Tido como morto, Rio Doce 'ressuscitará'2 estrelas5 meses, diz pesquisador:2 estrelas

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Legenda da foto, Vista aérea do Rio Doce desaguando no mar2 estrelasRegência, no Espírito Santo

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Para ele, há três diferentes cenários2 estrelasgravidade do desastre e2 estrelasvelocidade2 estrelasrecuperação. No alto, onde a barragem se rompeu, próximo ao distrito2 estrelasBento Rodrigues, deve durar mais2 estrelasum ano e dependerá2 estrelasoperações2 estrelaslimpeza dos escombros e2 estrelasum programa2 estrelasreflorestamento. Para ele, a sociedade e os governos mineiro e federal precisam cobrar2 estrelasVale e BHP Hillington, donas da Samarco, o processo2 estrelasreflorestamento e reconstrução ambiental,2 estrelascusto "insignificante" para as empresas.

Ele diz que, na maior parte do percurso do rio Doce, as próprias chuvas devem limpar os estragos e os peixes devem voltar ao rio no período2 estrelascinco meses, e, no mar, a diluição dos sedimentos deve ocorrer2 estrelasforma mais rápida - até janeiro do próximo ano.

Ao mesmo tempo, o especialista considera "inaceitável" que o governo permita que as pessoas voltem a morar nas regiões afetadas e que seria "criminoso" não retirar os outros povoados que se encontram nas linhas2 estrelasavalanche2 estrelasoutras barragens.

Leia os principais trechos da entrevista:

2 estrelas BBC Brasil - Nos últimos dias, especialistas, ativistas, moradores, pescadores e indígenas têm repetido que o rio Doce "está morto". O senhor diz que ele "vai ressuscitar". Como isto deve acontecer?

2 estrelas Paulo Rosman - Eu vou repetir um chavão muito conhecido: o tempo é o senhor da razão. Há a visão quantitativa e fria do pesquisador, do cientista, e a visão emocional e por vezes desesperada do morador, do pescador e do índio. Os dois estão expressando as suas razões. Nenhum dos dois está certo ou errado.

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Para especialista, chuvas ajudarão a dissipar lama do rio Doce

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Legenda da foto, Para especialista, chuvas ajudarão a dissipar lama do rio Doce

No caso da ciência as coisas são mais factuais, quantitativas, mais numéricas. No caso do indígena, ele constata e sofre com a "morte" do rio. A diferença é que o rio está morto neste momento, é verdade, mas ressuscitará muito rapidamente, e eles vão poder comprovar isso.

Há muitos exemplos2 estrelasacidentes muito mais graves e mais sérios do que este da barragem2 estrelasMariana. Veja a erupção vulcânica do monte Santa Helena, nos Estados Unidos (em 1980). Foi tudo devastado e destruído, numa área imensamente maior. Você vai lá hoje e vê que os animais voltaram e a mata voltou.

Para fazer a conta, você tem que pegar o peso da lama e dividir pela massa específica dessa lama. Se neste momento eu tenho 4 kg/m³2 estrelaságua e for dividir pela massa da lama, dá mais ou menos 1,3 mm. Então isso significa que se esses sedimentos todos se depositassem no fundo do rio formariam um tapete2 estrelas1 mm2 estrelasespessura, o que nem vai acontecer, porque a correnteza vai levar.

As fortes chuvas entre novembro e abril "lavarão" o rio Doce, num processo natural.

Digo isso baseado2 estrelasquantidades2 estrelassedimentos,2 estrelasconhecimentos2 estrelasprocessos sedimentológicos, na dinâmica2 estrelastransporte desses sedimentos pelas correntes dos rios, dos estuários, das zonas costeiras. Então essas coisas são relativamente rápidas, a natureza se adapta, se reconstrói, se modifica.

2 estrelas BBC Brasil - Como o senhor avalia a mortandade e o retorno2 estrelaspeixes ao rio, posteriormente? E como responde a especialistas que avaliam que a recuperação da área e do rio pode levar mais2 estrelasdez anos?

Paulo Rosman, professor2 estrelasEngenharia Costeira da COPPE/UFRJ

Crédito, COPPE UFRJ

Legenda da foto, Paulo Rosman, professor2 estrelasEngenharia Costeira da COPPE/UFRJ

2 estrelas Rosman - A onda2 estrelaslama matou os peixes, mas o volume, pelo que eu vi publicado nos jornais, representa uma quantidade muito baixa. A não ser que tenha havido algum erro2 estrelascálculo, foi divulgado que morreram 8 mil kg2 estrelaspeixes no rio Doce. Veja, na Lagoa Rodrigo2 estrelasFreitas, no Rio2 estrelasJaneiro: quando há uma baixa mortandade, estamos falando2 estrelas70 mil peixes, mas este número pode chegar a 200 mil, e depois sempre há o retorno. A gente sabe que não demora muito para que a Lagoa encha2 estrelaspeixe2 estrelasnovo.

Quanto aos comentários2 estrelasespecialistas citados, eu diria apenas que eu espero que eles estejam enganados. Não vou entrar2 estrelasdiscussão. Mas basta olhar coisas que já aconteceram. Por exemplo, a quantidade2 estrelassedimentos que desceu dentro do rio Itajaí-Açu (SC), no final2 estrelas2008, quando caíram inúmeras encostas no vale do Itajaí, na região2 estrelasItajaí e Blumenau. Houve um desmoronamento do cais do porto, um mega-assoreamento do canal do porto2 estrelasItajaí, sem contar diversas mortes na tragédia. Foi um evento natural, e2 estrelasquantitativos ele é extremamente maior do que esse do rio Doce.

E o porto2 estrelasItajaí está lá, o rio Itajaí-Açú está lá, Blumenau está lá. O rio voltou ao normal. Sinceramente eu acho que essas pessoas estão sendo movidas pelo impacto humano da tragédia, pela emoção. As mortes e os prejuízos são dores e perdas eternas. Mas temos que separar. Para voltar para o plano racional, só deixando o tempo passar.

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2 estrelas BBC Brasil - É possível mensurar a quantidade2 estrelassedimentos que chegou ao mar do Espírito Santo e o impacto ambiental disso? Dias atrás cientistas cogitaram impactos catastróficos nos ecossistemas marinhos da região.

2 estrelas Rosman - Sim. De acordo com os últimos números, a concentração a 10 km2 estrelasdistância da foz do rio Doce, onde a lama teve contato com o mar, está entre 50 e 20 mg/l2 estrelassedimentos2 estrelassuspensão. Isto é muito insignificante para ser considerado um risco ambiental. É absolutamente desprezível.

Para se ter uma ideia, a água transparente do mar, costeira, tem tipicamente 5 mg/l2 estrelassedimentos2 estrelassuspensão. A água dentro2 estrelasuma baía tem tipicamente entre 50 mg/l a 100 mg/l2 estrelassedimentos2 estrelassuspensão. A água2 estrelasum rio com cor barrenta tem2 estrelastorno2 estrelas500 mg/l2 estrelassedimentos2 estrelassuspensão, são todos dados naturais.

Rios muito barrentos, como o Amazonas, têm entre 1.500 e 2.000 mg/l2 estrelassedimentos2 estrelassuspensão na época2 estrelascheia.

Então se a 10 km da foz do rio Doce você vai ter concentrações2 estrelasno máximo 50 mg/l no mar, embora você veja a coloração diferente por mais algumas semanas, é óbvio que não estamos falando2 estrelasdanos ambientais. Diferentemente2 estrelasum vazamento2 estrelaspetróleo, que você usa bactérias para decompor e limpar - e leva tempo e gera mortalidade2 estrelasvida marinha muito maior -, no caso atual você não tem como "limpar" a lama no mar. Ela se dilui naturalmente, sozinha.

Mesmo que você tenha um padrão2 estrelasventos que gere correntes fora do usual, a distância é tão grande e a diluição é2 estrelastal ordem que não causaria efeitos danosos2 estrelasAbrolhos.

2 estrelas BBC Brasil - E quanto à composição destes sedimentos que compõem a lama? É possível que seja descoberto que têm uma toxicidade muito maior do que se imagina e que possa causar danos futuros?

2 estrelas Rosman - Risco sempre há, mas não tenho razões para acreditar nisso. Já ouvi pessoas que não são da área darem prognósticos devastadores quanto à toxicidade desse material. E já ouvi pessoas que são especializadas, da área2 estrelasgeologia, e que conhecem muito bem isso, dizerem o oposto, que se trata2 estrelasum material2 estrelasbaixa toxicidade.

Então não tem grandes impactos persistentes no longo prazo. As pessoas podem tirar da cabeça essa ideia2 estrelasque se trata2 estrelasalgo radioativo,2 estrelasum veneno ambiental que vai matar tudo e nunca vai sair do chão. Não é nada disso.

Para você ter uma ideia, a doutora Marilene Ramos, que é a presidente do Ibama, tem doutorado2 estrelasmecânicas do solo. Ela fala inclusive com um conhecimento específico2 estrelassolo muito maior do que o meu. Ela me disse que esse material não é2 estrelasalta toxicidade e que é basicamente areia fina, argila e óxido2 estrelasferro. Claro que tem traços2 estrelasoutras substâncias, mas2 estrelasconcentrações muito baixas, que não oferecem risco.

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AFP

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Legenda da foto, Tsunami marrom devastou distritos2 estrelasBento Rodrigues e Paracatu2 estrelasBaixo,2 estrelasMariana (MG)

2 estrelas BBC Brasil - Na2 estrelasopinião o que deveria ser feito no distrito2 estrelasBento Rodrigues (MG), o vilarejo mais devastado pela avalanche2 estrelaslama? Como limpar ou recuperar o local? E quanto isto pode custar?

2 estrelas Rosman - Primeiramente o governo2 estrelasMinas Gerais precisará avaliar o que retirar2 estrelasescombros,2 estrelasestruturas danificadas, e ver se deixa algo como marco simbólico da tragédia. É um absurdo permitir o retorno das pessoas para aquele local.

Se eu fosse o governo2 estrelasMinas Gerais obrigaria a Samarco a fazer um parque memorial ali. Fazer um projeto bonito, fazer um paisagismo, uma correção2 estrelassolo, um jardim, e ficaria como memória, com homenagem às pessoas que sofreram essa desgraça toda. Ninguém vai poder voltar a morar ali.

2 estrelas BBC Brasil - O senhor orientaria o governo mineiro a retirar os outros povoados que estão na linha2 estrelasavalanche2 estrelasoutras barragens2 estrelasrejeito2 estrelasmineração?

2 estrelas Rosman - Com certeza. Muitas vezes os povoados se formam próximo às barragens porque atraem empregos e comércio. Mas o poder público não poderia permitir a instalação2 estrelaspovoados2 estrelasáreas2 estrelaspassagem2 estrelaseventos como esse que ocorreu. Hoje não faltam ferramentas computacionais que nos permitem simular um rompimento2 estrelasuma barragem e mostrar qual é a trilha2 estrelaspercurso da avalanche. Atualmente é inaceitável e injustificável ter povoados2 estrelasrotas2 estrelasavalanche2 estrelasbarragens, ninguém poderia morar nestes locais.

2 estrelas BBC Brasil - O senhor considera que isto foi uma irresponsabilidade dos atores envolvidos?

2 estrelas Rosman - Olha, irresponsabilidade é quando você tem consciência do fato e não faz nada. Tudo é óbvio depois que você já sabe o que aconteceu. Ou seja, a partir2 estrelasagora, deste exemplo dramático e catastrófico, se o governo não tomar medidas para realocar pessoas2 estrelasáreas2 estrelasalto risco,2 estrelasoutros locais onde se sabe que poderia ocorrer algo semelhante a Mariana ou até pior, eu diria que estaríamos falando2 estrelasuma atitude mais do que irresponsável, mas sim criminosa.

Há duas opções. Você pode remover o povoado para outro local, ou se o povoado for grande demais, você embarga o negócio lá2 estrelascima. Para2 estrelasusar a barragem, estabiliza, deixa secar, e pronto. Transfere a atividade para outro lugar. Tem que ver o que é mais viável.