'Voltar ao Brasil seria reabrir ferida', diz exilado que nunca voltou da Suécia:987 bets
A viagem987 betsfuga do Brasil havia sido longa e inesperada. Originário da colônia alemã987 betsPelotas, Jadir era formado987 betstipografia e encadernação, e começara a cursar eletrotécnica. Mas subitamente, viu-se obrigado a interromper os estudos.
"Minha vida mudou logo após o golpe987 bets64", ele conta. "Eu fui um dos que se manifestaram contra os militares,987 betsapoio ao presidente deposto João Goulart. Antes, eu havia fundado uma associação987 betsbairros com um grupo987 betsamigos, que muitas pessoas consideravam ser comunista, mas que na verdade era totalmente apolítica".
"Eu também havia sido presidente do grêmio estudantil da escola técnica onde estudava, e onde era conhecido como esquerdista. Tudo isso levou a que, depois do golpe, eu fosse denunciado como agitador", lembra Jadir.
Por duas vezes, entre 1964 e 1965, ele foi preso. Na primeira vez, Jadir conta ter passado várias semanas987 betsuma cela da cadeia civil987 betsPelotas, sob interrogatório987 betsagentes do DOPS (Departamento987 betsOrdem Política e Social). Em seguida, detido pelos militares, permaneceu preso por cerca987 betsum mês no 9º Regimento987 betsInfantaria da cidade. Ao sair, decidiu que era hora987 betsdeixar o país: ouvira987 betsseus pais que era preciso fugir do Brasil.
"Não se sabia o que uma ditadura era capaz987 betsfazer", ele diz.
Rumo ao Uruguai
Jadir partiu sozinho para Montevidéu, no Uruguai,987 bets1966. Deixou para trás os pais e a irmã, com quem morava987 betsPelotas.
"No momento da despedida, minha mãe me disse: 'Esqueça o Brasil'. Imaginou, talvez, que aquela fosse a última vez que me via", lembra Jadir. Mas a mãe chegaria a visitá-lo987 betsMontevidéu, onde ele permaneceria durante oito anos. "Aquela, sim, foi a última vez987 betsque a vi", ele conta.
Na capital uruguaia, Jadir conheceu a colônia brasileira987 betsexilados e teve contatos com refugiados como Amaury Silva, ex-Ministro do Trabalho do governo João Goulart, e os ex-deputados José987 betsGuimarães Neiva Moreira e Leonel Brizola.
"Eu era um dos poucos987 bets'ralé baixa'", diz Jadir. "Trabalhei inclusive num restaurante que era987 betspropriedade do presidente Goulart e do ex-ministro Amaury Silva. O restaurante chamava-se Cangaceiro, e ali trabalhavam vários brasileiros exilados."
Instalada a ditadura militar no Uruguai,987 bets1973, Jadir viu-se obrigado a fugir mais uma vez. Escapou para a Argentina,987 betsonde também teria que continuar a fuga: o clima era tenso no país, que viveria a partir987 bets1976 uma das ditaduras mais sanguinárias da América do Sul. Em Buenos Aires, Jadir chegou a trabalhar um ano como tipógrafo.
Até que obteve o asilo político na Suécia.
"A Embaixada sueca organizou minha viagem com um laissez-passer (documento987 betsviagem que substitui o passaporte), cuja fotocópia guardo até hoje, pois o Consulado brasileiro987 betsMontevidéu me havia negado a concessão987 betspassaporte", ele conta.
'Salvou minha vida'
Quando ele relembra a visita à Embaixada da Suécia987 betsBuenos Aires, as lágrimas saltam dos olhos.
"Lembro-me987 betsum secretário da Embaixada sueca, chamado Anders Bachman, do qual nunca vou me esquecer. Posso dizer que ele salvou a minha vida outra vez. Acontece que a passagem987 betsavião que a Embaixada havia conseguido para mim era pela companhia aérea SAS (Scandinavian Airlines). Mas ao verificar o bilhete, este senhor, Bachman, alertou: 'isto não será possível, porque este avião vai fazer escala no Rio987 betsJaneiro'. Ele salvou a minha vida."
Foi então organizado o voo pela Sabena, que levaria Jadir da Argentina para a Suécia sem escala no Brasil. Mas da janela do avião, ele avistou o Corcovado.
"Lembro até hoje daquela imagem", conta Jadir. "Foi a única vez987 betsque vi o Corcovado. Nunca estive no Rio. E na verdade, eu nunca havia pensado que estaria saindo do Brasil pela última vez na vida. Não pensei na amargura que seria, o que talvez tenha sido uma sorte", ele diz.
Na chegada a Estocolmo, Jadir se espantou com o frio e com a pontualidade sueca.
"Havia uma pessoa me esperando, falando castelhano. No dia seguinte ela me levou à estação central, junto com três exilados chilenos que escapavam do golpe987 bets1973 no Chile, e disse: às 16 horas, desçam do trem. Às 16 horas987 betsponto – veja que pontualidade – chegamos na cidade987 betsAlvesta (sul da Suécia), onde havia casas muito confortáveis para receber os exilados. E sempre havia ali um intérprete987 betsplantão, para caso alguém adoecesse", lembra ele.
Bolsas987 betsestudo
Em Estocolmo, onde vive até hoje, Jadir recebeu bolsas987 betsestudo do governo sueco para fazer cursos profissionalizantes e estudar idiomas. Durante dez anos, ele deu aulas987 betsespanhol987 betsescolas primárias suecas.
Casado, pai987 betsdois filhos, Jadir trabalha atualmente como tradutor e intérprete, além987 betsprofessor da ABF – uma instituição sueca criada originalmente para elevar o nível cultural da classe trabalhadora através987 betscursos diversos, e que hoje é aberta a todos os cidadãos.
"Gostaria que o Brasil também alcançasse o desenvolvimento para todos. Gostaria que a desigualdade social diminuísse e que o país chegasse ao nível da Suécia, onde todos têm direito a cultura, saúde e educação gratuita, e onde os políticos vivem sem privilégios e sem carros987 betsluxo com chapa branca", observa Jadir.
Ele se emociona quando fala que tem saudades do Brasil.
"Sim, tenho saudades daquele tempo do Brasil que eu deixei, que já não existe mais. Um tempo que desapareceu. Dos meus pais, dos meus parentes, dos meus amigos. Daquele tempo que eu sei que jamais voltará."
Mas Jadir diz que nunca mais voltaria ao Brasil.
"Não. Seria como abrir uma ferida outra vez", ele diz.
Às vésperas dos 50 anos do golpe militar987 bets1964, Jadir Bandeira diz que "cada geração tem que lutar pela987 betsdemocracia".
"É preciso que os brasileiros, e principalmente os mais jovens, se interessem pela política. A democracia, com todos os seus defeitos, é o melhor instrumento para as mudanças necessárias", disse.
Ao final da entrevista, ele se recusa a posar para uma fotografia.
"Fotografia, não! Pode dizer aí que tenho mania987 betsperseguição", enfatiza, categórico.
E confessa que teme a possibilidade987 betsum novo golpe militar no Brasil:
"Eu tenho medo. As gerações passam, os velhos morrem, e os jovens já não sabem o que aconteceu, o golpe militar, as torturas. Lamentavelmente, as pessoas esquecem a história."