'Ouço vozes falandoesport betlíngua que não entendo': o jovem colombiano premiado por relato sobre transtorno esquizoafetivo:esport bet
No seu momento mais grave, este pesadelo o levou a tentar acabar com a própria vida. "Tomei um frascoesport betcomprimidos e estou vivo porque consegui vomitar, na verdade."
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Fim do Matérias recomendadas
O diagnósticoesport betMichael é uma bombaesport betdose dupla: transtorno esquizoafetivo – uma condição mental que mistura sintomas da esquizofrenia, como alucinações e delírios, com sintomasesport bettranstornosesport betestadoesport betânimo, como a depressão e as manias – e transtornoesport betpersonalidade emocionalmente instável.
Hoje, com mais compreensão daesport betprópria mente e motivado a ajudar os outros, Michael conta que deseja derrubar os estigmas ainda mantidos pela sociedade frente aos transtornos mentais e termos como "esquizofrenia".
Estes estigmas,esport betcasos como o dele, podem ser tão ou mais prejudiciais do que os próprios transtornos.
Felipe?
Michael conta queesport betinfância foi muito solitária.
Ele jogava "rapa tudo" comesport betmãe, enquanto olhava do terraço os meninos correndo atrás da bola pelas ruas. A família morava naquele que chegou a ser o bairro mais violento da Colômbia, a Comuna 13esport betMedellín.
Foi naqueles primeiros anos que a mãe do jovem começou a perceber que ele tinha algo fora do normal.
"Ela conta que me via, por exemplo, nas escadasesport betcasa jogando xadrez sozinho, jogando Xbox sozinho", relembra ele.
A questão é que, para Michael, ele não passou sozinho muitos desses momentos, mas com seu amigo Felipe,esport betquem afirma ter lembranças muito claras.
"Eu me lembro dele!", conta Michael. "Eu lembro que ele usava sempre a mesma roupa. Ou seja, eu não me lembroesport better jogado xadrez sozinho."
Preocupada e acreditando que se tratasseesport betum contato com o além, a mãeesport betMichael, católica devota, levou seu filho para visitar o padre "para ver como era aquilo, se o moleque estava possuído, se estava falando com gente morta ou o que estava acontecendo".
À medida que Michael crescia, estas histórias continuavam alimentando a ideiaesport betque o jovem teria um dom.
Dividindo a mente
A vidaesport betMichael tomou um rumo radicalmente diferente, tantoesport betqualidadeesport betvida quanto geograficamente, quandoesport betfamília se mudou para o municípioesport betEnvigado, no lado oposto da região metropolitanaesport betMedellín, na Colômbia.
"Em Envigado, pude jogar futebol pela primeira vez com os moleques do bairro", relembra Michael sobre os tempos passados naquele município. "Eu estava na natação, no tênisesport betmesa (um dos [esportes em] que me saí melhor), tênisesport betquadra, patinação, uma porçãoesport betcoisas."
Foi naquela fase que Michael começou a observar com mais clareza as "sensações negativas" que percebiaesport betcertas ocasiões e com determinadas pessoas. Além disso, ele começou a notar que essas sensações eram muito piores quando ele passava por emoções fortes.
"Eu me sentia fisicamente doente por estaresport betcertos lugares", ele conta. "E, quando tinha um revés emocional, eu sentia como se aquela presença estivesse me apunhalando pelas costas."
Michael também conta que começou a notar uma estranha dissonância entre o que ele acreditava que fazia e o que a realidade lhe mostrava.
"Começaram a acontecer coisas que me fizeram duvidar muito da minha memória", ele conta.
"Eu tinha muitas lembranças que sentia que não me pertenciam. Eu sentia como se estivesse dividindo o quarto na minha mente, como se eu não fosse a única pessoa que conduzia meu corpo."
Michael conta que começou a observar que,esport betalguns momentos, ele agia como alguém alheio a si próprio. Ele observava o telefone celular e via conversas dele com outras pessoas, das quais não tinha nenhuma recordação.
"Eu nunca defendi a posiçãoesport betque 'eu bebo e, por isso, não me lembro do que fiz'. Mas, para definiresport betpoucas palavras, é como supostamente as pessoas se sentem quando bebem e não se lembram do que fizeram, masesport bettotal sobriedade."
Fundo do poço
Para Michael, as alucinações típicas do seu distúrbio esquizoafetivo costumam ser mais auditivas do que visuais. Elas se manifestam quando ele atravessa períodosesport betalta tensão ou estresse.
Ele conta que ouve vozes, muitas vezes dizendo seu nome. Michael se lembraesport betuma voz específica,esport betum ancião ou anciã.
Mas ele afirma que,esport bet90% do tempo, não consegue entender o que eles dizem.
"Esta também é outra coisa que ajudou a fazer com que as pessoas (e até eu mesmo) acreditassem que eu teria um dom: eu escuto como se vocês me falassemesport betum idioma que eu não entendo. Às vezes, digo que estão falando comigo como se fosseesport bethebraico."
Mas o que talvez parecesse mais estranho, considerando que as alucinações ocorremesport betsituaçõesesport betforte estresse, é que Michael conta que as vozes se mantiveramesport bettotal silêncio quando ele tentou se suicidar, há alguns anos.
"Realmente, naquele momento, as vozes não estavam ali", relembra ele. "Isso faz parte da crençaesport betque as vozes estão sempre dizendo 'faça isto' ou 'machuque esta pessoa'. Deve haver casos, mas o meu não é assim."
De fato, ele conta que, por trás da decisão radicalesport betacabar com a vida, havia um motivo "verdadeiro".
"A ideia veio por pensar que eu estava louco e dizer 'uma pessoa assim não pode contribuiresport betnada para a sociedade' ou 'credo, a única coisa que posso fazer é causar dano'. Eu então tomei um frascoesport betcomprimidos e estou vivo porque consegui vomitar, na verdade."
Tentando entender
Para Michael, chegar ao fundo do poço foi uma bênção. Foi aquele episódio que o levou a procurar ajuda psiquiátrica.
Michael explica que sempre teve acompanhamento psicológico, mas seu transtorno nunca havia sido diagnosticado. Agora, ele podia finalmente dar um nome ao que o afligia: transtorno esquizoafetivo do tipo misto e transtornoesport betpersonalidade emocionalmente instável.
"Quando fiquei sabendo que tenho isso, eu disse, 'bem, e agora, eu faço o quê?'"
"Ou seja, eu vivi toda a minha vida com esta ideiaesport betque essas pessoas são loucas, perigosas e agora eu sou um deles", relembra ele. "Mas é aí que você começa a ler e aprender."
Michael descobriu, por exemplo, que é muito provável que a esquizofrenia sejaesport betorigem hereditária. Alguns estimam essa probabilidadeesport bet80%, o que esclareceu um pouco sobre o passado daesport betfamília.
"Comecei a contar ao meu psiquiatra sobre meu histórico familiar e descobrimos, por exemplo, que meu avô era uma pessoa muito desequilibrada", relembra ele.
"Segundo contam meu pai e minha avó, ele era uma pessoa muito explosiva que, quando sentia que ia ter 'a raiva', como ele chamava, ele os trancavaesport betum cômodo e ia embora, como se tentasse protegê-los."
"E,esport betfato, meu avô acabou fugindoesport betum hospital psiquiátrico e desapareceu. Existe um registroesport betentrada, mas não oesport betsaída", conta Michael.
Seu diagnóstico também ensinou que, apesar do componente genético da doença, geralmente existe um fator ambiental que a desencadeia.
Michael não tem certeza, mas acredita que o abuso sexual que sofreu quando pequeno por um membro daesport betfamília ampliada pode ter influenciado o desenvolvimento daesport betcondição.
"A pessoa que me fez aquilo foi assassinada há dois anos, antes que eu viesse para os Estados Unidos", ele conta.
"Eu me lembroesport betsentir uma felicidade tão incrível que achei que estava definitivamente louco. Em outras palavras, aquela pessoa abusouesport betvocê, mas continua sendo uma pessoa. Como você pode sentir alegria por algo assim?"
Como explicar?
Com seu diagnóstico, Michael aprendeu a levar uma vida bastante normal. Ele estuda na cidadeesport betMiami e mantém um relacionamento amoroso com uma pessoa que cuida dele e o entende.
Foi exatamente uma conversa com ela que o levou a criar uma formaesport betfazer com que as pessoas sintam algo parecido com aesport betcondição.
"Ela me disse que não queria que contasse aos seus amigos sobre a minha condição", segundo ele. "E não é porque ela não queria que eles soubessem, mas para que eles me conhecessem primeiro e soubessem quem eu sou."
"Claro que ela disse aquilo apenas por amor, por proteção, mas, para mim, foi um golpe no ego."
Naquela época, o Miami Dade College, onde Michael estuda, incentivou os alunos a atender a um convite da rádio pública americana NPR para produzir podcasts curtos. Aquela foi a oportunidade perfeita para Michael.
"Eu disse 'vou então mostrar a eles o que é e vou contar o meu caso'."
Uma vitória
O testemunhoesport betMichael durou oito minutos. Ele foi publicadoesport betinglês com o título The Monsters We Create ("Os monstros que criamos",esport bettradução livre) e ganhou o prêmioesport betmelhor trabalho no Desafioesport betPodcasts da NPR, que reuniu 500 estudantes das melhores universidades norte-americanas.
O programa começa com um complexo jogoesport betvozes fantasmagóricas, que entram e interrompem ocasionalmente a narração,esport betforma semelhante à descrita por Michael quando suas vozes se manifestam.
No podcast, Michael expõe diretamente os preconceitos existentes sobre a esquizofrenia na comunidade universitária.
"Perguntei às pessoas como elas reagiriam se alguém perto delas tivesse esquizofrenia", ele conta. "Enquanto alguns respondem 'não me importaria enquanto aquela pessoa não estivesse prejudicando ninguém', outros dizem que chamariam a emergência."
Agora, Michael afirma que continua dedicado a desfazer as ideias negativas sobre as pessoas que, como ele, sofremesport betcondições mentais – incluindo algumas ideias dele próprio.
"A mensagem que eu realmente tento transmitir é que todas as pessoas vivem com alguma coisa, todas as pessoas têm problemas e todas as pessoas têm alguma coisa", destaca ele.
"Mas, mesmo assim, você é uma pessoa que pode conquistar muitas coisas, que não pode se deixar cair pelo que as pessoas pensamesport betvocê. Porque, muitas vezes, alguém com uma condição é muito mais capaz do que alguém que não tem nada que o aflija."
Caso você seja ou conheça alguém que apresente sinaisesport betalerta relacionados ao suicídio, ou caso você tenha perdido uma pessoa querida para o suicídio, confira alguns locais para pedir ajuda:
- O Centroesport betValorização da Vida (CVV), por meio do esport bet telefone 188, oferece atendimento gratuito 24h por dia; há também a opçãoesport betconversa por chat, e-mail e busca por postosesport betatendimentoesport bettodo o Brasil;
- Para jovensesport bet13 a 24 anos, a Unicef oferece também o chat Pode Falar;
- Em casosesport betemergência, outra recomendaçãoesport betespecialistas é ligar para os Bombeiros ( esport bet telefone 193) ou para a Polícia Militar ( esport bet telefone 190);
- Outra opção é ligar para o SAMU, pelo esport bet telefone 192;
- Na rede pública local, é possível buscar ajuda também nos Centrosesport betAtenção Psicossocial (CAPS),esport betUnidades Básicasesport betSaúde (UBS) e Unidadesesport betPronto Atendimento (UPA) 24h;
- Confira também o Mapa da Saúde Mental, que ajuda a encontrar atendimentoesport betsaúde mental gratuitoesport bettodo o Brasil.
- Para aqueles que perderam alguém para o suicídio, a Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio (Abrases) oferece assistência e gruposesport betapoio.