A técnica dos psicólogos para saber quando alguém está mentindo:aposta dividida roleta
Um deles não estava transtornado o suficiente. O outro estava transtornado demais. Como esses sentimentos opostos podem ser pistas reveladorasaposta dividida roletaculpa?
Não são, diz a psicóloga Maria Hartwig, pesquisadora do John Jay College of Criminal Justice da Universidade da Cidadeaposta dividida roletaNova York.
Ambos os rapazes, posteriormente inocentados, foram vítimasaposta dividida roletauma concepção errônea generalizada: que você pode identificar um mentiroso pela maneira como ele age.
Em diferentes culturas, as pessoas acreditam que certos comportamentos — como desviar o olhar, inquietação e gagueira — entregam os mentirosos.
Mas, na verdade, pesquisadores encontraram poucas evidências para apoiar essa crença, apesaraposta dividida roletadécadasaposta dividida roletapesquisas.
"Um dos problemas que enfrentamos como pesquisadores da mentira é que todo mundo pensa que sabe como a mentira funciona", afirma Hartwig, coautoraaposta dividida roletaum estudo sobre pistas não-verbais para mentira publicado na revista acadêmica Annual Review of Psychology.
Esse excessoaposta dividida roletaconfiança levou a erros judiciais graves, como Tankleff e Deskovic sabem muito bem.
"Os errosaposta dividida roletadetecçãoaposta dividida roletamentira custam caro para a sociedade e para as pessoas vítimasaposta dividida roletaerrosaposta dividida roletajulgamento", explica Hartwig.
"Tem muita coisaaposta dividida roletajogo."
Sinais errados
Os psicólogos sabem há muito tempo como é difícil identificar um mentiroso.
Em 2003, a psicóloga Bella DePaulo, agora afiliada à Universidade da Califórnia,aposta dividida roletaSanta Bárbara, e seus colegas examinaram a literatura científica existente e reuniram 116 experimentos que comparavam o comportamento das pessoas ao mentir e ao dizer a verdade.
Os estudos avaliavam 102 possíveis pistas não-verbais, incluindo desviar o olhar, piscar, falar mais alto (uma pista não-verbal porque não depende das palavras usadas), encolher os ombros, mudar a postura e movimentar a cabeça, mãos, braços ou pernas.
Nenhuma delas provou ser um indicador confiávelaposta dividida roletaum mentiroso, embora algumas fossem levemente correlacionadas, como pupilas dilatadas e um pequeno aumento — indetectável ao ouvido humano — no tomaposta dividida roletavoz.
Três anos depois, DePaulo e o psicólogo Charles Bond, da Texas Christian University, também nos EUA, revisaram 206 estudos envolvendo 24.483 observadores que julgaram a veracidadeaposta dividida roleta6.651 comunicaçõesaposta dividida roleta4.435 indivíduos.
Nem os especialistasaposta dividida roletasegurança pública, nem os estudantes voluntários foram capazesaposta dividida roletadistinguir as afirmações verdadeiras das falsas mais do que 54% das vezes — um pouco acima do acaso.
Em experimentos individuais, a precisão oscilouaposta dividida roleta31 a 73% — e variou mais amplamenteaposta dividida roletaestudos menores.
"O impacto da sorte é aparenteaposta dividida roletaestudos pequenos", diz Bond. "Em estudosaposta dividida roletatamanho suficiente, a sorte se nivela."
Este efeitoaposta dividida roletarelação ao tamanho sugere que a maior precisão relatadaaposta dividida roletaalguns dos experimentos pode apenas se resumir ao acaso, explica o psicólogo e analistaaposta dividida roletadados aplicados Timothy Luke, da Universidadeaposta dividida roletaGotemburgo, na Suécia.
"Se não encontramos grandes efeitos até agora", diz ele, "é porque provavelmente não existem."
A sabedoria popular diz que você pode identificar um mentiroso pela forma como ele soa ou age.
Mas quando os cientistas analisaram as evidências, descobriram que muito poucas pistas realmente tinham qualquer relação significativa com mentir ou dizer a verdade.
Mesmo as poucas associações que eram estatisticamente significativas não eram fortes o suficiente para serem indicadores confiáveis.
Os peritos da polícia, no entanto, frequentemente apresentam um argumento diferente: que os experimentos não eram realistas o suficiente.
Afinalaposta dividida roletacontas, eles dizem, os voluntários — a maioria estudantes — instruídos a mentir ou dizer a verdadeaposta dividida roletalaboratóriosaposta dividida roletapsicologia não enfrentam as mesmas consequências que os suspeitosaposta dividida roletacrimes na salaaposta dividida roletainterrogatório ou no banco dos réus.
"Os 'culpados' não tinham nadaaposta dividida roletajogo", afirma Joseph Buckley, presidente da John E Reid and Associates, que treina milharesaposta dividida roletapoliciais todos os anosaposta dividida roletadetecçãoaposta dividida roletamentiras baseadaaposta dividida roletacomportamento.
"Não era uma motivação real, consequente."
Samantha Mann, psicóloga da Universidadeaposta dividida roletaPortsmouth, no Reino Unido, achava que as críticas da polícia eram pertinentes quando começou a pesquisar sobre a mentira há 20 anos.
Para aprofundar a questão, ela e o colega Aldert Vrij assistiram a horasaposta dividida roletaentrevistasaposta dividida roletavídeo da polícia com um serial killer condenado e identificaram três verdades conhecidas e três mentiras conhecidas.
Mann pediu então a 65 policiais ingleses que vissem as seis declarações e julgassem quais eram verdadeiras e quais eram falsas. Como as entrevistas eramaposta dividida roletaholandês, os oficiais julgaram inteiramente com baseaposta dividida roletapistas não-verbais.
Os policiais estavam corretos 64% das vezes — melhor do que o acaso, mas ainda não muito precisos, diz ela.
E aqueles que se saíram pior foram os que disseram confiaraposta dividida roletaestereótipos não-verbais como "mentirosos desviam o olhar" ou "mentirosos são inquietos".
Na verdade, o assassino manteve contato visual e não se inquietou ao mentir.
"Esse cara estava claramente muito nervoso, sem dúvida", afirma Mann, mas controlou seu comportamento para contrariar estrategicamente os estereótipos.
Em um estudo posterior, também realizado por Mann e Vrij, 52 policiais holandeses não se saíram melhor do que o acaso ao tentar distinguir entre declarações verdadeiras e falsasaposta dividida roletafamiliares que haviam matado seus parentes e negado isso veementementeaposta dividida roletacoletivasaposta dividida roletaimprensa.
Notavelmente, os policiais com pior desempenho foram aqueles que acreditaram que as demonstraçõesaposta dividida roletaemoção eram genuínas. Mas o que isso significa?
"Se o marido matou a esposa, ele poderia estar perturbado por uma sérieaposta dividida roletarazões, como remorso ou (medo de) ser preso", diz Mann.
"O comportamento não-verbal é tão idiossincrático. Se você se concentrar no comportamento não-verbal, como as emoções, você vai cometer erros."
Confirmando esses resultadosaposta dividida roletalarga escala, anos depois, Hartwig e Bond revisaram a literaturaaposta dividida roletaestudos que comparavam as habilidades das pessoas para detectar mentirasaposta dividida roletaalto e baixo risco.
Eles não encontraram evidênciasaposta dividida roletaque as pessoas detectassem melhor as mentiras contadas por criminosos ou suspeitos acusados injustamenteaposta dividida roletainvestigações policiais do que aquelas contadas por voluntáriosaposta dividida roletalaboratório.
Algo a esconder
De assassinosaposta dividida roletasérie a estudantes mentindoaposta dividida roletaexperimentosaposta dividida roletalaboratório, as mentirasaposta dividida roletatodos esses experimentos foram ditas oralmente.
Em um estudo publicadoaposta dividida roleta2019, Mann examinou a farsa não-verbal, como quando alguém está tentando esconder uma atividade ilícita — um tipoaposta dividida roletamentira relevante para detectar terroristas ou contrabandistas.
Ela recrutou 52 estudantes universitários voluntários e pediu a metade deles que transportasse um laptop que supostamente continha fotos confidenciaisaposta dividida roletaum trajetoaposta dividida roletabalsa entre duas cidades.
Os voluntários foram orientados a tentar se misturaraposta dividida roletameio à multidão e não parecerem "suspeitos", porque haveria pessoas tentando identificá-los.
A outra metade do grupo recebeu um telefone celular comum para transportar, sem instruções para esconder o que estavam fazendo.
Quando Mann mostrou os vídeos das viagensaposta dividida roletabalsa para 104 outros voluntários e pediu que identificassem os "contrabandistas", os observadores não se saíram melhor do que o acaso.
Em entrevistas posteriores, os "contrabandistas" disseram que estavam nervosos, mas conscientemente tentaram agir normalmente e controlar o nervosismo com táticas como ouvir música ou usar seus telefones.
Em seguida, Mann aumentou o nívelaposta dividida roletatensão do experimento. Metadeaposta dividida roletaum novo grupoaposta dividida roleta60 voluntários recebeu um envelope com moedas russa, egípcia e coreana para esconder, enquanto a outra metade não "contrabandeou" nada.
Mas, desta vez, Mann enviou dois pesquisadores para andar pela balsa e analisar os passageiros, aparentando comparar seus rostos com fotosaposta dividida roletaum telefone celular.
Desta vez, 120 observadores que tentavam identificar os "contrabandistas" no vídeo acertaram apenas 39,2% das vezes — bem menos do que o acaso.
A razão, diz Mann, é que os "contrabandistas" conscientemente se esforçaram para parecer normais, enquanto os voluntários "inocentes" do grupoaposta dividida roletacontrole agiram com naturalidade.
A surpresa deles com a vigilância inesperada pareceu aos observadores um sinalaposta dividida roletaculpa.
Disfarçar bem
A descobertaaposta dividida roletaque mentirosos podem esconder o nervosismo com sucesso é a peça que faltava na pesquisa sobre mentira, diz o psicólogo Ronald Fisher, da Universidade Internacional da Flórida, nos EUA, que treina agentes do FBI, a polícia federal americana.
"Não são muitos os estudos que comparam as emoções internas das pessoas com o que os outros percebem", diz ele.
"A questão toda é que os mentirosos ficam mais nervosos, mas isso é um sentimento interno, ao contrário do modo como eles se comportam, conforme observado pelos outros."
Estudos como estes levaram os pesquisadores a abandonaraposta dividida roletagrande parte a busca por pistas não-verbais para a mentira.
Mas existem outras maneirasaposta dividida roletaidentificar um mentiroso?
Hoje, os psicólogos que investigam a mentira estão mais propensos a se concentraraposta dividida roletapistas verbais e, particularmente,aposta dividida roletamaneirasaposta dividida roletaampliar as diferenças entre o que dizem os mentirosos e quem fala a verdade.
Por exemplo, os interrogadores podem reter evidências estrategicamente por mais tempo, permitindo que um suspeito fale mais livremente, o que pode levar os mentirosos a contradições.
Em um experimento, Hartwig ensinou essa técnica a 41 policiaisaposta dividida roletatreinamento, que na sequência identificaram corretamente os mentirososaposta dividida roletacercaaposta dividida roleta85% das vezes —aposta dividida roletacomparação com 55%aposta dividida roletaoutros 41 recrutas que ainda não haviam recebido o treinamento.
"Estamos falandoaposta dividida roletamelhorias significativas nas taxasaposta dividida roletaprecisão", diz Hartwig.
Outra técnicaaposta dividida roletainterrogatório explora a memória espacial ao pedir que suspeitos e testemunhas descrevam uma cena relacionada a um crime ou um álibi para ser desenhada.
Como isso reforça a lembrança, quem diz a verdade pode apresentar mais detalhes.
Em um estudo simuladoaposta dividida roletamissãoaposta dividida roletaespionagem publicado por Mann e seus colegas no ano passado, 122 participantes se encontraram com um "agente" no refeitório da escola, trocaram um código e,aposta dividida roletaseguida, receberam um pacote.
Posteriormente, os participantes instruídos a dizer a verdade sobre o que aconteceu forneceram 76% mais detalhes sobre a experiência durante uma entrevista para ilustrar o ocorrido do que aqueles solicitados a encobrir a trocaaposta dividida roletacódigo-pacote.
"Quando você ilustra, está revivendo um evento — então isso ajuda a memória", diz Haneen Deeb, psicóloga da Universidadeaposta dividida roletaPortsmouth, coautora do estudo.
O experimento foi desenvolvido com a contribuição da polícia do Reino Unido, que regularmente recorre a entrevistas para ilustração e trabalha com pesquisadoresaposta dividida roletapsicologia, como parte da transição para os interrogatóriosaposta dividida roletapresunçãoaposta dividida roletainocência, que substituiu oficialmente os interrogatórios do tipo acusatório nas décadasaposta dividida roleta1980 e 1990 no país após escândalos envolvendo condenações injustas e abusos.
Mudança lenta
Nos EUA, porém, essas reformas baseadas na ciência ainda precisam ser introduzidas significativamente na polícia eaposta dividida roletaoutras autoridadesaposta dividida roletasegurança.
A Administraçãoaposta dividida roletaSegurançaaposta dividida roletaTransporte (TSA, na siglaaposta dividida roletainglês) do Departamentoaposta dividida roletaSegurança Interna dos EUA, por exemplo, ainda usa pistas não-verbaisaposta dividida roletamentira para selecionar passageiros para interrogatório nos aeroportos.
A listaaposta dividida roletaverificaçãoaposta dividida roletatriagem comportamental secreta da agência instrui os agentes a procurar pistas que indiquem supostos mentirosos, como desviar o olhar — considerado um sinalaposta dividida roletarespeitoaposta dividida roletaalgumas culturas —, olhar fixo prolongado, piscar rapidamente, reclamar, assobiar, bocejaraposta dividida roletaforma exagerada, cobrir a boca ao falar e inquietação ou cuidados pessoais excessivos.
Todas essas pistas foram completamente desacreditadas por pesquisadores.
Com os agentes se baseandoaposta dividida roletafundamentos tão vagos e contraditórios para suspeita, talvez não seja surpreendente que passageiros tenham apresentado 2.251 queixas formais entre 2015 e 2018, alegando que foram selecionados com base na nacionalidade, raça, etnia ou outros motivos.
O escrutínio do Congressoaposta dividida roletarelação aos métodosaposta dividida roletatriagem da TSAaposta dividida roletaaeroportos remonta a 2013, quando o General Accounting Office (GAO) — o órgãoaposta dividida roletaauditoria do Congresso americano — revisou as evidências científicas para detecçãoaposta dividida roletacomportamento e descobriu que eram insuficientes, recomendando a TSA a limitar seu financiamento e restringir seu uso.
Em resposta, a TSA eliminou o usoaposta dividida roletaoficiaisaposta dividida roletadetecçãoaposta dividida roletacomportamento independentes e reduziu a listaaposta dividida roletaverificaçãoaposta dividida roleta94 para 36 indicadores, mas manteve muitos elementos sem respaldo científico, como suor intenso.
Em resposta ao novo escrutínio do Congresso, a TSA prometeuaposta dividida roleta2019 melhorar a supervisão da equipe para reduzir a criaçãoaposta dividida roletaperfis. Ainda assim, a agência continua a ver valor na triagem comportamental.
Como um oficial da Segurança Interna disse aos investigadores do Congresso, vale a pena incluir indicadores comportamentaisaposta dividida roleta"bom senso"aposta dividida roletaum "programaaposta dividida roletasegurança racional e defensável", mesmo que não atendam aos padrões acadêmicosaposta dividida roletaevidência científica.
O gerenteaposta dividida roletarelações com a imprensa da TSA, R Carter Langston, diz que o órgão "acredita que a detecção comportamental fornece uma camada crítica e eficazaposta dividida roletasegurança dentro do sistemaaposta dividida roletatransporte do país."
A TSA cita dois casos distintosaposta dividida roletadetecção comportamental bem-sucedidos nos últimos 11 anos que impediram três passageirosaposta dividida roletaembarcaraposta dividida roletaaviões com dispositivos explosivos ou incendiários.
Mas, como diz Mann, sem saber quantos supostos terroristas escaparam da segurança sem serem detectados, o sucessoaposta dividida roletatal programa não pode ser medido.
E, na verdade,aposta dividida roleta2015, o chefe interino da TSA foi afastado após agentes infiltrados do Departamentoaposta dividida roletaSegurança Interna contrabandearem com sucesso,aposta dividida roletauma investigação interna, dispositivos explosivos falsos e armas reais por meio da segurança do aeroporto 95% das vezes.
Em 2019, Mann, Hartwig e 49 outros pesquisadores universitários publicaram uma revisãoaposta dividida roletaestudos avaliando as evidências da triagemaposta dividida roletaanálise comportamental, concluindo que os profissionaisaposta dividida roletasegurança pública deveriam abandonar essa pseudociência "fundamentalmente equivocada", que pode "prejudicar a vida e a liberdade dos indivíduos".
Hartwig, poraposta dividida roletavez, se juntou ao especialistaaposta dividida roletasegurança nacional Mark Fallon, ex-agente especial do Serviçoaposta dividida roletaInvestigação Criminal da Marinha dos Estados Unidos e ex-diretor assistenteaposta dividida roletaSegurança Interna, para criar um novo currículoaposta dividida roletatreinamento para investigadores mais solidamente baseado na ciência.
"O progresso tem sido lento", diz Fallon.
Mas ele espera que reformas futuras salvem as pessoas do tipoaposta dividida roletacondenações injustas que marcaram as vidasaposta dividida roletaJeffrey Deskovic e Marty Tankleff.
Para Tankleff, os estereótiposaposta dividida roletamentirosos se revelaram ferrenhos.
Em anosaposta dividida roletacampanha para ser absolvido e recentemente para exercer advocacia, o rapaz reservado e estudioso teve que aprender a mostrar mais sentimento "para criar uma nova narrativa"aposta dividida roletainocente injustiçado, diz Lonnie Soury, gerenteaposta dividida roletacrise que foiaposta dividida roletacoach nesse esforço.
Funcionou, e Tankleff finalmente conseguiu ser admitido na Ordemaposta dividida roletaNova Yorkaposta dividida roleta2020. Por que demonstrar emoção era tão importante?
"As pessoas", diz Soury, "são muito tendenciosas".
*Este artigo foi publicado originalmente na Knowable Magazine e republicado aqui com permissão.
aposta dividida roleta Leia a versão original aposta dividida roleta desta reportagem (em inglês) no site BBC Future aposta dividida roleta .
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