Médicaarbety aviatorfamília 'dirige Chevette e namora Creisom'arbety aviatorapostila para concurso:arbety aviator

Atendimentoarbety aviatorPostoarbety aviatorSaúde da Famíliaarbety aviatorNovo Gama (GO) | Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

Crédito, ABr

Legenda da foto, Médicosarbety aviatorfamília e comunidade estão no centroarbety aviatorprogramasarbety aviatorgoverno e propostas para a saúde

Profissionais que optaram pela especialidade relatam sofrer preconceito entre professores e colegas, apesar da importância da categoria no atendimento aos problemasarbety aviatorsaúde mais básicos que afetam os brasileiros. "Sou formado há 12 anos e aconteceuarbety aviatorvários momentosarbety aviatorencontrosarbety aviatorturmaarbety aviatorme perguntarem quando farei uma especialidadearbety aviatorverdade", disse Rodrigo Lima, diretor da Sociedade Brasileiraarbety aviatorMedicinaarbety aviatorFamília e Comunidade, à BBC Brasil.

"Eu já tive muitos alunos que chegaram a relatar: 'Eu tenho vontadearbety aviatorser médicoarbety aviatorfamília, mas não sei como minha família encararia isso, não sei se vou conseguir convencê-los'. Para um alunoarbety aviator20 anos é difícil resistir à pressãoarbety aviatorter que ter o carro do ano, ser muito bem sucedido financeiramente. É o ideal que a sociedade tem do que é ser médico."

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Desvalorização

O Programaarbety aviatorSaúde da Família - criado durante o governo Fernando Henrique Cardoso – tem o objetivoarbety aviatoroferecer atendimento primárioarbety aviatorsaúde, que procure prevenir e resolver a maior parte dos problemasarbety aviatordeterminado território sem a necessidadearbety aviatorencaminhamento para hospitais especializados. A estratégia foi ampliada durante os governos do PT.

Nos postosarbety aviatorsaúde e unidades básicas, uma equipearbety aviatormédicos, enfermeiros e agentes comunitários deve acompanhar até quatro mil pessoas – desde crianças até idosos. O bom funcionamento do modelo, que também é adotado por países como Inglaterra, Canadá e Austrália, ajudaria a evitar a superlotaçãoarbety aviatoremergências e hospitais, um dos principais gargalos do atendimento médico no país.

Na prática, no entanto, os profissionais relatam unidades com demanda mais alta do que o previsto, condições precáriasarbety aviatortrabalho, faltaarbety aviatormateriais básicos para o atendimento e dificuldadearbety aviatorcompletar as equipes médicas.

"Os Postosarbety aviatorSaúde e Unidades Básicasarbety aviatorSaúde hoje não dão conta da demanda por uma sériearbety aviatorrazões. Então o que temos hoje é uma rede enormearbety aviatorserviços que não conseguem resolver os problemas e cria nas pessoas a ideiaarbety aviatorque 'o postinho não resolve, o melhor é o hospital'", diz Rodrigo Lima.

<link type="page"><caption> Leia mais: 'Atendo cinco mil pessoas. É difícil', diz médicaarbety aviatorRecife</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2014/09/140922_salasocial_eleicoes2014_saude_problemas_atencao_basica_cc.shtml" platform="highweb"/></link>

Apostila do Medcurso | Foto: Arquivo pessoal

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Apostilaarbety aviatorcurso preparatório falaarbety aviator"vergonha"arbety aviatormédicosarbety aviatorfamília

Além do Mais Médicos, que contratou profissionais brasileiros e estrangeiros para complementar equipesarbety aviatorsaúde da famíliaarbety aviatortodo o país, a formaçãoarbety aviatorprofissionais dispostos a atuar na atenção básica também foi alvoarbety aviatordiversas estratégias durante os governos Lula e Dilma. Entre elas, a mudança no currículoarbety aviatorMedicina – que passou a exigir que os alunos frequentem postosarbety aviatorsaúde desde o início do curso, e o estímulo à aberturaarbety aviatormais programasarbety aviatorresidência da especialidade no país.

Muitos desses programas, no entanto, não conseguem preencher boa parte das vagas, segundo a SBMFC. Para os médicos, é um sinalarbety aviatorque os estudantes precisamarbety aviatormais estímulo para seguirem a carreira. O salário é considerado um dos fatores que desestimula os médicos - eles ganhamarbety aviatormédia R$ 8 mil, contando com bonificações oferecidas pelas prefeituras para complementar os salários.

"Nos últimos anos, o governo teve iniciativas que foram interessantes, mas não suficientes. Se você não botar dinheiro no bolso do cara para que ele pague as contas, ele não vai ficar", disse Paulo Klingelhoeferarbety aviatorSá, médicoarbety aviatorfamília e coordenador do cursoarbety aviatorMedicina da Faculdadearbety aviatorMedicinaarbety aviatorPetrópolis (FMP), à BBC Brasil.

"Os alunos falam isso na minha cara. Eu os coloco na atenção primária desde o começo do curso. Eles acham muito legal, ficam com pena da população, mas escolhem outro caminho. Escolhem fazer oftamologia, radiologia, dermatologia. Dizem que medicina da família é coisa para pobre."

Os três candidatos melhor colocados nas pesquisas sobre a disputa pela Presidência, Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves, mencionam a "ampliação" da Estratégiaarbety aviatorSaúde da Famíliaarbety aviatorseus programasarbety aviatorgoverno e a "valorização" dos profissionaisarbety aviatorsaúde que atuam no serviço público. Dois deles, Marina e Aécio, falam especificamente da criaçãoarbety aviatoruma carreira para médicos no SUS.

<link type="page"><caption> Leia mais: Projeto pioneiroarbety aviatormédico usa escolas como postosarbety aviatorsaúde</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2014/09/140924_salasocial_eleicoes2014_saude_pousoalegre_cc.shtml" platform="highweb"/></link>

A BBC Brasil também ouviu a opiniãoarbety aviatorleitores pelo Facebook. A questão gerou um debate acalorado sobre os aspectos positivos e negativos do atendimento básico no sistemaarbety aviatorsaúde público.

Leitores da BBC Brasil se dividiram entre elogios e críticas ao sistemaarbety aviatorsaúde público

Crédito, BBC World Service

Legenda da foto, Leitores da BBC Brasil se dividiram entre elogios e críticas ao sistemaarbety aviatorsaúde público

'De esquerda'

Segundo relatos colhidos pela BBC Brasil (leia abaixo) os médicosarbety aviatorfamília costumam ser vistos – até mesmo pelos pacientes - como profissionaisarbety aviatorqualidade inferior, discriminados por receberem salários mais baixosarbety aviatorrelação aos colegas e por serem considerados "de esquerda".

Nas situações criadas para as perguntas sobre saúde da família, a apostila do Medcurso chega a dizer que "ideiasarbety aviatorEvo Morales e Hugo Chávez" atraíram a personagem que começa a trabalhararbety aviatorum Postoarbety aviatorSaúde da Família.

"Achamos que não valia a pena nos pronunciarmos publicamente sobre a apostila, mas ela contribui com esse estigma socialarbety aviatorque o médicoarbety aviatorfamília é um médico inferior, que 'não presta para nenhuma especialidade'. Isso éarbety aviatoruma ignorância incrível", diz Rodrigo Lima.

"Nesse cenário desfavorável nas faculdades, os alunos que se aproximam da área geralmente são os que se incomodam mais com a questão da desigualdade social, algo que costuma ser associado à esquerda. Mas isso também não é regra, conheço muitos médicosarbety aviatorfamília que sãoarbety aviatordireita". afirma.

Até a publicação desta reportagem, o Medgrupo, que produz as apostilas do Medcurso, não havia respondido ao pedidoarbety aviatorresposta da BBC Brasil.

Confira alguns depoimentosarbety aviatormédicosarbety aviatorfamília:

Rodrigo Oliveira, PE

Crédito, Arquivo pessoal

A medicinaarbety aviatorfamília e comunidade é uma especialidade pouco divulgada até hoje. Eu não tinha nenhum professor que fosse médicoarbety aviatorfamília. Quando entrei na faculdade a reforma curricular já tinha acontecido, mas pouquíssimos professores aderiram. Alguns até se recusaram a dar aulas. Eles diziam que não concordavam com a ideiaarbety aviator"formar médico para trabalhar no posto".

Dentro da faculdadearbety aviatorMedicina a gente percebia o quanto a profissão tinha status. Muitos colegas meus se espelhavam nesses professores, que eram reconhecidos como médicos especialistas.

Eu tinha um professorarbety aviatoranatomia que era neurocirurgião e diziaarbety aviatorsalaarbety aviatoraula que tínhamos que aprender para não nos tornarmos "médicosarbety aviatorpostoarbety aviatorsaúde". Trabalhararbety aviatorpostoarbety aviatorsaúde é visto como coisaarbety aviatorgente que não quis estudar para fazer uma residência mais concorrida.

Acho que há preconceito, sim. No Brasil, esta é a especialidade que trabalha com a periferia. Não há um médicoarbety aviatorfamília famoso. É uma especialidade que não paga tão bem como as outras pagam. Dentro da sociedade e das famílias, a medicinaarbety aviatorfamília e comunidade não é vista como algo que dê status para o médico.

Quando eu disse a minha família que optei por essa especialidade foi difícil para eles entenderem. Eles diziam que eu não ia ganhar dinheiro e que eu ficaria desempregado, porque ainda achavam que era só um programaarbety aviatorgoverno e poderia acabar.

Percebo hoje que os alunosarbety aviatormedicina têm um maior interesse pela especialidade, mas não por causa do estímulo dos professores. Apenas pelo aumento da prática na faculdade.

Natália Ferreira, MG

Crédito, Arquivo pessoal

Da minha turmaarbety aviator40 pessoas, só duas, contando comigo, seguiram a carreira (de médicoarbety aviatorfamília). Sempre fomos discriminadas por causa disso, a medicinaarbety aviatorfamília e comunidade é a prima pobre das residências. O médicoarbety aviatorfamília é "aquele que não ganha dinheiro, que cuidaarbety aviatorpobre e que não gostaarbety aviatorestudar". As pessoas acham que quem não conseguiu passararbety aviatoroutra residência, faz Medicinaarbety aviatorFamília.

Havia muita chacota dos colegas, dos professores. Diziam: "você não quer ganhar dinheiro, quer ficar pobre para sempre? Gostaarbety aviatortrabalhar com pobre?". Muitas pessoas não entendiam a residência como necessária para essa especialidade.

Até hoje a comunidade médica me olhaarbety aviatorlado quando digo que sou médica da família. Fui acompanhar a cesáreaarbety aviatoruma parentearbety aviatorUberlândia e o obstetra me perguntou o que eu fazia. Eu disse que era médicaarbety aviatorfamília e ele perguntou se eu não queria fazer residênciaarbety aviatornada. Eu expliquei que já tinha residênciaarbety aviatormedicinaarbety aviatorfamília e comunidade e ele me disse: "mas ninguém precisaarbety aviatorresidência para trabalhar no postinho, você não quer ser médicaarbety aviatorverdade?".

Acaba acontecendo um distanciamentoarbety aviatoroutros colegas médicos, porque as conversas, as prioridades, a atenção ao paciente é diferente. Eu gostoarbety aviatorter vínculo,arbety aviatorconhecer o paciente,arbety aviatorir às casas deles. E para muitos dos meus colegas não é assim. Muitos escolhem algumas especialidades porque não é preciso ter tanto contato com o paciente. O médico também escolhe muito a especialidade pela qualidadearbety aviatorvida que ela oferece, por ter acesso a alguns privilégios que a categoria médica tem.

Fabricio Brazão, PA

Crédito, Arquivo pessoal

Para minha família foi impactante eu dizer que queria fazer medicina da família e comunidade, porque ninguém sabia direito o que era, qual era a rotina do profissional. Todo mundo está muito acostumado com as divisõesarbety aviatoráreas, então me perguntavam que tipoarbety aviatorgente eu iria atender. Durante a minha residência ainda perguntavam: "mas tu atende paciente? Tu trata doença?".

Achavam que eu estava me capacitando para uma carreiraarbety aviatorgestão. Até meu tio, que é clínico e ultrassonografista, ainda tem dúvidas sobre o que é o trabalho.

Acho que a imagem histórica do que é médico - que é o especialista, aclamado pela população - acaba afastando as pessoas da medicinaarbety aviatorfamília. Eu observava muito nos estudantes a visão do médico como um profissional liberal: me formo numa instituição pública, trabalho um pouco para ganhar essa experiência e vou abrir meu consultório.

Já a medicinaarbety aviatorfamília e comunidade tem como grande - quase único - campoarbety aviatortrabalho o SUS. E isso desencoraja muitos dos nossos colegas por conta da pouca consolidação das unidades – há algumas mal funcionantes, com pouca estrutura e profissionais que não cumprem carga horária - e faltaarbety aviatorum planoarbety aviatorcarreira.

Murilo Marcos, SC

O bullying universitário também existiu para mim e isso passou a me abalar menos quando tive mais certeza do que eu queria. No meio do curso eu sofri muito por isso, ser diferente da maioria é difícil. Mas eu procurava estar mais perto das pessoas que pensavam parecido.

Meu irmão, que também é médico, me chamavaarbety aviator"estrela vermelha", porque eu vinha com históriasarbety aviatormudar o mundo e ele estava no caminho da cirurgia. Mas um dia ele me veio me perguntar o que poderia fazer para mudar um pouco a realidade dos pacientes dele – muitos tinham câncerarbety aviatorpulmão e ele não podia fazer nada.

O grande nó é a visão que se tem da Medicina. Por mais que a gente tenha políticas e evidênciasarbety aviatorque o caminho da medicinaarbety aviatorfamília é eficiente, as pessoas que participam da formação dos médicos não são médicosarbety aviatorfamília.

Meu pai tem uma história bem diferente da minha e era bastante críticoarbety aviatorrelação a eu não querer trabalhararbety aviatorum hospital. Minha mãe foi a pessoa com quem eu mais discuti sobre o que quero fazer da vida, por causa do que ela achava que era trabalhararbety aviatorum posto, no interior, com unidades mal estruturadas. Meus pais me perguntavam: "O médico que tem um carro velho, tu quer ser isso mesmo?". Tempos depois, ela disse pra mim: "Murilo, eu já te aceito uns 80%".

Frederico Miranda, RJ

Crédito, Arquivo pessoal

Eu sempre quis fazer medicinaarbety aviatorfamíliaarbety aviatorcomunidade. Na própria graduação a gente tinha opçõesarbety aviatorestágios alternativosarbety aviatorunidades da família e eu sempre gostei desse modeloarbety aviatorajudar a população mais carente. Os médicos geralmente estão muito mais voltados para hospitais, procedimentos técnicos.

Sempre ouvi "você é maluco, não faz isso não, não dá dinheiro". Também dizem que o médicoarbety aviatorfamília não é um médico bom, que não tem preparo. De fato há muitos médicos despreparados para lidar com as pessoas atuando nas Unidadesarbety aviatorSaúde da Família. Se fosse obrigatório fazer a residência para atuar na atenção básica, isso ajudaria a acabar com essa imagem.

Diego Bonfim, BA

Havia resistência dos professores e dos colegas. No caso dos professores, há muito a falaarbety aviatorque o médicoarbety aviatorfamília não tem capacidade técnica, não ganha bem, que pode ganhar mais, que os casos são muito simples. Isso se reflete nos colegas. Alguns diziam que era "desperdício" que eu fizesse medicinaarbety aviatorfamília, porque eu era bom aluno. De forma geral, era visto como algo para pessoasarbety aviatorcomeçoarbety aviatorcarreira earbety aviatorfimarbety aviatorcarreira.

No início, quando comecei a trabalhar na cidadearbety aviatorCachoeira, alguns pacientes me falavam "obrigada doutor, tudoarbety aviatorbom, espero que tudo dê certo para você, que algum dia você tenhaarbety aviatorclínica, consiga trabalhar num hospital, saia daqui desse postinho".

Eu achava que os estudantesarbety aviatorMedicina tinham que serarbety aviatoresquerda para querer fazer medicinaarbety aviatorfamília e comunidade, porque no Nordeste as coisas são um pouco assim, essa ligação é maior. Mas quando fiz residênciaarbety aviatorRibeirão Preto (SP), percebi que no eixo Sul-Sudeste é diferente, que é muito comum que pessoas não ligadas à esquerda também sejam médicosarbety aviatorfamília.