Os cinco desafiosObama para 2014:

Barack Obama. Getty
Legenda da foto, Tensão entre Japão e China pode ser novo desafio externo para Obama

A Casa Branca está sob pressão tantouma opinião pública preocupada com questõesprivacidade quantopaíses aliados irritados com o alcance do monitoramentoseus líderes.

Por outro lado, o presidente governaráum ambientepalpável melhoria econômica – com desempregoqueda, um crescimento estimado pelo FMI2,6% (do FMI para 2014) e o Banco Central americano iniciando a retirada dos estímulos monetários da economia.

Um dos fatoresinstabilidade na equação econômica foi afastado por um acordo no Congresso: a possibilidadeum novo fechamento parcial do governo no ano que vem.

Durante a paralisação federaloutubro, ocasionada por faltaacordo entre os partidos Democrata e Republicano acerca do orçamento do país, políticostodos os lados, entre eles Obama, viram despencar seus índicespopularidade.

Com eleições legislativas marcadas para novembro, nenhum dos dois partidos quer se expor a uma renovada insatisfação popular.

Se as eleições proporcionam um alívio temporário para Obama trabalhar no seu legado, também marcarão a metade do seu segundo mandato – mais perto do pontoque os analistas começarão a questionar o valor histórico da marca que ele imprimiu, ou deixouimprimir, no governo.

Veja a seguir algumas das áreasque Obama deve concentrar seus esforços2014.

1. Recuperação econômica

Economia dos EUA. Reuters
Legenda da foto, Economia se recupera, mas situação ainda é complexa; Obama busca autossificiência energética

Esta será possivelmente uma das áreas que Obama mais reforçará. O líder que assumiujaneiro2009, no auge da crise financeira, deixa um paíssituação melhor.

O desemprego, que superou os 10% durante a crise, está situado7%. O crescimento projetado para 2014 é2,6%. Indicadores apontam para a recuperação do mercado imobiliário e o varejo. Ao mesmo tempo, o déficit americano caiu para 4% do PIB, metaderelação a 2009.

Os críticos alegam que os números ainda são ruins e que a concepção democrataintervir na economia cria obstáculos à prosperidade americana. A inflação, por exemplo, ainda bastante abaixo da meta, indica debilidade na atividade econômica.

Porém, o Federal Reserve (Fed), a autoridade monetária do país, outorgou prestígio à ideiarecuperação econômica, anunciando quejaneiro2014 começará a retirar os estímulos monetários que vêm proporcionando uma enxurradadólares na economia.

Para evitar uma saída abrupta que prejudique a economia, o Fed anunciou que manterá os juros básicos zerados até "bem depois"o desemprego baixar6,5%. A próxima presidente da autoridade monetária, Janet Yellen, que assumejaneiro, é considerada uma defensora do programasuporte à recuperação econômica da instituição, e portanto o mercado não espera sobressaltos no campo monetário.

No longo prazo, o governo Obama tem investido forte na autossuficiência energética americana, sobretudo com investimentosgásxisto. Em outubro, o governo anunciou que as compraspetróleo –queda por causa da "revolução energética" no país – ficaram abaixo das exportações. A Casa Branca considerou a notícia como um "marco histórico".

2. Mudanças nas atividadesinteligência dos Estados Unidos

Protesto contra espionagem. AFP
Legenda da foto, Obama está sob pressão para reformar o sistemainteligência após escândalo da NSA

Espera-se que uma decisão do presidente Obama sobre este tema seja um dos primeiros grandes anúncios2014.

Durante as férias, o presidente analisará o relatóriouma comissão independenteespecialistas que contém 46 recomendações para reformar a Agência NacionalSegurança (NSA, na siglainglês).

Uma das decisões mais impactantes será escolher entre continuar ou suspender a coletamassa dos dados das comunicações individuais – os chamados metadados, que contém informações como os números dos telefones, a hora da conversa e a localização dos interlocutores.

Os defensores e críticos da coletainformaçõesmassa são igualmente representados por duas legislações conflitantes, ambas contando com o apoiolegisladores dos dois partidos, no Congresso americano.

Uma terceira via – a possibilidadeque os chamados metadados continuem sendo coletados, mas fiquempoder das companhias telefônicas ouuma organização independente – tem sido criticada desde a concepção.

As companhias telefônicas apontam para o custo e os riscosserem obrigadas a manter e proteger estes dados, enquanto organizaçõesdireito civil dizem que a solução não traz nenhuma mudança do pontovista da privacidade.

O relatório também reforça a necessidadeos Estados Unidos se protegerempossíveis vazamentos no futuro, e recomenda à Casa Branca que revise permanentemente alistaalvos politicamente sensíveis, como chefesEstado.

Obama não disse quando se pronunciará sobre as recomendações. O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse que o lógico seria que ocorresse antes do chamado discurso sobre o estado da União, que o presidente fez a cada inícioano legislativo no Congresso. Em 2014, o discurso da União está marcado para o dia 28fevereiro.

3. Reforma da imigração

Ativistas pró-reformaimigração. Getty
Legenda da foto, Republicanos são resistentes à legalização11 milhõesimigrantes ilegais

Os movimentos pró-imigração devem cobrar2014 do presidente Barack Obama a conta pela não aprovaçãomedidas significativasalívio para imigrantes no último ano.

Os republicanos no Congresso – muitos dos quais veem a legalização11 milhõesimigrantes indocumentados como uma "anistia para ilegais" – ainda são considerados os principais culpados pela inércia nesse tema.

Entretanto, grande parte do movimento critica o presidente Barack Obama por não usar seus poderes executivos para, por exemplo, suspender as cercamil deportações que ocorremmédia a cada dia enquanto o Congresso não aprova uma legislação definitiva.

O Senado, controlado pelos democratas, aprovou um pacoteleis que abriria a possibilidadelegalização para os 11 milhõesimigrantes indocumentados que vivem nos Estados Unidos, mas o projeto nunca foi sequer discutido na Câmara.

Os deputados preferem abordar um tema atravéslegislações específicas e menos abrangentes – por exemplo, permitindo a naturalizaçãoimigrantes indocumentados que chegaram nos Estados Unidos ainda crianças ou no início da adolescência.

As opções deixaramser discutidas na Câmara no segundo semestre2013. O tema perdeu espaço para a paralisação parcial do governo federal, a discussão sobre o teto da dívida americana e as legislações sobre espionagem.

4. Obamacare

Obamacare. Reuters
Legenda da foto, Além da resistência republicana, Obama enfrenta problemas técnicos para implantar programa

Após medidas iniciais adotadas com sucesso, a reforma da saúde assinada2010 por Obama se deparou com dificuldades técnicas2013 e entra no seu ano finalimplementação com atrasos e incertezas.

A legislação tem como objetivo trazer mais pacientes para o sistemasegurossaúde a fimbaixar os preços. Outras medidas iniciais complementares, como a extensão da idade até quando os dependentes podem permanecer nos seguros dos pais, foram lançadasanos anteriores com sucesso.

Porém, o impulso final foi marcado por incidentes. Os americanos tinham até o dia 24dezembro2013 para comprar seguro via bolsasseguro federais e estatais a fimobter cobertura a partir1ºjaneiro2014. Mas os sites onde se fariam as transações experimentaram problemas técnicos nos lançamentos.

A alta procura pelos planos antes do Natal – um sinalsucesso que pode se convertervitória política para Obama – gerou atrasos, e o governo teveprometer que encontrará soluções para que todos os interessados possam gozarcobertura a partir do início2014.

Desde o dia 1ºoutubro, cercaum milhãopessoas compraram seguros pelos sites, segundo o governo. A meta da Casa Branca eraque o número chegasse a 3,3 milhões até o fim2013 e 7 milhões até março2014.

Os problemas com a legislação afetaram a popularidadeObama. A oposição republicana ao plano continua forte: os deputados do partido opositor já votaram cerca40 vezes para desmantelar o plano desdeaprovação. As iniciativas nunca passaram pelo Senado, controlado pelos democratas.

Muitos republicanos creem que os incidentes com a reforma da saúdeObama enfraquecerão os democratas nas eleiçõesnovembro.

5. Política externa

Ilhas Senkaku. AFP
Legenda da foto, A disputa por ilhas entre Japão e China pode ser um novo desafio para a agenda externaObama

O Oriente Médio e o Pacífico (por causa da tensão entre Japão e China) devem concentrar as preocupações e a agenda diplomáticaObama2015.

O ano2013 não foi memorável para política externaObama. Desde o início do ano, os Estados Unidos foram cobrados a tomar uma posição mais firme na guerra civil da Síria.

A Casa Branca evitava ao máximo se envolver no conflito, após as custosas campanhas no Iraque e no Afeganistão. E também por saber que a questão síria é mais complexa que a da Líbia, por exemplo, sobretudo por envolver outros atores importantes, como a Rússia.

Mas as imagenscrianças contaminadas durante um ataque com armas químicas na Síria,agosto, colocaram Obama contra a parede. O presidente havia dito,um discurso anterior, que o uso desse tipoarmamento era o limite para uma intervenção.

Após diastensão e expectativa por um ataque liderado pelos Estados Unidos, que poderia trazer consequências impensáveis para a região, Obama ironicamente acabou salvo pelo principal rival no conflito, a RússiaVladimir Putin.

Principal aliado do regimeBashar al-Assad, a Rússia conseguiu costurar um acordoúltima hora prevendo a destruição do arsenal químico. Embora Obama tenha se beneficiado pessoalmente, o acordo mostrou o protagonismo russo no conflito e a pouca margemmanobra da diplomacia americana.

Outro tema espinhoso para Obama foram os vazamentos promovidos pelo ex-colaborar da NSA, Edward Snowden. As revelaçõesum amplo esquemaespionagem causou desconforto entre países aliados, como a Alemanha, a França e o Brasil.

No caso brasileiro, a presidente Dilma Rousseff cancelou uma visitaEstado a Washington, na qual se espera a aberturaum novo capítulo nas desgastadas relações entre os dois países.

Um dos grandes trunfos da política externa foi o acordo parcial com o Irã, prevendo a redução do programa iranianotrocaalívio nas sanções econômicas. O pacto se deu após a conversa históricaObama com o presidente iraniano, Hassan Rouhani.

No Oriente Médio, Obama também anunciou o "relançamento" das negociaçõespaz entre israelenses e palestinos. De prático, quase não houve avanço e poucos acreditam que as conversas podem evoluir.

Em 2014, além da questão palestina e a Síria, Obama deve tratarum novo desafio - a crescente tensão entre China e Japãotorno da soberania sobre as ilhas conhecidas por Senkaku (no Japão) ou Diaoyu (na China).

Aliado do Japão desde o fim da Segunda Guerra, os Estados Unidos ignoraram a nova áreatráfego aéreo decretada unilateralmente pela China na área.

A tensão entre Pequim e Tóquio só tem crescido desde o incidente e, se tomar maior proporção, os Estados Unidos terãose pronunciar.

A radicalização do regimeKim Jong-un na Coreia do Norte também pode demandar atenção redobrada os Estados Unidos, aliados da Coreia do Sul.