Por que tantos prédios ficam despejando água limpa sem parar nas ruas?:jogar among us

Água limpa que sai do prédio mais altojogar among usSão Paulo, o Platina 220
Legenda da foto, Especialista diz que água retiradajogar among usaquífero mais raso poderia ser usada para rega, lavagemjogar among uscarros e descargajogar among usbanheiros

Ele conta como isso tem causado transtornos a quem vive ali: "Aqui do lado, tem uma clínicajogar among usfisioterapia onde vão muitos idosos que usam andadores e cadeirajogar among usrodas. Eles sempre precisam atravessar esse riojogar among uságua na valeta. Deveriam armazenar essa água e usar ou oferecer para alguém, um lava-rápido".

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Quem vivejogar among usgrandes cidades, onde é comum haver edifícios com subsolos, já deve ter visto cenas parecidas.

Apenas na capital paulista, a reportagem da BBC News Brasil presenciou dezenasjogar among usoutros edifícios que despejam água limpa na ruajogar among usgrande quantidade,jogar among usdiferentes partes da cidade.

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Mas por que esses prédios jogam tanta água fora? De onde ela vem e o que poderia ser feito com ela?

A BBC News Brasil entrevistou especialistasjogar among ushidrologia e procurou o Departamentojogar among usÁguas e Energia Elétrica (DAEE) do Estadojogar among usSão Paulo para responder a essas questões.

Segundo eles, trata-sejogar among usuma situação bastante recorrentejogar among ustodo o país e que surge quando os prédios são construídos. A água poderia até ser aproveitada, mas isso exigiria uma autorização do órgão responsáveljogar among uscada Estado.

Essa permissão segue no entanto um processo burocrático e moroso, o que pode levar muitos edifícios a simplesmente decidir que é melhor despejar tudo na sarjetajogar among usuma vez.

A Porte Engenharia e Urbanismo, que construiu o Platina 220, disse à BBC News Brasil que "segue rigorosamente as diretrizes estabelecidas pelo Códigojogar among usObras e Edificaçõesjogar among usSão Paulo".

"A água interceptada do lençol freático superficial é imprópria para consumo, sendo lançada na sarjeta para captação no sistemajogar among usmicrodrenagem do município, cumprindo o ciclo hidrológico e seguindo estritamente as normas da legislação vigente", disse a Portejogar among usnota.

No entanto, a empresa não respondeu ao questionamento da reportagem se foi pedida uma autorização para uso da água.

A Porte afirmou que "não há registrojogar among usreclamações da vizinhança sobre eventuais transtornos causados pelo empreendimento" e disse que mantém aberto um canaljogar among usrelacionamento com os vizinhos "para promover melhorias e bem-estar aos moradores da região".

Procurada, a administradora do prédio, a Innova, também disse que segue a legislação vigente e que não há "registrosjogar among usreclamações sobre eventuais transtornos causados pelo edifício".

A empresa também não informou se solicitou a outorga para usar a água do lençol freático.

De onde vem a água?

Buracos se formandojogar among usárea úmida ao lado do Platina 220
Legenda da foto, Vizinhos dizem que são formados buracos na região úmida por onde passa a água que sai constantemente do edifício mais altojogar among usSão Paulo

A raiz do problema está literalmente sob a terra, e tudo começa logo quando um edifício é construído, explica Ricardo Hirata, professorjogar among usGeociências e Recursos Hidro subterrâneos na Universidadejogar among usSão Paulo (USP).

O hidrólogo diz que essa situação ocorre geralmente quando é feito um rebaixamento do solo para a construção dos andares que ficam sob a superfície da terra.

Se a fundação atinge um lençol freático, produz uma vazão constantejogar among uságua, que precisa então ser bombeada para evitar que um prédio inunde.

"Na capital paulista e na região metropolitana, temos o aquífero São Paulo. Na região central, ele é poroso, com areia e arenito. E, se você cavar a partirjogar among ustrês metros (de profundidade), encontra água nele", diz o professor.

Anderson Paiva, professorjogar among usengenharia civil na áreajogar among usrecursos hídricos da Universidade Federaljogar among usPernambuco (UFPE), afirma que isso acontecejogar among uscidadesjogar among ustodo o país, especialmente onde há prédios altos com garagens no subsolo.

No entanto, Paiva afirma que isso é menos comumjogar among uscidades como o Recife, onde os engenheiros costumam já fazer as garagens acima do nível do solo para evitar inundações.

"Até temos prédios aqui que chegaram nesse nível e precisam bombear água, principalmente hotéis e prédiosjogar among usáreas nobres. Mas, como temos muitos alagamentos, é mais comum que as garagens sejam acima do nível da rua e, dessa forma, não atingimos o lençol freático", relata o engenheiro.

Ele afirma que o principal cuidado quando é feito o rebaixamento do solo é impermeabilizar para evitar o contato da água com a alvenaria.

"A água consegue ter uma capilaridade por meio dos microporos do tijolo, o que pode causar umidade e comprometer a estrutura. O ideal é que a água entrejogar among uscontato apenas com estruturasjogar among usconcreto, que não tem essa porosidade do tijolo", afirma.

O professor da UFPE afirma não ser possível estimar quanta água é bombeada do solojogar among usgeral por prédios assim, porque seria preciso calcular a vazão, a potência do maquinário e quanto tempo elas passam ligadas diariamente, caso a caso.

O que poderia ser feito com a água?

Água saindojogar among ustorneira

Crédito, PA Media

Legenda da foto, O DAEE informou à reportagem que a cor cristalina da água não garante que ela é potável

A situação se complicajogar among usverdade quando uma construtora ou a administraçãojogar among usum edifício precisa dar um destino para toda essa água.

A água poderia serjogar among ustese aproveitada por prédios, mas algumas complicações tornam mais fácil mandar tudo para a sarjeta.

O primeiro ponto é preciso ter uma autorização para usar essa água. Uma outorga é emitida para o órgão responsável por regular a água e esgoto do Estado, como o DAEEjogar among usSão Paulo, a Cedae, no Riojogar among usJaneiro, e o Seia, na Bahia.

"Os pedidos são analisados caso a caso, levando-sejogar among usconta as especificidades do uso e da finalidade da demanda", informou o DAEE por meiojogar among usnota.

Mas Hirata explica que os órgãos podem com frequência demorar para emitir a autorização, porque ainda não estão plenamente acostumados a lidar com essas solicitações.

"Se você pede para tirar água do rio, o Estado sabe fazer issojogar among usmaneira ágil. Mas quando você vem com alternativas diferentes, ele se embaralha porque não tem essa prática", diz.

Prédios que usam este tipojogar among uságua sem pedir permissão podem ser multados e, inclusive, responder por crime ambiental.

Para quem não tem autorizaçãojogar among ususo, a recomendação oficial é despejar na rua, o que não exige nenhum tipojogar among usoutorga.

Outro ponto importante é que essa água não serve para beber, porque a cor cristalina da água não garante que seja potável, como explica o DAEE.

Mesmo assim, poderia ter outras finalidades, diz Hirata, que deu uma palestra neste ano sobre o assunto na Faculdadejogar among usHiroshima, no Japão.

"Ela pode ser aproveitada para rega, lavagem ou até mesmo na prumada da descarga dos banheiros. Não existe restrição, desde que não seja usadajogar among usmaneira potável", diz o hidrólogo.

Água que é despejada na rua pelo prédio mais alto do Brasil
Legenda da foto, Moradores e comerciantes dizem que água vaza constantemente do Platina 220

Normalmente, recomenda-se que a água seja tingida para deixar claro que éjogar among usreuso, segundo Hirata.

"No shopping Eldorado,jogar among usSão Paulo, a descarga tem água azul. Isso porque eles pegam água do esgoto, a tratam e tornam apta a outros usos. E eles usam um corante alimentício para que os funcionários não se atrapalhem", explica.

No entanto, o especialista ressalta que, mesmo para um uso não potável, é necessário fazer um estudo dessa água antesjogar among ususá-la.

Segundo Hirata, isso é importante porque, essa água pode ter algum contaminante, que pode causar problemasjogar among ussaúde ao entrarjogar among uscontato com a pele, ou doença respiratória, porque algumas destas substâncias podem ser voláteis.

Anderson Paiva, da UFPE, alerta ainda que a água do lençol freáticojogar among uscidades litorâneas tem outra questão importante que existe o tratamento.

"Você pode até retirar a água, mas, além dos contaminantes, é possível que ela tenha alta concentração salina", diz.

Hirata alerta que, mesmo com a autorização, é necessário fazer análises periódicas da água. Por estar mais próxima à superfície, ela pode se contaminar com facilidade. Por isso, o especialista reforça que não é recomendado bebê-la.

Qual o impacto desse 'desperdício'?

Água caindojogar among ustorneira aberta

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Mesmo com autorização, especialista indica que proprietário faça análises periódicas para saber se há contaminantes na água

Hirata afirma que o uso dessa água pode não causar grandes problemas no reservatório subterrâneojogar among usonde ela sai, porque ele acaba sendo constantemente "recarregado".

"A cidade impermeabiliza o solo, principalmente com concreto e asfalto. No entanto, a redejogar among usdistribuiçãojogar among uságua tem vazamentos ao longo do caminho até nossas casas e essa água parajogar among usalgum lugar. Normalmente, ela vai para o aquífero. Então, você não perde ela completamente, e alguém que cava um poço pode usá-la", afirma o hidrólogo.

Hirata também explica que a água da chuva também alimenta esse aquífero superficial após infiltrar no solo. Depoisjogar among uscair nessa rede subterrânea, ela se desloca até chegar a um rio. O professor estima que entre 30 a 40% da água da capital paulista é subterrânea, por isso os rios não secam durante o períodojogar among usestiagem.

No entanto, quando a água é retirada abundantemente e sem controlejogar among uspontos mais profundos, com maisjogar among us150 metrosjogar among usprofundidade, isso pode ter um grande impacto, segundo o hidrólogo.

"Quando tira muita água profunda, tem mais problema porque os aquíferos funcionam como descargas no riojogar among ustodo o percurso dele. Se tirarmos muita água dos poços, essa descarga diminui e o rio pode secar, o que chamamosjogar among ussuperexplotação", diz.

Ele cita como exemplo o aquífero Ogallala, nos Estados Unidos, que secou após ser usadojogar among usmaneira excessiva por fazendeiros do meio-oeste do país.

Por isso o órgão responsável faz uma análise do quantojogar among uságua é retirada, para entender o impacto que ela causará.

Para o professor, o Estado deveria ter programasjogar among usconscientização para estimular o aproveitamento dessa água, que acaba sendo desperdiçada diariamente por prédios no país inteiro.

"O futuro das cidades passará por reconhecer o uso dessas águas. Isso é um benefício para o usuário e para a sociedade, principalmente quem mora na periferia e sofre com constantes racionamentos", diz Hirata.

"A cidade moderna vai fazer mais uso desse tipojogar among uságua porque não podemos depender da água potável para lavar carro e regar jardim."