Como a poluição do ar se esconde dentro dos escritórios:

Vidro sujopoluição

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Legenda da foto, Dorescabeça e cansaço são alguns sintomas provocados pela má qualidade do arambientes fechados

"O problema que tivemos durante 20 anos no escritório era que quando ficava abafado ou quente, você abria a janela para ventilar e era atingido por uma parederuído e poluição", diz Birch.

Obviamente, a dinâmica deste localtrabalho não é única - tampouco a sensação da cabeça latejando e até mesmo dificuldade para respirar à medida que passamos a maior parte do dia confinados dentroum escritório.

Ter ar-condicionado não ajuda, a menos que o sistema inclua os filtros adequados, já que o ar externo - potencialmente cheiopoluentes - é sugado para dentro do prédio e circula pelo escritório.

Mas ainda não há uma grande conscientização sobre o tema. Costumamos observar a qualidade do ar atmosférico, mas nãoambientes fechados.

Cath Noakes, professora do departamentoengenharia civil da UniversidadeLeeds, no Reino Unido, que pesquisa a qualidade do arlugares fechados, diz que a questão tem sido negligenciada há muito tempo porque "é muito menos óbvia".

Homem com máscara

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Legenda da foto, O númeropurificadoresar na China subiu3,1 milhões2013 para 7,5 milhões2018, segundo a consultoria Euromonitor

Vilã invisível

"Ao ar livre, quando há muita poluição, você pode ver, sentir e cheirar. Maslugares fechados, muitas vezes você não consegue detectar o que está lá. Quando as pessoas não conseguem ver algo, elas descartam aquilo", explica.

Mas não deveriam. Os impactos da má qualidade do ar na saúde são bem conhecidos - a poluição atmosférica tem sido associada a infecções do trato respiratório, câncerpulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

Um estudodois anos, publicado pela revista científica The Lancet, descobriu que 6,5 milhõespessoas morrem prematuramente a cada anodecorrência da baixa qualidade do ar.

E a produtividade também é afetada - um estudo2014 com trabalhadores rurais mostrou que para cada 10 microgramaspartículas poluentes PM2,5 presentes no ar, a produtividade cai US$ 0,41 por hora.

Em geral, as pessoas pensam que a solução é fugir para dentrocasa - mas isso não é verdade. De acordo com a AgênciaProteção Ambiental dos EUA (EPA, na siglainglês), a poluição do arambientes fechados costuma ser entre duas e cinco vezes maior que ao ar livre - e pode chegar,níveis extremos, a ser 100 vezes mais nociva.

"O ar no interior dos ambientes contém a poluição que está do ladofora, além daquela que você adiciona dentro ao cozinhar, usar produtoslimpeza ou materiaisconstrução", explica Matthew S. Johnson, diretorciências do Airlabs, que instala filtrosar com tecnologia que remove 95%poluentes atmosféricos e gases nocivos.

Segundo The Lancet, 800 mil pessoas morrem a cada ano devido à má qualidade do arseus locaistrabalho.

"Além disso, a 'síndrome do edifício doente' pode causar dorescabeça e perdaprodutividade", diz Johnson.

A maior parte dos aparatos tecnológicos para limpeza do ar interno vemengenheiros da Ásia, onde a dependênciacombustíveis fósseis e a frágil regulamentação deram origem a algumas das cidades mais poluídas do mundo.

De acordo com dados da Organização MundialSaúde (OMS) divulgados no início deste ano, 14 das 20 cidades mais poluídas do mundo estão na Índia, e várias cidades chinesas também são seriamente afetadas.

"A China continua na frente no que diz respeito ao monitoramento da qualidade do ambiente interno,parte devido à presença da poluição atmosféricaáreas significativas do país", disse Matthew Clifford, responsável pelo setorenergia e sustentabilidade para a região Ásia-Pacífico da consultoria imobiliária JLL.

"Alémevitar os impactos negativos da baixa qualidade do ar, melhorar o ar interno traz muitos benefícios, como aumento da produtividade, o que tem impacto direto nos resultados financeiros das empresas."

Mulhermeio à poluição

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Legenda da foto, Segundo a revista científica 'The Lancet', 800 mil pessoas morrem por anodecorrência da má qualidade do ar no localtrabalho

Em Pequim, conhecida pelos altos índicespoluição, um relatório2015 da JLL e da consultoria ambiental Pure Living revelou que 90% dos prédios corporativos não estavam conseguindo reduzir significativamente os poluentes nos diasque o ar está mais contaminado. Mas as pessoas estão se mobilizando.

Lenta conscientização

O númeropurificadoresar na China está subindo significativamente, quase dobrou2012 para 2013 - uma épocaque a poluição estava particularmente alta - e saltou3,1 milhões2013 para 7,5 milhões no fim2018, segundo a consultoria Euromonitor.

Um relatório do ano passado mostrou que os fabricantes estavam inovando para atender à demanda, "usando nanotecnologia, aprimorando a eficiência energética e reduzindo os níveisruído".

As empresas também estão vendo os benefícios do investimento. Em Pequim e Xangai, por exemplo, grandes companhias, como a WPP e a PriceWaterhouse Coopers, instalaram sistemasfiltroarseus escritórios, numa tentativareter bons profissionais.

O hotel Cordis,Xangai, inaugurado2017, anuncia entre seus serviços o fatooferecer "a mais recente tecnologiasistemafiltro" que mantém a qualidade do ar interno.

A conscientização e inovação não se restringem à Ásia. A Airlabs está instalando sistemaspurificação do arestabelecimentos comerciaisLondres. Algumas empresas reconheceram que os níveisdióxidonitrogênio dentro das lojas no centro da cidade eram semelhantes aos níveis registrados nas ruas.

A primeira loja a adotar a tecnologia Airlabs, que filtra 1,8 mil metros cúbicosar por hora, foi a da marca Stella McCartney,Old Bond Street.

No momento, ainda não há regras rígidas sobre o padrão do ar que respiramosambientes fechados ao redor do mundo, embora a OMS tenha desenvolvido diretrizes para a qualidade do ar interno2009.

A EPA fornece orientação "não-regulatória" nos EUA, enquanto o Instituto Nacional para ExcelênciaSaúde e Cuidado do Reino Unido está desenvolvendo diretrizes - não regras - para a qualidade do arresidências no país.

A expectativa é que as diretrizes sejam publicadas no próximo ano, e tudo indica que vão incluir possíveis intervenções para remover eventuais fontespoluição e introduzir filtrosar como padrão.

Os especialistas não acreditam, no entanto, nos benefíciosuma regulamentação rígida. Estabelecer simplesmente um limiteum milhãopartículas poluentes dentrocasa pode ser arbitrário. Cada prédio é diferente, e os dados não levamconta os visitantesescritórios, por exemplo, cuja respiração pode elevar os índicespoluição acima dos níveis considerados seguros.

Fumaça saindochaminé

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Legenda da foto, A poluição atmosférica tem sido associada a infecções do trato respiratório, câncerpulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica

"Deve haver mais responsabilidade por parte das organizações que gerenciam os prédios", diz Noakes, da UniversidadeLeeds. "Mas você vai regulamentar isso? Essa é uma pergunta difícil".

Para a sorte daqueles que ficam confinadosescritórios todos os dias, cada vez mais empresas estão se conscientizando. Philip Whitaker, executivo-chefe da AAF Flanders, maior fabricantefiltrosar do mundo, disse quecompanhia "vê enormes oportunidadescrescimento na Ásia e na Europa diante da crescente necessidadepurificadoresar".

Vida nova

Há alguns anos, Chris Birch, e o restante da Hilson Moran, se mudaram para um prédio novoManchester. Isso permitiu que eles projetassem o localtrabalho do zero e resolvessem o problema na origem.

Algumas medidas eram óbvias, como a instalaçãofiltrosar que eliminam alguns dos poluentes mais nocivos. Também investirammonitoresqualidade do ar que checam continuamente os níveisdióxidocarbono, dióxidonitrogênio e partículas no ar interno - e avisam caso atinjam um nível inaceitável.

O escritório também ficou muito mais sustentável.

"Analisamos uma pesquisa da Nasa (agência espacial americana) sobre plantas que limpam ativamente o ar", diz Birch. E escolheram algumas espécies da lista das 10 mais eficientes para colocar no novo escritório.

Segundo ele, havia ainda a questão do "cheirocarro novo". Esse cheiro é produzido por compostos orgânicos voláteistintas, adesivos, móveis e tapetes do prédio, que são liberados no ar ao longovários anosum processo conhecido como "offgassing", explica Noakes.

Para evitar isso, a Hilson Moran se empenhoubuscar materiais com baixo teorpoluentes para seus móveis e materiaisescritório, certificados pelo International WELL Building Institute, que supervisiona o padrão WELL. Alguns acessórios são feitoscascasbatata coladas com o próprio amido do tubérculo.

Não foi uma tarefa fácil. "Muitos dos fabricantesmóveis e carpetes naquela época ainda não tinham entendido isso", explica Birch.

A empresa só tinha alguns fornecedores prontos para atender ao padrão WELL. Mas dois anos depois, o númerofabricantes e o lequeprodutos que eles oferecem aumentou.

A Hilson Moran ficou tão orgulhosa do novo escritório que submeteu à certificação do International WELL Building Institute. E passou no teste, se tornando o terceiro escritório no Reino Unido - e o primeiro foraLondres na época - a conseguir o selo.

Ao mesmo tempo, a empresa pediu à equipe para preencher uma pesquisa padrãobem estar dos funcionários, com baseuma metodologia sobre ocupaçãoedifícios. Eles tinham respondido o mesmo questionário sobre o escritório antigo,que ficaram entre os 10% prédios corporativos piores avaliadosum total650.

"Fizemos a pesquisa novamente neste escritório e ficamos no top 2%", diz ele.

"Não sinto uma diferença tangível na qualidade do ar", admite Birch.

Mas ele agora consegue ficar acordado durante as longas reuniões da tarde - e sem ter dorcabeça.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Capital .

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