Ana Rosa e 'Leila': desaparecidas que inspiraram livro e canção :blaze crash o que é
Frases do meu pai. "Não fiqueblaze crash o que égrupos na porta da escola depois da aula. Venha direto para a casa".
Histórias da família. Por que mesmo o vovô foi preso?
E as músicas. Músicas que refletiam o clima daquele tempo,blaze crash o que ésegredos e meias verdades. Que traziam mensagensblaze crash o que écódigos. Músicas que eu cantava, mas não entendia.
Entre elas, Aparecida,blaze crash o que éIvan Lins e Maurício Tapajós, incluída no álbum Somos Todos Iguais Nessa Noite, lançadoblaze crash o que é1977. Não saíablaze crash o que éminha cabeça enquanto refletia sobre a tragédiablaze crash o que éAna Rosa. Era como se a música tivesse sido feita para ela.
"Diz, Aparecida
Me conta por onde que você andou?
Me conta por que é que você
Não tem mais a mesma afeição
Não tem mais a mesma euforia
Não tem mais a mesma paixão?"
50 Anos do Golpe
A históriablaze crash o que éAna Rosa me levou a sugerir um documentárioblaze crash o que érádio para o Serviço Mundial da BBC que explicasse ao mundo o que foi o golpeblaze crash o que é1964. E mostrasse como o Brasil tenta, hoje, lidar com esse capítulo sombrio da nossa história.
<link type="page"><caption> O documentário <italic>Brazil: Confronting the Past</italic>,blaze crash o que éinglês, pode ser ouvido aqui.</caption><url href="http://www.bbc.co.uk/programmes/p01vk8vr" platform="highweb"/></link>
Fui ao Brasil falar com Bernardo Kucinski e várias outras pessoas, inclusive meu próprio pai. Acabei me lançandoblaze crash o que éuma viagem sobre a história, nunca bem detalhada para mim, da minha família.
Descobri, por exemplo, que meu avô tinha sido preso duas vezes. A primeira, na décadablaze crash o que é30,blaze crash o que éGoiás.
Influenciado pelas ideias do líder comunista Luís Carlos Prestes, ele tinha se filiado a um partidoblaze crash o que étendências comunistas.
Por causa desse "crime", meu avô foi parar na prisão.
Ele foi preso por "algum governo ligado a ideologias nazistas", meu pai contou. Foi amarrado e torturado sob guarda militar.
Meu avô sobreviveu, mas a vidablaze crash o que éGoiás tinha ficado muito perigosa para ele. Temendo porblaze crash o que évida, vendeu suas terras às pressas e se mudou com a família para Minas Gerais. Perdeu tudo o que tinha. Nunca mais quis se meter com política.
No entanto, 30 anos depois, o passado comunista voltou a assombrar a vida da família.
Em 64, quando o golpe militar estourou, meu avô foi preso novamente.
Ele não foi torturado dessa vez, mas aquela experiênciablaze crash o que éviolência, tortura, perseguição e empobrecimento ficou marcada nele e na nossa família. Era como um trauma silencioso.
Entrevistei ainda brasileiros que hoje tentam ajudar o país a superar o trauma da ditadura e seguirblaze crash o que éfrente.
Entre eles, o presidente da Comissão da Verdade do Estadoblaze crash o que éSão Paulo, Ivan Seixas. Os psicanalistas Moisés Silva e Cristina Ocariz, que estão oferecendo apoio psicológico às vítimas da violência do Estado durante o governo militar.
Veroca Paiva, filha do deputado Rubens Paiva, que investigava o envolvimento dos Estados Unidos no golpe. Paiva foi torturado e morto pela ditadura. Até hoje seu corpo não foi encontrado.
Falei com tanta gente. Nem todos entraram no corte final – o velho e dolorido dilema do jornalismo - mas suas vozes estiveram comigoblaze crash o que éminha jornada.
Finalmente, entrevistei o generalblaze crash o que ébrigada, hoje na reserva, Durval Andrade Neri. Orgulhoso do golpe, o general defendeu e justificou a ditadura militar.
Trilha Sonora
Enquanto mergulhava nas histórias da minha família,blaze crash o que éBernardo Kucinski eblaze crash o que étantos outros, entrelaçadas na história do meu país, a canção Aparecida continuava a tocar na minha cabeça.
"Diz, Aparecida
Sumir desse jeito não tem cabimento
Me conta quem foi, por que foi
E tudo o que você passou
Preciso saber seu tormento
Preciso saber da aflição"
Quem seria essa Aparecida que - hoje me dou conta - era na verdade uma Desaparecida?
Procurei Ivan Lins. Ocupado,blaze crash o que éturnê, ele não achava tempo para falar comigo.
Falei com João Lins, filhoblaze crash o que éIvan. Simpático, orgulhoso do pai. Mas não conhecia a história por trás da canção.
Maurício Tapajós, autor da letra, já não está entre nós.
Decidi procurar Heloísa Tapajós, esposa do irmãoblaze crash o que éMaurício – o compositor Paulinho Tapajós. Quem sabe o Paulinho conhece a história? – pensei.
Para minha tristeza, descobri que Paulinho – com quem, por sinal, trabalheiblaze crash o que é2007, quando gravei uma canção dele - também havia partido.
Que aflição. Não é possível que desapareça também a história por trás da música.
Apelei novamente ao Ivan. E dessa vez, fui recompensada com uma históriablaze crash o que ésuperação.
"Essa canção foi escritablaze crash o que é1976. A ideia foi do Maurício. Ele me faloublaze crash o que éuma amiga dele que tinha desaparecido por uns quatro anos, presa pela repressão, e que tinha reaparecido. Como foi brutalmente torturada, trazia sequelas do vandalismo repressor", escreveu Ivan Lins,blaze crash o que éum e-mail.
Três anos depoisblaze crash o que écomporem a canção, Maurício e Ivan viajaram para o casamentoblaze crash o que éum dos músicos da bandablaze crash o que éAlfenas, Minas Gerais. E foi lá que Ivan conheceu a "desaparecida".
"O Maurício me apresentou. Ainda bonita, com grandes olhos verdes. Seu nome era, se não me engano, Leila - não posso afirmar com certeza".
"Ainda a encontrei mais uma vez, num evento (não lembro qual). Depois, nunca mais".
"E essa é a historia. Posso ter errado um pouquinho as datas, mas foi bem perto disso", concluiu Ivan Lins.
Aparecida não ficou tão conhecida como outras faixas do LP Somos Todos Iguais Nessa Noite.
Porém, quatro décadas depois, quando a Comissão da Verdade se esforça para recuperar a memóriablaze crash o que éum tempoblaze crash o que étrevas na história do Brasil, me soa ainda mais bela e comovente. E não poderia ser mais relevante e atual.
"Diz, Aparecida
Diz, conta o segredo
Diz e denuncia
Que a verdade escondida
É mentira, é medo"
E por onde andará Leila? E quantas outras histórias deste doloroso período da nossa história se mantêm anônimas?
<italic>A canção 'Aparecida', interpretada por Mônica Vasconcelos (voz) e Swami Jr (violão), é trilha sonora do documentário <link type="page"><caption> Brazil: Confronting the Past</caption><url href="http://www.bbc.co.uk/programmes/p01vk8vr" platform="highweb"/></link>, transmitido pelo BBC World Service como parte da cobertura dos 50 anos do golpe militar brasileiro.</italic>