Em visita ao Brasil, Albert Einstein disse que brasileiros eram 'fofinhos' e comparou povo a 'macacos' :suporte br sportingbet

Albert Einsteinsuporte br sportingbetterno e gravata com vegetação ao fundo

Crédito, Arquivo Geral da Nação Argentina

Legenda da foto, Albert Einstein, ganhador do Prêmio Nobelsuporte br sportingbetfísica,suporte br sportingbetBuenos Aires,suporte br sportingbet1925

Na entrevista, ele nos contou que a visão do cientista sobre os japoneses era positiva, contrastando com o que ele pensava sobre os chineses, que descreveu como "uma gente trabalhadora, asquerosa e obtusa".

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Rosenkranz é editor do The Collected Papers of Albert Einstein, um projeto do Institutosuporte br sportingbetTecnologia da Califórnia, que coletou, traduziu e publicou milharessuporte br sportingbetdocumentos do ganhador do Prêmio Nobel — e que conta com a colaboração da Universidadesuporte br sportingbetPrinceton, nos EUA, e da Universidade Hebraicasuporte br sportingbetJerusalém,suporte br sportingbetIsrael.

Agora, voltamos a conversar com o especialista por conta do livro Os diáriossuporte br sportingbetviagemsuporte br sportingbetAlbert Einstein: América do Sul, 1925, publicado pela Princeton University Presssuporte br sportingbet2023, para descobrir o que o físico escreveu sobresuporte br sportingbetvisita a três países da região.

Em seu livro, Rosenkranz nos conta que embora o físico tenha ficado encantado com "a cordialidade genuína" dos uruguaios, escreveu comentários muito "duros" sobre os argentinos e manifestou "um afeto ambivalente pelos brasileiros".

Um território inédito

Em marçosuporte br sportingbet1925, Einstein embarcou para uma região que nunca havia visitado: a América do Sul.

Vários fatores podem ter influenciadosuporte br sportingbetdecisãosuporte br sportingbetembarcar no navio: desde pessoais (como se ausentarsuporte br sportingbetBerlim) até científicos (como ampliar o conhecimento sobre a teoria da relatividade).

Um grande númerosuporte br sportingbetpessoas sentadassuporte br sportingbetuma grande sala

Crédito, Arquivo Geral da Nação Argentina

Legenda da foto, O salão do Colégio Nacional,suporte br sportingbetBuenos Aires, ficou lotado durante a palestrasuporte br sportingbetEinstein

O especialista lembra que muito do que se encontra nos diários foram as impressões imediatas que o cientista teve dos lugares e das pessoas que conheceu, e que grande parte do seu conteúdo foi escritosuporte br sportingbetforma extremamente concisa.

E o que o físico pretendia era ter um registro para si mesmo e para compartilhar com Elsa (sua segunda esposa) e a filha mais nova dela, Margot, que não puderam acompanhá-lo, e o aguardavamsuporte br sportingbetBerlim.

Einstein formou opiniões diferentes sobre os três países, mas o que parece ser uma constante é o impacto positivo que a geografia e a natureza da região tiveram sobre ele.

Brasil, ambivalência

Einstein passou pouco maissuporte br sportingbetuma semana no Brasil, e ficou maravilhado com "a majestade" da paisagem e da vegetação.

O Corcovado e o Pãosuporte br sportingbetAçúcar estavam entre os pontos turísticos do Riosuporte br sportingbetJaneiro que o cativaram.

Vista panorâmica do Riosuporte br sportingbetJaneirosuporte br sportingbet1925

Crédito, Underwood Archives/Getty Images

Legenda da foto, Assim era o Riosuporte br sportingbetJaneirosuporte br sportingbet1925

"Ele também ficou encantado com o que chamasuporte br sportingbet'mistura racial', a diversidade étnica", explica Rosenkranz.

Assim como aconteceu na Argentina e no Uruguai, houve figuras que o impressionaram muito, como o médico Antônio da Silva Mello e o psiquiatra Juliano Moreira.

Mas foram exceções.

Em uma parte do diário, o físico escreveu: "Aqui sou uma espéciesuporte br sportingbetelefante branco para os demais, eles são macacos para mim".

A impressãosuporte br sportingbetEinstein sobre o Brasil esuporte br sportingbetpopulação envolve suas próprias complexidades.

Rosenkranz afirma no livro que essa percepção "se aproxima muitosuporte br sportingbetuma desumanização dos brasileiros". Esta tendência se reflete não só nasuporte br sportingbetvisão dos moradores locais como "macacos", mas na referência que faz a eles como "fofinhos".

Peço ao pesquisador que contextualize.

Einstein posando para foto junto a um gruposuporte br sportingbethomens

Crédito, Acervo Casasuporte br sportingbetOswaldo Cruz/Fiocruz

Legenda da foto, Einstein visitou o Instituto Oswaldo Cruz, no Riosuporte br sportingbetJaneiro. Ele posou para esta foto com vários cientistas, entre eles o diretor da organização, o médico Carlos Chagas (ao centro)
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"Einstein acreditava no que é chamadosuporte br sportingbetdeterminismo geográfico. Ele achava que um clima mais quente ou mais úmido prejudicava as faculdades cognitivas da população local."

Ele já havia expressado essa ideiasuporte br sportingbetum diário anterior, quando fez uma escala no Ceilão (atual Sri Lanka), e indicou que os trópicos suavizam a população.

"Ele não consegue imaginar que as pessoas tenham as mesmas habilidades cognitivas se tiverem que lidar com o calor e a umidade, o que, obviamente, demonstrasuporte br sportingbetatitudesuporte br sportingbetsuperioridade."

Ao usar o termo "fofinhos", o historiador sugere que, embora possa ser uma manifestaçãosuporte br sportingbetafeto, também pode denotar um sentimentosuporte br sportingbetsuperioridade.

"E 'macacos' é um termo meio difícilsuporte br sportingbetalemão porque também pode significar apenas tolos. Mas é claro que, no contexto linguístico, estritamente falando, é uma desumanização, porque estamos comparando pessoas a macacos e, claro, há um históricosuporte br sportingbetchamar pessoassuporte br sportingbetmacacos que não é positivo."

O pesquisador conta que, nas entrevistas que concedeu quando seu livro foi lançado no Brasil, percebeu que seus interlocutores ficaram ofendidos. "E acho que eles têm razãosuporte br sportingbetficar (ofendidos) com essas expressõessuporte br sportingbetpaternalismo."

Sem censura

Einstein chegou à América do Sul comsuporte br sportingbetprópria perspectiva, que era "centro-europeia, caracterizada pelo paternalismo e pela superioridade e até mesmo por uma boa dosesuporte br sportingbetarrogância", escreveu o historiador.

Em nossa entrevista, ele nos lembra que o físico fazia anotaçõessuporte br sportingbetseus diários "para auxiliar a memória" e parasuporte br sportingbetesposa e enteada.

"Ele diz isso explicitamentesuporte br sportingbetuma das cartas que escreve a elas: 'Vocês vão ler sobre isso no diário'. Não achou que seriam publicados."

Capa da ediçãosuporte br sportingbetinglês do livro 'Os diáriossuporte br sportingbetviagemsuporte br sportingbetAlbert Einstein: América do Sul, 1925'

Crédito, Princeton University Press

"Mas ele deixou seu patrimônio para uma instituição acadêmica, a Universidade Hebraica."

"Não censuramos nenhum material. Tudo o que está lá, nós nos comprometemos a publicarsuporte br sportingbetalguma maneira", afirma o pesquisador que faz parte da equipesuporte br sportingbetespecialistas das três universidades responsáveis ​​pelo projeto The Collected Papers of Albert Einstein.

E aconteceu que "esses pensamentos muito particulares acabaram sendo publicados".

O especialista nos convida a analisar o contexto mais amplo: "Apesar das manifestaçõessuporte br sportingbetpreconceito, Einstein se tornou anos depois, um importante ativista contra a discriminação dos negros nos Estados Unidos e um ativista contra o racismo".

"Quando vemos como Einstein se comporta ao longo do tempo, percebemos que ele diz coisas diferentessuporte br sportingbetmomentos distintos. Ele até se contradiz, é como qualquer outro ser humano, ele mudasuporte br sportingbetopinião."

Em seu livro, o pesquisador reflete sobre alguns comentários pesados feitos por Einstein:

"Eles nos oferecem a oportunidadesuporte br sportingbetlidar com o fatosuporte br sportingbetque até mesmo os seres humanos mais reverenciados têm um lado mais sombrio e primitivo que não podemos e não devemos ignorar ou descartar."

Argentina, uma impressão 'complexa'

O primeiro país da viagem foi a Argentina, que — segundo Rosenkranz — contava com uma boa infraestrutura para pesquisas na áreasuporte br sportingbetMatemática e Física, o que contrastava com a situação no Uruguai e no Brasil.

Na Argentina, a teoria da relatividade já estava sendo discutida.

O ganhador do Prêmio Nobelsuporte br sportingbetFísica havia recebido vários convites naquele país, não apenas do meio acadêmico, mas também da comunidade judaica.

Einstein no centrosuporte br sportingbetum grande gruposuporte br sportingbetpessoas posando para foto

Crédito, Arquivo Geral da Nação Argentina

Legenda da foto, Einstein na companhiasuporte br sportingbetmembros da comunidade judaica sefarditasuporte br sportingbetBuenos Aires

Einstein era uma celebridade internacional, o que significava quesuporte br sportingbetagenda estava repletasuporte br sportingbetcompromissos.

"A impressão que Einstein tem da Argentina é complexa", diz Rosenkranz à BBC News Mundo, serviçosuporte br sportingbetnotíciassuporte br sportingbetespanhol da BBC.

"Ele chegou com preconceitos sobre a Argentina, sobre a América do Sulsuporte br sportingbetgeral, e não acho que tenha se desfeito deles."

No início, diz o especialista, o físico teve impressões muito positivas, especificamentesuporte br sportingbetacadêmicos, como o reitor da Universidadesuporte br sportingbetBuenos Aires, José Arce, e o filósofo Coriolano Alberini.

Apóssuporte br sportingbetprimeira conferência científica, demonstrou satisfação pela presençasuporte br sportingbetjovens estudantes interessados ​​nos temas que abordou.

Porém, depoissuporte br sportingbetum tempo, as opiniões favoráveis se ​​tornaram uma exceção.

Einstein durante uma apresentação

Crédito, Arquivo Geral da Nação Argentina

Legenda da foto, Na Argentina, o físico participousuporte br sportingbetdiversos eventos

Einstein passou um mês na Argentina.

"Dos três países, é o que gera a impressão mais profunda, mas, no geral, não é positiva", diz o historiador.

Rosenkranz acredita que Einstein embarcou no navio carregadosuporte br sportingbetestereótipos e que, no trajeto, quando conheceu os primeiros argentinos a bordo, "de alguma maneira, eles confirmaram esses estereótipos".

Inclusive, pouco antes da viagem, ele chegou a escrever para um amigo dizendo que estava animado com a jornada, mas não com os compromissos sociais com "os índios semiaculturados usando smoking”.

"Acho que é um comentário muito ofensivo porque é como se insinuasse que a população nativa não tinha uma cultura que ele valorizasse, e que eles estavam se disfarçando com roupassuporte br sportingbetgala", disse o autor à BBC News Mundo.

"Do seu pontosuporte br sportingbetvista elitista invertido, ele não gostavasuporte br sportingbetsmoking, independentementesuporte br sportingbetquem os usava. Mas, neste caso, ele estava meio que dizendo que até mesmo as pessoas que normalmente não usavam smoking, estavam usando."

"Acho difícil não ver isso como ofensivo, mas talvez esse seja apenas o meu pontosuporte br sportingbetvista."

Berta Wassermann-Bornberg, Einstein e Else Jerusalem

Crédito, Arquivo Geral da Nação Argentina

Legenda da foto, O cientista ao ladosuporte br sportingbetBerta Wassermann-Bornberg e da escritora Else Jerusalem,suporte br sportingbetBuenos Aires

Em seu diário, Einstein chamou os argentinossuporte br sportingbet"índios" e "espanhóis".

Rosenkranz me disse que pesquisou ocasiões anterioressuporte br sportingbetque o físico havia usado o termo "índios".

Em uma ocasião, ele se referiu aos "índios" como "os guardiões dos 'segredos da vida natural'".

"Outro exemplo é quando ele passou as fériassuporte br sportingbetverão com os filhos, forasuporte br sportingbetBerlim, e alugou uma cabana. Ele comparou essa experiência a 'viver como os índios' — e disse issosuporte br sportingbetuma forma positiva."

Embora o pesquisador reconheça que hojesuporte br sportingbetdia provavelmente poderia ter outra conotação, ele acha que "ele quis dizer isso num sentido favorável". Ao fazer alusão aos "índios", Einstein "está se referindo a um dos grupos étnicos da população que encontrou na América do Sul", mas acaba fazendo uma generalização.

No casosuporte br sportingbet"espanhóis", o autor acredita que o físico se referia a pessoas que falavam espanhol.

"Para ele, provavelmente dasuporte br sportingbetperspectiva centro-europeia, não era uma distinção importante o suficiente."

Avenidasuporte br sportingbetMaiosuporte br sportingbetfotosuporte br sportingbetpreto e brancosuporte br sportingbet1925

Crédito, Sean Sexton/Getty Images

Legenda da foto, Avenidasuporte br sportingbetMaio,suporte br sportingbetBuenos Aires,suporte br sportingbet1925

Embora tenha consideradosuporte br sportingbetpopulação "delicada" e "elegante", o ganhador do Prêmio Nobel não gostousuporte br sportingbetBuenos Aires.

Em carta a Elsa e Margot, ele descreveu a capital argentina como "uma cidade estéril do pontosuporte br sportingbetvista do romantismo e da intelectualidade".

"Ele vê Buenos Aires como uma versão sulistasuporte br sportingbetNova York, mais materialista e mais focada no que ele considera ser a aparência externa", explica o especialista.

Em seu diário, Einstein usou adjetivos como "superficial" e "fria" e, embora estivesse se referindo à capital, Rosenkranz observa que o físico novamente recorre a uma generalização para englobar todo o país.

No entanto, ele deixou registrado o quanto gostou da "energia nova" que encontrou no bairrosuporte br sportingbetLlavallol, na capital, da paisagem que viu nas montanhassuporte br sportingbetCórdoba, e da arquitetura da cidade, onde encontrou "vestígiossuporte br sportingbetuma cultura genuína", assim como "um sensosuporte br sportingbetsublime".

A música tradicional também o atraiu.

Einstein no meio, cercado por várias pessoas

Crédito, Arquivo Geral da Nação Argentina

Legenda da foto, O cientista visitou a Universidadesuporte br sportingbetCórdoba, cidade cuja arquitetura lhe agradou

Rosenkranz destacasuporte br sportingbetseu livro que Einstein descreveu os argentinos como "displicentes", "infantis" e "estúpidos".

Isso levou o autor a se perguntar: "Como podemos interpretar a avaliação,suporte br sportingbetgrande parte implacável,suporte br sportingbetEinstein sobre os argentinos?" Pego emprestadasuporte br sportingbetpergunta e devolvo para ele.

Albert Einsteinsuporte br sportingbetterno e gravata com vegetação ao fundo

Crédito, Arquivo Geral da Nação Argentina

"Acho que isso se explica,suporte br sportingbetparte, pelos preconceitos que ele tinha e continuou tendo durante a viagem."

"Ele continuou, inclusive, a expressar estereótipos muito semelhantes após a viagem, quando já estavasuporte br sportingbetvolta à Europa."

"Acho que essas ideias estão inseridas no contexto dos estereótipos alemães e europeus sobre a América Latina, sobre a América do Sul e, especificamente, sobre os argentinos."

"Podem ser estereótipos positivos e negativos, mas acho que, no caso dele, pendeu mais para os negativos."

"Provavelmente, faziam parte dasuporte br sportingbetsocialização, dasuporte br sportingbeteducaçãosuporte br sportingbetclasse média centro-europeia na Alemanha."

"E, embora ele abra exceções para alguns indivíduos, quando fala, tende a generalizar e a se inclinar para avaliações mais negativas como partesuporte br sportingbetseus preconceitos."

Uruguai, 'feliz'

Einstein passou uma semana no Uruguai, gostousuporte br sportingbetMontevidéu e ficou impressionado com seus habitantes, cuja modéstia chamousuporte br sportingbetatenção.

"No Uruguai, encontrei uma cordialidade genuína como poucas vezessuporte br sportingbetminha vida. Lá conheci o amor pela própria terra, sem nenhum tiposuporte br sportingbetmegalomania", escreveu.

Ele expressou prazersuporte br sportingbetconhecer o filósofo Carlos Vaz Ferreira e o engenheiro Carlos M. Maggiolo.

Mas a amabilidade não foi a única coisa que o cativou.

Escultura na Praça dos 33 Orientais,suporte br sportingbetMontevidéu, que representa o encontro entre o filósofo Carlos Vaz Ferreira e Einstein,suporte br sportingbet1925

Crédito, MIGUEL ROJO/AFP via Getty Images

Legenda da foto, Escultura na Praça dos 33 Orientais,suporte br sportingbetMontevidéu, que representa o encontro entre Einstein e o filósofo Carlos Vaz Ferreira,suporte br sportingbet1925
Escultura do filósofo Carlos Vaz Ferreira e Einstein sentadossuporte br sportingbetum banco na praça

Crédito, MIGUEL ROJO/AFP via Getty Images

"Ele gostavasuporte br sportingbetpaíses pequenos", diz Rosenkranz.

"Achava que todos os países grandes deveriam ser divididossuporte br sportingbetpaíses pequenos."

Na opinião do ganhador do Prêmio Nobel, isso fazia com que as nações se relacionassem melhor entre si e reduzissem o poder governamental.

O clima e a arquitetura o faziam lembrar da Europa.

"Ele também se sentiu atraído pelo fatosuporte br sportingbeto Uruguai ser uma república, esuporte br sportingbethaver uma separação rígida entre o Estado e o clero. Isso era importante para ele."

"Ficou muito impressionado com os programassuporte br sportingbetbem-estar social que existiam."

Para Einstein, o modelo das instituições sociais era dignosuporte br sportingbetelogios. Um país "muito liberal", ele escreveu.

De acordo com Rosenkranz, o físico manifestou uma "genuína admiração pelos uruguaios".

"Uruguai, um pequeno país feliz", escreveu o cientista.