COP 27: cerrado desmatado pode reduzir águas nos riosbetano tv ao vivo1/3 e afetar geraçãobetano tv ao vivoenergia, indica estudo:betano tv ao vivo

Cachoeira no Cerrado

Crédito, Andre Dib/ISPN

Legenda da foto, Rios do Cerrado perderam 15,4%betano tv ao vivosua vazãobetano tv ao vivoágua entre 1985 e 2018, aponta estudo

Oito das 12 principais bacias hidrográficas brasileiras — como as dos rios São Francisco e Paraná — nascem no território do Cerrado, conhecido como "berço das águas" e segundo maior bioma do país, só atrás da Amazônia.

A pesquisa, que foi apoiada pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), analisou o comportamentobetano tv ao vivo81 bacias hidrográficas. No total, 88% delas já apresentam diminuição da vazãobetano tv ao vivoágua causada por alterações do uso do solo e,betano tv ao vivomenor escala, pelas mudanças climáticas.

O geógrafo mediu a recente perda e a tendência para o futuro por meiobetano tv ao vivomodelos matemáticos, compilando dados históricos sobre vazãobetano tv ao vivoágua, alterações no uso do solo, chuvas e evapotranspiração (ciclobetano tv ao vivoretorno da água à atmosfera).

Segundo ele, 56,7% da queda da vazão se deve a mudanças do uso do solo no entorno dos rios, especialmente para expansão do agronegócio — outros 43,3% foram causados pelas mudanças climáticas no planeta.

Áreabetano tv ao vivoplantaçãobetano tv ao vivosoja

Crédito, Thomas Bauer/Divulgação

Legenda da foto, Cercabetano tv ao vivo45% da área desmatada do Cerrado deu lugar à agropecuária, como plantaçãobetano tv ao vivosoja

Em grande parte, a vegetação do Cerrado vem sendo destruída para implantaçãobetano tv ao vivopastos oubetano tv ao vivograndes áreasbetano tv ao vivocultivobetano tv ao vivocommodities, como a soja. Estima-se que 47% da área original do bioma já foi totalmente desmatada.

"De 1985 para cá, nós perdemos 19,7 mil metros cúbicosbetano tv ao vivoágua por segundo nas bacias analisadas, o equivalente à vazão do rio Paraná. É como se tivéssemos jogado fora o rio Paraná inteiro nesse período", explica Salmona.

Para projetar a queda da vazão nos próximos 28 anos, o pesquisador considerou os índicesbetano tv ao vivodesmatamento atuais e a tendência para o futuro.

Ele levoubetano tv ao vivoconta uma possível queda dessa taxa — hoje entre 5 mil e 8 mil km² por ano — porque se o desmatamento continuar no ritmo atual, logo não haverá mais Cerrado para desmatar. "É como um homem calvo: ele já perdeu todos os fiosbetano tv ao vivocabelo com potencial para cair. Os restante não vai cair porque é o resto mesmo", explica.

Segundo Salmona, perder um terço dessas bacias significa diminuir a ofertabetano tv ao vivoágua que vai chegar nas torneiras da população, pois os rios que nascem no Cerrado abastecem dezenasbetano tv ao vivomilhõesbetano tv ao vivopessoas no país.

Outra consequência é a geraçãobetano tv ao vivoenergia elétrica.

"Menos água significa que vamos gerar menos energia elétrica nas usinas. Conservar o Cerrado é uma questão estratégica ebetano tv ao vivosoberania nacional", diz o geógrafo, cujo estudo foi apresentado no programabetano tv ao vivodoutorado da UnB, na semana passada.

O rio Arrojado, na Bahi

Crédito, ISPN

Legenda da foto, O rio Arrojado, na Bahia, foi um dos que mais foram afetados pelo desmatamento do Cerrado

Das bacias analisadas, Salmona destaca três rios cujo volumebetano tv ao vivoágua está caindo com o avanço do agronegóciobetano tv ao vivoseu entorno: o rio da Corda, no Maranhão, e os rios Arrojado e Ondas, ambos na Bahia.

No primeiro, o volume diminuiu 25%betano tv ao vivo1985 a 2022 — ou seja 391,5 metros cúbicos por segundo.

De acordo com o geógrafo, 74% desse valor teve como causa a substituição da vegetação original do entorno para dar lugar a pastagens, produçãobetano tv ao vivocommodities e áreas urbanas. Para os próximos 28 anos, as projeções indicam uma perda 56% do tamanho atual do rio da Corda.

No oeste baiano, a situação é parecida.

Os riosbetano tv ao vivoOndas e Arrojado registraram diminuição do volumebetano tv ao vivoáguabetano tv ao vivo25% e 18,2%, respectivamente. E a tendência é que o primeiro vá perder 56% da água até 2050; e o segundo, 36,2%.

"As comunidades que vivem nessas áreas já estão sentindo os efeitosbetano tv ao vivoseu modobetano tv ao vivovida com a diminuição da água, algumas só conseguem ficarbetano tv ao vivoperíodosbetano tv ao vivocheia. Já existe o que chamamosbetano tv ao vivo'guerra da água', com grupos econômicos controlando o acesso à água enquanto a população sofre com a escassez", explica Salmosa.

Em entrevista recente à BBC News Brasil, o biólogo Reuber Brandão, professorbetano tv ao vivomanejobetano tv ao vivofauna ebetano tv ao vivoáreas silvestres da UnB, afirmou que nascentesbetano tv ao vivoalguns rios no oeste da Bahia, como o Formoso e o Arrojado, recuaram vários quilômetrosbetano tv ao vivovirtude do avanço do agronegócio.

"Conheço veredas cujas nascentes recuaram maisbetano tv ao vivo10 quilômetrosbetano tv ao vivorelação à original. Essas áreas, que tinham a presençabetano tv ao vivocorpos aquáticos na paisagem, passaram a ser muito mais secas", disse.

"Isso tem um impacto muito grande sobre fauna e flora, porque as plantas que precisam ter contato com a água do solo sofrem um estresse hídrico e começam a morrer. Já a fauna foge para procurar água", completou.

Irrigaçãobetano tv ao vivosoja

Além do desmatamento, boa parte da água do Cerrado é utilizada para irrigaçãobetano tv ao vivoprodutos agrícolas, principalmente a soja. Essa água é retirada do solo com autorização do Estado, por meiobetano tv ao vivooutorgas previstas na lei.

Ela é utilizada nos chamados pivôs centrais, círculosbetano tv ao vivoirrigação com uma lançabetano tv ao vivo150 metros.

Pivô centralbetano tv ao vivofazenda

Crédito, Embrapa

Legenda da foto, Pivô central utilizado para irrigar lavoura

Uma reportagem da Agência Públicabetano tv ao vivo2021 apontou que, apenas no oeste baiano, o agronegócio capta 1,8 bilhãobetano tv ao vivolitrosbetano tv ao vivoágua por diabetano tv ao vivomaneira gratuita para irrigação, com autorização do governo do Estado.

Esse volume seria o suficiente para abastecer cercabetano tv ao vivo11,8 milhõesbetano tv ao vivobrasileiros. Parte dessa água é retirada por meiobetano tv ao vivobarramentosbetano tv ao vivoriachos e veredas, além da captação diretabetano tv ao vivorios ebetano tv ao vivopoços.

"O agronegócio está inviabilizando seu próprio modelo ao desmatar e utilizar a água dessa maneira sem controle externo, porque ele depende da água para funcionar. Não estamos apenas exportando soja, mas exportando água. E se a água acabar, o que vai acontecer? É a cobra comendo o próprio rabo", diz Salmona.

Áreasbetano tv ao vivoplantaçãobetano tv ao vivosoja ao lado do rio Formoso, na Bahia. Os círculos são pontos com pivô centralbetano tv ao vivoirrigação

Crédito, Google

Legenda da foto, Áreasbetano tv ao vivoplantaçãobetano tv ao vivosoja perto do rio Formoso, no oeste da Bahia. Os círculos são pontos com pivôs centraisbetano tv ao vivoirrigação

Biodiversidade do Cerrado

O Cerrado é a savana com maior biodiversidade no planeta, com cercabetano tv ao vivo14 mil espéciesbetano tv ao vivoplantas, alémbetano tv ao vivouma rica fauna.

Segundo o Sistemabetano tv ao vivoDetecçãobetano tv ao vivoDesmatamentobetano tv ao vivoTempo Real (Deter), do Instituto Nacionalbetano tv ao vivoPesquisas Espaciais (Inpe), o bioma perdeu 4.091,6 km² para o desmatamento entre janeiro e julho deste ano, altabetano tv ao vivo28,2%betano tv ao vivorelação ao mesmo período do ano passado.

Os dados mostram que os Estados que mais desmataram estão na região conhecida como Matopiba — principal fronteirabetano tv ao vivoexpansão agrícola no país: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

De acordo com o MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no Brasil, 45,4% do Cerrado já foi destruído para dar lugar à agropecuária.

Áreabetano tv ao vivoCerrado recém-incendiada

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, Segundo o MapBiomas, maisbetano tv ao vivo45% do Cerrado já foi destruído para dar lugar à agropecuária

Alguns estudiosos do bioma, como Yuri Salmona e Reuber Brandão, defendem que a economia brasileira teria mais benefícios se investissebetano tv ao vivociência e tecnologia desenvolvidas a partir da abundante biodiversidade do Cerrado do que com o atual modelo centradobetano tv ao vivomonoculturas e produçãobetano tv ao vivocommodities para exportação.

"Hoje o Brasil está destruindo o potencial econômicobetano tv ao vivo14 mil espécies, que poderiam movimentar a indústriabetano tv ao vivocosméticos, por exemplo, para focar na produçãobetano tv ao vivotrês espécies: soja, capim e eucalipto", diz Salmona.

Já Brandão acredita que produtosbetano tv ao vivovários setores poderiam ser desenvolvidos.

"O Cerrado tem um potencialbetano tv ao vivobiodiversidade gigantesco. Seja para bioprodutos tecnológicos, como colas, ou para alimentícios, cosméticos e medicamentos, como analgésicos. Há proteínas do veneno da jararaca, por exemplo, com valor econômico enorme. Ou a grande quantidadebetano tv ao vivopalmeiras e castanhas que nunca foram estudadas", explicou.

- Este texto foi publicadobetano tv ao vivohttp://vesser.net/brasil-63562381