Como os cientistas começam a desvendar os sons desconhecidos da terra:online casino sg
Os ecologistas sabem há muito tempo que a terra abaixo dos nossos pés abriga maior diversidade e quantidadeonline casino sgvida que quase qualquer outro lugar do planeta. Para o leigo, o solo parece pouco mais que uma camada compactaonline casino sgterra suja. Mas, na verdade, o solo é um cenário labirínticoonline casino sgtúneis, cavidades, raízes e detritosonline casino sgdecomposição.
Em apenas uma xícaraonline casino sgterra, os pesquisadores já contaram até 100 milhõesonline casino sgformasonline casino sgvida,online casino sgmaisonline casino sg5 mil espécies. Os moradores do subsolo variamonline casino sgfungos e bactérias microscópicas, ácaros e colêmbolos do tamanho da pontaonline casino sgum lápis, até centopeias, lesmas e minhocas que podem chegar a maisonline casino sgum metroonline casino sgcomprimento. Junto a eles, existem as toupeiras, ratos e coelhos que vivem ao menos parte das suas vidasonline casino sgtúneis e covas subterrâneas.
"É uma biodiversidade extraordinária", afirma Uffe Nielsen, biólogo do solo da Universidade do Oesteonline casino sgSydney, na Austrália. E também é vital — coletivamente, essas comunidades subterrâneas formam grande parte da base da vida do planeta, desde os alimentos que comemos até o ar que respiramos.
Atualmente, no campo relativamente novo conhecido como bioacústica do solo — que alguns preferem chamaronline casino sgbiotremologia ou ecoacústica do solo —, cada vez mais biólogos estão capturando ruídos subterrâneos para abrir uma janela para esse mundo complexo e misterioso.
Eles descobriram que um simples prego metálico fixado na terra pode funcionar como uma espécieonline casino sgantenaonline casino sgcabeça para baixo, se for equipado com os sensores corretos. E, quanto mais os pesquisadores escutam, mais se torna evidente como é vibrante a vida no solo sob nossos pés.
Espionar essa cacofoniaonline casino sgsons subterrâneos promete revelar não apenas quais formasonline casino sgvida residem abaixo dos nossos pés, mas também como elas passamonline casino sgexistência - como elas comem ou caçam, como deslizam umas sobre as outras sem serem notadas e como tamborilam, sapateiam ou cantam para chamar a atenção dos demais.
Para Nielsen, a vida no subsolo "é uma caixa preta. À medida que a abrimos, percebemos como nosso conhecimento é pequeno."
A compreensão dessa vida no subsolo é importante porque a ecologia do solo é fundamental. "O solo ajuda a transformar elementos nutrientes como carbono, nitrogênio, fósforo e potássio, que alimentam as plantas, para termos comida, florestas ou para preencher o ar com oxigênio e todos nós podermos respirar", segundo Steven Banwart, pesquisador do solo, agricultura e da água da Universidadeonline casino sgLeeds, no Reino Unido.
Banwart é um dos autoresonline casino sguma análise das funções do solo, publicada na revista Annual Review of Earth and Planetary Sciences. Minhocas, larvas, fungos, bactérias e outros decompositores estão envolvidosonline casino sgtodas as etapas.
E cada organismo do solo produzonline casino sgprópria trilha sonora. Larvas que se alimentamonline casino sgraízes emitem cliques curtos enquanto rompem as fibras daonline casino sgrefeição. Minhocas sussurram enquanto se arrastam pelos túneis, da mesma forma que as raízes das plantas à medida que empurram grãosonline casino sgterra, como relataram pesquisadores suíçosonline casino sg2018.
Mas as raízes se movem mais lentamente que as minhocas eonline casino sgvelocidade mais constante. Diferenciando esses sons, os estudiosos da acústica do solo pretendem esclarecer questões que ainda estão sem resposta, como: quando as raízes das plantas crescem? à noite? durante o dia? somente quando chove?
Ruídos do solo são úteis para os animais
Nós, seres humanos, podemos ser os últimos a descobrir essa trilha sonora subterrânea.
Os pássaros podem ser frequentemente vistos pulando nos gramados com a cabeçaonline casino sgriste. Pesquisadores acreditam que isso ocorre porque eles estão ouvindo as larvas e minhocas embaixo da terra. Muitas vezes, eles bicam o solo no momento certo para puxaronline casino sgpresa desprevenida.
Já a tartaruga-da-madeira da América do Norte beneficia-se da atenção dada pelas minhocas às vibrações causadas pela quedaonline casino sgchuva. A tartaruga pisa forte sobre o solo para imitar a chuva,online casino sgforma que as minhocas vêm à superfície e se tornam um lanche suculento para o réptil.
As vibrações subterrâneas podem também ser fundamentais para sinais que parecem ser propositais. Acredita-se que os ratos-toupeira, que vivemonline casino sgtocas subterrâneas, possam comunicar-se com os demais nas proximidades batendo suas cabeças ou os pés contra as paredes dos seus túneis.
Também já se observou que as formigas cortadeiras criam ruídos quando ficam enterradas durante escavações nos formigueiros, para que outras formigas trabalhadoras corram até o local e comecem a cavar para resgatar a companheira.
Alguns desses sons subterrâneos são audíveis para o ouvido humano, mas muitos têm frequência e volume altos ou baixos demais. Para estes, os pesquisadores utilizam instrumentos como sensores piezoelétricos, que funcionam como os microfonesonline casino sgcontato que você pode fixar a um violão.
Fixados a um prego enterrado no solo, que pode ter até 30 cmonline casino sgcomprimento, esses sensores detectam vibrações que os pesquisadores convertemonline casino sgsinais eletrônicos e amplificam até que os seres humanos possam ouvi-los.
'Cantosonline casino sgpássaros'
Carolyn-Monika Görres, ecologista da paisagem da Universidadeonline casino sgGeisenheim, na Alemanha, ficou surpresa ao descobrir o quanto podem revelar os ruídos subterrâneos.
Görres estuda as larvasonline casino sgbesouros que se alimentamonline casino sgraízes, conhecidas como larvas brancas. Seu interesse específico é pelos gases que essas larvas emitem, como metano. Os biólogos suspeitam que esses pequenos insetos, pertencentes a várias espécies, são responsáveis por quantidades substanciaisonline casino sgemissões climáticas, devido aos seus imensos números. Estima-se que os cupins, por exemplo, produzem cercaonline casino sg1,5% das emissões globaisonline casino sgmetano. Comparativamente, as emissões da mineraçãoonline casino sgcarvão representam 5-6%.
Inicialmente, Görres ficou desorientada. Como ela saberia quantas dessas larvas com centímetrosonline casino sgcomprimento viviamonline casino sgum pedaçoonline casino sgsolo? "Tradicionalmente, você cava o solo para ver o que há ali", ela conta. "Mas, assim, tudo fica danificado."
Por isso, Görres foionline casino sgbicicleta até pradarias e florestas perto daonline casino sgcidade e enterrou duas dúziasonline casino sgsensores acústicos no solo para gravar as larvas cuidando das suas atividades. Ela conta que, quando mostra as gravações para outras pessoas, "alguns dizem que parece o rangidoonline casino sguma árvore. Outros ouvem pedaçosonline casino sglixa sendo esfregados entre si."
Görres aprendeu a diferenciar as duas espéciesonline casino sglarvas brancas que ela estuda — o besouro-comum (Melolontha melolontha) e o besouro-da-floresta (Melolontha hippocastani) — devido a um zumbido que é similar ao canto estridente (estridulação) das cigarras e dos gafanhotos acima da terra.
As larvas produzem esse som esfregando suas mandíbulas. "Pode-se dizer que elas rangem os dentes para falar com as demais embaixo da terra", descreve Görres. "A beleza dessas estridulações é que elas parecem ser específicas para cada espécie, como os cantos dos pássaros."
Quando as larvas se transformamonline casino sgpupas, elas alteram seu mecanismoonline casino sgproduçãoonline casino sgruídos, girando o abdômen dentro daonline casino sgcarapaça e batendo-o contra a parede da carapaça. Mas por que elas fazem isso? O motivo não está claro.
Acima do solo, os sons estridentes dos insetos atraem parceiros sexuais. Mas, para as larvas, "a reprodução ainda não é importante", segundo Görres. Para aprender mais, a ecologista (que apelidou seu projeto acústico do soloonline casino sg"Twitter subterrâneo") encheu recipientes com solo arenoso do habitat natural dos insetos, acrescentou fatiasonline casino sgcenouras para manter as larvas felizes e as levou para o seu laboratório.
Ela observou que as larvas mantidas sozinhas raramente emitiam sons. Mas, se houvesse maisonline casino sguma no mesmo recipiente, elas cantavam - e muito! Um trioonline casino sglarvasonline casino sgbesouros estridulou por 682 vezesonline casino sgsuas primeiras duas horas e meia juntas.
Görres suspeita que as larvas cantem para afastar as demais. As larvas comem insistentemente — "seu único propósito na vida é ganhar biomassa", segundo ela — e, se muitas larvas dividirem o mesmo pedaçoonline casino sgsolo, elas começam a canibalizar-se. Em apoio a essa teoria, Görres indica que os cientistas já identificaram larvas mudandoonline casino sgcurso para evitar pupas que estão batendo seus abdomens.
O som é barato
Quando falamos sobre sons, referimo-nos principalmente às ondasonline casino sgpressão que viajam através do ar. Quando atingem os nossos ouvidos, elas fazem vibrar os tímpanos e nossos cérebros, por fim, traduzem essas oscilaçõesonline casino sgsons.
Mas essas ondas também podem mover-se atravésonline casino sgoutros meios, como a água ou o solo. Os elefantes conhecem bem esse processo. Eles vocalizam um estrondoonline casino sgbaixa frequência que se propaga através do solo, permitindo que eles façam contato com irmãos distantes que captam os sinais com a sola dos pés.
As emissões acústicas também podem viajar por diferentes meios ao mesmo tempo. Grilos-toupeira machos (Gryllotalpa major) cavam tocasonline casino sgformaonline casino sgchifre no solo arenoso,online casino sgonde estridulam esfregando suas asas. Esse gorjeio serve para cortejar as fêmeas que estão voando no ar, mas ele também viaja na formaonline casino sgvibrações através do solo, onde pode afastar outros grilos machos nas suas próprias tocas subterrâneas.
Alguns animais adaptaram seus ouvidos para captar melhor essas vibrações transmitidas atravésonline casino sgsubstratos. No Deserto da Namíbia, vive a toupeira-dourada - um pequeno mamífero peludoonline casino sghábitos noturnos e quase cego. À noite, a toupeira caça cupins nas dunas "nadando" através da areia, comonline casino sgcabeça e os ombros submersos.
Os biólogos acreditam que ela faça isso para ouvir a presa. Um dos ossículos do ouvido médio da toupeira é muito grande. Pesquisadores acreditam que isso ajuda o animal a captar vibrações transmitidas pelo solo,online casino sgum processo similar ao verificado com ondas sonoras aéreasonline casino sgouvidos humanos.
Já as cobras recebem sinais vibratórios através dos sensores nas suas mandíbulas, enquanto a toupeira-nariz-de-estrela possui um nariz estranho com tentáculos, que pode captar vibrações. E muitos insetos possuem sensores mecânicos nas patas que registram pulsos no solo.
Faz todo sentido que os animais subterrâneos incorporem o som às suas vidas, segundo Matthias Rillig, ecologista do solo da Universidade Livreonline casino sgBerlim, na Alemanha. "O som é um sinalonline casino sgalta velocidade que tem custo muito baixo", afirma ele - certamente menor que o da produçãoonline casino sgsubstâncias como feromônios para comunicação.
O som também tende a viajar mais rápido e mais longe que os sinais químicos. O estrondoonline casino sgum elefante pode propagar-se por quilômetros. Já as vibrações criadas por um pequeno inseto subterrâneo podem atingir apenas algumas dezenasonline casino sgcentímetros — mas,online casino sgum mundo medidoonline casino sggrande parteonline casino sgmicrômetros, esta ainda é uma longa distância.
Plantas e fungos na escuta
Mas existem outras formasonline casino sgvida, além dos insetos, que detectam essas vibrações subterrâneas e fazem uso delas?
Rillig começou um projetoonline casino sgque ele e Maeder trazem para o laboratório criaturas minúsculas, como colêmbolos e ácaros do solo, e os acompanham por horas para testar quanto barulho eles fazem, isoladamente ouonline casino sggrupos com outras espécies. O ecologista imagina se os fungos poderiam ser capazesonline casino sgregistrar os sons desses micropredadores e afastar-se dos locais onde eles se reúnem, já que alguns deles gostamonline casino sgcomer filamentos fúngicos.
"Ou um fungo poderia reagir a indicações sonorasonline casino sgperigo aumentando a produçãoonline casino sgesporos", afirma Rillig. Isso ajudaria a garantir a dispersão dos seus genes antes que ele seja comido.
Já existem evidênciasonline casino sgque as plantas, pelo menos, fazem uso do som para auxiliar naonline casino sgsobrevivência. A ecologista evolutiva Monica Gagliano ofereceu a plantasonline casino sgervilha (Pisum sativum) a opçãoonline casino sgfazer crescer suas raízesonline casino sgdiferentes tubosonline casino sgplástico. Todos os tubos foram preenchidos com solo para os testes, mas alguns foram expostos às vibraçõesonline casino sgfluxoonline casino sgágua (correndo atravésonline casino sgum cano no ladoonline casino sgfora do tubo).
Gagliano, do Laboratórioonline casino sgInteligência Biológica da Universidade Southern Cross, da Universidade do Oeste da Austrália e da Universidadeonline casino sgSydney, todas na Austrália, relatou que as plantasonline casino sgervilha favoreceram o crescimentoonline casino sgraízesonline casino sgdireção ao som da água, mesmo que a água não fosse acessível para as plantas e que nenhuma umidade pudesse vazar para os tubos.
Controleonline casino sgpragas
Alémonline casino sginformar os ecologistas, a acústica subterrânea poderá nos ajudar a cuidar melhor do meio ambiente e detectar pragas que causam prejuízosonline casino sgbilhõesonline casino sgdólares todos os anos.
Em 1478, "escaravelhos do pasto estavam causando danos significativos às pradarias dos Alpes suíços, ao ponto do bispoonline casino sgLausanne excomungar os herbívoros invasores", segundo escreveram cientistasonline casino sgum estudoonline casino sg2015 sobre insetos que se alimentamonline casino sgraízes.
Para indicar um exemplo atual, infestações da broca-da-raiz-da-videira, Vitacea polistiformis, podem reduzir a produção dos vinhedosonline casino sgaté 47%.
Sem uma formaonline casino sgidentificar as infestações, os administradoresonline casino sgcampos muitas vezes precisam recorrer ao controleonline casino sgpragas, como a aplicaçãoonline casino sgpesticidasonline casino sgcobertura, segundo Louise Roberts, especialistaonline casino sgbioacústica da Universidade Cornell, nos Estados Unidos. "Mas isso mata todo tipoonline casino sgvida subterrânea".
Muitas vezes, seria suficiente tratar apenas partesonline casino sgum campoonline casino sgplantio ouonline casino sggolfe, pois os insetos do solo tendem a se reunir. "Mas, para que isso funcione, você precisa saber onde as pragas estão", adverte ela.
Por isso, Roberts e seus colegas estão conduzindo um estudo para verificar se os administradoresonline casino sgcampos podem colocar sensores no gramado e usar as frequências dos sons coletados para identificar infestaçõesonline casino sgpragas subterrâneas e suas espécies. O trabalho estáonline casino sgandamento, mas os primeiros resultados sugerem que isso é possível, segundo Roberts.
A influência humana
Paraonline casino sgdecepção, os pesquisadores estão descobrindo que nem tudo que eles detectam no solo é novo e exótico. Alguns ruídos são inquietantemente familiares. Quando Marcus Maeder ouve os sons subterrâneos do seu país natal, a Suíça, ele consegue "ouvir locaisonline casino sgconstrução e rodovias que estão distantes. Até aviões."
Ainda não se sabe ao certo qual o impacto da poluição sonora humana sobre a vida subterrânea. Para Matthias Rillig, "é difícil acreditar que não haja impacto nenhum". E os cientistas também estão descobrindo que a orquestra subterrâneaonline casino sgatividade animal começou a ficaronline casino sgsilêncioonline casino sggrandes trechosonline casino sgterra, particularmente nas fazendasonline casino sgagricultura intensiva, onde "as coisas ficam quietas", segundo Maeder.
A redução do ruído indica diminuição da biodiversidade e, portanto, solo menos saudável. Isso coincide com um relatório recente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que concluiu que um terço da terra do mundo já sofreu degradação pelo menos moderada, muitas vezes devido à agricultura.
Para Maeder, talvez a acústica do solo ajude mais pessoas a perceber a importância do que estáonline casino sgrisco. Ele começou um projetoonline casino sgciência cidadã que empresta sensores acústicos para as pessoas na Suíça ouvirem por si próprias a atividade subterrânea. As gravações estão sendo reunidasonline casino sguma biblioteca nacionalonline casino sgsons do solo, na esperançaonline casino sgincentivar a conscientização.
Até o momento, a demanda é alta, segundo Maeder. "Os sensores estão sempre emprestados."
*Este artigo foi publicado originalmente na revista jornalística independente Knowable, da editora americana Annual Reviews, e republicado pelo site BBC Future. Leia a versão original (em inglês).
- O texto foi publicado originalmenteonline casino sghttp://vesser.net/vert-fut-61793019
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