O movimento 'bumerangue' dos funcionários que estão voltando para antigos empregos:
Em 2022, ele se tornou um funcionário "bumerangue", ao retornar para a mesma empresaantes, masum cargo superior ao que ele tinha quando saiu.
Na verdade, foi uma promoção. "Fui convidado a voltar para um cargo maior e mais amplo devido às experiências que consegui ganhar nos dois anosque estive fora", explica ele.
Nos meses após o seu retorno, Chris afirma que conseguiu manter bom desempenho no cargo superior desde o início, devido ao seu conhecimento institucional.
Em vezum passo para trás, voltar ao seu antigo ambientetrabalho fez avançarcarreira, permitindo alavancar redescontato e relacionamentos pré-existentes naempresa, explorando ao mesmo tempo as experiências adquiridas na outra companhia.
"Foi ótimo — é como andaruma bicicleta maior e mais incrementada, com mais recursos", explica ele. "Eu saí inicialmente, não porque não gostasse do meu empregador; eu vi a chancesubir mais rapidamente e aproveitei."
A maioria das pessoas que saium emprego termina definitivamente seu relacionamento com a empresa, mas nem sempre este é o caso. Na verdade, após a Grande Renúncia (a tendência que levou um grande númeroprofissionais americanos a deixar seus empregos durante a pandemiacovid-19), vem disparando o númeropessoas retornando para seus antigos ambientestrabalho, como funcionários "bumerangues".
Algumas empresas estão até incentivando essa prática, com redesex-funcionários especialmente projetadas para recontratações. E, embora o retorno a um cargo anterior possa ser motivado pelo arrependimento,casos como oChris, é simplesmente a decisão lógica a ser tomada.
Como esses funcionários já saíram da empresa uma vez, faz sentido que eles retornem? E se as empresas começarem cada vez mais a tentar recontratar antigos funcionários, aonde isso nos levariarelação à evolução do mercadotrabalho?
O aumento da recontratação
Décadas atrás, as empresas se ouriçavam com a simples ideiarecontratar antigos funcionários, especialmente com a estigmatização enraizada sobre funcionários que pulamum emprego para outro.
"Algumas empresas tinham políticas formais proibindo as recontratações", segundo J. R. Keller, professorestudosrecursos humanos da ILR School da Universidade Cornell,Nova York, nos Estados Unidos.
"Os gerentes responsáveis pelas contratações acreditavam que trazer esses funcionáriosvolta indicava que eles estariam recompensando a deslealdade e incentivaria outros empregados a sair."
Mas as enormes reduçõespessoal depois da recessão no início dos anos 1980 abalaram essa mentalidade. Movimentar-se estrategicamente pelo mercadotrabalho para progredir na carreira tornou-se algo mais comum, segundo Keller.
"Quando se tornou padrão construir carreirasdiferentes empresas, os próprios gerentesRH começaram a mudaremprego ao longo do tempo", conta ele.
"Por isso, menosprezar um grande candidato, simplesmente porque ele havia saído anteriormente para uma oportunidade melhor, parecia contraproducente."
Essa mudançamentalidade fez com que as recontratações aumentassem ao longo dos anos. Mas a Grande Renúncia fez surgir um pico.
No Reino Unido, dados da plataforma LinkedIn analisados pela BBC demonstram que 5%todas as novas contratações2021 foramex-funcionários retornando. E, nos Estados Unidos, uma análisecerca32 milhõeshistóricos profissionaismembros da rede social LinkedIn demonstra que esses profissionais representaram 4,3%todas as contratações no ano passado, contra 2%2010.
E a velocidade desse fenômeno também é crescente. O profissional "bumerangue" americano levoumédia 17,3 meses para retornar a um antigo empregador2021, contra 21,8 meses2010.
Keller afirma que o crescimento pode ser atribuído,parte, à recente agitação do mercadotrabalho. Em alguns casos, maior rotatividade geralmente indica que mais profissionais agora querem seus antigos empregosvolta ou estão interessadosretornar para um antigo empregador.
Em uma pesquisa realizada2022 pela empresarecrutamento Robert Half, 29% dos empresários britânicos consultados relataram aumento do númeroex-funcionários pedindo para voltar paraantiga empresa.
"Alguém pode ter saídouma empresa e percebido que a grama do vizinho não é mais verde, ou ter sido forçado a sair por razões pessoais decorrentes da pandemia", explica Keller. "Por isso, eles querem voltar ao cargo que ocupavam antes com bom desempenho e que eles apreciam ainda mais depoispassar um tempo fora. E, com as redes sociais, é mais fácil manter contato com um antigo patrão do que antes."
Embora alguns profissionais tenham ficado com saudades dos seus antigos empregadores após a Grande Renúncia, a crisecontratação que se seguiu coincidiu com a buscanovos talentos pelos recrutadores, para preencher as vagas existentes. E, cada vez mais, as empresas se voltam para seus ex-funcionários.
Nicola Thomas, gerentetalentos da agênciamarketing digital iCrossing, com sedeBrighton, no Reino Unido, afirma que acompanha ativamente seus antigos funcionários como fonterecrutamento.
"Antes da crisecontratação, os 'bumerangues' não eram totalmente descartados, mas, agora, os recrutadores precisam pensarnovas formasampliarbusca por talentos", afirma ela. "O candidato perfeito pode muito bem ser um ex-funcionário; você nunca sabe quando alguém vai querer voltar".
O porquê do retorno
Em alguns casos, os profissionais podem encurtar o caminho até o topo simplesmente ganhando uma promoçãooutro lugar, para depois voltar para a empresa anterior com um cargo melhor e salário mais alto do que eles teriam se tivessem apenas permanecido.
"Se um ex-funcionário tiver saídoforma positiva, passado algum tempo fora e adquirido maiores conhecimentos e experiênciaoutro lugar, retornar para um cargo superior torna-se uma forte possibilidade", afirma Thomas
Um desses profissionais é o diretorotimizaçãomecanismosbusca da agênciamarketing digital iCrossing, Cameron Lyall. Ele deixou a empresa por um curto período para chefiar um departamentouma empresa concorrente, até retornarcargo superior.
"O emprego não era o que eu esperava. Logo percebi que não tinha muitas oportunidadesprogresso", explica ele. "Por isso, entreicontato com meu antigo gerente e perguntei se haveria uma oportunidadevoltar. Eu sabia que estavam sendo abertos novos cargos e tive a sortevoltarum cargo um pouco acima do que eu tinha quando saí."
Além do progresso na carreira, Lyall acrescenta que voltar trouxe benefícios psicológicos. Ele é grato por estarvolta a um emprego do qual ele gosta.
"Eu realmente me senti energizado ao voltar. Retomei os mesmos clientes e contas que antes, mas com a visão renovadacomo eu gostavatrabalhar na empresa", diz.
Do pontovistarecursos humanos, contratar ex-funcionárioscargos superiores pode fazer sentido, financeiramente ou para a logística da empresa.
A pesquisaKeller com mais2 mil funcionários "bumerangues"uma empresa americanaassistência médica2021 demonstrou que o desempenho dos "bumerangues" superouforma consistente o dos contratados externos, com benefícios mais evidentes nos dois primeiros anos da recontratação.
"Os 'bumerangues' podem ter bom desempenho a partir do momentoque chegam", afirma Thomas.
"Eles já trabalharam para você, entendemcultura e seus valores e, provavelmente, têm também relacionamentos existentes dentro da empresa."
O professoradministração John Arnold, da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos, afirma que esse tipocontratação faz sentidocargos que, muitas vezes, exigem profundas qualificações e conhecimentos especializados, como a áreatecnologia.
"Se uma empresa concentrar-secontratar apenas bons 'bumerangues' e eles voltarem e apresentarem bom desempenho rapidamente, é uma grande vantagem — particularmentesetores com grande curvaaprendizado que exige muito tempo e treinamento", explica Arnold.
Onde a mudança pode falhar
A recontratação pode geralmente parecer uma situação na qual todos ganham — o empregador e o funcionário que retorna. Mas a transição nem sempre é perfeita.
Para os profissionais que ficaram na empresa enquanto os colegas saíram, um ex-funcionário que retorna imediatamente para um cargo superior ou com salário mais alto pode prejudicar os ânimos.
"Nós não sabemos como os atuais funcionários reagirão à chegada dos 'bumerangues' àequipe, se poderá haver um sentimentoinveja que prejudique o apoio ou a ajuda", afirma Keller.
E um funcionário que saiu para se afastar dos desafios da organização pode encontrar-se enfrentando os mesmos problemas que havia quando ele saiu, segundo Arnold.
A pesquisaArnold indicou que os funcionários "bumerangues" muitas vezes deixam seus empregos pelos mesmos motivos.
"Quando esses 'bumerangues' saem [da empresa] pela segunda vez, muitas vezes eles fornecem a mesma razãoantes", explica ele.
"Às vezes, os profissionais acreditam que tudo será melhor na segunda vez, mas não é necessariamente o que acontece."
Os profissionais "bumerangues" também costumam receber menos atenção. Retornar a um antigo empregador significa que existe maior pressão por desempenhocomparação com os recém-chegados.
"Os funcionários 'bumerangues' geralmente tendem a ter melhor desempenho, mas também são mais propensos a serem demitidos que os contratados externos — os gerentes esperam que ele conheçam a empresa assim que chegarem", afirma Keller. "Enquanto os recém-chegados podem receber o benefício da dúvida, o recontratado que não atender às expectativas provavelmente será dispensado."
Pode também existir uma janelatempo limitada para retornar a um emprego. Os gerentes responsáveis por contratações podem receber funcionários depoisalguns anos fora da empresa, mas Thomas afirma que existe também um pontonão retorno para os ex-funcionários.
"Quanto mais tempo houver passado desde a saída do candidato, maior a probabilidadeque ele esteja apegado a práticas mais antigas", segundo ela. "A empresa pode ter mudado nesse período e agora ser uma organização onde ele não será mais capazadaptar-se."
Implicaçõeslongo prazo
Nicola Thomas afirma que tem havido uma mudançageração no posicionamento das empresas com relação à estabilidade dos funcionários. E, porvez, os empregadores estão cada vez mais deixando a porta aberta para os funcionários que saem, um dia, poderem retornar.
"As pessoas agora querem ter experiênciadiferentes empresas e subir a escada da carreira o mais rápido possível", segundo ela. "Em um mundo onde existem mais cargos altamente técnicos com conhecimentos específicos, existe um limite para a quantidadepessoas que você pode considerar — e descartar antigos funcionários pode significar a perdauma enorme oportunidade."
J. R. Keller afirma que o possível constrangimento causado pelo retorno ao emprego está diminuindo, tanto para o empregador quanto para o funcionário.
"À medida que vemos maior abertura entre as empresas para contratar 'bumerangues', também haverá menos estigmatização, do pontovista do funcionário, no seu retorno para um antigo empregador", explica ele.
Keller acredita que, ao longo do tempo, esse tipofuncionário ganhará mais importância no mercadotrabalho e será uma fontecontratação mais relevante.
"A compreensão agora é que todos estão procurando melhores oportunidades", afirma ele. "Se uma companhia quiser os melhores profissionais e, por acaso, eles forem ex-funcionários, elas devem abrir-se para eles."
A forma como alguém saiuma empresa define,grande parte, o sucesso do seu retorno. Chris e Lyall, dois funcionários "bumerangues", salientam a importânciasairuma empresabons termos.
"Para ter sucesso, é importante não fechar nenhuma porta e manter uma relação forte e positiva [com os ex-empregadores]", acrescenta Chris. "Voltar pode definitivamente fazer avançar uma carreira."
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Worklife.
- Este texto foi publicado originalmente em http://vesser.net/vert-cap-62587816
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