A carta5 betEinstein que mudou a história da humanidade: 'Grande erro da minha vida':5 bet

Legenda do áudio, Uma carta5 betAlbert Einstein ao presidente americano Franklin D. Roosevelt5 bet1939 levaria à criação5 betuma das invenções mais significativas e destrutivas da história humana: a bomba atômica

A carta levou à criação5 betum programa5 betpesquisas altamente secreto, ao custo5 betUS$ 2 bilhões (R$ 11,2 bilhões ao câmbio atual).

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Era o Projeto Manhattan, uma corrida para vencer a Alemanha no desenvolvimento5 betarmas atômicas.

Liderado pelo físico Robert Oppenheimer (1904-1967), o projeto durou três anos e conduziu os Estados Unidos para a era nuclear.

Ele levou ao desenvolvimento5 betuma das invenções mais significativas e destrutivas da história humana: a bomba atômica.

A histórica carta datilografada5 betduas folhas5 betpapel

Crédito, Christie's Images Ltd

Legenda da foto, Na carta5 bet25 betagosto5 bet1939, Einstein escreveu que 'certos aspectos da situação que foi criada parecem exigir vigilância'

Em 105 betsetembro, a histórica e cuidadosamente redigida carta5 betEinstein foi arrematada por pouco menos5 betUS$ 4 milhões (cerca5 betR$ 22,4 milhões)5 betum leilão na casa Christie's5 betNova York.

A carta foi escrita5 betduas versões. A versão mais curta é a que foi leiloada.

Uma versão mais detalhada, entregue pessoalmente na Casa Branca, hoje faz parte da coleção permanente da Biblioteca Franklin D. Roosevelt,5 betNova York.

"De muitas formas, esta carta marca uma reviravolta fundamental na história da ciência, da tecnologia e da humanidade", afirmou à BBC Peter Klarnet, especialista5 betassuntos americanos, livros e manuscritos da Christie's.

"Esta foi,5 betfato, a primeira vez5 betque o governo dos EUA se envolveu diretamente, financiando uma pesquisa científica importante", explica ele.

"A carta foi o pontapé inicial para que os EUA pudessem aproveitar totalmente as transformações tecnológicas que estavam5 betandamento."

Einstein e Leo Szilard sentados e olhando para um papel

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Einstein escreveu alertando sobre os perigos representados pela energia nuclear com o auxílio do físico Leo Szilard

O diretor5 betprogramas do Departamento5 betPolítica, Filosofia e Relações Internacionais da Universidade5 betSwansea, no Reino Unido, Bryn Willcock, é também professor e pesquisador5 betHistória Nuclear e Americana. Ele concorda com a opinião5 betKlarnet.

"A maior parte dos relatos históricos sobre as origens da bomba começa com uma discussão da carta", diz à BBC. "O conteúdo da carta foi fundamental para conseguir ações diretas do presidente Roosevelt."

O premiado filme Oppenheimer, baseado na história do Projeto Manhattan, menciona a carta5 betuma cena5 betOppenheimer com o físico Ernest Lawrence (1901-1958).

"Esta [carta] é algo que faz parte da cultura popular desde 1945,5 betforma que ela já tem uma posição sólida", explica Klarnet, "mas acho que o filme Oppenheimer apresentou a carta para uma nova geração."

'Lenda'

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Klarnet descreve Einstein como um "personagem lendário" na cultura popular. Ele certamente demonstra esta qualidade5 betOppenheimer, esgueirando-se pelas beiradas do filme, como uma breve aparição aguardada ansiosamente pelo público.

Sua identidade só é revelada quando o vento faz seu chapéu voar expondo5 betfamosa cabeleira branca.

A equação5 betEinstein, E = mc² (energia é massa multiplicada pela velocidade da luz elevada ao quadrado) , explica a energia que é liberada5 betuma reação nuclear e abriu o caminho para5 betaplicação sinistra. Mas seu papel na construção da bomba atômica pode ter sido superestimado no filme.

A cena final5 betOppenheimer mostra um comovente diálogo entre Einstein e o personagem-título. Nele, Oppenheimer diz: "Quando vim até você com estes cálculos, achei que poderíamos iniciar uma reação5 betcadeia que destruiria o mundo inteiro..."

Para Klarnet, este diálogo é "absurdo". A simpatia5 betEinstein com ideias5 betesquerda e5 betorigem alemã o tornavam suspeito aos olhos5 betautoridades americanas. Klarnet acha que Einstein "não tinha credencias5 betsegurança" para se envolver no projeto.

De fato, Einstein era pacifista declarado e sempre se distanciou do projeto Manhattan. Ele sempre insistia que5 betparticipação na liberação da energia atômica foi "muito indireta".

Se houve um instigador, foi Leo Szilard (1898-1964), ex-aluno5 betEinstein.

As duas cartas foram escritas por ambos5 betuma cabana5 betLong Island; a mais curta, com uma nota5 betSzilard a lápis dizendo "Original não enviado!", permaneceria5 betseu poder até a morte.

O alemão Einstein e o húngaro Szilard eram judeus, que fugiram para os Estados Unidos depois da ascensão do nazismo. Por isso, eles compreendiam, melhor do que ninguém, a ameaça representada pela Alemanha na época.

Leo Szilard apontando para lousa

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O físico húngaro-americano Leo Szilard concebeu a reação nuclear5 betcadeia5 bet1933. Ele também patenteou a ideia5 betum reator5 betfissão nuclear5 bet1934

A carta foi ideia5 betSzilard, mas ele queria que Einstein fosse seu autor e signatário. Afinal, Einstein conferia considerável autoridade à missiva; depois5 betganhar o Prêmio Nobel5 bet1921, ele passou a ser "a personificação da ciência moderna", afirma Klarnet.

"Ele tem uma influência única", explica. "Aparentemente, outras pessoas tentaram alertar Roosevelt sobre os desenvolvimentos recentes (na corrida pela criação5 betuma nova e poderosa bomba), mas,5 betrepente, você entra pela porta com uma carta5 betAlbert Einstein, dizendo que está na hora5 betfazer isso – é algo que impressiona."

No dia 165 betjulho5 bet1945, espectadores liberados pela segurança, com seus olhos protegidos por óculos, observaram um protótipo da bomba conhecido como "gadget" ("dispositivo") ser detonado com sucesso no deserto do Novo México, nos Estados Unidos.

O resultado foi recebido com euforia e apreensão. Naquele dia, o então presidente americano Harry S. Truman (1884-1972) escreveu no seu diário: "descobrimos a bomba mais terrível da história do mundo".

Naquele momento, a Segunda Guerra Mundial já estava quase no fim. A Alemanha já havia se rendido, mas faltava o Japão.

Acreditava-se que o ataque aos portos japoneses5 betHiroshima e Nagasaki com aquela força devastadora sem precedentes aceleraria o final da guerra.

Szilard lançou uma petição, um dia depois do teste da bomba, recomendando que o Japão fosse convidado a se render antes que fossem tomadas ações mais drásticas, mas ela não chegou às autoridades a tempo.

No dia 65 betagosto5 bet1945, uma bomba denominada "Little Boy" ("Menininho",5 betportuguês) foi lançada sobre Hiroshima. E outra bomba, "Fat Man" ("Homem Gordo"), foi detonada5 betNagasaki,5 bet95 betagosto.

Estima-se que 200 mil pessoas tenham sido mortas ou feridas imediatamente e muitas outras morreriam anos depois devido aos efeitos colaterais da radiação.

Até hoje, estes são os únicos casos5 betemprego direto5 betarmas nucleares5 betconflito.

A carta foi decisiva?

É difícil dizer se o Projeto Manhattan teria existido, não fosse pela carta5 betEinstein.

Willcock observa que o Reino Unido já estava "tentando5 bettudo para levar os Estados Unidos a apoiar mais pesquisas" nesse campo. Ele descreve o Relatório Maud, liderado pelos britânicos5 bet1941 – um estudo sobre a viabilidade das armas nucleares – como "fundamental para forçar o desenvolvimento5 betpesquisas pelos americanos".

A carta5 betEinstein pode ter apenas acelerado o processo. Sem ela, o desenvolvimento teria sofrido um atraso que, segundo Willcock, "provavelmente teria feito com que a bomba não estivesse pronta para uso no verão5 bet1945".

Einstein gesticulando enquanto concede entrevista, com microfone próximo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Declaradamente pacifista, Einstein falou contra a bomba5 bethidrogênio5 betuma palestra gravada pela rede5 betrádio e TV americana NBC na Universidade5 betPrinceton, nos Estados Unidos,5 bet1950

Por outro lado, Einstein lamentou amargamente a violência e o caos causados pela5 betcarta5 bet1939.

Em 1946, ele foi um dos fundadores do Comitê5 betEmergência5 betCientistas Atômicos, criado para divulgar os riscos da guerra nuclear e propor um caminho para a paz mundial.

Em um artigo para a revista Newsweek5 bet1947, intitulado Einstein: O Homem que Deu Início a Tudo, ele afirmou: "Se eu soubesse que os alemães não teriam sucesso no desenvolvimento da bomba atômica, eu não teria feito nada pela bomba."

Hoje5 betdia, mesmo detendo a tecnologia, a Alemanha ainda não tem armas nucleares.

Einstein dedicaria o resto da vida à defesa do desarmamento nuclear. Em 1954,5 betconversa com o químico Linus Pauling (1901-1994), outro ganhador do Prêmio Nobel, ele descreveu a carta para Roosevelt como "grande erro da minha vida".

A bomba atômica alterou radicalmente o cenário da guerra, criando uma corrida armamentista que define as relações internacionais até hoje.

Atualmente, nove nações do mundo possuem armas nucleares – e grande parte do temor que muitos têm hoje5 betdia5 betum ataque ou uma guerra nuclear pode se dever àquela carta.

Para Klarnet, esta "ainda é uma questão muito relevante até hoje. É uma sombra que paira sobre a humanidade. Aquela carta é um lembrete das origens do nosso mundo moderno e um severo alerta5 betcomo chegamos até aqui."

Em julho5 bet1955, no auge da Guerra Fria, o mesmo nome que assinou a carta que inspirou Roosevelt5 bet1939 apareceria5 betforma póstuma no título do Manifesto Russell-Einstein, uma declaração alertando para os perigos5 betuma guerra nuclear.

Ela foi proposta pelo filósofo Bertrand Russell (1872-1970) e endossada por Einstein apenas uma semana antes da5 betmorte.

"Apelamos, como seres humanos, aos seres humanos", diz parte do texto.

"Lembrem-se da5 bethumanidade e se esqueçam do resto. Se fizerem isso, abre-se o caminho para um novo paraíso; se não conseguirem, o que se apresenta à5 betfrente é o risco da morte universal."