraestrutura, abastecimentorecursos essenciais como água ou serviços públicossaúde, que ficaram especialmente evidentes durante a pandemia do coronavírus.
O prognóstico para o futuro próximo não é muito otimista. O investimentomineração, tradicional motor do crescimento, parece ter abrandado devido à incerteza e aos constantes conflitos sociaistorno das grandes explorações.
E o contexto internacional, marcado pela inflação e pela guerra na Ucrânia, não convida ao otimismo para uma economia como a do Peru, que, por seu caráter aberto, é altamente permeável ao que ocorre no exterior.
O BCRP espera um crescimento3% entre 2022 e 2023, abaixo do necessário para continuar reduzindo a pobreza.
“Para continuar reduzindo a pobreza como fizemos nos últimos anos, precisamos crescer 4% ou 5%forma sustentada”, diz Trivelli.
Crescer mais e garantir que os benefícios cheguem a todos os peruanos será o desafio para manter vivo o "milagre peruano".