Crianças podem ser psicopatas?:bet 364 apk

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Legenda da foto, Menoresbet 364 apk18 anos podem sofrer com o chamado 'transtornobet 364 apkconduta'

Entenda a seguir quais são os traçosbet 364 apkpersonalidade que podem sugerir um transtornobet 364 apkconduta logo nos primeiros anosbet 364 apkvida, segundo as evidências científicas e o consenso entre especialistas.

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O que é psicopatia

Para começar a entender o assunto, é preciso conhecer melhor o quebet 364 apkfato significa ser psicopata.

"A psicopatia é um diagnóstico clínico, definido a partirbet 364 apkuma combinaçãobet 364 apkfatores, como demonstrar menos emoções, uma ausênciabet 364 apkremorso ou arrependimento, um certo charme e, ao mesmo tempo, uma impulsividade e um comportamento antissocial repetido", resume a psicóloga Arielle Baskin-Sommers, professora associada da Universidade Yale, nos Estados Unidos.

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"E todos esses atributos combinados fazem com que o indivíduo tenha um risco maiorbet 364 apkviolar normas, regras e leis", complementa a especialista.

Em termos práticos, uma das ferramentas mais utilizadas para diagnosticar alguém com esse transtorno é a chamada Lista Revisadabet 364 apkPsicopatiabet 364 apkHare, desenvolvida pelo psicólogo canadense Robert Hare a partir dos anos 1970.

Em resumo, esse instrumento é composto por 20 itens que ajudam a entender se uma pessoa tem traçosbet 364 apkpsicopatia ou não. A lista inclui:

  • Eloquência e charme superficial;
  • Senso grandiosobet 364 apkautoestima;
  • Necessidadebet 364 apkestímulos e propensão ao tédio;
  • Mentira patológica;
  • Enganação e manipulação;
  • Faltabet 364 apkremorso ou culpa;
  • Afeto superficial;
  • Insensibilidade e faltabet 364 apkempatia;
  • Estilobet 364 apkvida parasitário;
  • Controles comportamentais precários;
  • Comportamento sexual promíscuo;
  • Problemas comportamentais iniciais;
  • Faltabet 364 apkmetas realistas ebet 364 apklongo prazo;
  • Impulsividade;
  • Irresponsabilidade;
  • Falhabet 364 apkaceitar a responsabilidade por suas próprias ações;
  • Muitos relacionamentosbet 364 apkcurto prazo;
  • Delinquência juvenil;
  • Revogaçãobet 364 apkliberdade condicional;
  • Versatilidade criminal.

Um profissional treinado nessa escalabet 364 apkHare pode avaliar um paciente a partirbet 364 apkcada um desses 20 domínios. Quanto mais elevado for o resultado final da avaliação, maior a chancebet 364 apkessa pessoa serbet 364 apkfato psicopata.

Um ponto importante aqui é que a psicopatia não está necessariamente sempre relacionada com a violência física e o cometimentobet 364 apkcrimes.

"Em termos probabilísticos, alguém com psicopatia tem mais riscobet 364 apkser violento. Mas há pessoas que são psicopatas e não se engajambet 364 apkcomportamentosbet 364 apkviolência", diferencia Baskin-Sommers.

"E, por outro lado, a vasta maioria dos indivíduos que são violentos não tem psicopatia. Estima-se que esse transtorno afeta 1% da população geral. E, mesmo dentro do sistema penal, a prevalênciabet 364 apkpsicopatia fica ao redorbet 364 apk25%", calcula ela.

"Ou seja, entre sujeitos que estão no sistema penal a psicopatia é mais comum, mas ela não é majoritária nem mesmo nesse contexto."

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Legenda da foto, A psicopatia não está necessariamente relacionada com a violência — entre as características, estão 'charme superficial' e eloquência

O 'sumiço' da psicopatia

Mas há um problema nessa definiçãobet 364 apkpsicopatia, pelo menos do pontobet 364 apkvista clínico, na horabet 364 apkque o diagnóstico é feito no consultório.

Os mais recentes consensos da área, como a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatísticobet 364 apkTranstorno Mentais (DSM-5), publicado pela Associação Americanabet 364 apkPsiquiatria e reconhecido como um dos principais guias dessa especialidade médica, aboliu o termo "psicopatia".

Atualmente, o diagnóstico que mais se aproxima a esse quadro é o chamado "transtornobet 364 apkpersonalidade antissocial".

Segundo a associação americana, pessoas com esse quadro "podem repetidamente desconsiderar ou violar os direitos dos outros, mentir, enganar ou manipular, agir impulsivamente ou desconsiderar a segurançabet 364 apksi próprios oubet 364 apkoutros".

"Elas podem ter problemas com usobet 364 apkdrogas ou álcool, violar a lei e normalmente não demonstram remorso ou culpa", complementa a entidade.

Uma mudança parecida ocorreu na versão mais recente da Classificação Internacionalbet 364 apkDoenças (CID), da Organização Mundial da Saúde, que abarca a psicopatiabet 364 apkforma mais indireta, num rolbet 364 apk"transtornosbet 364 apkpersonalidade".

Segundo os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, essas mudançasbet 364 apkconceitos trazem o foco do diagnóstico dessas condições para o comportamento antissocial do paciente — e deixambet 364 apklado os traçosbet 364 apkpersonalidade que são mais difíceisbet 364 apkmedir objetivamente, como a insensibilidade.

A mudançabet 364 apknomenclatura gerou críticas e muitos debates entre especialistas. A psicóloga Abigail Marsh, professorabet 364 apkneurociência da Universidade Georgetown, nos EUA, cita os estigmas como um fator por trás da mudança.

"Certas condições são tão estigmatizadas que, independentemente do nome que receberem, continuarão a enfrentar barreiras e problemas", avalia a especialista, que também é cofundadora da Psychopathy Is, uma das únicas associações a fomentar estudos e campanhasbet 364 apkconscientização sobre psicopatia.

"Em vezbet 364 apkficarmos mudando os nomesbet 364 apktemposbet 364 apktempos, seria melhor educar as pessoas sobre a natureza desses transtornos, para desfazer mitos e medos que persistem na sociedade", opina ela.

Temos, então, dois cenários: do pontobet 364 apkvista "oficial" e burocrático, na horabet 364 apkfazer o diagnóstico no consultório e liberar eventuais tratamentos por planosbet 364 apksaúde, os médicos precisam usar os critérios que descrevem o transtornobet 364 apkpersonalidade antissocial, como rege o DSM ou o CID.

No entanto,bet 364 apkalguns desses episódios, caso o paciente apresente alguns traços específicos, é possível aprofundar um pouco mais a avaliação clínica e, com o auxíliobet 364 apkferramentas como a listabet 364 apkHare, investigar a possibilidadebet 364 apkuma psicopatia (embora esse termo não apareça mais nos manuais da área).

Os métodosbet 364 apkdiagnóstico específicos da psicopatia também são muito usados no contextobet 364 apkpesquisas científicas, que tentam entender melhor as origens genéticas, neurológicas e ambientais desse distúrbio.

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Legenda da foto, A psicopatia não é mais reconhecida como uma entidade clínica pelos principais manuaisbet 364 apkMedicina

O que é transtornobet 364 apkconduta

Como mencionado anteriormente, o tal transtornobet 364 apkpersonalidade antissocial só pode ser diagnosticadobet 364 apkpacientes maioresbet 364 apk18 anos.

Mas isso não quer dizer que alguns indíciosbet 364 apkpsicopatia não possam ser observados antes, entre a infância e a adolescência.

"É possível verificar alguns pontos, como a ausênciabet 364 apkmanifestações emocionais,bet 364 apkcrianças bem jovens, aos cinco ou seis anos", diz o pesquisador James Blair, professorbet 364 apkPsiquiatria Translacional da Universidadebet 364 apkCopenhague, na Dinamarca.

"Naturalmente, quanto mais jovem for o indivíduo, mais difícil é diferenciar as possíveis causas e os transtornos", complementa ele.

O pesquisador Luke Hyde, professorbet 364 apkpsicologia da Universidadebet 364 apkMichigan, nos Estados Unidos, pondera que essas suspeitasbet 364 apkum distúrbio psiquiátricobet 364 apkcrianças e adolescentes devem ser analisadas com muito cuidado — e com o auxíliobet 364 apkum profissional especializado na área.

"Diversas pesquisas mostram que muitos dos jovens que apresentam características compatíveis com a psicopatia aos 15 anos deixambet 364 apkatender a esses mesmos critérios mais tarde, quando têm 21 ou 22 anos", observa ele.

"Por isso, precisamos ter muito cuidado, pois um diagnóstico desses pode estigmatizar esses indivíduos."

O especialista lembra aqui do transtornobet 364 apkconduta, que pode ser detectado no público com menosbet 364 apk18 anos

"Esse distúrbio está mais relacionado a questões como quebrar as regras ou agressões repetidas. O DSM-5 explica que esses pacientes apresentam emoções pró sociais limitadas, vistas numa certa faltabet 364 apksensibilidade", resume ele.

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Legenda da foto, Crianças com transtornobet 364 apkconduta costumam não modificar comportamentos após repreensões ou puniçõesbet 364 apkpais e responsáveis

Mas há sinais que podem ser observados na prática?

"Algumas crianças [com transtornobet 364 apkconduta] são muito destemidas, têm níveis baixosbet 364 apkmedo diantebet 364 apkameaças ou não parambet 364 apkfazer coisas pelas quais são repreendidas ou punidas", exemplifica Marsh.

A especialista destaca que, nesse contexto, a punição não envolve nada drástico ou violento. Elas incluem conversas ou intervenções simples que pais e responsáveis fazem rotineiramente para que seus filhos não tenham comportamentos inadequados ou arriscados — como, por exemplo, pedir que a criança não coloque o dedo no buraco da tomada uma segunda vez.

"Alguns indivíduos nascem com níveis muito baixosbet 364 apksensibilidade à punição. Daí elas não temem as possíveis repreensões e não modificam o comportamento", destaca Marsh.

"Com o passar do tempo e a faltabet 364 apkresposta, os pais podem se frustrar e isso gera um ciclobet 364 apkcomportamentos cada vez piores, com agravamentobet 364 apkinsensibilidade e impulsividade, que podem desembocarbet 364 apkpsicopatia mais tardebet 364 apkalgumas pessoas", raciocina a especialista.

Marsh avalia que os pais precisam conhecer minimamente os comportamentos considerados adequados para cada faixa etária.

"Há casosbet 364 apkque a criança faz o que é esperado para alguém com três anosbet 364 apkidade. Mas há outras situaçõesbet 364 apkque já é possível notar algum sinalbet 364 apktranstorno", pontua ela.

Entre os principais pontosbet 364 apkatenção, a psicóloga destaca a insensibilidade à punição, o destemor (não demonstrar medo diantebet 364 apkameaças) e uma certa faltabet 364 apkafeição no contato com os outros.

"E, conforme a criança cresce, é possível observar que ela costuma quebrar muitas regras e não demonstra empatia", complementa a especialista.

Transtornobet 364 apkconduta hoje, psicopatia amanhã?

No entanto,bet 364 apkacordo com os pesquisadores, um erro comum por aqui é pensar que jovens diagnosticados com transtornobet 364 apkconduta estão praticamente condenados a virarem psicopatas no futuro.

"A insensibilidade e os outros traços emocionais desse distúrbio são apenas um fatorbet 364 apkrisco para a psicopatia", esclarece Hyde.

O psicólogo compara o possível vínculo entre os dois problemas com a relação estabelecida entre pressão alta e infarto.

"Quem tem hipertensão corre mais riscobet 364 apksofrer uma parada cardíaca. Mas falamos aquibet 364 apkuma probabilidade, nãobet 364 apkalgo que vai necessariamente acontecer", detalha ele.

"Provavelmente, um número muito reduzidobet 364 apkcrianças com transtornobet 364 apkconduta serão psicopatas na vida adulta, assim como uma quantidade pequenabet 364 apkhipertensos infarta", pondera ele.

"Mas fazer esse diagnóstico nos primeiros anosbet 364 apkvida pode ser uma boa maneirabet 364 apkidentificar os casos que vão se beneficiarbet 364 apktratamentos e estratégias preventivas", complementa o psicólogo.

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Legenda da foto, Terapias específicas usadas no transtornobet 364 apkconduta ajudam os pais a criar estratégias para modificar o comportamento dos filhos

Intervenções precoces são efetivas

Mas o que pode ser feito nesses casos? Que terapias estão disponíveis para ajudar crianças e adolescentes com transtornobet 364 apkconduta?

"É mito que psicopatia ou transtornosbet 364 apkpersonalidade não podem ser tratados", diz Marsh.

"Nesses casos, temos abordagens muito efetivas, que frequentemente envolvem também os pais e os cuidadores", responde Baskin-Sommers.

"A ideia aqui é ensinar os responsáveis por aquele jovem a criar estratégias para conversar sobre as emoções e criar limitesbet 364 apktermosbet 364 apkcomportamento", diz a pesquisadora.

Essa intervenção, chamada comumentebet 364 apk"terapia guiada pelos pais" ou "treinamentobet 364 apkgerenciamento parental", conta com a participaçãobet 364 apkum terapeuta que, durante as sessões conversa, orienta e instrui os responsáveis por aquelas crianças com transtornobet 364 apkconduta sobre a melhor maneirabet 364 apklidar com o dia a dia.

A meta, claro, é trabalhar aos poucos as atitudes e as emoções dos mais jovens, para que os sintomas (insensibilidade, impulsividade, agressividade…) melhorem aos poucos.

"A ideia é oferecer aos pais uma sériebet 364 apkhabilidades especiais para lidar com uma criança cujo cuidado é mais desafiador", resume Hyde.

"Já nos adolescentes, podemos usar a terapia multissistêmica, que envolve os pais, membros da comunidade e o próprio jovem que apresenta comportamentos mais extremos."

"Há também a possibilidadebet 364 apktrabalhar questões específicas, como a raiva e as agressões", complementa ele.

Marsh aponta que, embora os métodosbet 364 apkpsicoterapia sejam a primeira linhabet 364 apkintervenção, alguns casos também se beneficiambet 364 apkmedicações.

"Temos algumas evidências, ainda iniciais, que remédios usados no transtornobet 364 apkdéficitbet 364 apkatenção e hiperatividade (TDAH) e alguns estabilizadoresbet 364 apkhumor podem ajudar", conta a pesquisadora.

Blair reforça que as intervenções precoces são efetivas e podem surtir resultados positivos durante a vida toda daquele indivíduo.

"É muito mais fácil modificar o comportamentobet 364 apkuma criançabet 364 apkcinco ou seis anos do quebet 364 apkum indivíduobet 364 apk29 ou 30", avalia ele.

"Nós precisamos ajudar e dar a essas pessoas e suas famílias ferramentas para que elas possam ter uma vida feliz e cheiabet 364 apkpossibilidades."

"Isso é bom para elas mesmas e, claro, para toda a sociedade", conclui ele.