Insatisfeitos, médicos e pacientes criam alternativas a planobrabet iossaúde:brabet ios

Protestobrabet iosmédicos no Riobrabet iosjulhobrabet ios2013. Foto: Tânia Rêgo/ABr

Crédito, ABR

Legenda da foto, Entidadebrabet iosclasse diz que planos 'enfiam a faca' no paciente e 'tiram sangue dos médicos'

Uma das estratégias mais comuns é um médico que não atende um planobrabet iossaúde cobrar do paciente com plano não o valor da consulta particular, mas sim a quantia paga como reembolso pelo plano.

Mas como isso funciona na prática? O caso da publicitária Juliana Linhares (nome fictício) é um bom exemplo. Após descobrir um problema no joelho, conseguiu fazer seu tratamento com um ortopedistabrabet iosconfiança apenas porque ele aceitava esse tipobrabet iospagamento. Como não atendia o planobrabet iossaúde dela, o médico cobrou o valor mínimobrabet iossua consulta particular (R$ 300) e deu dois recibos, no valorbrabet iosR$ 150 cada. Juliana pagou e usou as nota dadas pelo médico para pedir reembolso abrabet iosoperadorabrabet iossaúde, que erabrabet iosR$ 120 para consultas desse tipo.

"No total, recebi R$ 240 do plano. Arquei com a diferençabrabet iosR$ 60. O ideal, claro, seria não gastar nada, visto que já pago a mensalidade do plano. Mas não encontrei um médicobrabet iosconfiança entre os conveniados. Então, essa foi uma boa alternativa", disse Juliana.

Pelo prisma do médico, a proposta também é interessante, já que ele evitar perder pacientes, ganha mais do que receberia do plano e é pago na hora - ao invésbrabet iosesperar até dois meses para receber os honorários pagos pelo plano.

Mais fôlego

Essa prática alternativabrabet ioscobrança vêm ganhando força, tanto que ela é incentivada inclusive pelo Conselho Federalbrabet iosMedicina (CFM), que analisa uma propostabrabet iosretirar as consultas dos contratos entre médicos e operadoras.

Pelo projeto, as consultas não integrariam os planos contratados pelos pacientes. Ele cobraria apenas exames, internações e outros procedimentos similares. Já as consultas seriam pagas diretamente pelo paciente ao médico, que realizaria o mesmo procedimento que o ortopedista no caso citado acima.

Ele daria um recibo pela consulta, com o qual o paciente poderia solicitar o reembolso do valor com a operadorabrabet iosseu planobrabet iossaúde.

"Nossa proposta vem ganhando força porque a classe médica está muito impaciente e desmotivada", disse à BBC Brasil o médico Aloísio Tibiriçá, vice-presidente do CFM.

"É claro que não é o cenário ideal, já que acaba sendo cômodo para os planosbrabet iossaúde. Mas é uma alternativa para se evitar um desgaste progressivo na relação entre profissionais da saúde e operadores."

Demora para pagar

Segundo Tibiriçá, no momento, os pacientes vêm se deparando com médicos desmotivados, que estão progressivamente abandonando os planosbrabet iossaúde - alémbrabet iosoperadoras incapazesbrabet iosdisponibilizar uma oferta razoávelbrabet iosprofissionais para atender uma demanda crescente - altabrabet ios4,6% no ano passado.

"Estamos nas mãos dos planos. Eles demoram até maisbrabet iosdois meses para pagar, por vezes não pagam determinada consulta ou exame e não há um extrato claro para se descobrir o motivo", diz Tibiriçá.

"Para piorar, a ANS (Agência Nacionalbrabet iosSaúde Complementar, órgão do governo que regulamenta o setor) é complacente com as operadorasbrabet iossaúde, não ouve nossas propostas e também não faz a ponte entre a classe médica e os planos."

A ANS disse à BBC Brasil que as críticas são infundadas, já que há vários canaisbrabet iosdiálogo com os médicos, como a recente criaçãobrabet iosum comitê para incentivar boas práticas entre operadoras e médicos, para estreitar o diálogo entre as partes.

Segundo a agência, também não é verdadeira a afirmaçãobrabet iosque não há diálogo, já que há "reuniõesbrabet iosgrande periodicidade para se debater temas pertinentes."

Já a Federação Nacionalbrabet iosSaúde Suplementar (FenaSaúde), que reúne 31 operadorasbrabet iosplanosbrabet iossaúde, afirma que suas empresas associadas estão preparadas para garantir o atendimento aos seus beneficiários. "No acumulado dos últimos cinco anos, o reajuste aplicado pelas associadas à FenaSaúde aos honorários foibrabet ios50%,brabet iosmédia – muito acima da inflação do período, que foibrabet ios31%."

No entanto, a insatisfação dos médicosbrabet iosrelação aos planos parece permear todas as especialidades e com profissionaisbrabet iosdiversos momentosbrabet iossuas carreiras.

Neurologia

Para o neurologista clínico Rogério Adas, estamos vivendo uma roda-viva, no que diz respeito a planos, médicos e pacientes. "A medicina tembrabet iosser tratada como um modelo social. Esse caráter mercantilista que persiste no momento tem uma lógica perversa e traz apenas resultados crueis", diz o neurologista.

"Atendo convênios na emergência dos hospitais onde trabalho, masbrabet iosconsulta não dá para sobreviver com o valor pago por eles. Não tenho como atender dezenasbrabet iospacientes por dia, não há como um neurologista fazer uma consulta rápida - precisamos saber a história do pacientebrabet iosdetalhes."

Ele explica que simpatiza com a proposta do CFM e que já costuma negociar diretamente com o paciente. "Tem quem pague o valor pago pelo reembolso do plano, tem quem pague metade do valor da minha consulta. Medicina não é uma roupa que você compra no shopping, algo supérfluo."

Pediatria

Outro profissional que costuma fazer consultas demoradas é o pediatra, especialmente quando o paciente é um bebê ou uma criança pequena que ainda não fala.

"Na pediatria, há muitos médicos se descredenciandobrabet iosplanosbrabet iossaúde. A remuneração paga é incipiente", diz o pediatra Marun David Cury, que é diretorbrabet iosDefesa Profissional da Associação Paulistabrabet iosMedicina.

"Por isso, abandonar os planos e cobrar direto do paciente o valor do seu reembolso é uma boa opção para se ter um ganho um pouco melhor."

Oftalmologia

"Conforme fui avançando na minha carreira, me especializando e conseguindo mais pacientes, fui abrindo mão dos planosbrabet iossaúde", diz o oftalmologista Rubens Belfort Neto, chefe do setorbrabet iosoncologia ocular da Unifesp.

"Não tinha como. Meu consultório estava sempre muito cheio, vivia caótico. E dessa maneira era complicado fazer um encaixe para paciente antigo, o que é péssimo."

"Agora, ainda atendo alguns planos, mas cada vez menos. E vejo mais e mais colegas, tanto oftalmologistas comobrabet iosoutras especialidades, abrindo mão deles, porque os honorários são baixíssimos."

Ginecologia/mastologia

"Há três anos, coloquei na ponta do lápis os gastos que eu tinha com o consultório. Contabilizei o aluguel, os aparelhos, o salário da secretária, entre outros. E percebi que, com os convênios que atendia, eu estava praticamente trabalhandobrabet iosgraça", afirma o mastologista Daniel Gallo.

"Hoje, sem atender planos, faço apenas cinco consultas por dia, o que me permite dar muito mais atenção aos pacientes, e acabo ganhando quatro vezes mais do que antes, com os planos."

Ele explica que quando o cliente tem plano, ele cobra o valor mínimo da consulta particular (R$300), dá o recibo para se obter o reembolso, e o paciente arca com a diferença entre esses valores.

Imunologia

Até os profissionais com menos tempobrabet ioscarreira estão encontrando maneiras se distanciar dos planos.

"Pouco depois que me formei e terminei a residência (há 4 anos), fui me conveniar a seguradorasbrabet iossaúde. Algumas chegaram a me cobrar entre R$ 70 mil e R$ 100 mil. Para mim, era totalmente inviável", diz Paula Meireles, alergista e imunologista.

"Então, comecei a atender por reembolso. Às vezes, o valor que o paciente recebe é um pouco valor do mínimo que eu cobro. Mas ele não ligabrabet iospagar algo como R$ 40 a mais, por uma consulta com mais tempo."

"É claro que já tomei cano, com cheques sem fundo. Mas prefiro assim, acho mais honesto com o paciente e comigo mesmo."

Paula explica que por enquanto não consegue viver apenas do seu consultório e por isso tem um emprego fixobrabet iosum hospital. Mas mesmo assim não pretende atender planosbrabet iossaúde no momento. "Aos poucos, com o boca a boca, meu númerobrabet iospacientes está aumentando."

Segundo ela, se fosse credenciada, teria muito mais pacientes visto que seu consultório estaria listado no livrinhobrabet iosalguma grande operadora. "Mas isso me geraria outros custos, como contratar uma secretária só para mim para cuidar da papelada do plano."