Caso Miguel: mortemenino 'joga álcool nas feridas'filhosempregadas domésticas:
Discriminação contra domésticas
"Jogou álcool na nossas feridas", contou Jéssica, hoje com 31 anos e estudante do cursogestão da informação.
Era início da tardeterça-feira (02/06) quando Miguel,5 anos, caiuuma alturaaproximadamente 35 metros.
A mãeMiguel, Mirtes Renata Souza, havia deixado o filho no apartamento para passear com os cachorros da família. Em entrevista à TV Globo, ela revelou que os patrões eram o prefeito da cidadeTamandaré, Sérgio Hacker, e a primeira-dama, Sari Corte Real.
Imagens das câmerassegurança do edifício mostram o momentoque Miguel entra sozinho no elevador, enquanto Sari segura a porta e parece conversar com o menino. Em seguida, ela parece apertar um botão e deixa Miguel sozinho.
A porta do elevador se abre no 9º andar, onde o garoto sai e acaba caindo após escalar a áreaar-condicionado do edifício.
Sari foi autuada por homicídio culposo, quando não há intençãomatar, e presaflagrante. Ela foi solta logoseguida, após pagar uma fiançaR$ 20 mil.
O caso repercutiu bastante nas redes sociais, ficando a maior parte da quinta-feira como o assunto mais comentados do Twitter, com a hashtag #JustiçaPorMiguel.
Artistas como as cantoras Anitta e Marília Mendonça e as apresentadoras Tatá Werneck e Maísa Silva se pronunciaram. "E se fosse ao contrário?", questionou a cantora Iza. Um protesto está marcado para acontecer no Recife nesta sexta-feira.
' E se fosse com minha mãe? '
Com a mesma idade que Miguel tinha, Cleccio Tavares lembra que ia "inúmeras" vezes trabalhar com mãe empregada domésticaCampinas, interiorSão Paulo.
Como era o caçula e a mãe já deixava os outros quatro filhos sob responsabilidadeuma amiga, Cleccio passava dias inteiros entre a cozinha e áreaserviço do apartamento, na área central da cidade.
"Quando surgiu a notícia desse caso no Recife, impossível não me colocar no lugar. E se fosse minha mãe, no final dos anos 1980, que retorno ia dar? Uma mulher pobre, mãe5 filhos, alguém ia notá-la? É revoltante", reflete o hoje um empresário37 anos.
Cleccio conta que o fatoa família empregadora ter se infectado com o coronavírus e, ainda assim, não dispensar a funcionária, também o chocou.
Em entrevistas, Mirtes contou que ela, Miguel e a mãe, que também prestava serviço para a família, foram diagnosticados com a doençaseguida.
"Aqui no meu prédio, todo mundo continuou também com suas diaristas, só eu que dispensei a minha ajudante, mantendo pagamento. As pessoas não ligam", ressalta Cleccio.
Uma pesquisa do Instituto Locomotivaabril divulgada pela BBC News Brasil mostra que 39% dos patrões dispensaram suas diaristas sem pagamento durante a pandemia. Nas classes A e B, esse número subia para 45%.
No iníciomarço, a morteuma diarista por covid-19 no RioJaneiro, a primeira vítima da doença no Estado, fez com que filhosempregadas doméstica se juntassem num manifesto onde alertavam sobre as relações trabalhistas precárias para a categoria e a necessidademedidas durante a quarentena.
Emancipação
Militante no movimento negro, a advogada Beatriz Mascarenhas,22 anos, está com dificuldade para dormir nos últimos dias. Acompanhar as notícias como o assassinato no menino João Pedro, no RioJaneiro, e os protestos nos EUA após a morteGeorge Floyd tem afetado arotina.
A morte do menino Miguel foi mais um fatorangústia. "Mata um pouquinho cada umnós, filhos e filhas dessas mulheres que carregam esse país nas costas há séculos. Estamos cansadas.", escreveu emconta no Twitter.
Mesmo com uma experiência positiva com os patrões "amorosos"sua mãe,Salvador, Beatriz resolveu se dedicar às relações trabalhistas da categoria naformaçãodireito na PUCSão Paulo.
"Essas trabalhadoras domésticas têm historicamente muito menos direitos do que outros trabalhadores urbanos, por causa dessa herança escravocrata na nossa sociedade. Muitas pessoas não enxergam naquele serviço a dignidade das pessoas", relata a advogada que fez o trabalhoconclusãocurso sobre o tema.
De acordo compesquisa, a situação vem melhorando no Brasil nos últimos anos, principalmente devido a programasinclusão nas universidades. "Esse processo muda o cursouma família, é emancipação por meio do conhecimento", conta.
Mas, mesmo com avanços, Beatriz argumenta que os filhos das empregadas domésticas ainda são vistos como um "anexo" das mães no ambientetrabalho. "Se consegue ter humanidade, trata o filho bem, como foi meu caso. Se enxerga uma pessoa menor, a criança também vai sofrer."
Após a formaçãoBeatrizdireito, amãe, com 42 anos, também se formou na universidade, no cursoserviço social. Hoje, ela segue trabalhando como diarista.
A mãeCleccio, hoje com 64 anos, trabalhou como doméstica até os 60, quando se aposentou. No meiocaminho, recebeu acusaçõesroubo, mas também fez amizades pra vida com umasuas patroas. "Há pessoas boas", ressalta o empresário.
Já a mãeJéssica, hoje com 68 anos, segue trabalhando para a mesma família, há 50 anos, no Recife. Só nas eleições2018, por divergências políticas, Jéssica decidiu que não ia mais frequentar a casa para ajudar ou ficar com a mãe.
"Toda a situação que vivemos criou traumas profundos na minha família", diz.
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