Caminhobetway promosPeabiru: a fascinante rota indígena que conecta o Atlântico ao Pacífico:betway promos
É fácil compreender por que essa trilha transcontinental cativa a imaginação das pessoas com tanta facilidade — uma fascinação que vem desde o primeiro europeu conhecido por caminhar por toda abetway promosextensão: o navegador português Aleixo Garcia.
Garcia naufragou no litoralbetway promosSanta Catarina no anobetway promos1516, depois do fracassobetway promosuma missão espanhola que pretendia navegar pelo Rio da Prata. Ele e meia dúziabetway promosoutros navegadores foram acolhidos pelos receptivos indígenas guaranis.
Oito anos mais tarde, depoisbetway promosouvir as histórias sobre um caminho que levava até um império nas montanhas, ricobetway promosouro e prata, Garcia viajou com 2 mil guerreiros guaranis até os Andes, a cercabetway promos3 mil quilômetrosbetway promosdistância.
A pesquisadora brasileira Rosana Bond, no livro A Sagabetway promosAleixo Garcia: o Descobridor do Império Inca, afirma que Garcia foi o primeiro europeu conhecido a visitar o império incabetway promos1524 — cercabetway promosuma década antes da chegada do conquistador espanhol Francisco Pizarro, amplamente conhecido como "descobridor" do povo originário dos Andes peruanos.
As trilhas que vinham do Brasil conectavam-se à redebetway promosestradas incas e pré-incas através dos Andes, que hoje recebem muitos visitantes, mas o Caminhobetway promosPeabiru propriamente dito deixou poucos vestígios.
Essa faltabetway promosevidências físicas não só levou a teorias divergentes nos círculos acadêmicos sobre quem o criou e quando, mas também gerou amplas especulações sobrebetway promospossível criação pelos vikings ou pelos sumérios — ou mesmo pelo apóstolo Tomé, supostamente vindobetway promosuma missão evangelizadora na Índia.
Algumas teorias afirmam que a trilha databetway promoscercabetway promos400 ou 500 d.C., enquanto outras sugerem que ela remonta até 10 mil anos atrás, aos caçadores-coletores paleoindígenas.
"O Caminhobetway promosPeabiru foi a estrada transcontinental mais importante da América pré-colombiana, que ligava os povos, os territórios e os oceanos", afirma a arqueóloga Cláudia Inês Parellada, que publicou diversos estudos sobre o assunto e coordena o Departamentobetway promosArqueologia do Museu Paranaense,betway promosCuritiba, onde estão abrigados muitos dos achados das escavações arqueológicas da trilha.
As teorias divergem não apenas sobre a época dabetway promoscriação, mas também o local exato por onde a rota passava. "Sempre teremos várias hipóteses", explica Parellada. "É difícil ter certeza sobre o caminho completo porque ele mudou ao longo do tempo."
Mas o nome e a lenda, pelo menos, seguem vivos na cidadebetway promosPeabiru, construída na décadabetway promos1940, onde o governo local e gruposbetway promosvoluntários criaram e demarcaram recentemente trilhasbetway promoscaminhada inspiradas pelo Caminhobetway promosPeabiru.
Elas são partebetway promosum plano turístico ambicioso do Paraná lançadobetway promos2022,betway promosmapear um provável trecho do Caminho com até 1.550 quilômetros para ciclismo e caminhada, atravessando o Estado desde o litoral e passando por 86 municípios, até a fronteira com o Paraguai.
Eu viajei até Peabiru para conhecer pelo menos um desses caminhos: uma trilha entre a floresta que inclui sete cachoeiras ao longo do cursobetway promosum dos rios da região. As margens do rio quase certamente fizeram parte do Caminho, segundo informou meu guia Arléto Rocha enquanto caminhávamos, passando sobre e abaixobetway promosárvores caídas e depois com as águas frias do rio até os joelhos, tirando as frutas estragadas da sola das minhas botas.
Não contentebetway promoster molhado apenas as botas, Rocha mergulhou com roupasbetway promosuma das cachoeiras. Depois, ele indicou locais onde havia encontrado pontasbetway promosflechas, argamassa, gravaçõesbetway promospedras e outras joias arqueológicas na última década, que agora estãobetway promosexibição no recém-inaugurado Museu Municipal "Caminhosbetway promosPeabiru".
A maior parte da caminhada na floresta, como o restante do caminho ao longo do Paraná, é simbólica — a melhor estimativa possívelbetway promosonde poderá ter ficado a trilha original, apesar da certezabetway promosalguns trechos, especialmente onde existem mapas históricos e sítios arqueológicos.
Esta região do sul do Brasil é um localbetway promosescavações arqueológicas desde os anos 1970,betway promosbuscabetway promosrestos do Caminhobetway promosPeabiru. Da mesma forma, ali também havia densa população indígena (estima-se um picobetway promoscercabetway promos2 milhõesbetway promospessoas, principalmente guaranis, no século 16).
Como muitos outros com quem falei, Rocha é fascinado pelo mistério da trilha e chegou a elaborarbetway promosdissertaçãobetway promosmestrado sobre o assunto. Historiadores, astrônomos e arqueólogos também vêm se ocupando desse quebra-cabeça há décadas, reunindo mapas antigos, registros coloniais e histórias orais para tentar entender as origens e o propósito do caminho.
O consenso é que o caminho principal da rede conectava o litoral leste e oeste da América do Sul. Dos seus pontosbetway promospartida no litoral brasileiro (onde hoje ficam os Estadosbetway promosSão Paulo, Paraná e Santa Catarina), as trilhas se reuniam no Paraná, prosseguindo através do território que hoje forma o Paraguai até a regiãobetway promosPotosí, na Bolívia, que era ricabetway promosprata.
Ao chegar ao lago Titicaca (hoje, fronteira entre a Bolívia e o Peru), o caminho seguia até Cusco — a capital do império inca — e,betway promoslá, descia até o litoral peruano e o norte do Chile.
"Grosso modo, pode-se dizer que o roteiro 'comprido' do Peabiru era aquele que acompanhava o movimento aparente do Sol, nascente-poente", segundo Bond, na série literária História do Caminhobetway promosPeabiru, publicadabetway promos2021.
Nessa série, a autora analisa diversas hipóteses plausíveis sobre as origens da trilha e conclui que a redebetway promoscaminhos provavelmente foi criada e usada por diversos grupos indígenas ao longo dos séculos, masbetway promoscaracterística principal era o desejobetway promosconectar o Atlântico ao Pacífico.
"Ou seja, não importa quantos e quais povos construíram os trechos, pois o relevante seria que a estrada, num certo momento, passou a ser vista como um caminho homogêneo e específico, que representava na terra o 'andar' do Sol no céu", segundo ela.
Entre os povos a que Bond se refere, encontram-se os guaranis, uma das maiores populações nativas remanescentes na América do Sul. Eles vivembetway promosparte do Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia.
O Caminhobetway promosPeabiru é uma rota física e espiritual na cultura guarani, que leva a um paraíso mitológico chamado por elesbetway promosYvy MarãEy, que fica além da água (o Oceano Atlântico), onde nasce o Sol.
Esse paraíso ("a terra sem mal",betway promostradução livre) é mencionado na tradição oral dos guaranis, nos seus rituais, música, dança, simbologia ebetway promosnomesbetway promoslugares. As lendas guaranis chegam a dizer que a redebetway promoscaminhos é um reflexo da Via Láctea na Terra.
Também se acredita que o nome da trilha venha da palavra guarani peabeyú, que significa "caminhobetway promosgrama pisada", entre outras traduções.
Mas, para os colonizadores europeus (como o navegador português Aleixo Garcia), o caminho espiritual dos guaranis para o paraíso tornou-se uma via rápida até as riquezas dos incas nas expedições pelo Novo Mundo, que acabaram por causar a mortebetway promosmassa das populações indígenas da América do Sul pela guerra, pela fome e, principalmente, pelas doenças.
As lendas sobre o Eldorado e a Serra da Prata trouxeram frotasbetway promosnavios espanhóis e portugueses através do Atlântico e alguns grupos indígenas os ajudaram a penetrar no interior do continente, através do Caminhobetway promosPeabiru, segundo Parellada.
"Conhecer as rotas e trilhas principais através das populações nativas tornou-se uma vantagem estratégica, que amplificou o saque, a destruição e a cobiçabetway promosnovos territórios e riquezas minerais", explica ela.
Ao longo dos séculos seguintes, sucessivas ondasbetway promosexploradores, catequizadores jesuítas, bandeirantes, comerciantes e colonizadores também fizeram uso do Caminhobetway promosPeabiru para ter acesso ao interior do continente — pavimentando, ampliando e, às vezes, alterando o curso do caminho.
"Os primeiros registros escritos sobre a trilha datam dos séculos 16 e 17", segundo Parellada. "Eles incluem o relatobetway promosRuy Díazbetway promosGuzmánbetway promos1612, sobre a mortebetway promosGarcia nas mãos do grupo étnico Payaguás durante seu retorno do Peru para o litoral [brasileiro]."
Para continuar minha pesquisa sobre os vestígios da trilha, viajei para o litoralbetway promosSanta Catarina, até a Enseada do Brito, no municípiobetway promosPalhoça - uma baía tranquila onde os historiadores acreditam que Garcia teria morado e dali partido embetway promosmissão até o império inca. Este é o pontobetway promospartidabetway promosoutra caminhada inspirada pelo Caminhobetway promosPeabiru — um trajetobetway promos25 quilômetros que passa por praias, dunasbetway promosareia no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e uma visita a duas aldeias guaranis.
Durante o aquecimento para a caminhada, tento imaginar Garcia e seu grupobetway promosnáufragos barbudos, a milharesbetway promosquilômetrosbetway promoscasa, e suas novas acomodações com os guaranis depoisbetway promosperderem seu navio.
Como na caminhada anterior, a trilha é apenas uma estimativa do local onde poderá ter passado o Caminhobetway promosPeabiru. Ele foi definido com a pesquisa do empresário local Flávio Santos, que desenvolveu esse projetobetway promosturismo depoisbetway promosestudar a história da trilha e os sítios arqueológicos locais.
Como muitos outros, ele vê o potencialbetway promosatrair turistas o ano inteiro, beneficiando a comunidade local, incluindo as aldeias guaranis próximas, se tudo for feito corretamente.
"Temos esta trilha antiga, então, por que não conectar a história e os povos indígenas locais?", questiona Santos. "É importante que os moradores locais conheçam essa história e saibam como os povos indígenas viviam e como foram dizimados."
Parellada concorda: "Um passeio pelo Caminhobetway promosPeabiru, aliado a atividades educativas, poderá ser uma ponte para a compreensão total do passado colonial da América do Sul,betway promosbiodiversidade e o conhecimento dos povos indígenas".
betway promos Leia a versão original desta reportagem betway promos (em inglês) no site BBC Travel betway promos .
- Texto publicado originalmentebetway promoshttp://bbc.co.ukhttp://vesser.net/vert-tra-61808692
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